Título original:
1500 anos de amor - parte 1
Romance / Épico
1ª
edição
Copyright© 2020 por Paulo Fuentes®
Todos os direitos reservados
Este livro é uma obra de ficção.
Os personagens e os diálogos foram criados a
partir da imaginação do autor.
Autor: Paulo Fuentes
Preparo de originais: Paulo Fuentes
Revisão: Sônia Regina Sampaio
Projeto gráfico e diagramação:
Capa: Paulo Fuentes
Todos os direitos reservados no Brasil:
Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica
Ltda.
Impressão e acabamento:
Apoio Cultural:
Porto Alegre, RS, 16 de maio de
1999.
Era um domingo. Havia acabado de
cruzar o país todo saindo de Manaus, no Amazonas
e ido até Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Estava cansado. Quebrado. Na verdade, quebrado
era pouco. Estava a três dias sem dormir. Meu
trabalha estava me consumindo e já estava nele a
mais de três anos sem tirar sequer um dia de
folga.
Era um trabalho árduo que me
consumia por completo e eu esperava ao menos
ficar dois dias de folga na capital gaúcha e
tentar descansar. Pegara um voo noturno, na
verdade de madrugada a fim de chegar logo cedo e
apesar de cansado não consegui dormir durante
aquelas cinco horas dentro da aeronave.
Cheguei com minha equipe no
aeroporto internacional Salgado filho e dali
fomos direto para o hotel. Entramos.
Identifiquei-me e cada qual foi para uma suíte.
Peguei o elevador, subi para o andar da minha,
tomei um banho rápido para tirar pouco o suor e
me joguei na cama. Apaguei. Na verdade, desmaiei
de tanto sono que eu estava.
Perdi a noção do tempo dormindo e
antes de eu ir para a suíte avisei que não
queria ser incomodado nem que o mundo acabasse.
Finalmente acordei e a barriga doía de fome.
Olhei para o relógio. Eram vinte e uma horas e
até eu mesmo duvidei por ter dormido o dia todo,
pois eu não era adepto de ficar muito tempo na
cama dormindo.
Ainda zonzo pelo sono prolongado
levantei-me a barriga doía. Estava com fome e
resolvi descer para comer. O restaurante do
hotel já estava fechado e optei por pedir uma
pizza para comer. Não ia matar a fome, mas a
enganaria.
Voltei para a suíte e liguei a
TV. Nem me importei com o que estava passando
nela. Abri o frigobar e comi dois chocolates que
havia ali. Fui até a varanda e fiquei olhando
para fora. O tempo começava a mudar e ia esfriar
e mesmo esfriando fiquei por ali até que o
telefone do apartamento tocou e fui atender. Era
a pizza que chegara. Pedi para que trouxessem
para mim e logo após pagar sentei-me para saciar
a minha fome.
A pizza desapareceu rapidamente
da bandeja. A fome realmente era muito grande.
Olhei para o relógio e nele marcava 22:49 horas.
Resolvi ir tomar banho e dormir de novo. Fui até
à toalete e coloquei a banheira para encher.
Voltei e liguei o notebook para baixar os
e-mails.
Voltei para à toalete e
deitando-me naquela água morna relaxei.
Finalmente resolvi sair da água e após me
enxugar vesti um roupão que havia no local e
voltei para o apartamento. Fui até o notebook e
comecei a ver as mensagens recebidas. Muitas
eram de mulheres e de propaganda, mas dentre
todas elas havia uma que me incomodou muito. Era
de meu chefe me ordenando voltar para a região
norte do país.
- Puta que pariu! Este cara é
foda. Acabei de chegar de lá e ele quer que eu
volte.
Exclamei com raiva.
Olhei para relógio do micro. Eram
23:51 horas. Nem liguei para a hora. Peguei o
telefone e liguei para ele. Eu estava puto da
vida e não ia deixar barato aquilo. Um toque.
Dois. Três. Quatro. Cinco. Atendeu.
- Alô! Disse a voz do outro lado a
linha.
- Raul você é doido?
- Quem está falando?
Perguntou-me.
- Aqui é a sua avó que veio do
inferno para te buscar. Vá se foder. Sou eu
cacete.
- Seu malcriado. Olha o respeito.
Sou seu superior. Falou Raul rindo.
- Superior o cacete. Você está
doido?
- Por quê?
- Isso é hora de me ligar?
