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Título   Atormentada Gênero

Espírita

 
     
     
   
     
     
 

 

Título original: Atormentada

Romance / Espírita

edição

 

Copyright© 2019 por Paulo Fuentes®

Todos os direitos reservados

 

Este livro é uma obra de ficção e os personagens e os diálogos foram criados a partir da imaginação do autor.

 

Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas vivas ou mortas, fatos e atos poderão não ser mera coincidência.

 

Autor: Paulo Fuentes

Preparo de originais: Paulo Fuentes

Revisão: João Alberto de Oliveira

Projeto gráfico e diagramação:

Capa: Paulo Fuentes

Todos os direitos reservados no Brasil:

Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica Ltda.

 

Impressão e acabamento:

 

 Apoio Cultural:

 
  Lançamento de livros e/ou filmes possuem custos e o autor busca PATROCINADORES para lançar suas obras tanto para edição em formato de livros de papel ou quem sabe, para a realização de filme (s)... Caso haja interesse em relação à isso favor entrar em contato. Grato.
 

 

 

Esta é uma obra de ficção romanceada...
Qualquer semelhança com fatos presente, passado ou futuro...
Pode ser mera coincidência.
(nota do autor)

 

São Paulo, Março de 2012.

  

Stella, jovem de promissora carreira na área jurídica, certo dia recebe uma proposta para assumir a pasta executiva de uma grande multinacional e depois de muito pensar, resolve deixar o seu belo e bem montado escritório na principal via da capital paulista e deixa em seu lugar outra jovem advogada para cuidar da carteira de clientes.

  

Parte então para uma nova jornada profissional e já ao chegar, em seu primeiro dia de trabalho na poderosa multinacional, se depara com uma assistente de aparência estranha e sinistra. Não se importa com isso e começa a sua jornada carregada de processos e de contratos a ser analisados.

  

O dia transcorre e por diversas vezes, Juçara, sua assistente comparece em sua sala, no luxuoso escritório no centro empresarial, sempre com uma desculpa qualquer a fim de tentar quem sabe, distrair a atenção de Stella que não se importava, mas se sentia incomodada tanto pelas interrupções, bem como pelo olhar penetrante e aparentemente venenoso que Juçara lhe dirige.

  

O dia termina e Stella se sente cansada como jamais se sentiu na vida. Tem a sensação de estar carregando uma tonelada nos ombros. Sai e a caminho de sua residência nos Jardins e é fechada por um carro que surge do nada e ao desviar acaba se chocando contra uma árvore.

 

Não sofre ferimento algum, mas a frente de seu automóvel fica totalmente destruída e depois de horas resolvendo as coisas chega em casa completamente exaurida de suas forças. Mal consegue comer. Toma um banho e se deita, mas não consegue dormir e ao contrário disso teve pesadelos e passa toda a madrugada acordada.

  

Levanta-se as sete horas para ir trabalhar e sente-se mal. Seu estomago está dolorido, sente náuseas, tontura e mesmo não estando bem, toma um banho, se arruma e chama um táxi para ir para o trabalho. 

Ao chegar sente-se alvo da atenção de todos. Está abatida e ao se olhar no espelho, sente-se como se fosse uma velha senhora. Não consegue ver em si mesma a beleza que despertava a atenção de todos. Cansada e abatida se entrega ao trabalho, porém sem ânimo algum e não consegue se concentrar. Juçara vai até sua sala ainda umas três ou quatro vezes apenas para fazer nada.

  

O dia termina e Stella não se alimenta. Sente-se acabada. Cansada e sem ânimo até para ir para casa. Pega um novo táxi e o motorista ao olhar para ela, pergunta se ela está bem...

  

- Estou sim! Responde sem vontade.

 - Moça! Não lhe conheço, mas a senhora não está bem não. Quer que eu a leve a um hospital?

 - Não, obrigada! Responde

 - Eu sou de origem espírita, a senhora acredita nisso?

 - Não! Eu sou católica e não creio em espiritismo.

 - Sinto que a senhora está carregada e que precisaria visitar uma pessoa que conheço.

 - Não preciso disso, mas obrigada!

 

Chegam ao seu destino e ao descer e pagar a conta, o jovem motorista lhe entrega um cartão e lhe diz...

  

 - Estou vendo coisas pesadas ao seu redor. Pegue este cartão e se piorar, procure o pai João.

 

Stella ia proferir um palavrão, mas está cansada demais para isso, pega o cartão a contragosto, coloca-o na bolsa, vira de costas e entra no prédio onde reside.  Se despe, toma um banho e até a água que escorre por seu corpo a incomoda. Não tem fome. Se deita e novamente não consegue dormir. Tem pesadelos a noite toda e ao se levantar, olhando-se no espelho, nota que sua aparência é de uma mulher de uns setenta anos. Fica horrorizada, mas sai para trabalhar como se arrastasse correntes com seus pés.

 

Novamente pega um táxi e sem um pingo de vontade chega ao imponente prédio onde trabalha, mas encontra-se sem coragem para subir, mas mais por obrigação do que por vontade própria entra, pega o elevador e chega até sua mesa.

 

Era seu segundo dia ali e sentiu como se todos com quem cruzara a o olhava como se fosse uma estranha devido a sua aparência debilitada. Senta-se para cuidar dos afazeres e nem bem abre uma das pastas Juçara se aproxima e pergunta se ela está bem.

 

- Estou sim! Obrigada!

- Parece estar cansada!

- É que dormi mal a noite Juçara. Deve ser cansaço.

- Se quiser posso lhe ajudar aqui no seu trabalho.

- Pode deixar, mas obrigada de novo pela sua atenção.

- Pode contar comigo se precisar.

- Obrigada de novo!

- Eu era a assistente da sua antecessora e a ajudei bastante por aqui.

- A é! Então você conhece da rotina do trabalho da empresa? Perguntou Stella.

- Sim! Era para eu ter sido promovida, mas parece que o diretor não vai com a minha cara e acabou contratando outra pessoa.

- A quanto tempo trabalha aqui? Perguntou Stella mesmo sem ter vontade de perguntar.

- Trabalho aqui nesta área a dois anos e sete meses. Respondeu Juçara.

- E trabalhou quanto tempo aqui a minha antecessora?

- Três meses mais ou menos. Era uma incompetente.

- Nossa! Pouco tempo. Espero durar mais que isso. Disse Stella com um sorriso forçado.

- Vamos ver se dura mesmo. Disse Juçara saindo.

 

Stella não deu importância para as palavras finais de Juçara, mas se tivesse visto a cara que ela fez ao se virar de costas teria ficada no mínimo preocupada, pois era de puro ódio, porém, sem ver tentou se ater ao seu trabalho e com muito custo e mais por obrigação conseguiu ler alguns dos processos, mas deixou para dar seu parecer mais tarde.

 

Novamente não conseguiu se alimentar e após o almoço sentiu que suas forças pareciam estar sendo sugadas com brutal violência.

 

- Meu Deus! O que é isso? O que está acontecendo comigo? Pensou.

 

Não encontrou respostas para suas perguntas e foi para casa e novamente não conseguiu se alimentar e muito menos dormir e por uma semana toda foi a mesma coisa e forçosamente conseguiu colocar algum alimento na boca a fim de se alimentar, mas o pouco que ingerira quase que colocara para fora.

 

O final de semana chegara e passou os dois dias de cama e não suportando as dores que sentia no estomago procurou ajuda e foi até o hospital que ficava próximo de sua residência.

 

Chegou e lá a atendente de imediato se deu conta de que ela estava realmente com problemas e rapidamente pediu para que um dos médicos a atendesse com urgência.

 

- Boa noite senhorita Stella! Disse o jovem médico que a atendeu.

- Boa noite doutor!

- O que está sentindo?

- Não sei precisar doutor. Sinto dores atrozes e desde segunda feira que sinto como se minhas forças estivessem sendo sugadas. Não consigo me alimentar e nem dormir à noite.

- Já sentiu isso alguma vez?

- Nunca! Até segunda feira passada eu jamais precisei consultar nenhum médico a não ser para as consultas normais de prevenção.

- Você é casada?

- Não! Não sou.

- Mora com a família?

- Não! Eu moro só.

- O que você faz na vida?

- Sou advogada doutor.

- Você tem quantos anos de idade?

- O senhor é um médico ou é um policial? Perguntou Stella já irritada.

- Não entendi a pergunta.

- Eu vi aqui porque não estou passando bem e o senhor fica me interrogando. É isso. Entendeu agora ou quer que eu desenhe?

- Calma! Não precisa ficar brava e nem irritada, mas como veio até aqui e nunca nos vimos me sinto na obrigação de perguntar estas coisas.

- Só falta me pedir em casamento agora. Disse Stella com cara fechada.

- Ficou irritada?

- O que o senhor acha doutor?

- A dor era onde mesmo?

- A dor?

- É! Não disse que estava com dores atrozes?

- Sim! Disse.

- E onde era mesmo?

- Bem, era, espere, não está doendo agora.

- Ah! Minha tática deu certo.

- Como assim? Perguntou Stella.

- A minha intenção nem era de saber as coisas de sua vida pessoa e menos ainda te passar alguma cantada e menos ainda em te pedir no casamento, mas sim a de tentar uma tática usando de irritação para ver se dava certo. Entendeu?

- Não! Respondeu Stella sem realmente entender as palavras do médico.

- Olhe aqui antes que eu prossiga. Disse o médico lhe entregando um espelho.

 

Sem entender o que ele dizia pegou o espelho que lhe era entregue e se olhou nele e arregalou os olhos. Não estava entendendo o que via e ficou olhando para si mesma sem entender nada do que estava havendo.

 

- O que está vendo? Perguntou o médico.

- Eu!

- E o que mais está vendo?

- Como assim?

- Sua aparência. Como que ela está?

- Nossa! Não tinha me dado conta disso.

- Quando saiu de sua residência para vir para cá chegou a se olhar no espelho?

- Não!

- De manhã ou ontem chegou a se olhar no espelho?

- Sim! De manhã, ontem e anteontem também. Aliás, me olho todos os dias na hora que me arrumo para sair para trabalhar ou mesmo quando vou á toalete.

- E?

- E o que doutor?

- Está agora com a mesma aparência de quando saiu de casa hoje?

- Não! Eu estava arrasada, acabada, moída, literalmente me sentia uma idosa.

- Hum! E tem quantos anos mesmo?

- Tenho vinte e seis anos!

- Viu como não foi difícil de me responder. Disse o médico sorrindo.

- O senhor tem outro espelho para que eu possa me olhar?

- Porque?

- Porque acho que este espelho é um espelho para enganar as pessoas.

- Não! Ele é um espelho normal, mas na toalete tem outro espelho. Pode olhar lá se desejar.

 

Stella não pensava que aquele espelho fosse manipulado, mas não estava acreditando no que acabara de ver e para agravar mais não sentia mais nada. Nem as dores e nem aquela carga que parecia sugar suas energias, mas foi até à toalete e se viu ali. Estava linda e sentia-se mais maravilhosa do que se sentira antes em sua vida. Voltou e sentou-se diante do médico novamente.

 

- Posso lhe fazer uma pergunta doutor?

- Pode sim! Fique à vontade.

- O senhor é um bruxo?

- Pelo que eu saiba não, porque?

- Porque sai de casa me sentindo uma velha de oitenta anos. Sentia dores em todas as partes do corpo. Estava sentindo minhas energias sendo sugada de meu corpo e mal conseguia andar e de repente, estou me sentindo a rainha da cocada preta. Respondeu Stella sorrindo.

- Hum! Então minha tática deu certo?

- Deu e como deu! Por acaso já que não é um bruxo, o senhor é um anjo?

- Não que eu saiba.

- Impressionante. Não creio nisso.

- Não crê no que?

- Nesta mudança em mim e nem tomei nada.

- Por falar em tomar, não está sentindo fome?

- Sim! Agora que perguntou eu me dei conta de que não me alimento desde segunda.

- Que horas são agora?

- São dezenove e trinta e seis, porque?

- Porque meu plantão terminou as dezoito horas e estava esperando apenas você chegar aqui para lhe atender e depois ir embora.

- Como assim? Perguntou Stella curiosa.

- Eu estava lhe esperando para poder ir embora.

- Me esperando?

- Sim! Algo me disse que eu deveria esticar um pouco mais o meu plantão e fiquei.

- Não entendi! Disse Stella.

- Nem eu! Respondeu o médico sorrindo.

- Coisa de doido. Qual é o seu nome doutor?

- Hercílio Vianna Dias!

- O senhor é casado doutor? Não vale mentir, pois anjos não mentem

- Não, porque?

- Não mesmo?

- Não mesmo! Respondeu Hercílio sorrindo.

- Posso lhe convidar para jantar? Eu pago. Disse Stella sorrindo.

- Se deixar que eu divida a conta com você eu aceito.

- Então está feito. Estou faminta.

 

Saíram da sala onde o doutor Hercílio estava atendendo-a e rumaram pelo corredor. Chegaram à recepção e a jovem que atendera Stella olhou para ela perplexa, pois vira-a entrando e a aparência de Stella era de uma idosa e agora a via como uma moça linda de chamar a atenção e não aguentando aproximou-se enquanto Hercílio ia pegar suas coisas.

 

- Seu nome é Stella, não é?

- É sim, porque?

- Porque fui eu quem te atendi quando chegou aqui e queria lhe perguntar como está se sentindo.

- Ah! É verdade. Foi você quem apressou o meu atendimento. Muito obrigado por isso. Salvou a minha vida.

- Eu não te salvei, mas não acredito que você seja a mesma pessoa que chegou aqui.

- O doutor é que me ajudou. Ele deve ser algum anjo que estava de plantão aqui. Faz tempo que ele está aqui neste hospital?

- Quem?

- O doutor Hercílio.

- Hercílio?

- Sim! O médico que me atendeu.

- Não temos nenhum doutor Hercílio aqui.

- Como que não! Foi ele quem me atendeu. Não viu ele saindo comigo lá do corredor?

- Vi, mas não temos nenhum doutor Hercílio por aqui. Pelo menos que eu saiba.

- E o médico que me atendeu, quem era e a quanto tempo ele trabalha aqui?

- Aquele médico que lhe atendeu está aqui a dois dias, mas pelo que eu saiba o nome dele não é Hercílio, mas sinceramente não me recordo do nome dele.

