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Título   Guerra civil Gênero Ficção
 
     
     
     
     
 

 

Título original: Guerra civil

Romance / Ficção

edição

 

Copyright© 2024 por Paulo Fuentes®

Todos os direitos reservados

 

Este livro é uma obra de ficção.

Os personagens e os diálogos foram criados a partir da imaginação do autor.

 

Autor: Paulo Fuentes

Preparo de originais: Paulo Fuentes

Revisão: Sônia Regina Sampaio

Projeto gráfico e diagramação:

Capa: Paulo Fuentes

 

Todos os direitos reservados no Brasil:

Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica Ltda.

Impressão e acabamento:

 

 Apoio Cultural:

 

 
  Lançamento de livros e/ou filmes possuem custos e o autor busca PATROCINADORES para lançar suas obras tanto para edição em formato de livros de papel ou quem sabe, para a realização de filme (s)... Caso haja interesse em relação à isso favor entrar em contato. Grato.
 

 

Esta é uma obra de ficção romanceada...
Qualquer semelhança com fatos presente, passado ou futuro...
Pode ou não ser mera coincidência.
(nota do autor)

 

Manaus, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

 

- Você notou algo estranho na rua meu amor?

- Não Glória! O que tem de estranho na rua?

- Olhe para fora e veja você mesmo.

 

Paulo levantou-se da poltrona onde estava sentado e se aproximou da janela. Afastou a cortina e olhando para fora se surpreendeu por ver blindados e tanques de guerra cruzando a rua rumando para o centro da cidade.

 

- O que acha que é isso? Perguntou Glória.

- Não sei! Na verdade, acredito que seja uma mobilização para a 12ª região militar.

- Mas assim do nada?

- Nunca saberemos o que as forças armadas estão fazendo. Nos meus tempos mais novo eu bem que saberia, mas hoje, já velho não tenho mais acesso a nada.

- Digo que é estranho porque eu nunca botei fé neste assassino que foi eleito presidente de novo.

- Bem! Quanto a isso eu também tenho minhas restrições, mas o povo preferiu ele aos demais. Respondeu Paulo.

- O povo os as urnas manipuladas?

- Manipuladas ou não eu não acreditaria que ele em apenas uma semana no poder viesse a fazer algo contra a constituição.

- E ele lá liga para isso de lei e de constituição e não se esqueça quem dia que é hoje.

- Ah sim! Hoje é dia oito de janeiro, dia do aniversário de nosso amigo lá de São Paulo e me lembre de ligar para ele depois.

- Para de dar uma de velho esquecido. Hoje é o dia em que invadiram tudo em Brasília a dezesseis anos atrás.

- Não acredito no que está querendo insinuar meu amor!

- Será que eu estou pensando em algo do tipo teoria da conspiração? Perguntou Glória.

- Isso é coisa de nosso amigo escritor, mas se analisarmos bem, apesar de eu pensar que isso seria imbecilidade da parte dele seria pura loucura.

- Porque? Perguntou Glória.

- Porque fazem apenas uma semana que ele tomou posse e é muito pouco tempo para ele planejar ou programar algo neste vulto e ademais, porque começaria aqui por Manaus?

- Não se esqueça que ele teve tempo para pensar e programar isso no tempo em que ficou preso e lunáticos que ele teve durante estes anos todos foram crescendo depois que ele saiu da prisão.

- Isso é verdade, mas se planejou isso lá dentro da prisão a mente dele é mais destrutiva que qualquer um poderia imaginar e ademais, se isso que está pensando fosse de fato a ideia dele, tem noção de quantas vidas perderíamos?

- Ele não se preocupou com as setecentas mil vidas a anos atrás. Lembra-se disso?

- Tem razão! Vou ligar para nosso amigo e depois de dar os parabéns para ele perguntar se ele sabe de algo sobre isso.

- Faça isso! Fale com ele e depois me deixe dar os parabéns para ele também.

 

Rio Branco, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

 

- Jorge! Venha ver uma coisa estranha aqui na frente.

- O que?

- Se fosse para te contar não pediria para vir ver, não é seu tonto.

- Tudo bem! Deixa eu lavar as mãos.

- Não demore, senão não irá ver mais.