- Já estava dormindo?
- Não!
- Então estava acordado?
- Não! Eu sou sonâmbulo e atendo
sem saber.
- Que bom saber, mas quero que
volte imediatamente para a região norte.
- Cacete! Acabei de chegar do
Amazonas e quer que eu volte para lá?
- Não quero que volte para o
Amazonas e sim para o Pará.
- Você só pode estar de gozação
comigo.
- É caso de vida ou morte.
- Que merda! O que houve de tão
grave?
- Você precisa ir lá ao Ronco da
Onça pegar umas assinaturas para mim.
- Vá se foder. Acha que eu sou
boy por acaso?
- Olha a boca. Respondeu Raul gargalhando.
- Raul! Vá se foder. Estou há
quase cinco dias sem dormir e quer que eu volte
lá na casa do cacete para pegar assinaturas para
você? Mande qualquer aspone seu para lá.
- Não dá! Se desse eu teria
mandado e nem te pediria isso, mas tem que ser
você a ir lá.
- Porque eu?
- Porque já foram outros lá e a
mulher não assinou.
- Manda o exército, a força
aérea, a marinha ou mesmo você vá até lá, se é
só pegar assinaturas.
- Não posso ir lá. Tem que ser
você.
- Tudo bem. Onde fica este bafo
de onça?
- Não é bafo de onça, é Ronco da
Onça.
- Tá! Continua sendo onça, mas
onde fica isso?
- No Estado do Pará, às margens
do rio Iriri.
- Onde é isso?
- Entre os povoados do Paraíso e
do Escondido.
- Raul! Vá pra merda. Só pode
estar de sacanagem comigo.
- Não é sério. Precisa ir lá
mesmo senão estarei fodido.
- Ah é? Agora que não vou mesmo.
Respondi sorrindo.
- Estou falando sério. Você
deverá ir até lá e procurar por uma mulher
chamada Marisa e apenas pedirá que ela assine
uns documentos.
- Que tipo de documentos?
- Ela vendeu uma enorme área de
terras para o governo, já recebeu e não assinou
nada.
- E quem a pagou sem pegar o
recibo?
- Sei lá. Deve ter sido algum
filho da puta do Incra.
- Só podia ser mesmo. Estes
merdas só fazem cagada.
- Tudo bem. Amanhã dou um jeito
de ir para lá.
- Olha para o seu relógio. Que
horas são nele?
- Meia noite e quinze.
- Ótimo! Já é amanhã. Tem um voo
que sai daí de Porto Alegre para Belém que sai
às duas e quinze. As passagens já estão abertas
lá no aeroporto para você e sua equipe toda.
- Só pode estar de brincadeira.
- Não estou e é só você arrumar
as suas coisas e pegar o voo e saiba que o avião
não irá decolar sem que você esteja dentro dele.
- Cacete! Isso é sujeira. Vai
ferrar um monte de gente se eu não for neste voo
é?
- Vou!
- Você é um grande filho da puta.
- Não xingue a minha falecida
mãezinha e falando sério agora, tem que ser você
para fazer isso para mim.
- Tudo bem! Vou até Belém e
depois?
- Lá haverá um avião menor que o
levará até Marabá e de lá irá de helicóptero até
o Ronco da Onça.
- Vou fazer isso por você, mas
vai ficar me devendo mais esta.
- Estou ajeitando aqui para lhe
arrumar aquele avião que pediu.
- Isso já se chama tentativa de
corrupção, mas irei lá para você e não pelo
avião, mas sim para não sacanear com as pessoas
que estão dentro do voo para Belém, mas vou te
cobrar por isso.
- Eu sabia que podia contar com
você e só tenho que lhe agradecer por isso, pois
vai salvar a minha pele.
- Vou fazer mais esta, mas não é
para acostumar não. Da próxima vez vou reclamar
com o Fernando.
- Depois você reclama. Acorda seu
pessoal aí, senão vão atrasar o voo.
- Tudo bem. Mais tarde eu te
ligo. Agora deixou você ir dar outra trepada com
a Sandra. Boa noite.
- Que Sandra! Está doido? Estou
em casa.
- Esqueci que era domingo e já
que não está com a Sandra aí compense a sua
esposa. Tchau. Estou indo para o aeroporto.
- Obrigado e boa viagem!