- Quer dizer que ele começou a trabalhar aqui ontem?

- Sim e o plantão dele vai até as dezoito horas. Na verdade, nem sei o que ele estava fazendo aqui ainda.

- Estranho isso, mas enfim parece que ele me curou. Falou Stella.

- Curou! Não sei o nome deste médico, mas o que vi antes e depois que entrou para ser consultada por ele é coisa de um verdadeiro milagre. Nunca vi isso antes.

- Nem eu! Qual é o seu nome mesmo?

- Amália Ferreira.

- Sou advogada Amália e aqui está meu cartão. Se precisar de qualquer coisa fique à vontade para me contatar.

- Muito obrigada doutora! Espero que melhore de vez.

 

Se despediram e Stella foi em direção à porta e lá estava Hercílio do lado de fora aguardando-a. se entreolharam e Stella queria fazer muitas perguntas para ele, mas a fome era tanta que preferiu saírem e jantar primeiro e depois, quem sabe, perguntaria.

 

Pegaram um táxi e foram até um restaurante a duas quadras dali do hospital. Era uma churrascaria e Stella escolhera aquele local por causa da fome que sentia. Entraram, se sentaram e depois se serviram, porém, Stella percebeu que Hercílio não pegou carne de tipo algum. Serviu-se apenas de legumes e verduras, mas ela não se atreveu a perguntar se ele era vegetariano ou estava na nova moda dos veganos.

  

Jantavam e Hercílio olhava para Stella surpreso, pois ela de fato estava com fome e mostrava isso sem receio de passar vergonha. Terminaram e antes de pedir a conta resolveram conversar um pouco.

 

- Stella! Me fale uma coisa. Quando ou como começou a sentir este peso em você?

- Na segunda feira após o almoço.

- Conseguiu comer algo na segunda feira?

- Pouco. Estava sem fome.

- E o que sentiu a noite?

- Agonia, tristeza, dor, agonia. Tive pesadelos a noite toda.

- Que tipo de pesadelos?

- Não sei dizer, mas era como se pessoas me sufocassem, me oprimissem.

- Ficou atormentada?

- Muito!

- Você fez alguma coisa para alguém que pudesse lhe desejar mal?

- Não! Jamais faria isso.

- Tem algum inimigo?

- Também não que eu saiba.

- Contrariou alguém por estes dias?

- Também não a não ser...

- A não ser?

- Não pode ser?

- Pensei besteira. Disse Stella pensativa.

- No que pensou?

- Tem uma moça que é minha assistente lá na empresa que trabalho que me pareceu suspeita.

- Porque suspeita?

- Não sei. Estes dias ela me disse algo sobre me ajudar e que fazia questão disso, mas não pode ser nada demais.

- Acha mesmo que não?

- Sim! É coisa da minha cabeça.

- Tem certeza?

- Tenho sim!

- Bem! Vou te passar meu telefone e se por acaso se sentir de novo com a mesma sensação em que estava não hesite em me procurar.

- Hum! Isso me parece uma cantada. Falou Stella sorrindo.

- Pode ter certeza de que não é, mas ressalto que não hesite em me procurar seja a hora que for.

- Tudo bem doutor! Podemos ir embora agora?

- Podemos sim!

 

Pediram a conta e mesmo ambos querendo pagar a conta acabaram por dividi-la. Após isso cada qual chamou um táxi e rumaram para as suas residências e naquela noite pela primeira vez em uma semana Stella conseguiu dormir à noite toda e na manhã seguinte acordou radiante de energia e de vontade de trabalhar.

 

Levantou-se cedo, tomou um banho demorado. Depois tomou um café reforçado, se trocou e depois desceu. Chamou um taxi e acabara de entrar nele quando recebeu uma ligação dizendo que seu automóvel já estava pronto e que poderia ir busca-lo.

 

Ficou surpresa, pois nem prazo haviam lhe dado e mudando de rumo foi até lá e em minutos liberaram o veículo para ela e saiu sorridente direto para a empresa. Chegou, estacionou o automóvel na vaga que lhe era destinada e pegou o elevador e novamente chamou a atenção, porém desta vez por estar corada, sorrindo e com uma beleza que havia perdido a alguns dias.

 

Desceu em seu andar e foi direto para sua sala e não encontrou com Juçara no caminho. Sentou-se em sua cadeira e estranhou dela não ter ido até sua sala, mas resolveu deixar para lá e meteu-se de cabeça no trabalho e nem se deu conta da hora do almoço w do tempo que passou.

 

Era hora de sair quando foi se lembrar de Juçara e após perguntar lhe comunicaram que ela não tinha ido trabalhar naquele dia. Preocupou-se pouco, mas logo esqueceu e terminou o que tinha para fazer e já era passada da hora quando saiu da empresa para ir embora.

  

Chegou em casa e não quis cozinhar e nem fazer nada, mas como estava com fome pediu comida pelo delivery. Se alimentou, tomou banho e foi se deitar. O dia havia sido puxado e estava cansada. Deitou e dormiu a noite toda.

 

Acordou cedo no dia seguinte completamente recuperada. Estava se sentindo ótima. Tomou café e foi trabalhar. Chegou bem antes do horário e ao chegar em sua sala novamente se entregou ao trabalho. Perto da hora do almoço pediu algo para comer e comeu lá mesmo em sua mesa de trabalho.

 

Não viu a hora passar novamente e nem se deu conta de que Juçara não fora trabalhar pelo segundo dia. Preocupou-se e ligou para o departamento de recursos humanos e lá lhe informaram que ela comunicara que estava indisposta e que o médico lhe dera uma licença de uma semana.

 

Aquela foi uma semana de intenso trabalho, mas muito produtiva. Resolveu problemas da empresa que estavam acumulados e após a hora do almoço da sexta feira foi chamada na diretoria administrativa da empresa e lá estavam o alto staff da empresa que a parabenizaram por ter colocado velhos problemas em dia e lhe comunicaram que ela receberia um adicional em seus vencimentos pela dedicação, agilidade e presteza no que fizera. Saiu de lá radiante de felicidade.

 

Novamente voltara a ser ela outra vez e estava saindo quando se lembrou de Hercílio e sentiu vontade de ligar para ele.

 

- Alô!

- É o doutor Hercílio?

- Ele mesmo! Quem é?

- Aqui é a Stella!

- Oi mocinha! Como você está?

- Maravilhosamente bem. Liguei para lhe agradecer de novo.

- Não precisa. O que importa é que esteja bem.

- Tem compromisso para daqui a pouco?

- Compromisso?

- É! Tipo trabalho, namorada, esposa, estas coisas.

- Não! Hoje estou de boa. Já sai de meu plantão.

- O que me diz de jantar comigo daqui a pouco?

- Daqui a pouco que horas?

- Bem! Agora são dezoito e dez. Que tal as vinte e uma horas?

- Perfeito! Combinado. Onde pretende ir?

- Desta vez não quero ir a uma churrascaria.

- Ah não! E onde deseja ir?

- Não sei! Um restaurante mais light.

- Por mim tudo bem desde que dividamos as despesas.

- Não vou discutir. Está combinado então.

- Está, mas onde vamos?

- Você está de automóvel?

- Não, mas posso pegar um táxi.

- Eu posso te pegar em casa.

- Fique tranqüila Stella. Só me diz onde deseja ir e nos encontraremos lá.

- Tudo bem. Anote aí.

 

Stella lhe passou o local do restaurante e foi direto para casa. Tomou banho, se enxugou e escolheu uma roupa simples, mas principalmente confortável. Se trocou e pegando a chave de seu automóvel desceu e pouco tempo depois estava chegando no restaurante e para sua surpresa Hercílio já estava aguardando-a.

 

Cumprimentaram-se, se sentaram e jantaram como bons amigos o fariam. Hercílio quis saber sobre como ela estava e como havia sido a sua semana e Stella lhe contou tudo inclusive sobre o afastamento de uma semana de Juçara. Hercílio nada disse sobre isso.

 

Terminaram de jantar e continuaram conversando mais um tempo ainda e depois Stella insistiu que o levaria para casa e Hercílio alegava que não precisava, mas de tanto que ela insistiu que ele acabou cedendo.

 

Saíram e Stella estranhou o local que Hercílio pediu para que ela o levasse. Conhecia algo próximo daquele local, mas não se lembrava o que era, mas o levou e deixou-o diante de um prédio com as luzes todas apagadas. Achou estranho, mas nada disse.

 

Deixou-o lá e saiu. Ia virar a esquina e olhou para trás e não entendeu nada porque todas as luzes daquela rua se apagaram e tudo ficou na penumbra. Estremeceu do nada, mas resolveu ir embora, pois com certeza devia ter ocorrido algum problema no transformador.

 

Chegou em casa tirou a roupa e se deitou. Ficou pensando primeiro em Juçara e depois em Hercílio. Duas coisas estranhas, mas deviam ter sido mero acaso. Encostou a cabeça no travesseiro e dormiu na hora. Teve uma excelente noite de sono. Tranquilo e acordou muito bem.

 

Resolveu ir até a casa de seus pais e saiu cedo. Lá teve um final de semana prazeroso. Se divertiu com seus familiares e no dia seguinte à tarde chegou de volta do final de semana em família. Se alimentou, tomou banho e se deitou. Novamente teve uma noite excelente.

 

Acordou bem no dia seguinte. Se arrumou com aprumo, se alimentou e saiu para ir trabalhar e ao chegar na empresa e descendo do elevador no seu andar deu de cara com Juçara e no mesmo instante que a viu sentiu um mal-estar e os poucos metros que separavam onde estava à sua mesa de trabalho pareceram-lhe quilômetros.

 

- Tudo bem com você Stella? Perguntou Juçara.

- Está! Respondeu nem soube como, pois, as palavras não queriam sair de sua boca.

 

O dia foi horrível. Perdeu a fome, a vontade de trabalhar e pior que isso, perdeu até a vontade de viver. Sentiu-se deprimida e nem ousou ir para casa em seu automóvel. Pegou um táxi e nem soube como chegou em seu apartamento.

 

Mal conseguiu tomar banho. Não jantou. Se deitou e os pesadelos voltaram. Passou a noite em claro. Pela manhã estava novamente quebrada. Levantou-se e foi à toalete e se olhando no espelho novamente viu-se envelhecida e nem a maquiagem conseguiu recobrir as que se formaram do nada.

 

Saiu para ir trabalhar sem vontade. Pegou um taxi e nem sabia o que fazer ao chegar na empresa. Novamente por todos que passou viram que ela estava acabada e não entendia, isso nela. Desceu do elevador e lá estava Juçara com um sorriso falso, mas que demonstrava felicidade por vê-la ali daquele jeito que novamente se aproximou paras prestar serviços, coisa que Stella recusou. Foi para sua mesa e durante o dia todo foi incomodada por Juçara que fazia questão de aparecer a toda hora lhe oferecendo ajuda.

 

Nem sabe como conseguiu agüentar até o final da tarde. Estava péssima e novamente não se alimentou. Foi para casa novamente de táxi e mal conseguiu tomar um copo de água. Não tomou banho porque estava completamente sem vontade e sem ânimo. De novo não conseguiu dormir e os pesadelos voltaram com mais força ainda.

 

Virou de um lado para outro na cama e lembrou-se que Hercílio lhe pedira para que lhe telefonasse a hora que precisasse e mesmo não querendo lhe telefonar pegou o celular e ligou. Um toque, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito e caiu na caixa postal. Tentou de novo e nada. Levantou-se e ainda estava escuro lá fora.

 

Tentando arrumar forças e nem sabe onde as encontrou tomou um banho e teve que encostar na parede para não cair. Saiu, se enxugou e nem teve coragem de olhar para o espelho. Se trocou e foi para o trabalho, pois pensou que se chegasse mais cedo poderia ir para sua sala se cruzar com ninguém.

 

Chegou na empresa e ainda era cedo e até os seguranças estranharam dela estar ali tão cedo, porém quase nem foi reconhecida, mas o crachá lhe dava autorização para entrar cedo. Pegou o elevador e subiu e ao descer em seu andar e tomou um susto, pois deu de cara com Juçara que por lá já se encontrava.

 

- Bom dia chefe! Falou Juçara para ela.

- Bom dia! Respondeu e nem perguntou o que ela fazia ali  àquela hora.

 

Foi para sua sala e ao sentar as dores voltaram. Pegou o celular e ligou novamente para Hercílio e a ligação caiu na caixa postal. Tentou se concentrar em seu trabalho e não conseguiu. Piro que isso, Juçara a todo instante vinha lhe incomodar e segurou para não a mandar às favas.

 

A manhã passou e por várias vezes tentou falar com Hercílio, mas não conseguiu. Achou estranho aquilo e novamente não se alimentou. Estava péssima. Tudo nela doía e ao sair resolveu ir até o hospital ver se encontrava com Hercílio, mas lá não o encontrou e nem Amália, pois esta estava de folga e ninguém identificou nenhum médico com aquele nome.

 

Passou por outro e este, já um senhor de idade mais avançada não conseguiu identificar o que ela tinha, mas lhe receitou vários exames e lhe deu alguns remédios que sabia que não resolveriam seu problema. Foi para casa e de novo não se alimentou e menos ainda conseguiu dormir e assim foi por mais um, dois e três dias que ia na empresa empurrada por sua responsabilidade, mas não rendia nada.

 

Chegou a sexta e estava completamente debilitada. Sentiu que lhe batia uma leve depressão. Sentia náuseas, dores no estomago, sua voz estava pastosa e nem água conseguia tomar.

 

Passou-se o sábado e o domingo e na segunda nem conseguiu se levantar. Estava travada sobre a cama e novamente tentou falar com Hercílio e nada. Ele simplesmente sumira.

 

Tentou se levantar e parecia que forças invisíveis a prendiam na cama. Não sabia o que fazer nem como fazer alguma coisa, pois sentia a aproximação da morte. Sentiu um arrepio pelo corpo todo ao ter este pressentimento e disse a si mesma que precisava reagir, mas não sabia como e nem de que forma e assim passou à segunda a terça e a quarta feira.