 

Jorge nem chegou a lavar as mãos, pois quando sua esposa Ester chamava para ver algo era porque a coisa era séria e tinha que ser rápido mesmo. Aproximou-se dela que estava olhando pela janela e o que viu o assustou, pois o que estava vendo não era algo de se ver nas ruas da cidade e ainda mais ali em Rio Branco.

 

- Não acha estranho isso? Perguntou Ester.

- Estranho! Isso me parece mais um golpe de estado.

- Porque acha isso?

- Porque eu sentia que se este criminoso voltasse ele iria aprontar algo desta vez logo no começo do seu mandato para não correr o risco de perder a mamata no final.

- Mas isso logo no começo do mandato?

- Que dia que é hoje?

- Dia oito de janeiro, porque?

- Coincidência a data da tentativa de golpe a dezesseis anos atrás, não acha?

- Verdade, mas tentar dar um golpe de estado a apenas oito dias no mandato é loucura demais. Não deixarão ele fazer uma coisa desta.

- Não duvide deste povo e destes políticos. O povo o elegeu de novo e os políticos sempre jogam do lado forte do poder.

- Mas aqui no Acre? Porque logo por aqui?

- E quem disse para você que isso acontece somente aqui?

- Vou consultar amigos dos outros estados para saber se la também tem uma desgraça desta mas para onde eles estariam indo?

- Estão indo direto para o quarto batalhão no bairro do Bosque.

- Que Deus nos proteja. Disse Ester saindo de perto do marido e acessando a internet.

 

Porto velho, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

 

- Não acredito no que estou vendo!

- O que está vendo Gervásio?

- Nem te conto! Venha aqui na janela e veja você mesma.

 

Sem entender nada do que o marido estava falando Júlia saiu da cozinha e foi onde o marido estava e olhando para fora viu uma enorme quantidade de tanques de guerra e veículos blindados pesados além de muitos soldados que a fez perder a voz.

 

- Já viu algo assim antes?

- Nunca Gê! Para onde eles vão?

- Com certeza estão indo para a sétima brigada de infantaria.

- Troca de comando?

- Não creio nisso!

- O que acha que é então?

- Ou irão agregar as tropas federais ou então depor que está no comando da sétima nem que for a bala.

- Não fariam isso, fariam?

- Com este presidente doido que acabou de tomar posse não duvido de nada.

- Você está querendo sugerir que ele quer dar um golpe de estado?

- Pior que isso! Ele quer assumir o país todo militarmente.

- É seria ruim isso?

- Melhor você nem saber o que eu estou pensando.

- Acha que corremos riscos?

- Os estados do Norte e do Nordeste votam em peso contra ele, não foi?

- Foi!

- Ele ganhou em algum estado destas duas regiões?

- Em nenhuma!

- Então se prepare para o pior.

- Acredita que ele declare guerra contra a população?

- Ele vai propor que baixemos a cabeça e o idolatremos.

- E se não concordarmos?

- Tenho certeza de que a cabeça será o primeiro lugar em que atirarão.

- Jesus amado! O que faremos?

- Já vou me preparar para ingressar em algum grupo de resistência, porque a mim ele não dominará nunca.

- Se importaria em ter-me ao seu lado na guerra se ela eclodir?

- Adorarei contar com você ao meu lado meu amor.

- Pode contar então que se cairmos, cairemos juntos.

 

Boa Vista, 08 de janeiro de 2039.

08:08 AM.

 

 - O que é isso que você está vendo na televisão Rônio?

- Desfile do exército papai!

- Como desfile do exército? Onde que é isso?

- Lá na rua do aeroporto papai!

- Aeroporto daqui?

- É!

 

Gilson sentou-se ao lado de seu filho e ficou prestando atenção no que dizia a jornalista que estava impressionada com a quantidade de blindados que chegaram do nada pela avenida capitão Ene Garcez e contornando adentraram na avenida Forte de São Joaquim para finalmente acessarem as dependências entrando pelo posto médico e tomando conta das ruas laterais em que soubesse a jornalista ter uma explicação para tal ato.

  

- É! Parece que eles chegaram mesmo e se for o que estou pensando que Deus tenha piedade de cada um de nós.