Não entendi porra nenhuma daquilo
de eu ter que ir até lá no Amazonas de novo e
apenas para pegar uma assinatura de uma mulher
que recebera e não assinara nada.
- Só pode ser sacanagem, mas
ordens são ordens e queira ou não ele é meu
superior e tenho que obedecer. Falei comigo mesmo em voz alta.
Peguei o telefone, liguei para
Felipe e pedi para ele acordar a equipe toda e
aproximadamente uma hora deixamos o hotel rumo
ao aeroporto Salgado Filho. Chegamos e de fato
as passagens da equipe toda estavam reservadas e
mal entramos no avião este levantou voo e
partimos de novo para dentro da floresta.
Todos estavam quebrados e não
demorou nada para que adormecessem. Já eu, pelo
contrário passei mais da metade do voo acordado
pensando nas merdas que Raul fazia e que eu
tinha que resolver, mas enfim eu nada podia
fazer e senti saudades do meu ex chefe, o Jorge.
Sai de minha suíte e fui direto para a recepção.
Minha equipe ainda sonolenta já me aguardava e
sem reclamação alguma. Eles já estavam comigo em
sua maioria a mais de três anos e sabia que
minha vida era doida e a função deles era a de
me auxiliar e proteger, pois o trabalho era
perigoso e arriscado demais.
- Para onde vamos chefe?
Perguntou-me Felipe com cara de sono.
- Floresta amazônica.
Respondi.
- De novo? Acabamos de sair de lá.
Falou Rogério.
- É a vida amigos. Somos soldados e vamos para
onde nos ordenam.
- Ah! Duvido que não tenha
mandado o Raul ir se foder.
Disse Carlos sorrindo.
- Imagine só que eu falaria isso. Sou uma lady.
Todos riram e até eu acabei rindo, porque todos
me conheciam bem e sabiam que eu não morria de
amores pelo Raul, mas enfim ele bem ou mal era
meu superior.
Floresta amazônica, Pará, 17 de maio de 1999.
Os carros já nos esperavam e dali fomos
rapidamente para o aeroporto. Não era longe e
naquela hora não havia quase nada de trânsito.
Chegamos! Nos identificamos no balcão de
embarque e rapidamente nos liberaram o acesso,
mesmo porque todos os passageiros estavam já em
seus devidos lugares.
Mal entramos e nos acomodamos o comandante
comunicou que estava em operação de manobra para
levantar voo. A aeronave fez uma parada no Rio
de Janeiro e depois rumou direto para Belém e
seis horas e meio depois pousamos no aeroporto
Júlio Cesar Ribeiro. Ali já havia dois oficiais
da aeronáutica nos aguardando e fomos para um
avião menor.
- Me desculpem meninos, mas quem
toma conta do voo agora sou eu.
Disse Rogério.
- Toma conta do voo? Quem é você?
Perguntou um dos oficiais.
- Tenente Rogério de Almeida.
- Desculpe-nos tenente. Não sabia que estava com
esta turma aí.
- Turma aí não. Quem comanda esta equipe é o
homem que se reporta diretamente para o
presidente.
- Me perdoe. Respondeu o tenente todo
atrapalhado.
- Como foi que ele conseguiu
chegar a tenente.
Resmungou Rogério sorrindo.
Entramos na aeronave. Era um turboélice bimotor
Brasília BEM-120 eu detestava aquele avião, mas
enfim tinha que ser um avião de porte menor para
pousar lá em Marabá. Partimos. Mais uma hora e
vinte de voo e chegamos ao acanhado aeroporto
João Correa da Rocha e lá embarcamos em um dos
helicópteros que já estavam abastecidos e nos
aguardavam.
Novamente Rogério se ajeitou no comando da
aeronave e levou apenas outro piloto para lhe
dar assistência no voo. Partimos.
- Quanto tempo daqui lá Rogério?
- Em torno de três a quatro horas chefe, mas não
sei precisar porque lá não é mapeado.
- Cacete! Longe pra caramba.
- Se fossemos de barco levaríamos
mais ou menos vinte e oito dias.
Disse o co-piloto.
- Bem vamos lá.
Duas horas e meio depois Rogério informou que ia
pousar, mas só havia um problema, a floresta só
oferecia um ponto para pouso, pois no restante
da área soa havia árvores. Imensas árvores, mas
eu confiava no piloto que tinha e ele pousou sem
problemas naquele pequeno espaço. Descemos.