 

Na quinta ainda travada na cama o telefone tocou e era seu chefe que estava preocupado com ela e Stella lhe disse com voz gutural que estava mal de saúde e que o médico lhe ordenara que permanecesse de cama e por sua capacidade de trabalho ele pediu para que ela repousasse e que voltasse na semana seguinte e ao desligar Stela se sentiu a pior de todos as mortais. Sentia-se um zumbi de tão mal que estava.

 

Passou a quarta e chegou a quinta. Não tinha vontade de comer nada e nem para tomar água conseguia. Banho nem ousava tentar fazer e até as necessidades fisiológicas perdera a vontade de fazer e novamente arrumou forças para tentar falar com Hercílio e nada.

 

Sentia cada vez mais a morte ao seu lado. Sentia a sua presença. Ela parecia com Juçara que a todo momento a incomodava e com um esforço imenso pegou sua bolsa e ao fazê-lo acabou derrubando um cartão de dentro dela que caiu ao chão.

 

Nem tentou pegá-lo porque não tinha forças para isso e de novo ficou na cama com aquele torpor cada vez mais tomando conta de si. Sentia que seu fim estava próximo, pois estava desnutrida e sem ao menos tomar um copo de água, mas para sua sorte no final da sexta feira Bruna, sua amiga que estava trabalhando em seu ex escritório lhe telefonou e não entendendo o que ela falara foi correndo até seu apartamento o qual tinha a chave.

 

Chegou e ao ver Stella ali travada na cama nem a reconheceu. Bruna olhou para ela e só a reconheceu porque eram amigas a anos, mas Stella estava irreconhecível. Parecia um cadáver sobre a cama. Apavorou-se e aproximou-se da amiga que abriu os olhos ao vê-la ali do seu lado.

  

- O que aconteceu com você minha amiga? Perguntou Bruna.

- Não sei! Respondeu Stella arrancando palavras forçadas de dentro de si.

- Vou levá-la para o hospital.

- Já estive lá e não resolveram nada.

- Espera! O que é este cartão aqui?

- Não sei! Respondeu Stella.

- Pai João, assuntos espirituais. O que é isso?

- Não sei!

- Como não sabe? Acredita em espiritismo agora?

- Não, mas sinceramente não sei o que tenho.

- Quer que te leve lá?

- Não sei!

- Para este cartão estar aqui deve ser por alguma razão e sabe que eu não duvido de nada neste mundo. Vou te ajudar a se levantar e vou levá-la lá.

- Não quero ir!

- Não quer?

- Não!

- Se não quiser ir lá vou te levar para o hospital e lhe internar lá, porque se ficar aqui vai morrer.

- Acho que já morri minha amiga.

- Para de falar besteira. Vou te ajudar a se levantar e te levar até este tal de pai João.

 

Mesmo Stella não querendo se levantar sentiu uma pequena luz vindo em sua direção e com a ajuda de Bruna se levantou, porém, com muito esforço. Sentia-se mal e suja, mas Bruna nem se importou com isso e a ajudou a trocar de roupa e amparando-a sabe-se lá como a levou até seu veículo e vendo o endereço rumaram para lá. Stella sentada ao seu lado praticamente desmaiou de novo e nem viu para onde que estavam indo.

 

Stella entreabriu os olhos por um segundo e viu que já havia escurecido. Fechou-os novamente e só os abriu de novo quando Bruna parou o automóvel, desceu e saiu do mesmo e poucos minutos depois voltou acompanhada de uma jovem que a amparando juntamente com Bruna a levou para dentro e nem viu onde que era de tão mal que estava.

 

Colocaram-na sentada em uma poltrona e saíram assim que entrou um senhor de idade avançada que a cumprimentou.

 

- Boa noite filha!

- Boa noite! Respondeu Stella em sussurros.

- Quem lhe falou de mim?

- Não sei! Respondeu com voz gutural.

 

João olhou para Stella e viu que realmente a situação dela era grave. Ela estava sob os domínios de coisas ruins e chamou a jovem que acabara de sair.

 

- Tereza venha aqui e traga as ervas.

 

Rapidamente Tereza entrou trazendo várias ervas que entregou para o pai de santo e Bruna lá fora nada disse devido a rapidez que ela atendeu ao chamado. João misturou tudo, preparou as ervas de forma que achava na medida certa e incorporou.

 

- Fia! Olhe mim. Disse para Stella.

- Não quero! Disse Stella com vos gutural.

- Estou te ordenando que olhe pra mim. Insistiu.

- Não!

- Quem está ai? Perguntou pai João colocando a mão direita na fronte de Stella.

- Alguém que vai destruir com ela.

- Quem está aí?

- Não interessa!

- É você quem quer da forma mais difícil.

 

Pai João pegou um ramo de arruda e outro de pimenta, molhou no líquido que continha na mistura das outras ervas e começou a borrifar sobre a cabeça e o corpo de Stella.

 

- Quem está aí? Tornou a perguntar.

- Não interessa!

- Você que está pedindo isso.

 

Novamente procedeu da mesma forma e o que estava em Stella começou a gritar.

 

- Quem está aí?

- Não interessa!

- Você que está pedindo isso, então não reclame.

  

Novamente fez a mesma coisa ouvindo os berros daquela entidade, mas desta vez fez mais que apenas jogar o líquido. Pegou três espadas de são Jorge e começou a bater com elas nas costas de Stella e nem se importou com os berros da entidade.

 

- Para! Para! Eu falo.

- Quem está aí?

- O espectro das profundezas.

- Quem?

- O demônio da destruição.

- E o que você quer com a fia?

- Destruí-la!

- Quem te pagou para fazer isso?

- Uma pessoa que ela roubou o lugar dela.

- Quem?

- Juçara!

- Você vai sair daí agora mesmo. Saia!

- Não posso! Ela pagou bem para que eu destruísse este corpo.

- Vai sair por bem ou quer que eu te destrua, criatura das trevas?

- Não posso! Ela pagou muito por isso.

- O que ela te deu?

- Um banquete completo.

- Completo com o que?

- Bebidas, comidas e três animais vivos que matou na mata.

- O que você quer para sair do corpo da fia?

- O dobro do que recebi.

- Ela não vai te dar animais vivos.

- Então quero bebida da boa. Três vezes mais que eu saio e levo de volta para a outra.

- Só a bebida?

- Só, mas da boa senão eu volto e levo ela comigo.

- Não tem que fazer isso, ela não te fez nada.

- Eu não quero saber se fez ou mão. Fui pago para levar ela pra sepultura.

- Saia agora que a fia lhe entregará tudo o que está pedindo.

- Vou sair, mas se ela não entregar até amanhã à meia noite eu volto.

- Ela levará. Agora saia.

 

De repente Stella caiu de lado e ficou inerte. Tereza se assustou, pois nunca vira aquilo antes, na verdade, não com aquela intensidade, mas de repente, após pai João começar a esfregar de leve arruda próximo do nariz de Stella ela começou a voltar devagar.

 

- Onde estou? Quem é você?

- Pai João fia! Está em minha casa.

- Como vim parar aqui?

- Outra fia te trouxe até aqui.

- Que fia?

- Esta aqui. Puxou Bruna para que Stella a visse.

- Oi amiga! Como que você está?

- Não sei Bru, mas acho que estou melhor. O que houve?

- Não se lembra de nada? Perguntou Bruna.

- Não!

- Do que se lembra?

- De ter ido trabalhar na segunda e depois tudo sumiu da minha cabeça.

- Segunda? Hoje é sexta feira. Informou Bruna.

- Sexta?

- É fia! Sua amiga salvou a sua vida. Falou pai João.

- O que houve comigo?

- Uma pessoa que trabalha com você quis te destruir. Disse pai João.

- Juçara?

- Sim! Ela mesma.

- Mas eu nunca fiz mal para ela e nem para ninguém.

- Ela acredita que você tirou a vaga dela no emprego.

- Não é possível. Fui contratada após passar por uma seleção de pessoas.

- Ela acredita que o lugar que você está é dela e não vai sossegar a não ser que você faça o que tem que fazer fia.

- O que devo fazer?

- Terá que ir à meia noite de hoje ou no máximo amanhã e levar até uma encruzilhada a lista que Tereza irá te passar, mas advirto que não pode passar de amanhã à noite e se desse, levaria hoje mesmo. Disse pai João.

- Não tenho problemas para comprar isso, mas tenho medo de ir em encruzilhada de noite, ainda mais à meia noite.

- Não posso fazer isso por você. Terá que ir e fazer a entrega.

- E se eu não fizer?

- O que estava em você irá retornar e será mais difícil de te salvar.

- Sabe que não acredito nestas coisas, não sabe?

- Não se trata de acreditar ou não. Se me procurou era porque precisava de ajuda, mas se não quiser fazer, nada poderei fazer depois.

- Tudo bem senhor João! Quanto lhe devo?

- Não me deve nada fia! Fazer o bem é minha missão.

- Então obrigada! Disse Stella agradecendo e se levantando para sair.

- Não brinque com estas coisas fia, porque as trevas sempre destroem as pessoas quando são convocadas.

- Não irei brincar, mas me perdoe, não acredito em espiritismo.

- Eu sou apenas um mensageiro, mas não posso te obrigar a fazer o que não deseja, mas tem a meia noite de hoje e a de amanhã, caso não faça isso hoje.

 

Stella chamou Bruna e ambos saíram dali de onde estavam e ao chegar na rua Stella olhou para um lado e para outro e se recordou que fora naquele local que havia deixado Hercílio na semana anterior.

 

- Que estranho Bruna!

- O que?

- Lembra do médico que te falei?

- Que médico? Perguntou Bruna curiosa.

- Não te disse do médico com que falei na semana passada?

- Não! Que médico é este?

- O doutor Hercílio. Eu estava péssima e fui até o hospital e lá o conheci. Ele me atendeu e eu fiquei ótima. Jantamos e na semana seguinte eu estava maravilhosamente bem e jantamos outra vez, mas de repente, tudo voltou e ele sumiu.

- Não me contou nada disso e cadê ele?

- Não sei! Sumiu.

- Ninguém somo assim do nada.

- Pois é Bruna, mas ele sumiu e o fone dele só cai na caixa postal.

- Muito estranho isso amiga, mas me diz, vai fazer o que o pai João lhe disse para fazer?

- Acho que não. Sabe que não acredito em espiritismo e não acho que deva fazer isso.

- Se eu fosse você faria, afinal o que lhe custa isso?

- Tenho medo de me meter com isso.

- Olhe no espelho, por favor.

- Porque?

- Simplesmente olhe.

 

Stella olhou e viu que a tenacidade da pele de seu rosto estava corada de novo. Não estava aquela criatura linda da semana passada, mas estava bem.

  

- O que tem demais em mim? Estou normal.

- Acha que está mesmo?

- Claro que sim.

- Tem ideia de como estava hoje à tarde em sua casa?

- Nem faço ideia.

- Se tivesse visto a você mesma na cama travada não duvidaria de nada do que ouviu lá dentro da casa do pai João.

- Ah! Para com isso. Estou bem como sempre esteve.

- Foi o que acabei de dizer.

- O que quer dizer com estas suas palavras Bruna?

- Tem certeza que quer mesmo saber, ou ver?

- Sim! Quero.

- Acho que irá se assustar.

- Porque diz isso?

- Veja a gravação que fiz de você antes de trazê-la para cá.

 

Bruna pegou seu celular e abriu a gravação que ela havia feito dela antes de leva-la até a casa de pai João. Stella começou a ver aquele vídeo e se arrepiou toda. Era ela sobre a cama, mas não acreditava no que estava vendo.

 

A imagem era clara. Ela estava deitada sobre sua cama e sua aparência era de um cadáver. Na verdade, a aparência dela era horripilante. Suas pernas estavam voltadas para trás e seus braços e mãos estavam contorcidas e isso sem contar que a voz por ela pronunciada não era a dela. Simplesmente, parecia um vídeo de terror.

 

- Você montou isso, não é? Perguntou Stella para Bruna.

- Sabe que eu jamais faria isso.

- Essa aí não sou eu.

- Foi o que eu quis dizer e nem ia te mostrar.

- Porque gravou essa atrocidade?

- Porque sabia que não acreditaria se eu te contasse.

- Acha mesmo que devo fazer o que o pai João pediu?

- Você sabe que eu também não acredito em espiritismo, mas o que eu vi em você me fez repensar sobre muitas coisas.

- Não me respondeu.

- Quer saber se eu faria o que ele me pediu?

- Sim!

- Mesmo não acreditando em espiritismo eu faria e somente faria porque vi e sei como estava hoje à tarde. Caso contrário e se não tivesse visto tudo que vi não faria.

- Mas faria ou não?

- Já disse! Depois de tudo que vi em você e com você, eu faria isso.

- Mas tenho medo de ir a uma encruzilhada à meia noite fazer isso.

- Se quiser, mesmo com medo eu vou com você, se é que eu possa ir.

- Vou comprar as coisas e depois eu resolvo se irei ou não e desde já te agradeço por sua amizade, porque vendo o que vi neste vídeo lhe devo muito mais que a minha amizade. Lhe devo a minha vida.

- Amigas são para isso mesmo. Na alegria e na tristeza, pode contar comigo, mesmo que eu irei lá, contigo mesmo morrendo de medo. Falou Bruna

 

Saíram e foram direto a um hipermercado e lá mesmo não acreditando em espiritismo Stella não comprou apenas o que foi pedido, mas o dobro do que constava na lista que lhe fora entregue.

 

- Posso te fazer uma pergunta? Perguntou Bruna.

- Claro!

- Se não acredita em espiritismo, porque comprou o dobro do que está na lista?

- Sabe que nem eu sei! Senti vontade de comprar dobrado. Respondeu Stella.

 

Stella aproveitou e comprou algumas coisas para comer porque estava com fome e depois de carregarem tudo no automóvel de Bruna rumaram para o apartamento de Stella e antes de subirem colocaram todas as bebidas no porta malas do carro de Stella. Subiram e esquentaram uma pizza e enquanto comiam comentaram o ir ou não ir. Nem se deram conta e quando Stella viu já passava da meia noite.

 

- Ih! Perdi a noção do tempo e já passou da hora de ir entregar as coisas. Disse Stella.

- Mas você ia mesmo levar?

- Sinceramente?

- Sim! Claro.

- Na verdade não quero ir levar, mas depois de ver o filme que você fez eu fiquei com medo e o medo que fiquei foi muito maior que o medo de ir lá na encruzilhada. Entendeu?