- Piedade do que papai?

- Nada não filho! Estava pensando alto.

- Bonito ver estes tanques, né?

- É filho! Muito bonito. Disse tentando ser otimista com seu filho.

- Será que vão fazer desfile em todas as ruas depois?

- Espero que não!

- Ah! Queria ver. Sabe que eu gosto de ver estes carros do exército, não sabe.

- Sei sim, mas vamos ver se deixarão que possamos vê-los mais de perto.

- Oba! Ainda bem que amanhã não vou ter aula e poderemos ir lá ver.

- É sim! Respondeu Gilson temendo o pior.

 

Saiu de perto de seu pequeno filho pegou o celular e ligou para um amigo.

 

- Fernando! O que está acontecendo aí?

- Não sei ainda coronel Gilson.

- Como não sabe? Tem um verdadeiro aparato militar aí no comando e você não sabe o que é?

- Chegaram de repente! Não esperávamos por nada disso e de repente chegaram estes veículos. Na verdade, nunca vi irmãos de farda em tanta quantidade como chegaram aqui.

- Quem está à frente disso aí?

- Pelo que sei é um general.

- Sabe o nome dele?

- Sei! General Servílio Alvarenga Santoro.

- General Servílio! Foi isso que disse?

- Sim coronel! Este mesmo.

- Não estou gostado disso. Estou indo para aí.

- Será bom que venha mesmo.

- O general já entrou aí?

- Já! Está reunido com as portas fechadas junto do general Aloísio.

- Estou saindo aqui de casa. Daqui a pouco estarei aí.

 

Desligaram o telefone e o coronel Gilson Sampaio da infantaria de selva estava preocupado e temia que aquilo que estava vendo não seria nada do que ele pensava, mas se fosse teriam que agir com cautela, pois conhecia bem o general Servílio e sabia que ele além de casca grossa e que acima de tudo servia fielmente ao presidente fosse ele quem fosse.

 

- Será que isso está acontecendo nos outros lugares? Perguntou-se.

 

Ia fazer uma ligação, mas se conteve. Vestiu a farda que usava com orgulho e dando um beijo em seu filho saiu e encontrou com sua esposa que estava chegando do hospital onde trabalhava.

 

- Onde vai todo lindo deste jeito amor?

- Chegou sem que soubéssemos uma verdadeira tropa e está lá no nosso comando de ele é um velho conhecido nosso.

- Quem?

- O general Servílio!

- Aquele Servílio que vocês dois quase saíram nos tapas?

- Ele mesmo!

- E você está indo lá vê-lo?

- Vê-lo será a conseqüências, mas não posso deixar o comandante nas mãos daquele maluco e como subcomandante terei por obrigação estar lá.

- Só te peço para que mantenha a calma e tente ser no mínimo atencioso e não exploda como fazia antigamente.

- Prometo que me comportarei, afinal não tenho nem ideia do que estão fazendo aqui.

- Sei que está pensando que o alucinado do recém empossado presidente talvez queira aprontar algo, mas tenha calma está bem meu amor?

- Terei e por você e pelo pequeno Rônio terei calma. Só vou ouvir e ver as intenções dele aqui com esta tropa de fazer inveja à nossa.

 

Gilson deu um beijo em sua amada esposa e pegando a caminhoneta saiu portão afora e pensando exatamente naquela quantidade de soldados que o general trouxera sem que ninguém soubesse daquilo e se fosse uma invasão eles teriam dominado o inimigo de surpresa.

 

Não morava longe da base e com a tranqüilidade do transito ali naquela bela cidade de ruas largas e transito diminuto, claro que isso se referia apenas a louca, mas maravilhosa cidade de São Paulo que era a sua origem.

 

Gilson era um soldado de carreira. Entrara para a corporação militar ainda como mero soldado e galgou suas promoções por bravura e uma coisa era um grande destaque nele, era um dos melhores senão o melhor atirador de toda as forças armadas do país e por conta disso, no entrave que ocorrera com o general, este resolvera deixar de lado temendo uma reprimenda dele. Tudo foi abafado, mas o general que na época era ainda um major preferiu deixar de lado com medo do que poderia acontecer, mas isso já era coisa do passado e somente chegara a ser promovido a general por armação politiqueira que escolheram ele e não Gilson que tinha muito mais capacidade militar.