Ronco da Onça não era mais que uma das centenas
de povoados que havia esparramado pelo país. Não
deveria possuir mais que uns quinhentos
habitantes. Descemos da aeronave e um bando de
crianças se aproximou para ver quem pousava ali.
Na verdade, nunca haviam visto uma aeronave na
vida.
De onde pousamos até as casas do vilarejo não
havia nem duzentos metros de distância. Rumamos
para lá seguidos vários garotos e garotinhas.
Entramos no aglomerado de casas e diante de uma
delas havia uma que tinha uma placa escrito
¨delegacia¨. Entramos sem bater. Sentado na
cadeira atrás da única mesa que havia ali estava
um jovem que se identificou como sendo o
delegado do local.
Precisamente as 6:15 da manhã, no
horário local o avião pousou no aeroporto
internacional da capital paraense.
Era um aeroporto que acabara de
ser entregue e totalmente reformado e consistia
em uma edificação completamente nova e
refrigerada que introduziu no estado do Pará o
uso de jetbridger/finger até então inéditos para
os passageiros do aeroporto.
Era um belo aeroporto e tendo
sido inaugurada a primeira fase do projeto, o
antigo terminal de passageiros havia sido
demolido para dar lugar a uma extensão do novo
prédio abrigando uma nova sala de desembarque
por onde passamos com toda a minha equipe
quebrada e constatei que havia uma boa variedade
de lojas bem como um terraço panorâmico e fomos
para lá a fim de tomar café.
- Chefe! Que doideira. Acabamos
de sair daqui do Amazonas, cruzamos o país todo
e estamos aqui de novo.
Falou Felipe se espreguiçando.
- Pois é! Somos soldados e temos
que cumprir ordens.
Respondi.
- Nós não somos soldados!
- Somos piores que isso meu
amigo, mas ordens são ordens e temos que
obedecê-las.
- Ordens do Raul?
- De quem mais seria?
Respondi sorrindo.
- Ele é um filho da puta se me
permite dizer isso.
- Permito! Ele é mesmo. Agora
vamos tomar café e embarcar em outro avião.
- Outro? Perguntaram alguns membros de
minha equipe.
- Sim e depois mais outro. Respondi.
- Outro avião? Perguntou Felipe.
- Não! Depois será um
helicóptero.
- Nem vou perguntar onde estamos
indo.
Falou Carlos sorrindo.
- Bom mesmo e também nem vou
contar o que estamos indo fazer lá.
Tomamos um café reforçado e fomos
até o balcão de embarque e de fato havia um
pequeno avião reservado e logo em seguida
embarcamos ara Marabá e lá na base do exército
havia um helicóptero de combate a nossa espera e
sem perder tempo embarcamos e levei apenas
Felipe, Carlos, Cigano, Breno, Fernando e
Rogério que eram os meus mais fieis combatentes.
Os demais deixei na base aguardando ordens.
Partimos logo em direção aquele local denominado
de Ronco da Onça.
- Capitão! Quanto tempo até o local que estamos
indo?
- Quatro horas de voo senhor!
Respondeu o capitão.
- No meio do mato capitão?
- Sim senhor! Um lugar difícil de pousar.
- Não se preocupe! Rogério que está com o senhor
de copiloto é especialista em pousar em lugares
impossíveis.
- O senhor está dizendo que quer que eu deixe os
comandos com ele?
- Exatamente!
- Mas senhor!
Tentou argumentar o capitão Solano.
- Vai discutir minhas ordens capitão?
- Não senhor, mas é que...
- Não tem nada a discutir, ou quer que eu
notifique o coronel sobre isso?
- Não senhor! Fique à vontade
soldado.
Disse Solano para Rogério.
- Soldado não! Sou tenente.
- Me desculpe tenente. Fique à
vontade e assuma o comando.
- Obrigado capitão! Só me indique
a rota e me diga onde terei que pousar.
Pediu Rogério todo cheio de si.
Três horas e quarenta minutos depois chegamos ao
local e de fato só com muita pericia Rogério
conseguiu pousar na pequena clareira que havia
no local.
- Breno fique aqui tomando conta da aeronave com
o capitão Solano.
Felipe, Carlos, Cigano, Fernando
e Rogério me acompanhem.
Ordenei.