- Não! Respondeu Bruna sorrindo.

- Nem eu, mas sinceramente eu ia mesmo levar lá.

- Vamos amanhã então? Se disser que irá eu vou com você. Falou Bruna.

- Acho que vou. Posso te pedir um favor?

- Pode sim!

- Pode dormir aqui comigo esta noite? Pediu Stella.

- Hum! Tá! Posso, mesmo porque já é tarde também.

 

Colocaram as coisas em cima da pia da cozinha e foram para a suíte do apartamento e Stella foi depois disso direto para a toalete tomar banho, pois sentia que estava fedendo pelo tempo que não tomava banho.

 

Terminou de banhar-se e enquanto Bruna também tomava banho Stella se sentou na cama e ficou conversando quando de repente ouviram um barulho de coisas caindo na cozinha.

 

- Que barulho foi este Stella? Perguntou Bruna ainda debaixo do chuveiro.

- Não sei. Algo caiu no chão lá na cozinha, mas estou com medo de ir lá olhar.

- Espere um pouco que já estou saindo e vou lá com você. Falou Bruna.

- Espero sim. Respondeu Stella.

 

Bruna terminou de tomar banho, vestiu uma camisola que Stella lhe emprestou e foram até a cozinha e ficaram horrorizadas, pois nem bem apareceram na porta pratos começaram a voar de dentro do armário que estava com as portas escancaradas.

 

Stella olhou para Bruna e ambas se abraçaram vendo aquela cena dantesca e ficaram ali ainda alguns minutos até que depois dos pratos foi para o chão os copos, as taças e as travessas. Ambas estavam com os olhos arregalados e da mesma forma que viram aquela cena inexplicável tudo parou e o silencio se fez presente.

 

- Não vou conseguir dormir aqui esta noite. Disse Stella apavorada.

- Mas parou. Acho que agora não vai mais ter disso. Falou Bruna também assustada.

- Mas prefiro sair e só voltar amanhã depois da entrega das coisas.

- Você quem sabe. Estou com você e te acompanho onde você for.

- Obrigada amiga! Vamos para um hotel.

- Porque hotel? Vamos lá para minha casa.

- Lá não! Não quero incomodar seus pais e também já é tarde para ir para lá.

 

Bruna concordou com o que Stella lhe falara e depois de se trocarem desceram e foram no automóvel de Stella, mesmo porque as bebidas estavam todas dentro dele. Saíram e pouco depois se instalaram em um flat que ficava próximo do apartamento. Pegaram o elevador, subiram e logo entravam. Levaram apenas uma troca de roupa e outra para dormir.

 

Olharam tudo no apartamento e depois se deitaram. Estavam cansadas pela adrenalina do dia conturbado e logo pegaram no sono.

 

Por volta das três da manhã Stella sentiu vontade de ir à toalete e se levantou. Olhou para Bruna e essa dormia em paz. Entrou na toalete com muito sono e depois de fazer as suas necessidades foi lavar as mãos e olhando para o espelho viu-se mais corada e com aparência cansada, mas estava muito melhor do que naquela gravação dantesca.

 

Virou para pegar a toalha e ao se virar novamente para sair de onde estava quando de repente, sem querer fazer isso olhou novamente para o espelho ficou com seus olhos fixos nele e logo depois acabou desmaiando com a imagem que vira nele. O barulho da sua queda acabou acordando Bruna que veio correndo para ver o que havia acontecido.

 

- Stella! Acorde! O que aconteceu?

- Anhãn! Balbuciou Stella voltando ao ar.

- O que houve?

- Eu vi! Disse Stella apavorada.

- Viu o que amiga?

- Vi um monstro no espelho.

- Como assim? Perguntou Bruna.

- Vi uma criatura horrível nele.

- Que tipo?

- Acho que era um demônio. Não sei explicar.

- Nossa! Quer ir embora daqui também?

- Não! Acho que não ia mudar nada e ele falou comigo.

- Falou o que?

- Disse que se eu não entregar o que está lá no carro à meia noite de hoje à meia noite e um ele vem me buscar e me levar para o inferno.

- E agora?

- Agora? Amanhã as onze e quarenta e nove estarei em uma encruzilhada para entregar a encomenda. Você pode ir comigo?

- Claro que posso. Vou lá morrendo de medo, mas estarei lá junto contigo.

- Obrigado! Nem sei como lhe agradecer. Falou Stella emocionada.

 

A noite passou e nada de anormal voltou a acontecer, porém, nem Bruna e nem Stella conseguiram mais dormir. Estavam quebradas e levantaram por volta das nove da manhã. Tomaram banho e depois tomaram um café leve.

 

Por volta das onze horas desceram e saíram para a rua. Não queriam ficar em lugar fechado e tinham que encontrar uma encruzilhada onde poderiam entregar as oferendas e não podia ser em um bairro da região que moravam. Tinha que ser preferencialmente na periferia, mas ambas não conheciam nada daquela área, mas foram procurar.

 

Foram para a zona norte e depois para a zona oeste e os locais que acharam que seriam perfeitos não acharam que deveriam fazer lá por causa do tipo de pessoas que freqüentavam durante o dia e imaginaram como seria a noite.

 

Foram até a zona leste e foi pior ainda. Havia lugares perfeitos para isso, mas o medo de serem assaltadas foi muito maior do que entregar o que deveriam. Mudaram e foram para a zona sul e todos os locais que viram eram bem freqüentados até que acharam um que acreditaram que seria perfeito. Anotaram o endereço e voltaram.

 

Por volta das vinte horas fecharam a conta no flat e saíram meia hora depois. Era cedo ainda, mas não queriam se atrasar. Tinha que ser feita a entrega precisamente à meia noite e nada no mundo impediria que Stella fizesse aquilo, mesmo estando morrendo de medo. Pegaram o automóvel e rumaram para lá.

 

Era em torno de vinte e uma e quinze minutos quando passaram pelo local escolhido e deram de cara com uma blitz da polícia militar e viram ali o primeiro contratempo. Teriam que escolher outro local a fim de que não tivessem problema mais tarde e novamente rodaram pelo bairro e nada de e encontrarem um que parecesse ser adequado.

 

Vinte e duas horas e doze e aparentemente encontraram outro que poderia servir, mas ao dar a volta na quadra depararam com uma festa de aniversário a uns trinta metros do local. Teriam que escolher outro e de novo nova busca.

 

Rodaram com o automóvel por ruas e mais ruas, porém, não encontraram uma encruzilhada e Stella já estava ficando desesperada, pois o recado fora claro. Se ela não entregasse a encomenda à meia noite, um minuto depois a criatura viria lhe buscar.

  

Entravam em uma rua e saiam em outra e nada e no relógio marcava quase vinte e três horas. O desespero batia fundo dentro de Stella, pois aquilo que ela nunca acreditara se mostrava tão presente que ela agora além de acreditar também temia.

 

Vinte e três e dezenove e nada de encontrar um local até que vinte minutos depois encontraram um local que parecia ser o ideal, porém, o medo se fez ainda mais presente. Era uma encruzilhada. O local era tranquilo. Dos três lados da encruzilhada eram terrenos baldios. Nada poderia ser mais perfeito, mas havia um pequeno problema, o lado que não era terreno baldio continha um enorme muro e era o muro de um cemitério.

 

- Amiga! Estou morrendo de medo! Disse Stella.

- Eu também, mas não temos mais tempo para procurar outro. Vai ter que ser aqui mesmo.

- Verdade! Vamos dar uma volta na quadra e voltamos aqui rapidinho.

 

Saíram e foram dar uma volta na quadra, porém a rua fazia caminho adverso e no controverso elas não conseguiriam voltar a tempo para fazer a entrega das oferendas.

 

- E agora? Perguntou Bruna.

- Podemos voltar de ré! Disse Stella tremendo de medo.

- Voltar tudo isso de ré? Impossível. Melhor seria virar o automóvel e voltarmos.

- Mas é contramão. Não podemos fazer isso.

- Porque não? Este lugar está deserto. Não passa ninguém por este lugar. Disse Bruna.

- Tá! Vou virar o automóvel e voltamos pela contramão mesmo.

 

Estava dando ré no automóvel para voltar de ré quando olhando pelo espelho retrovisor viram uma viatura da polícia militar indo em direção a elas.

 

- Ai meu Deus! Não vai dar tempo. Falou Stella apavorada.

- Volte ao normal e desça devagar. Disse Bruna.

 

Stella fez exatamente isso, mas ao voltar ao normal o automóvel afogou e parou. Olharam para o relógio aflitas e viram que faltava oito minutos para a meia noite. Forçou a partida uma, duas e três vezes e a viatura policial parou bem ao lado delas.

 

- Boa noite moças! Algum problema?

- Não policial! Apenas o motor afogou.

- Este lugar é muito ermo para que fique por aqui. Disse o policial do banco do passageiro.

- Eu sei. É que viemos na festa de aniversário de uma prima e já estamos indo para casa. Mentiu Stella assustada.

- Vamos ficar e aguardar o seu carro pegar.

- Não tem necessidade. Não queremos lhes incomodar.

- Não é incomodo algum, pois podemos ver que nem deste bairro parecem ser. Vamos aguardar. Falou o policial.

 

Stela olhou para o relógio. Faltavam cinco minutos para a meia noite. Insistiu na partida e o motor do automóvel pegou. Suspirou e a viatura vendo que estava agora tudo em ordem se despediu e acelerando foi embora.

 

Stella respirou aliviada. Faltavam três minutos. Não ia dar tempo e a criatura iria vir busca-la e não pensou duas vezes. Fez um movimento brusco, virou o automóvel na contramão e acelerou fundo o pé no acelerador e sentiu que ele quase que voava.

 

Faltavam dois minutos e de repente um outro veículo descendo a rua passou por elas e o motorista gritou dizendo que ela era doida e que estava na contramão. Nem se importou. Os minutos estavam passando e chegou na esquina. Parou. Olhou para o relógio e faltavam sessenta e três segundos.

 

Desceram e deixaram a porta aberta. Rapidamente abriram a porta malas e colocaram as bebidas todas uma ao lado das outras. Faltam trinta e um segundos e Bruna perguntou se não teriam que abrir as garrafas e litros.

 

Tinham obviamente e Stella se desesperou com isso. O tempo estava acabando e por sore comprara um abridor de garrafas e começou a abri-las enquanto Bruna abria os litros de whisky. Faltavam seis segundos quando abriram as duas últimas garrafas.

 

Tudo estava aberto e de repente Bruna lembrou que na relação de coisas havia uma nota de que deveriam pegar uma das garrafas e fazer uma meia lua em torno das oferendas, mas sem fechá-las por completo. Avisou Stella sobre isso e ela pegando uma garrafa qualquer fez o que ali estava anotado e ao fazer o relógio marcou meia noite em ponto.

 

Afastaram-se um pouco e ambas viram algo que jamais esqueceriam. No mesmo instante em que se afastaram um pouco, parecendo um filme de terror várias entidades se aproximaram e sabe-se como ou se fizeram algo se deliciaram com as oferendas.

 

Ficaram estáticas e ambas estavam vendo a mesma coisa e de repente um daqueles seres foi em direção a elas e ambas permaneceram como que petrificadas vendo ele se aproximando cada vez mais.

 

- Você cumpriu com a sua parte. Agora é a hora de revertermos a situação. Para nós a entrega está feita e não terá mais trabalho com relação a esta situação. Saiam daqui e não olhem para trás. Disse aquele ser com voz descompassada.

 

Nem precisava dizer mais nada. Ambas correram e entraram no veículo e até antes de fechar a porta Stella deu a partida e arrancou a toda velocidade dali. Fecharam a porta com o veículo em movimento e Bruna virou o retrovisor interno para cima e no mesmo ato em que Stella fechava os dois de fora.

 

Contornaram o muro do cemitério e na primeira rua viraram à direita e sumiram rua fora. Estavam apavoradas, porém, só pararam quando encontraram um posto de combustível e pararam lá por alguns minutos a fim de poderem respirar. Suas pernas tremiam. Logo em seguida, após se sentirem mais calmas novamente saíram e foram embora direto para o apartamento de Stella.

 

Stella conduziu seu automóvel como que uma automata e uma hora e vinte depois chegaram ao prédio onde morava.

 

- Vai subir comigo minha amiga?

- Não sei! Tenho que ir para casa. Meus pais podem estar preocupados. Respondeu Bruna.

- Só um pouquinho. Preciso de você.

- É! Acho justo isso depois de tudo que passamos e vimos.

- Não tem dinheiro que pague o que você fez por mim. Muito obrigada, minha querida amiga. Falou Stella chorando.

 

Subiram e temerosamente Stella abriu a porta do seu apartamento. Entraram. Ascendeu a luz e fecharam a porta atrás delas. Acessaram a sala e temiam ir até a cozinha, mas acabaram indo e lá tiveram uma surpresa. Não havia sequer um caco no chão e olhando melhor todos os pratos, até os que elas haviam usado estavam limpos e dentro do armário o qual estava com as portas fechadas e para deixa-las ainda mais surpresas, até a pia da cozinha estava em ordem, limpa e seca.

  

Se entreolharam e não entenderam nada daquilo. Ambas haviam vistos pratos e copos voando para o chão. A pia estava desarrumada, pois iriam deixar a louça para lavar no dia seguinte, mas nada indicava coisa alguma de anormal a para finalizar a caixa da pizza estava dobrada e colocada dentro do cesto de lixo ao lado da pia.

 

- Você está vendo o que eu estou vendo? Perguntou Stella.

- Não estou vendo nada, apenas que seu apartamento está arrumado como você sempre o deixou.

- Vai poder passar a noite aqui comigo?

- Vou sim e nem ousaria mais sair hoje de madrugada para a rua.

 

Foram para a suíte, lá cada qual por sua vez tomou banho, se trocaram e se deitaram abraçadas uma na outra e em poucos minutos acabaram adormecendo e só acordaram quando o rádio relógio tocou as seis e quarenta e cinco da manhã.

 

- Bom dia Bruna! Você dormiu bem?

- Nossa! Dormi e como dormi. Acho que do jeito que eu me deitei eu acordei.

- Você se lembra de tudo o que aconteceu?