 

Gilson por outro lado preferiu pegar a esposa e pedir transferência para o mais distante que pode ir da base onde serviam que ficava lá no estado do Paraná e de repente, o destino iria colocar aqueles dois novamente frente à frente. Chegou na base e vendo aqueles veículos pesados em toda a volta da base militar da 1ª brigada de infantaria da selva onde era mais estimado do que temido por todos os demais militares que lá serviam.

 

- Onde estão reunidos? Perguntou ao chegar.

- Na sala do nosso general.

- Vou para la e vamos ver o que está pegando.

 

Macapá, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

Não houve como explicar a chegada daquela verdadeira brigada de guerra diante do 34º batalhão de infantaria de guerra, mas tudo levava a crer que haviam chegado via marítima e quando se deram conta aquele enorme contingente estavam diante do portão de entrada na avenida Padre Júlio Maria Lombaerd exigindo a liberação da abertura do portão e tendo diante do comando o general Adolfo Josivaldo de Almeida.

 

- Senhor! Não temos qualquer comunicado de sua chegada aqui. Tenho que falar com o comandante.

- Soldado! Acho que estou de brincadeira?

- Não senhor, mas esta é uma área militar e para autorizá-lo a entrar tenho que ter autorização senhor.

- Bem, pelo menos você é educado. Qual é o seu nome filho?

- Cabo Ricardo Oliva Santos senhor!

- Sabe quem sou eu filho?

- Não senhor!

- Sou Adolfo Josivaldo de Almeida, general de guerra do exército e ligado ao alto comando das forças armadas brasileira. Agora se quiser ter a curiosidade basta olhar para a rua e ver o que me acompanha.

- Me perdoe senhor, mas sem autorização não posso deixar que entrem nas dependências do comando.

- Puta que pariu! Quem é o comandante desta merda que você serve?

- O tenente coronel Virgílio Mendonça Ferreira senhor!

- Pelo que eu sei e você também deve saber cabo, um general está acima de um tenente coronel, não é?

- É sim senhor, mas tenho que ter autorização para que o senhor acesse as dependências do comando.

 

O General Adolfo já ia explodir quando um militar fardado foi até eles e vendo que era um general diante dele se perfilou e bateu continência.

 

- Até que enfim um soldado que sabe respeitar a hierarquia.

- Perdão senhor, mas sou o tenente coronel Virgílio Mendonça Ferreira e o senhor seria quem?

- Sou o general Adolfo Josivaldo de Almeida, general de guerra do exército e ligado ao alto comando das forças armadas brasileira, agora pode abrir o portão para que entremos.

- Ah sim! General Adolfo Josivaldo de Almeida, general de guerra do exército e ligado ao alto comando das forças armadas brasileira posso saber o que pretende fazer aqui sem que eu tenha comunicado?

- Pode! Eu vim assumir o seu comando e pelo importúnio que me causaram vou pensar se mando-os para a prisão ou cuidarei pessoalmente da execução sua e deste soldado de merda que temos aqui diante de nós.

- Sabe que as coisas não funcionam assim general. Por acaso tem algum documento que afirme esta informação que está me passando?

- Ah! Vá se fuder. Cansei. Ou saem da frente ou vou dar o meu jeito aqui e teremos no mínimo dois idiotas esticados no chão.

- O senhor não ousaria fazer isso general! Disse Virgílio assustado.

- Quer pagar para verse eu ousaria ou não?

- Não senhor! Cabo abra o portão e deixe-os entrar.

- Gostei de ver soldado! É sinal que tem cabeça e a usa para mantê-la no devido lugar. Agora convoque a todos os que servem nesta base e se tiver alguém de folga ou fora daqui chame-os porque não gosto de repetir o que digo. Agora me mostre minha nova sala.

- Sim senhor! Respondeu Virgílio se submetendo à ordem.

- A propósito! Aqui está a minha nomeação para assumir o seu posto e o senhor poderá permanecer aqui ou pedir transferência, pois o subcomandante será o coronel que já está comigo a um bom tempo e a propósito, temos pista de pouso aqui?