Com o helicóptero pousado desembarcamos e já no
solo olhamos para a proeza que Rogério
conseguira fazer, pois, o espaço entre as
hélices e as árvores eram diminutas.
- Tenente, meus parabéns!
Realmente o senhor é muito bom.
Elogiou o capitão Solano.
- Que isso capitão!
- Capitão! Não de corda para ele,
senão ele vai ficar o dia todo se achando. Vamos
procurar a tal de Marisa.
Disse eu cortando a conversa dos dois.
Crianças correram para perto de onde estávamos
olhando-nos como se fossemos seres de outro
planeta e isso se devia por termos descido da
aeronave naquele diminuto local.
Saímos e adentramos no pequeno
povoado que segundo informações deveria morar em
torno de quinhentas pessoas em uma ampla rua de
terra que se perdia de vista no meio da
floresta, mas que continha várias casas humildes
dos dois lados e postos de comércio e consegui
ver bem adiante o tipo de uma rotatória com uma
igreja bem no centro dela.
Não caminhamos muito e vimos uma
daquelas casas que tinha uma placa carcomida
escrito delegacia. Nos dirigimos até ela e
entrei acompanhado de Felipe permanecendo na
porta Cigano, Fernando e Rogério e encontramos
um jovem que deveria ter uns vinte e cinco anos
sentado na cadeira atrás de uma tosca mesa de
trabalho.
- Boa tarde senhor!
Disse para ele.
- Boa tarde!
Respondeu ele de cara amarrada.
- O senhor é o delegado?
- Sou!
Respondeu secamente.
- Por favor! Preciso encontrar com uma senhora
de nome Marisa.
- O que quer com ela?
- Assuntos pessoais. Poderia me ajudar, por
favor?
- O que quer com ela?
Perguntou novamente.
- Como lhe disse é assunto pessoal.
- Pessoal sobre o que?
Perguntou o delegado se levantando
agressivamente.
Felipe ficou em posição e intervir, mas pedi
para que ele se contivesse.
- Bem! Já que quer agir desta forma vou me
identificar. Meu nome é Marcos Teixeira e sou
agente especial do ministério da política
fundiária e este que está aqui do meu lado bem
como os outros que me acompanham são delegados
da Polícia Federal e se quiser me tratar com
esta arrogância vou agir de forma diferente com
o senhor.
- Estou cagando um monte para quem é. Aqui quem
manda sou eu e fim de papo.
- Acha mesmo que manda?
- Não acho! Aqui eu sou a lei e se me provocar
lhe darei voz de prisão agora mesmo.
Aquele serzinho arrogante disse retirando um
revólver da gaveta o que fez com que Felipe lhe
apontasse a arma que portava e dei sinal para
que ele se contivesse.
- Vou falar educadamente pela última vez e é
melhor baixar esta arma antes que uma tragédia
aconteça aqui e saiba que eu só quero conversar
com esta pessoa que se chama Marisa.
- Claro que eu a conheço. Ela é
dona de tudo por aqui.
Respondeu olhando para Felipe.
- Ótimo! Já começamos a conversar e agora basta
apenas baixar a arma. Pode me dizer onde posso
encontrá-la?
- Não!
- Tudo bem! Não poderá dizer que não fui educado
com você. Disse me aproximando dele que ainda
mantinha a arma na mão.
- Melhor não se aproximar. Fique
onde está.
Ordenou.
- Porque? Se eu me aproximar vai disparar sua
arma?
- Não! É! Quem sabe!
- Como eu disse cansei de ser
educado e é melhor baixar esta arma antes que
eles te obriguem a isso.
Disse olhando para o lado e foi somente neste
instante que ele olhando de lado viu que Carlos,
Cigano, Fernando e Rogério também apontavam
armas para ele.
- Está vendo estes pontinhos vermelhos no seu
peito?
- Estou!
Disse o delegado.
Estava assustado vendo que estava na mira de 4
armas mira laser fora a que Felipe empunhava e
instantaneamente baixou a pistola que portava
colocando-a sobre a mesa.
- Bom garoto! Podem prendê-lo.
Ordenei.
Rapidamente ele foi levado para uma das duas
celas que havia no local e nem bem o
encarceraram adentrou uma das pessoas mais
místicas que eu já vira na minha vida.
- O que está acontecendo aqui?
Perguntou com voz firme.
- Nada demais, porque?
- Cadê o Arcelino?
- Quem é Arcelino e quem é a senhora?