- Prefiro fazer de conta que não vi nada e que nada de anormal aconteceu. Melhor assim.

- Verdade! Vou tentar fazer a mesma coisa.

- Bem! Vou me arrumar e ir para casa e conversar um pouco com meus pais. Disse Bruna.

- Também vou me arrumar e ir para a empresa. Pode escolher qualquer uma de minhas roupas e usar.

- Obrigada, minha querida amiga.

- Sou eu quem tenho que lhe agradecer. Falou Stella comovida.

 

Levantaram-se. Tomaram banho. Se enxugaram. Se trocaram. Tomaram café e cada qual foi para o seu destino. Bruna foi para a casa onde morava com seus pais e Stella saiu e foi para a empresa onde trabalhava.

 

Chegou cedo. Estava novamente radiante e isso se retratava em sua aparência e outra vez chamou a atenção por onde passou. Estava se sentindo leve e a cordialidade voltara ao seu ser. Pegou o elevador e desceu em seu andar. Não havia chegado ninguém ainda, principalmente Juçara. Nem se importou com isso.

 

Foi até sua mesa que estava entulhada de pastas e processos. Sentou-se e começou a analisa-los e fazer as anotações necessárias. O tempo para ela naquele dia pareceu não passar e aquilo que demoraria dias para ser feito por qualquer um para ela surgia com tranqüilidade e foi agilizando tudo com a sua atenção e presteza habitual.

 

Quando o pessoal começou a chegar ela já havia se livrado de vários processos indigestos e muitos vieram até ela para lhe cumprimentar. Estranhou, mas sorriu por conta disso e metida no meio daqueles papéis nem se se importou por Juçara não ter vindo até ela e desta forma a manhã acabou passando e cheia de energia Stella foi concluindo suas obrigações.

 

Por outro lado, a noite de Juçara fora terrível. Não conseguira dormir à noite toda. Teve pesadelos e cada um pior que o outro. Em seus raros momentos de sono via fogo queimando seu corpo e a sua volta tudo era de destruição. Literalmente um verdadeiro inferno.

 

Sentiu-se mal e sentia coisas que nunca em sua vida sentira antes. As dores iam desde os fios de cabelo até a sola dos pés. Quis levantar-se, mas algo a prendia na cama e era como se estivesse costurada no colchão.

 

Tentou gritar para chamar alguém, mas a voz não lhe saiu pela garganta. Começou a suar frio e a agonia tomou conta de todo o seu ser. Olhou de lado e estremeceu. Sentado na cadeira ao lado da porta estava um ser todo vestido de preto e seus olhos pareciam duas bolas de fogo.

 

Nada disse para ela, mas a encarava com um sorriso macabro e cheio de maldade. Juçara estremeceu pelo medo que sentira e tentou se levantar, porém, sem obter êxito. Estava travada.

 

- O que está acontecendo comigo? Pensou Juçara apavorada.

 

Não esperava ouvir nada em resposta e teria até ter sido melhor não ter ouvido, mas aquele ser que estava sentado na cadeira ao lado da porta se levantou e como se flutuasse chegou até ela e aquele rosto horroroso se aproximou do seu e lhe disse...

 

- Sua hora chegou e eu vim busca-la!

- Como que a minha hora chegou? Conseguiu pronunciar.

- Você pediu, não cumpriu e agora vai pagar por isso. Disse o ser.

- O que que eu pedi? O que não cumpri? Porque vou ter que pagar?

- Você me pediu para destruir seus amigos de seu trabalho e eu assim o fiz. Prometeu oferendas e não deu tudo que prometeu, só migalhas e vai pagar agora com a sua própria vida, porque nós estamos satisfeitos com o que nos foi dado. Disse o ser soltando um sorriso macabro.

- Como não paguei? Paguei tudo o que me foi pedido.

- Pagou metade do que prometeu e depois achou que estava tudo certo.

- Não! Eu paguei tudo o que me pediu.

- Pagou apenas a metade e teve tempo para pagar o que prometeu e agora irá pagar por isso. Sua hora chegou.

- Não! Não pode ser! Não aceito isso. Vamos renegociar. Pago o triplo do que te pagaram.

- Agora é tarde e trato é trato. Não somos humanos se esqueceu? Conosco não há negociações.

- Foi a maldita da Stella que te comprou?

- Ninguém nos compra, apenas nos pedem e fazemos. Agora vamos! Sua hora chegou.

- Espere! Vamos resolver isso. Disse Juçara desesperadamente.

- Acabou o prazo. Venham!

 

Mal acabou de pronunciar estas palavras Juçara viu que uma legião de espectros surgiu do nada e foram em sua direção. Nada mais podia ser feito. Ela estava sendo condenada pela sua própria maldade. A essência de sua vida praticamente foi-lhe arrancada do corpo que permanecia inerte sobre a cama e assim lá permaneceu.

 

O corpo que estava todo contorcido sem que a própria Juçara tivesse percebido foi retornando ao normal e o torpor tomou conta dele todo e assim ele ali permaneceu sem a vida que mantinha aquela carcaça vida. O corpo ficou, mas ficou esticado sobre a cama, morto e foi assim que sua família a encontro próximo da hora do almoço.

 

Stella precisamente as doze horas sentiu fome e em uma das raras vezes naqueles que trabalhava na empresa saiu e foi almoçar no restaurante no segundo andar. Estava com fome e se alimentou bem.

 

De repente do nada, olhando para o fundo do restaurante teve a impressão de ter visto Hercílio por ali, mas pessoas passaram na sua frente e quando olhou de novo não o viu mais e achou que fosse apenas impressão sua. Levantou-se e voltou para seu andar e resolveu que mais a tarde tentaria ligar para ele de novo.

 

Subiu e depois de assear voltou a sua mesa e se ateve em cuidar de seu trabalho e assim foi fazendo com o pensamento de que iria até a casa do pai de santo e também passar pelo hospital para ver se conseguia encontrar com o doutor Hercílio.

 

Passava das quinze horas quando seu ouvido atento acabou captando conversa dos funcionários sobre a morte de alguém. Não se preocupou, pois tinha muito o que fazer e estava terminando o procedimento de outro enorme processo quando uma jovem bateu na porta aberta da sua sala e pediu licença para entrar.

 

- Boa tarde doutora! Posso entrar?

- Claro! Pode sim!

- Vim aqui para lhe comunicar sobre o falecimento de sua assistente, a Juçara.

- Como? Perguntou Stella surpresa.

- Juçara faleceu e segundo falaram foi ou deve ter sido de madrugada.

- Como assim?

- Isso mesmo! Parece que ela morreu de parada cardíaca. O enterro será amanhã de manhã, mas duvido que irão muitas ou alguma pessoa daqui da empresa.

- Porque diz isso? Ela não tinha amigas aqui na empresa?

- Tinha apenas uma só que também não é bem vista pelos demais.

- Como?

- Juçara e Vilma eram unhas e carne, mas eram estranhas, negativas e parecia que eram envolvidas com forças ocultas.

 - Forças ocultas?

- É! Tipo assim como satanismo.

- Nossa! Como sabe disso?

- Todos aqui no departamento comentavam sobre isso. Todos tinham medo das duas.

- Qual é o seu nome mesmo? É Melissa, não é?

- Isso mesmo doutora. Melissa Ferreira Lima e sou assistente jurídica daqui da empresa.

- Quer dizer que comentam sobre elas terem ligação com satanismo? Perguntou Stella.

- É o que dizem doutora. Dá até medo só de pensar nisso.

- Dá medo mesmo.

- Dizem até que os três últimos antecessores seus acabaram morrendo por causa disso.

- Como assim Melissa?

- Não sabia?

- Não! Sente-se. Me conte isso tudo.

- Posso fechar a porta?

- Pode!

 

Melissa foi até a porta e a fechou. Voltou, sentou-se e continuou falando...

 

- O último ficou aqui vinte e oito dias. Acabou morrendo em um acidente de automóvel.

- Nossa!

- O penúltimo durou apenas vinte e três dias. Morreu de insuficiência cardíaca.

- Ele era velho?

- Que nada! Tinha apenas trinta e dois anos. Era atleta e corria até na São Silvestre todos os anos e praticava natação e jogava basquete.

- Meu Deus!

- O antepenúltimo foi o que durou mais. Foram trinta e sete dias. Morreu engasgado com uma uva.

- Credo! Falou Stella estarrecida.

- O que estava aqui antes dele se aposentou e Juçara tinha como certo que seria promovida ao cargo dele que é o seu hoje, mas como ela não conseguiu e outro foi contratado as coisas começaram a acontecer e tínhamos certeza de que a senhora seria a próxima vítima.

- Estou pasma! Falou Stella sem saber o que dizer.

- Todos nós vimos a sua aparência sendo modificada dia a dia e ficamos felizes quando ela melhorava e está como está hoje.

- E porque não me falaram nada sobre isso? Perguntou Stella.

- Doutora! Nem podíamos né?

- Porque não?

- Porque isso apenas se comenta, mas não se prova e pior que isso, todos nós tínhamos e temos medo das conseqüências, mas felizmente ela partiu e agora acabou tudo, mas como elas eram muito amigas peço que tenha cuidado com a Vilma agora.

- Quem é Vilma? Eu não me recordo dela.

- Vilma trabalha no departamento comercial. Dois andares abaixo deste aqui. É uma morena alta e forte que tem cabelos e olhos negros como a noite. Tem a cara amarrada e dizem que nunca viram ela dar um sorriso.

  

Se não fosse trágico o que Melissa estava lhe contando com certeza Stella teria sorrido, pois ela estava lhe contando tudo o que acontecia ali na empresa e resolveu parar porque senão ela acabaria falando de todo mundo.

 

- Estou muito agradecida por tudo que me contou, mas tenho Deus como protetor e confio Nele. Muito obrigada por ter me contado tudo isso, pois assim fico mais atenta à maldade alheia, porque nunca fui de acreditar nestas coisas, mas pelo que contou vou repensar.

- Se precisar de mim para qualquer coisa pode contar comigo doutora.

- Novamente obrigada!

 

Melissa se levantou e saiu deixando Stella ali sentada pensativa e se não tivesse passado pelo que passou jamais chegaria a acreditar no que Melissa lhe contara. Tinha que saber quem era Vilma e se proteger contra ela, pois não queria nem de longe passar novamente pelo que acabara de passar. Iria a hora que saísse do trabalho na casa do pai João conversar com ele e lhe pedir proteção.

 

Assim pensando pegou o celular e ligou para Bruna.

 

- Bruna, é a Stella! Tudo bem com você?

- Oi miga! Estou bem sim e você?

- Estou bem também. Como está sua tarde?

- A tarde está meio gelada, mas aqui dentro está quentinho. Disse Bruna sorrindo.

- Tonta! Eu quis dizer o que vai fazer daqui a pouco.

- Ah tá! Vou sair e ir para casa, porque?

- Quero ir lá no pai João. Poderia ir comigo?

- Posso sim! Que horas?

- Às dezoito horas está bem para você?

- Está sim! Te espero aqui ou quer que eu vá te buscar?

- Vim de automóvel! Te pego aí.

 

Encerrando o expediente às dezessete horas, Stela saiu e pegando o seu veículo foi até o escritório onde Bruna a aguardava. Chegou, ligou para ela e após ela descer e entrar no automóvel partiram rumo a residência de pai João. O transito estava bom naquela segunda feira e chegaram lá quarenta e três minutos depois. Desceram e apertaram a campainha da casa humilde. Tereza as atendeu.

 

- Boa tarde Tereza! Gostaria de poder falar com pai João. Este está?

- Está em atendimento, mas se puderem esperar um pouco ele as atenderá.

- Vamos aguardar. Obrigada! Disse Stela.

 

Aguardaram ao menos uns quarenta e cinco minutos e após a saída de dois jovens pai João pediu que elas entrassem. Já estava incorporado.

 

- Boa noite fias!

- Boa noite seu João! Disseram as duas.

- Como que oceis estão?

- Felizmente e graças ao senhor muito bem. Respondeu Stella.

- To feliz em ver oceis aqui. Sinal que conseguiram fazer o que foi prometido.

- Passamos um sufoco, ficamos com medo, mas fizemos sim.

- Não pode brincar com espíritos nunca fias. Eles não perdoam. Prometeu tem que cumprir.

- Percebemos isso.

- O que oceis precisam fias?

 

Stella contou então todos os detalhes da noite anterior até a conversa com Melissa. João ouviu tudo calado e quando ela terminou de relatar tudo, ele com cara pensativa começou a falar.

 

- Fia! A maldade existe mesmo e está aí querendo pegar os que não creem nela.

- Percebemos isso.

- Agora acreditam fias?

- Sem dívida nenhuma seu João.

- Mais o que oceis precisam?

- Proteção seu João! Proteção.

- Posso incorporar o espírito que estava com você e pode falar com ele direto se quiser.

- Tenho medo!

- Pode perder o medo, porque você não deve nada para ele.

- Não tem problema?

- Não! Espere que vou chamar Tereza para ficar aqui junto te ajudando se precisar.

- Está bem! Respondeu Stella temerosa.

 

Pai João chamou Tereza que entrou e se posicionou ao lado dele. Estava ciente de quem seria incorporado e estava atenta. Não teria perigo de nada e avisou Stella. Pai João desincorporou e incorporou o ser que estava querendo destruí-la.

 

- O que você quer? Disse o ser com voz rouca.

- Primeiro quero saber se fiz tudo certinho.

- Feis! Se não tivesse feito não estaria aqui agora. O que você quer agora?

- Proteção! Apenas isso.

- Não faço proteção!

- Mas não quero mais passar pelo que passei.

- Me pagaram para te matar e você negociô comigo e como a outra não pagou tudo o que prometeu quem morreu foi ela.

 

Stella então contou o que Melissa lhe contara e falou sobre Vilma e por isso que ela estava preocupada.

 

- Esta amiga dela é coisa ruim. Ela pratica magia negra e foi ela quem feis os trabaios para que você e os outro morresse.

- Dos três antes de mim também foi ela quem fez?

- Foi! Ela tem uma linha de esquerda negra muito forte.

- O que eu posso fazer para me proteger?

- Nada! Tem que esperar e agir quando for necessário.

- Quando eu me sentir mal, se sentir devo procura-lo.

- Sim, mas vou ficá de oio e vê o que posso fazê.