- Não senhor!

- Temos espaço para construirmos uma pelo menos?

- Temos sim senhor!

- Ótimo! Primeiro vamos nos alojar e depois iremos ver isso, pois traremos alguns caças para cá.

- Sim senhor!

- Está dispensado agora. Pegue suas coisas pessoais e pode ir.

- Sim senhor!

- Achei que ia mesmo disparar nestes dois idiotas senhor! Comentou o coronel Afonso.

- Vontade não faltou, mas ainda não foi nos dada a ordem para começar a guerra.

- O que fará com os que não se dobrarem senhor?

- Uma bala, uma única bala no meio da testa deles e resolvemos a questão. Respondeu Adolfo sorrindo maquiavelicamente.

 

Belém, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

O dia amanheceu chuvoso e isso facilitou muito as pretensões do general Juarez Mantovani que simplesmente acompanhado de um veículo leve e quatro caminhões com vinte soldados dentro de cada um estacionaram diante do 8º comando militar do Norte e acompanhado de quatro militares desceram e se dirigiram ao soldado que estava montando guarda diante da porta principal do belo prédio que se perfilou ao ver a patente estampada na farda de quem estava diante dele.

 

- Soldado! Sou o general Juarez Mantovani do alto comando militar e quero falar com o comandante aqui da base, mas me esqueci o nome dele.

- Ele ainda não chegou, mas o nome dele é Leopoldo Augusto Santilena. Ele é tenente coronel e está para chegar.

- Ele entra por esta porta aqui?

- Não senhor! Ele entra pelo portão aqui do lado. Ah! Olha ele chegando.

- Pode pará-lo aqui, por favor?

- Sim senhor! Respondeu o soldado quase se jogando debaixo do automóvel do tenente coronel.

- Está doido soldado! Repreendeu Leopoldo.

- É que chegou aqui agora a pouco o general Juarez Mantovani do alto comando militar e quer falar com o senhor.

- Tudo bem, vou conversar com ele, mas nunca mais faça isso, pois se o freio não fosse bom a esta hora você estaria morto, entendeu?

- Sim senhor! Respondeu o soldado encabulado.

- Ah! Mande estacionarem o meu carro porque não vamos fazer o general esperar. Disse Leopoldo descendo e indo direto no general.

- Sim senhor!

- No que eu posso ajudá-lo general? Perguntou Leopoldo se prostrando e batendo continência.

- Será que poderíamos conversar lá dentro?

- Claro! Me perdoe. Meu nome é Leopoldo Augusto Santilena. Sou tenente coronel e o comandante da base daqui do estado.

- Sou o general Juarez Mantovani. Podemos entrar?

- Claro senhor! Entremos.

 

Entraram e foram direto para o belo gabinete do comando e Juarez foi olhando tudo por onde passaram.

 

- Gostei das instalações coronel.

- Obrigado, mas sou apenas tenente coronel senhor.

- O senhor sabe o motivo de eu estar aqui?

- Digamos que tenho uma leve impressão e se for o que penso tem o meu apoio integral.

- E o que pensa, posso saber?

- A moralização do estado dentro do estado.

- Hum! O senhor é de onde?

- Vim para cá transferido da base aérea de Florianópolis em Santa Catarina.

- Está explicado. Já era um dos nossos.

- Lá eu era ainda major, mas por estar vindo para uma das pontas do país e em região ligada ao trabalho de terra, ar e mar fui promovido.

- Interessante! Terra, ar e mar, foi o que disse?

- Isso mesmo! Temos aqui a base aérea que está sob o meu comando e a base da marinha que estou provisoriamente no comando da mesma.

- Quer dizer que o senhor veio para cá e tem tripla atribuição?

- Digamos que sim.

- Isso está me saindo melhor que a encomenda. Me fale mais do senhor futuro coronel.