- Sou Marisa! Não estava me procurando?
- Estava sim e este tal de
Arcelino está preso por desacato.
Respondi.
- Pode mandar soltá-lo?
Ela perguntou.
- Depende!
- Depende de que?
Ela me perguntou curiosa.
- De que garanta que ele irá se comportar.
- Ele é um bom menino. Pode soltá-lo, por favor.
- Posso! Tragam o moço.
Ordenei e logo ele estava ao nosso lado.
- O que deseja de mim? Posso saber?
- Pode! Só estou aqui para que assine uns papéis
para mim.
- E para que eu assine uns papéis precisava
trazer homens armados junto?
- Na verdade não!
- Vim até aqui porque preciso que a senhora
assine uns documentos.
- Eu não vou assinar nada.
- Dona Marisa, preste atenção. Estou cansado. A
cinco dias sem dormir e estava aqui do lado, no
Estado do Amazonas ontem, quando fui até no Rio
Grande do Sul e lá recebi ordens para voltar
para a floresta amazônica apenas para pegar sua
assinatura em alguns papéis, portanto, para que
não percamos tempo, uma vez que a senhora já
recebeu o dinheiro do governo, basta apenas
assinar e eu vou embora.
- Moço! Qual parte do eu não vou assinar que
você não entendeu?
- Vou começar de novo. Acho que não fui claro.
Estou cansado, com fome, exausto, a cinco dias
sem dormir, não sou boy de luxo de políticos
nojentos e vim aqui apenas para que a senhora
assine estes papéis. A partir daí eu irei embora
e a senhora ficará em paz e livre da minha
presença. Compreendeu?
- Já disse que não vou assinar e pronto.
- Acho que vou ter que explicar
de novo.
Mal terminei de falar estas palavras sem saber
de onde e como Marisa puxou um punhal enorme e
aparentemente muito afiado e parou com a ponta
dele a menos de dois centímetros de meu peito,
na altura de meu coração.
Não me abati e novamente lhe disse o que
desejava dela e sem saber como dei uma pancada
no braço dela e aquele afiadíssimo punhal
soltou-se de sua mão e caiu no chão e desceu com
tal velocidade que acabou penetrando e
perfurando minha bota até prender-se ao chão de
madeira e impressionantemente passou entre dois
dedos meus, sem, no entanto me causar qualquer
ferimento.
- Dona Marisa! Pela última vez, por favor, me
assine estes documentos e deixaremos tudo este
mal entendido de lado.
- Eu já disse que não irei assinar.
- Tudo bem! Se deseja assim, que assim o seja.
Delegado prenda-a por tentativa de homicídio.
- Prender quem?
- Quem você acha que eu to pedindo para que você
prenda?
- Quer que prenda a minha tia?
- Que bom que entendeu. Isso mesmo. Prenda-a.
- Mas não vou prendê-la mesmo.
- Você só pode estar de brincadeira. É uma ordem
federal.
- Moço! Você pode ser federal ou
o que for, mas não vou prender minha tia, pois
além de ser minha tia de verdade, ela é uma
bruxa.
- Era só o que me faltava agora.
Bruxa! Bruxa por bruxo eu também sou.
Pensei.
- Você tem o dom, mas não é um
bruxo ainda.
Ela m respondeu.
- Pronto! Só faltava ela estar
lendo meus pensamentos.
Pensei novamente.
- Estou sim.
Respondeu-me novamente.
- Para! Que loucura. Você não vai prendê-la
delegado?
- Não! Não vou mesmo.
- Felipe, por favor, faça as
honras da casa e prenda os dois.
Sem discutir Felipe pegou uma chave da única
cela que estava sobre a mesa e os fez caminhar
pelo pequeno corredor. Voltou logo em seguida e
me perguntou se eu iria deixá-la presa mesmo.
- Na verdade não sei meu amigo, mas vamos
deixá-la refrescar a cabeça e depois vou falar
com ela. Está com fome?
- Estou sim!
- Será que tem alguma coisa para comer aqui
neste lugar?
- Acho que ninguém nos dará comida e se derem
pode ter certeza de que poderá estar envenenada.
Respondeu Felipe rindo.
- É verdade. O que trouxemos para comer no
helicóptero?
- Bolacha, biscoito e chocolate.
- Vou ficar com fome. Chega de
comer estas porcarias. Respondi.