- Obrigada! Deseja mais alguma coisa?

- Não, mais já que perguntou quero mais bebida. Pode arrumá?

- Posso! A mesma quantidade?

- Pode sê menos, mais se der a mesma quantidade ficaremos felizes.

- Tenho que entregar a meia noite e na sexta?

- Pode entregar as 8 ou 9 da noite e não precisa ser na sexta.

- Pode ser hoje ou amanhã mesmo?

 

- Amanhã! Hoje não vai dar tempo.

- Quer algo para comer também?

- Já que quer oferecê quero sim. Disse e passou uma pequena relação.

- Entregarei tudo amanhã mesmo da forma que estamos combinando.

- Não prometa o que não dé pra fazê.

- Vou fazer, mas me diga, acha que devo ir no enterro de Juçara?

- Não! Ela não era coisa boa e lá no cemitério estará cheia de coisa ruim. Não se exponha.

- Obrigada! Disse Stella.

 

O espírito se foi e voltou pai João que conversou com calma com ela e passava das vinte e duas horas quando elas saíram da humilde casa e se foram. Stella queria pagar pelo atendimento dele, mas ele se recusou, mas ela prometeu que lhe traria alimentos e isso ele não recusou, pois ajudava pessoas carentes.

 

Saíram dali e Stella foi direto para um hipermercado e comprou o dobro do que prometera e mais cinco cestas básicas que entregaria no dia seguinte na casa do pai João. Bruna a acompanhou e disse que iria com ela entregar as coisas na noite seguinte.

 

Voltaram até o escritório que Bruna cuidava de seus clientes e a deixou lá a fim de que ela pegasse seu automóvel para ir para casa. Esperou ela sair da garagem e foram juntas até a próxima avenida. Ali cada qual seguiu seu rumo.

 

Chegou em casa e tudo estava arrumadinho como gostava de deixar. Tomou banho e comeu alguma coisa leve. Depois se deitou e dormiu a noite toda. Acordou bem e sentindo-se maravilhosamente bela. Tomou banho, comeu algo, se trocou e nem precisou se maquiar, pois sua beleza dispensava isso. Saiu e foi trabalhar. Chegou novamente muito cedo e se enfiou de cabeça em seu trabalho e nem se lembrou do enterro de Juçara.

 

Conforme Melissa dissera, da empresa, apenas Vilma, compareceu ao enterro de Juçara e o mesmo contou com não mais do que seis pessoas, todas da família próxima dela. Vilma se sentiu contrariada com isso, mas nada disse nem na hora de dar os pêsames para os pais de Juçara.

 

Estranhamente do nada começou a chover no cemitério e se os que lá estavam pudessem ver, de fato, ali, estava cheio de espectros e criaturas das trevas como se antegozando com a festança de terem levado mais uma alma podre para as profundezas.

 

Vilma olhou para todos os lados e se viu rodeada de hordas e mais hordas de um imenso exército de espectros do mal. Era ligada a tudo que era linha de esquerda, mas aquela quantidade de espíritos do mal a estava incomodando, mesmo ela sendo adepta deles.

 

A chuva aumentou de intensidade e tanto Vilma como os poucos presentes saíram do cemitério ensopados e ironicamente choveu apenas dentro das dependências do mesmo. Do portão dele para fora não caiu sequer uma gota de água.

  

Vilma resolveu que não iria trabalhar naquele dia e ao contrário disso foi para casa e direto para o espaço que usava para fazer seus trabalhos espirituais. Chamou uma outra guia que trabalhava com ela e pediu para que esta incorporasse.

 

- O que você quer? Perguntou o espírito incorporado.

- Quero saber porque minha amiga morreu.

- Morreu porque não pagou o prometido.

- Mas ela pagou! Eu fui junto com ela levar as oferendas.

- Ela levou só a metade do que prometeu.

- Não pode ser! Tenho certeza de que ela levou tudo. Afirmou Vilma.

- Só levou a metade e pagou com a vida por isso.

- Não acredito nisso! Tenho certeza de que ela entregou tudo.

- Ela quis se livrar de quatro inimigos. Pagou tudo do primeiro e a metade de todos os outros, mas fiz a minha parte, mas a última que quase morreu pagou mais que o dobro para se livrar da morte.

- Como? Você diz da que está no lugar que deveria ser dela hoje?

- É!

- Maldita! Quero me livrar dela.

- Não posso fazer isso!

- Porque não? Sou eu quem estou pedindo.

- Não posso!

- Porque não pode?

- Porque ela está me pagando para que a proteja.

- Maldita seja ela!

- Se quiser mesmo destruí-la vai ter que chamar outro, mas já aviso que a estou protegendo.

- Farei isso! Vou fazer com outro.

 

A moça que estava incorporada desincorporou e viu que Vilma estava colérica.

 

- O que foi Vilma?

- Este maldito ser das trevas se vendeu.

- Como se vendeu?

 

Vilma explicou tudo para sua amiga e essa recomendou que ela nada fizesse, pois se Stella estava sob a proteção de um dos mais poderosos espíritos seria bom ela tomar cuidado

 

- Vou tomar cuidado nada. Agora é pessoal, quero esta cadela morta.

- Amiga! Estou lhe alertando. Cuidado!

- Ei! Que é isso? Sou eu que estou falando isso.

- Sei que é você e por isso que estou te alertando.

- Sou poderosa e ninguém me derrubaria.

- Poderosa você pode ser, mas não é nem Deus e nem o diabo. Melhor deixar quieto.

- Nunca! Jamais! Vou arrumar outro espírito para que destrua a cadela da Stela. Quem ela pensa que é para mandar matar a minha amiga?

- Ela que pagou para matar a Juçara?

- Pelo que ele disse, Juçara não pagou tudo que tinha que pagar das oferendas.

- Então porque está com todo este ódio por esta moça?

- Porque não aceito a morte dela. Só por isso.

- Amiga! Estou lhe avisando. Cuidado!

- Ah vá para merda você.

- Bem! Eu avisei. Precisa de mais alguma coisa?

- Preciso que invoque outra linha.

- Me perdoe, mas não irei fazer parte disso.

- Como que não? Sabe com quem está se metendo?

- Sei sim! Com uma sem noção.

- Suma daqui e nunca mais apareça na minha frente.

- Amiga! Só quero te ajudar lhe avisando.

- Vá se foder! Você não presta para ser minha amiga. Suma daqui antes que eu deseje me livrar de você também.

- Tudo bem! Não está mais aqui quem falou.

 

A jovem que estava ali saiu com medo das ameaças de Vilma, pois de fato ela era muito poderosa e não queria se indispor com ela e Vilma não tinha noção do que estava fazendo, mas enfim, ela avisara e as conseqüências se viessem não seria contra ela, pois não quis compartilhar com a doidice de sua agora quase ex amiga.

 

- Sem noção eu? Quem essa filha da puta pensa que é para me chamar de sem noção? Vou cuidar primeiro da vadia da Stella e depois vou cuidar desta idiota. Disse Vilma para si mesma.

 

Vilma não sossegou até que encontrou outra pessoa tão má de conduta quanto ela e pediu que ela fosse lhe encontrar com urgência e quis que ela saísse do trabalho para ir lá lhe ajudar.

 

- O que foi Vilma?

- Preciso que incorpore um demônio para mim.

- Um espírito você quer dizer?

- Não! Quero que invoque algum de vodu.

- Vodu?

- Sim!

- Porque vodu?

- Porque quero matar a infeliz bem devagar.

- Oxê! Porque isso?

- Porque o espírito que Juçara contratou se vendeu e passou para o lado da vadia.

- E que mexer com ela de novo?

- Quero!

- Porque não deixa a criatura em paz? Nem a conhece.

- É pessoal agora.

- Amiga! Tome cuidado.

- Você também vai dizer isso para mim?

- Porque? Alguém já te disse sobre isso?

- Já! Vou te contar tudo.

 

Vilma relatou tudo o que acontecera e o que a outra guia infeliz lhe dissera e ao invés de reconhecer que ela estava certa preferiu detonar com a moça.

 

- Amiga! Pode brigar comigo, mas ela está corretíssima. Tem que ter cuidado.

- Porra! Até você que nunca se preocupou em foder com as pessoas?

- Não é bem assim de foder com as pessoas, mas sim apenas intermediar os espíritos com os clientes. Quem deseja o mal para os outros são eles e não eu.

- Ah tá! Até parece que você se importa com isso.

- Não é questão de me importar e sim de tirar meu corpo fora. No seu caso por exemplo, o próprio espírito que você incorporou lhe disse que está protegendo a moça e mesmo assim você quer destruí-la. Só estou te alertando.

- Vai me ajudar ou não cacete? Perguntou Vilma colérica.

- Tudo bem! Ajudo, mas já te avisei e vou tirar meu corpo fora. Chamo o espírito e você. Conversa com ele por conta e risco seu.

- Covarde, mas pode chamar que assumo as responsabilidades.

- Posso! Disse Ivany incorporando.

- O que você quer de mim? Perguntou o espírito.

- Quero destruir uma pessoa?

- Quem é esta pessoa?

- Uma cadela que matou minha amiga.

- A cadela que está sendo protegida?

- Ela mesmo!

- Conhece os riscos pelos quais irá passar?

- Sim!

- Tem certeza de que quer mesmo fazer isso?

- Claro que tenho! Quero vê-la sofrer antes que ela morra.

- Os riscos são muito grande. Está mesmo disposta a corrê-los?

- Sim! Estou.

- Preciso que me arrume algo dela. Cabelo, algum pertence, o que puder me arrumar.

- Vou providenciar. Amanhã mesmo terei isso em mãos.

- Novamente vou te avisar que os riscos são grandes e você será a única responsável.

- Tudo bem! Amanhã à noite terei algo dela comigo e te chamo.

 

Ivany desincorporou e Vilma estava satisfeita. Na noite seguinte arrumaria alguma coisa de Stella e judiaria muito dela antes de matá-la. Despediu-se de Ivany e depois foi dormir já sonhando com o que preparava para destruir a sua vítima.

 

A noite passou e ambas, tanto Stella quanto Vilma tinham objetivos completamente diferentes e sem sequer imaginar que Vilma estava planejando Stella mesmo receando algo confiava na proteção que teria espiritualmente.

 

Ambas acordaram cedo. Vilma não mudara seu jeito de ser. Carrancuda e com cara de poucos amigos. Fechada. Seca. Nem tomou banho, não tomou café e nem se penteou ou se arrumou direito para ir trabalhar. Tinha apenas um objetivo naquele dia que era arrumar algo pessoal de Stela para destruí-la. Saiu de casa e pegando um coletivo foi para a empresa.

 

Já Stella acordou tranqüila e de bem com a vida. Tomou um café reforçado. Tomou banho, se maquiou. Viu-se linda no espelho e sorriu para a vida. Se penteou. Prendeu os cabelos fazendo um rabinho com eles. Se arrumou como sempre fazia e nem de longe se lembrava mais de Juçara e de Vilma. Saiu do apartamento, entrou em seu automóvel e foi para a empresa.

 

Ambas chegaram ao mesmo tempo na empresa. Vilma desceu do coletivo e entrou pela entrada principal. Stella entrou com seu automóvel no estacionamento debaixo do prédio. Ambas pegaram o elevador e subiram para seus andares, cada qual em um deles. Ambas desceram ao mesmo tempo em seus andares.

 

Vilma como fazia todos os dias desceu seca, mal-humorada e sem cumprimentar ninguém foi até sua mesa e acabou tropeçando na cadeira e maldisse ter que estar ali ganhando um salário que achava ser de fome. Odiava o trabalho que tinha, mas que dependia dele.

 

Já Stella pelo contrário desceu do elevador sorrindo. Cumprimentou a todos com os quais cruzou abriu a porta de sua sala, entrou e sentou-se em sua cadeira para trabalhar. Amava seu trabalho e sentia orgulho do que fazia. Tinha um ótimo salário e não que isso fosse importante, pois tinha seu próprio escritório onde Bruna estava cuidando de seus clientes e com isso ela poderia se realizar profissionalmente trabalhando em uma poderosa multinacional.

 

Vilma mal sentou-se em sua cadeira e foi chamada na sala de sua superior e lá foi chamada a atenção que a deixou chateada. Sua chefa culpou-a pelo serviço mal feito que ela achava que nem era culpa de si própria e para agravar recebeu a má notícia de que em nova falha ela seria demitida. Saiu da sala de cabeça baixa, mas fora foi até a toalete e explodiu.

 

- Quem está vadia pensa que é para me tratar desta forma? Vai pagar caro por isso.

 

Já Stella mal sentara em sua cadeira e pegara a primeira pasta, o diretor jurídico e o vice-presidente internacional foram até sua sala para elogiar e enaltecer o seu trabalho, pois no pouco tempo em que ela ali trabalhava praticamente limpara e destrinchara todos os processos que estavam enrolados e travados ali a meses.

 

Vilma jamais demonstrara e isso desde criança algum sentimento para o bem e jamais havia chorado a não ser quando apanhava de seu pai e de sua mãe, mas ao se olhar no espelho sentiu-se como uma velha acabada e uma lágrima escorreu pela sua face.

 

Stella por outro lado não conseguiu a emoção e uma lágrima de felicidade pelo reconhecimento escorreu pela pele macia e bela de seu rosto perfeito.

 

Vilma entrou em um dos boxes da toalete, fechou a porta e após sentar-se colocando as duas mãos no rosto maltratado sentiu vontade de chorar de ódio porque nada na sua vida estava dando certo, mas antes de chorar lembrou-se de Juçara e na hora o ódio que tinha de graça contra Stella voltou a sua mente e o desejo por destruí-la tomou conta de si.

  

Por outro lado, Stella logo após os dois diretores terem saído de sua sala se levantou e foi até a toalete a fim de recompor sua maquiagem que ficara manchada por causa das poucas lágrimas que escorreram pelo seu belo e formoso rostinho de porcelana.

 

Vilma se xingando por aquele breve ato de fraqueza saiu da toalete chutando a porta. Estava possessa e subiu os dois andares que separavam ela de Stella.

 

Stella estava quase saindo da toalete quando Melissa foi até lá e conversaram um pouco sobre o enterro de Juçara que nenhuma das duas compareceram.