- Bem! Se você não for comer nada eu também não
irei chefe.
- Vamos aguardar um pouco mais.
Esperei passar mais alguns minutos, peguei a
chave e entrei no pequeno corredor da cela
única. Aproximei-me da janelinha que havia na
porta de madeira e olhando-me bem no fundo dos
olhos Marisa me perguntou...
- Porque demorou tanto?
- Como tanto? Não se passaram nem
meia hora.
Pensei eu olhando para o relógio.
- Não falo desta meia hora e sim do tempo que
você demorou a vir me ver?
- Não entendi. Respondi.
- Me dê os papéis que eu assino.
- Precisei mandar te prender para que assinasse?
- Não! Eu só queria ter certeza de que você era
você mesmo.
- Bem eu sei que eu sou eu e ainda não te
entendi.
- Me dê os papéis primeiro e depois
conversaremos melhor.
Marisa pegou os papéis das minhas mãos e foi
assinando-os sem sequer ler qualquer um deles e
fiquei ali do lado olhando para ela.
- Terminou de me examinar?
Perguntou-me sério.
- Desculpe! Não tive esta intenção.
- Sei que não, mas saiba que já me conheceu
quando eu tinha um corpo de sereia.
- Como assim?
- Ainda lhe dói o corte no braço perto do ombro?
- Como sabe disso? Nunca comentei nada desta dor
com ninguém.
- Sei mais de você do que você mesmo possa
imaginar ou pensar.
- Não estou lhe entendendo do porque fez tudo o
que fez para assinar os papéis.
- Antes de você vieram aqui me
ver para que eu os assinasse nove elementos, mas
todos saíram daqui correndo de medo de mim e eu
disse que jamais assinaria até que a pessoa que
eu procurava viesse aqui pessoalmente me trazer
os mesmos.
- E como sabe que sou eu quem esperava?
- Porque eu te conheço a centenas de anos.
- Como assim centenas de anos?
- Quantos anos acha que tenho?
- Seria indelicado da minha parte dizer isso,
mas talvez uns quarenta.
- Bondade sua. Quer saber a origem desta sua dor
no braço?
- Poderia me dizer?
- Sim! Posso. Tome aqui os seus papéis. Gostaria
de fazer uma regressão?
- Voltar no tempo tipo hipnoticamente?
- Mais ou menos isso. Teria coragem para isso?
Ao lado da parede estavam Felipe, Carlos,
Rogério que entrava e o delegado apenas nos
olhando sem entender nada.
- Acho que coragem é algo que nunca me faltou.
- Sei disso. Sempre foi assim.
Corajoso, atrevido e inconseqüente.
Preferi nem falar nada, afinal eu por não ter
medo de nada não media asa conseqüências de meus
atos. Quanto ao atrevido, cansei de ouvir me
chamarem disso, principalmente as mulheres.
Marisa parecia ser uma louca, mas no fundo era
uma sábia e não sabia por que ela me fazia
recordar de alguém ou de algo que não me
lembrava e resolvi provocá-la.
- Você só pode ser doida. Pensei.
- Não sou doida e posso provar.
Ela me respondeu.
- Consegue ler mesmo meus
pensamentos? Pensei novamente.
- Sim! Porque você ainda não aprendeu a
fechá-los.
- Quer saber se eu gostaria de
fazer uma regressão?
Perguntei em pensamentos de novo.
- Sim!
Respondeu-me.
- Ok! Eu topo.
Disse-lhe agora falando.
- Saiam todos daqui. Disse ela com voz enérgica
para todos na sala da delegacia.
- Chefe?
Perguntou Felipe.
- Pode sair Felipe.
Respondi.
- Podem sair, pois se eu quisesse fazer alguma
coisa contra eles ninguém poderia impedir isso.
Saiam em paz.
- Podem sair.
Estou bem.
Ainda receoso Felipe, Carlos, Rogério e o
delegado saíram da sala e ficamos sozinhos.
Marisa então puxou dois enormes troncos de
árvore do canto, os quais eu achei que pesariam
uma tonelada cada um.
- Sente-se aqui. Vamos fazer algo que terá que
me obedecer sem questionar. Entendeu?
- Sim!
Sentei-me
-Me de suas duas mãos e aconteça o que acontecer
não solte as minhas. Entendeu?