 

Vilma galgou os andares da escada e como não quer nada foi até sala de Stella que não estava e lhe informaram que ela estava na toalete.

 

Na toalete Melissa vendo que Stella havia levado a seu nécessaire pediu se ela poderia lhe emprestar a escova para que ela arrumasse seus cabelos. Stella disse que sim e esperou um pouco enquanto Melissa ia fazer suas necessidades.

 

Vilma entrou na toalete e vendo Stella ali com a escova nas mãos, rudemente a cumprimentou e entrou em uma das divisórias do local e fechou a porta vendo que havia mais alguém lá.

 

Stella esperou que Melissa saísse, entregou a escova para ela e saiu sem dizer nada. Vilma aguardou um pouco e saiu assim que Melissa saiu da toalete. Era sorte demais. Melhor seria impossível. Pegaria os cabelos dela que vira jogado dentro da lixeira. Sorriu feliz ao pegar os três fios que ali se encontravam. Saiu e voltou para seu andar.

 

Vilma chegou ao seu andar rapidamente e foi direto para sua mesa e pegando um papel embrulhou os fios de cabelo ao mesmo tempo em que Melissa discretamente entregava a escova para Stella.

  

Vilma passou o dia todo trabalhando feito doida. Nem almoçou, pois não via a hora de ir embora para falar com o guia de vodu e começar a dar um jeito em Stella até matá-la de vez, mas não antes de judiar muito dela.

 

Stella depois dos elogios nem fome teve e se enterrou nos processos e faltavam vinte minutos para as dezessete horas tinha tudo terminado. Pegou o telefone e ligou para Bruna e combinaram se encontrar no apartamento de Stella que sorria feliz.

 

Vilma nunca trabalhara tanto na vida quando naquele dia e faltando vinte minutos para as dezessete horas pegou seu telefone e ligou para Ivany a fim de se encontrarem para fazer o que tinham combinado no dia anterior.

 

Dezessete horas em ponto Stella se levantou e pegando sua bolsa saiu e foi em direção ao elevador e não via a hora de fazer a entrega da encomenda que havia prometido, mas antes disso iria passar na casa do pai João e levaria para ele as cestas básicas a fim de ajudá-lo com as pessoas que ele cuidava.

 

Dezessete horas em ponto mal se contendo Vilma se levantou, pegou sua bolsa e saiu como se fosse perseguida pelo demônio em direção ao elevador. Tinha pressa de ir embora. Estava feliz e não via a hora de ter um bonequinho nas mãos para ficar espetando e maltratando de Stella.

 

O elevador parou e Stella entrou dentro dela. Estava só e dois andares abaixo ele parou e uma pessoa entrou. Era Vilma que olhou para Stella e reconhecendo-a deu um sorriso de felicidade, coisa rara em seu semblante. Stella retribuiu.

 

Desceram até o térreo e lá Vilma desceu, mas Stella permaneceu dentro até chegar no segundo subsolo onde estava seu automóvel estacionado.

 

Vilma apressou os passos e correu para pegar seu ônibus que estava chegando no ponto e ao mesmo tempo que entrava e se sentava Stella se sentava no banco de seu veículo. Cada qual com um objetivo seguiram seus caminhos e por motivos diferentes ambas sorriam por acreditarem que aquele era o dia de sorte de cada uma delas.

 

Stella saiu e foi até o prédio em que ficava seu escritório pessoal e lá pegando Bruna saíram e foram direto até a casa do pai João que ficou feliz da vida por receber aquelas imensas cestas básicas.

 

- Filha! Deus lhe abençoe por isso. Vai ajudar a muitas pessoas necessitadas. Nós preparamos comida aqui e distribuímos para as pessoas carentes que moram na rua aqui perto. Você é uma pessoa muito boa.

- Imagine seu João! Gostei de seu trabalho social e prometo que todos os meses trarei alimentos para ajudá-lo em vossa obra.

- Mais uma vez obrigado por isso. Falou João agradecido.

 

Eram sete e vinte e sete quando Stella e Bruna saíram e foram até uma encruzilhada a fim de entregarem as encomendas e no mesmo horário Vilma chegou na sua casa na periferia e ligou para que Ivany fosse logo para sua casa a fim de fazer o trabalho, porque ela conseguira a encomenda.

 

Vinte horas e treze minutos Stella acompanhada por Bruna chegaram a encruzilhada que tinham em mente da primeira vez e no mesmo horário Ivany acompanhava Vilma até o local onde essa fazia seus trabalhos.

 

Exatamente vinte horas e trinta minutos Stella e Bruna arrumaram as coisas na encruzilhada e esparravam a bebida e volta das oferendas como devia ser feito. No mesmo instante Vilma entregou os três fios de cabelo para Ivany que estava com um bonequinho de palha e essa prendeu os cabelos nele.

 

Vinte horas e trinta e seis minutos Stella e Bruna entraram no automóvel e dando a partida no mesmo saíram e foram embora.

 

Vinte horas e trinta e seis minutos Ivany entregou o bonequinho para Vilma com algumas agulhas e não se contendo Vilma pegou um deles e espetou na coxa direita do boneco.

 

Vinte horas e trinta e seis minutos Melissa que se encontrava sentada na cadeira da faculdade onde estava fazendo prova deu um berro e chorou pela dor que estava sentindo na sua coxa direita assustando a todos os presentes na sala.

 

- Vamos jantar agora? Disse Stella para Bruna após a entrega.

- Vamos jantar agora? Falou Vilma para Ivany após tirar o espeto da coxa do boneco.

 

Como que combinadas pelo destino tanto Bruna quanto Ivany responderam ao mesmo tempo...

 

- Demorou!

 

Em torno das vinte e duas horas já alimentadas Stella levou Bruna para pegar seu carro e depois feliz por ter cumprido o prometido foi para seu apartamento e foi coincidentemente no mesmo instante que Ivany foi embora deixando Vilma feliz da vida porque agora ela iria se divertir machucando quem ela acreditava ser Stella, mas nem de longe imaginaria que na verdade era Melissa a sua vítima.

 

No mesmo horário Melissa horrorizada com a dor terrível que sentira chegava em casa tendo que sair da prova que estava fazendo devido a dor que sentira.

 

Stella chegou e seu apartamento e depois de tomar banho vestiu uma camisola fininha e foi se deitar. Olhando para o relógio viu que era vinte e três e doze e se deitou para dormir e não demorou nada para que pegasse no sono.

 

Vilma estava feliz e radiante. Nem se preocupou em tomar banho. Queria porque queria ficar brincando de espetar aquele bonequinho a fim de levar Stella ao desespero. Se deitou e viu no celular que eram vinte e três e doze e que ainda daria tempo para dar umas cutucadas em vários lugares do boneco.

 

Melissa chegou em casa assustada como que ocorrera, tomou banho e se deitou depois de ter contado para sua mãe sobre a dor e ouviu seu irmão berrando no corredor com alguém que eram vinte e três e doze minutos e não iria sair mais.

 

Cinco minutos após isso Stella dormia tranquilamente. Vilma pegou o bonequinho e começou a penetrar as agulhas em vários lugares ao mesmo tempo e Melissa começou a berrar de dor.

 

A brincadeira de Vilma não durou mais que cinco minutos, mas a dor que Melissa sentira seria algo não era nada em comparação ao que Vilma alimentava em seus sórdidos pensamentos.

 

A noite passou e Stella para variar acordou cedo. Estava feliz. Tivera sonhos maravilhosos e sentia como se flutuasse, pois felizmente tudo corria bem para ela desde a partida de Juçara e acreditava que tudo ficaria em paz a partir daquele dia. Comeu alguma coisa leve, tomou banho, se enxugou, olhou para o espelho e viu que tudo estava bem novamente com sua aparência. Não era vaidosa, mas amava se sentir bem e bela. Se trocou e saiu para ir trabalhar. Pegou seu automóvel e saiu.

 

Vilma acordou de mau humor como todos os dias com o despertador tocando. Se cheirou e percebeu que necessitava tomar um banho. Entrou debaixo do chuveiro e mal se molhando saiu e olhou no espelho e viu a mesma cara emburrada de todos os dias. Resmungou algo, se trocou, fez um sanduiche de pão com mortadela e saiu para ir até a empresa que trabalhava e só ia porque precisava do salário para viver. Chegou no ponto e pegou o ônibus.

 

Já Melissa depois do que passara na noite passada acordou cansada. Se levantou e foi tomar banho. Tomou e olhou para o espelho. Estava com olheiras e sentiu que sua beleza juvenil havia desaparecido. Sua mãe chamou-a para que tomasse café, mas ela estava sem fome. Trocou de roupa e saiu para ir trabalhar completamente sem vontade. Foi até o metrô que passava a uma quadra de sua casa.

 

Naquele dia Stella pegou o transito um pouco mais pesado, mas logo estava na empresa. Desceu para o estacionamento ao mesmo tempo em que Vilma e Melissa entravam pela entrada principal do prédio.

 

Stella pegou o elevador e este parou no primeiro andar. Ali estavam Melissa, Vilma e mais quatro outros funcionários. Stella cumprimentou a todos e notou que Melissa não estava bem. Estranhou, pois ela estava calada e cabisbaixa. Por outro lado, Vilma nem lhe respondeu e desceu dois andares abaixo do dela e logo em seguida Stella e Melissa também desceram. Os outros quatro funcionários seguiram para andares superiores.

 

- O que você tem Melissa?

- Nada!

- Está acontecendo algo com você?

- Não porquê?

- Porque vejo que está abatida ou chateada.

- Impressão sua. Estou bem.

- Não está mesmo. Já vi essa carinha em mim mesmo a dias atrás. Venha comigo.

 

Stella entrou em sua sala e levou Melissa junto e pediu para que ela se sentasse. Olhou para ela e viu naquela garota algo que estava vendo em si mesma a algum tempo atrás. Melissa estava abatida, com olheiras e parecia ser bem mais velha do que realmente era.

 

- Agora me fale o que aconteceu de ontem para hoje?

- Não foi nada. Já disse.

- Melissa! Algo aconteceu. Me conte. Será melhor para você.

 

Não agüentando mais segurar Melissa se abriu com Stela e contou sobre a forte dor que sentiu e era como se uma agulha sendo penetrada dentro de seu corpo. Depois contou que chegou em casa sem fome, sem sede e a noite toda teve pesadelos. Horríveis. Stella ouvia e com exceção das agulhadas tudo parecia ser igual.

 

- Você é de que religião Melissa?

- Sou católica, mas não muito atuante, porque?

- Acredita em que forças espirituais podem nos destruí?

- Sinceramente? Não!

- Eu também não acreditava em nada disso, mas mudei de ideia.

- Porque me pergunta isso?

- Você reparou em mim quando entrei aqui na empresa?

- Sim! Todos reparamos na verdade.

- E o que viu o achou de mim quando comecei aqui a quase um mês atrás?

- Como assim?

- Aparentemente! O que achou de mim?

- Não estou entendendo a pergunta. Disse Melissa.

- Fisicamente, aparentemente, meu rosto, estas coisas.

- Ah! Todos achamos você uma linda moça, nas depois você mudou. Parecia cansada, abatida, acabada, envelhecida. Estas coisas.

- Era isso mesmo que eu queria saber.

- Porque está dizendo isso?

- Você se olhou no espelho hoje, por caso?

- Não! Estava tão cansada que nem me vi, ou nem quis ver.

- Venha comigo então. Vamos até a toalete.

- Porque?

- Não pergunte, apenas me acompanhe.

- Tá!

 

Stella se levantou e foi com Melissa até a toalete e pediu para que ela se olhasse no espelho e ao fazer isso Melissa levou um susto. Nada tinha a ver com a imagem dela real. Sentiu-se acabada, estava com olheiras e para agravar ainda mais viu que aparentava ter pelo menos uns trinta anos a mais.

 

- Meu Deus! Como pode isso?

- Acho que sei mais ou menos o que está acontecendo com você.

- O que está achando? Me diz por favor.

- Você está sob efeito de algum espírito maligno.

- Como assim? Perguntou Melissa assustada.

- Aconteceu comigo isso estes dias, mas consegui me livrar falando com um guia espiritual.

- Você quer dizer um pai de santo?

- Mais ou menos isso e se quiser te levo lá.

- Eu tenho medo disso. Disse Melissa chorando.

- Calma que eu vou te ajudar.

- Por favor, me ajude! Não quero morrer.

- Não vai! Prometo te ajudar nisso.

 

Enquanto Stella consolava ou ao menos tentava consolar Melissa, em seu desejo insano ou de demência, Vilma se levantou, pegou sua bolsa e foi até a toalete dois andares abaixo. Lá entrou em um dos boxes do local, fechou a porta, abriu a bolsa e retirou o bonequinho de dentro dela. Sentou-se, pegou uma agulha e espetou de leve o boneco no braço direito.

 

No mesmo instante Melissa sentindo no corpo aquela agulhada gemeu de dor e fez com que Stella ficasse apavorada. Vilma retirou a agulha e apertou de novo agora na coxa esquerda. Melissa soltou um grito de dor. Desta vez mais intensa.

 

Vilma sabia que não poderia ficar ali muito tempo e retirou novamente a agulha e desta vez colocou a mesma na mão esquerda e novamente novo grito de dor de Melissa. Sorrindo, Vilma retirou a agulha e como nada tivesse feito de errado e sequer com um pingo de piedade voltou para seu trabalho.

 

Melissa estava assustada demais. Aquilo não era normal de acontecer e temia o pior e implorou para que Stella a ajudasse e essa pegando-a pela mão resolveu ajuda-la no ato.

 

Saíram da toalete e por sorte ninguém havia ouvido os gritos que Melissa deu e Stella a levou até sua sala. Lá ligou para seu superior e disse que precisaria sair para resolver um assunto e que levaria Melissa junto com ela e inclusive pediu para que se fosse possível a nomeassem como sua nova assistente.

 

Obviamente que pela capacidade que Stella estava demonstrando no executar de seu trabalho exemplar seu superior não discutiu e nem perguntou o porquê de sua saía e Stella pegando Melissa pela mão, pediu que ela pegasse sua bolsa e saíram em direção ao elevador. Desceram, entraram no automóvel de Stella e essa saiu em direção à casa de pai João.

 

O transito estava carregado naquele horário e havia começado a cair uma leve garoa, mas isso não impediu que Stella prosseguisse em sua determinação de ajudar aquela jovem garota e quase uma hora depois chegaram no local onde morava pai João.

 

Desceram e Stella apertou a campainha. Não atenderam. Apertou de novo e nada. Stella ficou alarmada. O caso de Melissa era grave e precisava de auxílio. Apertou de novo e nada. Bateu o desespero nela.

 

Olhou de um lado para o outro da rua e de repente viu um prédio que era seu conhecido ou era uma mera coincidência e sem pensar pegou Melissa pela mão e a puxou para lá sem saber porque.

 

Parou diante daquele prédio antigo e ficou olhando para ele. Não viu sequer uma janela aberta e estranhou aquilo, pois naquela hora seria normal de pelo menos um dos apartamentos terem aberto uma janela que fosse, mas todas estavam cerradas.

 

Nem se importou com a garoa que caia sobre elas e se aproximando da porta do prédio segurando Melissa pela mão que não entendia nada do que estava acontecendo, porém, buscava ajuda de todas as formas.

  

Sem saber como ou porque Stella acionou todas as campainhas que tinham na parede. Nenhuma deu sinal de vida. Tornou a apertar e nada. Na verdade, nem sequer no andar térreo ela chegou a ouvir que estavam tocando em algum apartamento.

 

Bateu o desespero em Stella. Aquilo não era normal. Resolveu então retornar na casa de pai João e ao se virar para voltar deu de cara com Hercílio.

 

- Olá! O que faz aqui? Perguntou ele.

- Preciso de ajuda para esta minha amiga. Respondeu Stella.

- O que ela tem?

- Apenas olhe para ela e saberá o que ela tem. Disse Stella rudemente.

- Calma! Vamos entrar. Disse Hercílio.

 

Abriu a porta e entraram. Caminharam poucos metros por um corredor escuro e entraram em um dos quatro apartamentos do andar térreo.

 

- Sentem-se e me conte o que está havendo. Pediu Hercílio calmamente.

- Acredito que ela esteja possuída por algo como eu estava. Falou Stella.

- Tudo bem! Jovem quantos anos você tem?

- Tenho vinte e dois anos.

- Você tem namorado?

- Não!

- Conhece alguém que lhe deseje mal?

- Não!

- Mora sozinha ou com seus pais?

- Com meus pais! Respondeu Melissa em entender o porquê das perguntas.

- De onde conhece Stella?

- Eu trabalho na mesma empresa que ela. No mesmo departamento.

- Doutor Hercílio! Pare de vez com estas perguntas porque eu acho que sei o que ela tem.

- E o que acha que ela tem doutora Stella?

- Está sob efeito de um espírito maligno.

- Você acredita nisso?

- Sim! Eu acredito.

- Hum! Pelo que vejo mudou de opinião sobre espiritismo.

- Mudei, mas acredito que ela seja vítima disso, pois já passei por isso.

- Se for isso saiba que não sou nem pai de santo e nem médium.

- Para de graça doutor. Naquele dia praticamente o senhor me curou apenas com palavras.

- Uma coisa é uma coisa e outra coisa nada tem a ver com a outra.

- Pode ajuda-la ou não?

- Estava tentando quando você me interrompeu.

- Ah tá! Desculpe.

- Posso continuar? Perguntou Hercílio.

- Pode!

- Qual é o seu nome jovem?

- Melissa Ferreira Lima.

- Pois bem! Na empresa que vocês trabalham conhece alguém que seja, ou que pareça ser maléfica?

- Quer dizer ruim?

- Isso!

 

Stella e Melissa se entreolharam, pois, o pensamento de ambas rumaram para a mesma pessoa, Vilma e Melissa disse sem pestanejar.

 

- Sim!

- E quem seria esta pessoa?

- Uma mulher que trabalha dois andares abaixo de nós no departamento comercial.

- E porque acha que ela seja ruim ou maléfica?

- Não sei, mas sinto isso. Aliás, todos lá sentem isso.

- Ela já te fez algum mal antes ou teria motivo para tal?

- Não! Nem conversar com ela eu converso.

- Deixe-me pensar um pouco. Disse Hercílio como se esperasse por algo.

 

Parecia que ele sabia o que iria acontecer, pois ao dizer isso e fazer ar de que estava pensando em algo Vilma com olhar de ódio nos olhos novamente saiu de sua mesa e voltou à toalete e lá sem se preocupar com nada tirou o boneco de dentro de um pano que o enrolava e novamente pressionou uma agulha desta vez na nuca do bonequinho.

 

Melissa soltou um berro de dor e instantaneamente colocou a mão sobre seu pescoço. Vilma então tirou a agulha do pescoço e comprimi-a no seu braço direito com um pouco mais de força e novo berro Melissa soltou e levou a mão até o local.

 

Vilma tirou a agulha e enfiou-a na coxa esquerda do boneco e fez pressão. Melissa quase desmaiou com a dor e levou a mão até a coxa e começou a chorar. Vilma ia fazer novo movimento quando uma pessoa entrou à toalete e ela tirando a agulha da perna do boneco saiu e voltou para sua mesa.

 

- Vodu! Falou Hercílio.

- Vodu? O que é isso? Perguntou Stella.

- É um ritual ligado a magia negra, ou espiritismo maligno.

- E isso tem cura ou como se livrar desta coisa? Perguntou Melissa assustada.

- Tem sim, mas é complicado.

- Porque complicado?

- Porque não sou pai de santo e nem médium espiritual.

- Eu conheço um. Disse Stella.

- Conhece? Perguntou Hercílio sem parecer se surpreender.

- Conheço!

- E ele fica longe daqui?

- Não! Mora precisamente a cinco casas para baixo na mesma rua e calçada que você mora. Informou Stella.

- Muito interessante isso, mas porque não o procurou e sim a mim, que sou um simples médico da rede hospitalar?

 

Stella ia responder, mas preferiu não o fazer e pegando Melissa pela mão puxou-a e resolveu leva-la até a casa de pai João.

 

- Ei! Onde vai?

- Falar com o pai de santo. Respondeu Stella brava.

- Ele não está lá agora.

- Como sabe que ele não está em casa? Conhece ele?

- Conheço e sei que ele não está lá.

- E como sabe?

- Porque sei, mas de repente ele chega logo.

- Então vamos espera-lo chegar. Disse Stella indo em direção à porta puxando Melissa.

- Você vai acabar machucando essa jovem. Falou Hercílio.

- Não vou! Só quero ajuda-la. Pode abrir as portas por favor?

- Estão abertas. Podem sair se desejarem.

 

Batendo o pé de bronca Stella puxou Melissa e saíram do prédio e voltaram para a casa de pai João e esperariam lá até ele voltar se necessário. Chegaram diante da casa e Stella apertou a campainha de novo e desta vez Tereza apareceu.

 

- Bom dia Tereza! Precisamos falar com o seu João com urgência.

- Entrem por favor! Ele já irá atende-las.

- Obrigada! Disse Stella.

- Podem entrar minhas filhas. Falou uma voz vinda da sala onde ele atendia.

 

Entraram e se surpreenderam ao ver seu João ao lado de Hercílio.

 

- O que está fazendo aqui e como veio tão rápido? Perguntou Stella para Hercílio.

- Acompanhando vocês. Respondeu Hercílio simplesmente.

- Ah tá! Deixa para lá. Seu João...

- Já sei minha filha. Sua amiga está sendo atacada pelo ato do Vodu.

- Como o senhor sabe disso?

- Eu contei para ele. Disse Hercílio sorrindo.

- Ah... ia dizer Stella, mas foi interrompida por João.

- Filha! Vou incorporar o espírito que estava com você e ele vai te contar tudo.

- Obrigada! Respondeu Stella olhando com cara fechada para Hercílio.

- Ela morreu, mas a amiga dela quis te pegar também, foi isso que aconteceu. Disse o espírito com voz gutural.

- Vilma! Mas porque pegou em Melissa que nada tem a ver comigo?

- Ela pegou três fios de cabelo dela que achou serem seus e pediu para que outra guia os usasse contra você, só que como não eram seus acabou pegando nesta jovem,

- Meu Deus! Quanta maldade, mas tem jeito de reverter isso?

- Tem e ela foi avisada de que eu estava lhe protegendo.

- O que se pode fazer?

- Eu vou cuidar disso e por estarmos em dívida com você por ter-nos brindado com muito mais do que foi pedido vamos dar o troco já, de imediato.

-Vão tirar isso de minha amiga?

- Sei e o retorno para quem fez isso será muito doloroso.

- Obrigada!

- Sentirá dó dela pelo que irá acontecer? Perguntou Hercílio.

- Sentir dó é uma pergunta difícil de responder, mas se quer saber mesmo eu irei sentir pena por ela não saber respeitar as pessoas e querer destruir as demais por causa de um sentimento indigno de bondade e de excesso de crueldade e que Deus me perdoe por dizer isso, mas quem não respeita aos outros e não terem piedade por um ser humano, acredito que deva ser punido exemplarmente. Respondeu Stella.

 

Hercílio nada disse e olhou para o espírito encarnado como se o autorizasse a agir e este pronunciou palavras inatendíveis e pouco depois se despediu e retornou a pessoa de João.

 

- Problema resolvido minhas filhas. Essa que queria lhes fazer mal nunca mais as incomodará.

- O que irá acontecer com ela? Perguntou Stella aturdida.

- Não precisa saber, apenas saiba que o mal com o mal se paga. Mais alguma coisa em que eu possa ajuda-las?

- Não seu João! Já fez mais que precisávamos. Obrigada!

- Não tem do que agradecer filha! Podem ir com as bênçãos de Deus.

- Mais uma vez obrigada. Disse Stella e se virando  e vendo que Hercílio não estava mais ali.

- O que busca filha?

- Cadê o homem que estava aqui agora a pouco?

- Que homem? Respondeu João.

- O que... deixa para lá e mais uma vez obrigada. Disse Stella aturdida.

 

Saíram e Stella perguntou para Melissa se ela tinha visto Hercílio sair de onde estavam.

 

- Quem é Hercílio?

- Aquele homem que fomos no apartamento dele.

- Fomos no apartamento de quem? Respondeu Melissa.

- Aquele que estava do lado do seu João quando chegamos.

- Não sei o que você está dizendo e onde estamos?

- Deixa para lá Melissa. Vamos voltar para o escritório. Vamos trabalhar.

 

Saíram da casa e depois de entrarem no automóvel de Stella ambas voltaram para a empresa onde trabalhavam, porém, Stella estava completamente encucada. Não entendera nada do que havia acontecido e pior, parecia que haviam feito lavagem cerebral em Melissa, pois ela não se lembrava de nada.

 

Não tinha entendido nada, mas o que importava era que Melissa e ela estavam ou estariam livres da maldade de Vilma e era isso o que importava e quando viraram a esquina João olhou para Hercílio e perguntou...

 

- Porque fez isso com esta jovem meu filho? Ela é um ser humano do bem.

- Sei que ela é papai, mas é melhor que seja assim e foi uma pena que só conseguimos limpar a cabeça da pequena Melissa e não a de Stella também, mas agora vamos cuidar de Vilma para que ela seja encaminhada a sua nova morada, já que não soube respeitar a chance que teve de uma nova vida entre este povo que existe neste plano espiritual.

- Vamos! A hora de Vilma é chegada e agora ela carregará muito tempo de sofrimento para que aprenda a respeitar as leis do desconhecido. Concluiu João.

 

Eram precisamente doze e quarenta e sete quando Stella e Melissa entraram pelo portão da garagem do belíssimo prédio onde trabalham. Stella estacionou o veículo, desceram e rumaram para os elevadores no mesmo instante em que Vilma saia para ir embora.

 

Stella e Melissa chegaram e cada qual foi para sua mesa ao mesmo tempo em que Vilma saia do prédio da empresa sentindo fortes dores pelo corpo todo. Stella pediu almoço para ela e para Melissa e ao desligar o telefone, lá embaixo, na avenida, ao tentar atravessá-la Vilma foi atropelada.

 

Stella ia começar a trabalhar quando a funcionária dos recursos humanos chegou e veio comunicar que Melissa estava sendo promovida à assistente da nova diretora jurídica da companhia e que elas mudariam de sala, pois o diretor jurídico estava de partida para trabalhar na matriz em outro país e que Stella assumiria o lugar que era dele.

 

Vilma por outro lado foi socorrida e encaminhada a um dos hospitais municipais e lá chegou gravemente ferida, porém, ainda em vida recebeu a visita de João e Hercílio e olhando-os se assustou, pois tudo a volta deles pareceu parar e somente eles estavam presentes naquele local.

 

- Você foi uma pessoa muito maldosa Vilma e por conta disso irá pagar pelo que fez. Falou Hercílio.

- Mas eu não fiz nada por mal. Tentou justificar Vilma totalmente apavorada.

- Você descumpriu as normas e as leis do desconhecido dos mortais e será punida por causa disso. Lhe disse Hercílio.

- Nem sei porque dizem isso. Eu sempre agi corretamente.

- Corretamente? Falou João.

- Sim!

- Você destruir almas boas e que não nos pertenciam. Você mexeu e tentou destruir novamente uma alma protegida pelos dois lados e apesar de ter sido avisada por um dos nossos ainda quase levou a morte outra inocente e por conta disso, você está condenada a vagar por toda a sua existência através dos planos das profundezas, mas não antes de sofrer muito por tudo o que fez de errado após ter sido avisada. Finalizou Hercílio.

- Mas... tentou ainda dizer Vilma, mas já era tarde.

 

Mais nenhuma palavra conseguiu expressar e ao invés disso viu duas legiões se aproximando em uma luz negra estarrecedora e sem ter tempo para mais nada teve sua essência carregada para nunca mais voltar. Vilma em segundos se viu em um mar de chamas incandescentes e lá se juntou à Juçara e a tantos outros que descumpriam as normas, ao acordo entre o bem e o mal e mais que isso, que desrespeitavam as leis do desconhecido.

 

- Ela mereceu isso papai?

- Sim filho! Quem não sabe respeitar as leis do desconhecido e dos acordos entre o bem e o mal deve ser punido exemplarmente e estas são as regras do mundo invisível para os humanos, as regras do mundo espiritual onde todos estão submissos a ele. Finalizou.

 

Fim