Marisa pegou em minhas duas mãos em formato de
concha e as segurou firme. Olhou para os meus
olhos e disse...
- Vai olhar para os meus olhos e começará a ver
sua vida voltando para trás. Começaremos pelo
hoje, amanhã, semana passada e iremos voltando,
mas de forma alguma solte de minhas mãos. Se
soltá-las não conseguirei lhe trazer de volta.
Segurei firmemente em suas mãos e ela travou-me
como se fosse uma morsa. De repente olhando para
os seus olhos negros como a noite comecei a
ver-me voltando no tempo. Primeiro a minha
chegada naquele povoado. Depois eu chegando a
Porto Alegre no dia anterior e assim fui
voltando.
Estava surpreso, pois mesmo estando como se em
um transe eu ouvia o barulho lá de fora. Um
cachorro latindo. Crianças correndo brincando e
de repente vi-me em uma batalha que deveria
estar ocorrendo a centenas de anos atrás.
- Cuidado com ele. É El Urso.
Disse-me um soldado que se parecia com Felipe.
Olhei de lado e vi um guerreiro enorme e na
mesma hora identifiquei como se fosse Sidney, um
grande amigo. Este vinha em minha direção, ou do
meu eu na minha visão com a espada levantada e
sem que eu, ou o meu eu tivesse tempo para se
defender, desceu com ela em direção ao braço do
meu eu praticamente arranco-o do corpo.
Ato seguido, soldados que lutavam ao lado do meu
eu, partiram para cima de Sidney, ou El Urso,
como era chamado e deram-lhe tantas espadadas
que ele acabou caindo morto. Vi meu braço
pendurado no corpo do meu eu e em um reflexo meu
mesmo quis soltar das mãos de Marisa para
segurá-lo.
- Não solte de minhas mãos. Se soltar não
conseguirei lhe trazer de volta.
Mesmo sentindo a dor que o meu eu estaria
sentindo mantive minhas mãos firmes presas na de
Marisa e fui voltando até estar ali no momento
presente e aí ela soltou minhas mãos e
disse-me...
- Está ai a origem da sua dor.
- Era o Sidney!
Indaguei.
- Sim era.
- Ele é um dos meus melhores amigos.
- Ele é aqui nesta época. Lá pelo que parece não
era muito seu amigo não.
- Felipe, Carlos, Rogério, Breno, Cigano e
tantos outros me pareceu ver por lá também.
- Sim! Eles estavam lá sim.
- Como pode isso?
- Porque você é um abençoado e a vida humana é
uma sequência. Sempre nos é dada a oportunidade
de voltarmos quando pedimos, mas isso somente se
merecermos.
- Eu voltei?
- Treze vezes com esta que vive agora.
- Treze vidas?
- Sim e aproveite bem porque é a sua última vez
aqui.
- Como sabe disso?
- Sabendo, mas não sei apenas sobre o seu
passado. Sei também sobre o seu futuro.
- Interessante e pode me contar?
- Apenas lhe direi que no plano elaborado para
você nesta volta, você deverá viver até o dia 17
de maio 2055, mas isso pode ser alterado.
- 2055? Estarei então com noventa e seis nos
mais ou menos.
- Isso mesmo, mas do jeito que age, como tem o
livre arbítrio pode ser alterado.
- Você diz de eu fazer algum ato impensado e
acabar causando minha própria morte?
- Sim!
- Porque queria me ver?
- Eu tinha a necessidade disso e precisava te
ver a todo custo.
- Por quê?
- Quantos anos acha que tenho?
- Não sei dizer mais depois do que vi.
- Você viu você, mas viu uma de suas fases das
treze. Você já foi e voltou várias vezes, mas
ela nunca sai daqui deste mundo.
- Espere! Quer dizer que tem mais de cem anos?
- Foi bondoso. Tenho mais de mil e quinhentos
anos de existência.
- Isso não é possível.
- Eu cometi um erro no passado e fui condenada a
vagar pelo tempo e espaço até que juntasse
novamente você e sua amada, que na época era
minha prima.
- Como é que é! Pode me contar sobre isso?
- Posso! Tem tempo e está preparado para isso?
- Sim!
Respondi eu curioso.
Tal obra está distribuída em 13 partes
iniciando-se em Tróia no ano de 1.154 a.C e
vindo até o ano de 2013 e destina-se a mostrar a
saga de um homem em busca de um amor de verdade.
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