- Nasci em Chapecó, no interior do estado e ainda adolescente me alistei na academia para ser piloto. Me formei e me tornei piloto de caça e fazendo cursos e mais cursos fui sendo promovido. Tenente, capitão, major e estava lotado na base de Florianópolis, na Tapera quando o comandante em chefe do comando militar do Sul, o general Alfredo Romandini me chamou em seu gabinete questionando se eu não gostaria de trocar o Sul pelo Norte do país. Confesso que não gostei inicialmente muito da ideia, pois estava noivo e não queria deixar a noiva lá, mas a proposta foi boa. Resumindo, adiantei a data do casamento e cá estou eu hoje com tripla função das forças militares do estado.

- Estou surpreso com o senhor e saiba que o general Alfredo Romandini é meu amigo pessoal e me recordo por cima que certa vez ele me falou algo sobre um militar que merecia atenção devido à sua lealdade e honra da farda que vestia. Resumindo, não sabia quem era ou seria esta pessoa, mas acabo de conhecer a pessoa mencionada a algum tempo atrás.

- Fico honrado de ter sido lembrado senhor.

- Me dia uma coisa coronel, estou para assumir também as três unidades militares que na verdade acreditei que fossem apenas terra e ar e gostaria de saber se posso contar com a sua ajuda e colaboração.

- Estou à sua disposição senhor general.

- Que bom! Acredito que ainda seremos bons amigos, mas poderia informar a base aérea e a da marinha sobre uma nova gestão?

- Farei melhor que isso. Irei chamar os subcomandantes das duas unidades aqui e os comunicarei diante de vossa pessoa, fica melhor assim?

- Muito melhor e digo-lhe mais. Ia trazer um subcomandante lá do Sul para assumir comigo, mas se me der a honra de tê-lo aqui, gostaria que fosse esta pessoa. Aceitaria?

- Será uma imensa honra para mim senhor!

- Ah! Também vou cuidar pessoalmente para que seja de fato promovido à coronel, mesmo porque não gosto destas patentes intermediárias. Disse Juarez sorrindo.

- Obrigado senhor! Vou chamar os dois subcomandantes agora mesmo. Respondeu Leopoldo pegando o celular e intimando os dois para que estivem no comando central imediatamente.

- É sempre prático assim coronel?

- Temos que ser senhor, pois na nossa profissão não dá para se perder tempo ainda mais já imaginando o que vem pela frente.

- Vamos falar muito sobre isso, mas me diga, tem outra sala igual a esta?

- Outra igual?

- É! Não quero lhe tirar daqui e já adianto que merece isso.

- Temos outra a duas salas adiante desta que poderá ser remodelada de acordo com o seu desejo rapidamente.

- Ótimo! Faremos isso.

- Vou lhe mostrar para ver se o tamanho dela está dentro de sua vontade.

- Nada como tratar com pessoas do Sul. São pessoas diferenciadas.

 

Iam continuar conversando quando os dois subcomandantes chegaram até eles e foram devidamente apresentados.

 

- Senhores! Este é o general Juarez Mantovani que faz parte do comando central e estes são o capitão Geraldo Arruda que é o subcomandante da base aérea e este é o capitão Denílson Fernandes Amadeu que é da base da marinha.

- É um imenso prazer conhece-lo senhores! Cumprimentou Juarez educadamente.

- Vai ser transferido senhor? Perguntou o capitão Geraldo.

- Se me permite vou responder pelo senhor coronel. Não ele não será transferido nem de base e nem de sala, mas sim de posto, pois estou cuidando para que ele seja promovido a coronel de fato e quanto aos senhores, se houver referencias boas e se adequarem ao novo comando também serão promovidos a major.

 

Denílson e Geraldo se olharam surpresos e depois olharam para Leopoldo com olhar de satisfação, mesmo porque, os três mantinham um excelente relacionamento e depois olhando para o general disseram que poderiam contar com eles para o que fosse necessário.

 

- Quero comunicar aos senhores que vários caças e um forte aparato militar estará chegando aqui neste estado que será uma das bases do projeto levante.

- Levante! Indagou Geraldo.

- Sim! Este foi o nome escolhido pelo alto comando.

- Podemos saber do que se trata senhor? Perguntou Denílson.

- Saberá na próxima reunião que teremos depois de amanhã. Agora quero apenas que honrem o juramento que fizeram da defesa da pátria.

- Sim senhor! Responderam e se despedindo retiraram-se.

- O que achou deles senhor? Perguntou Leopoldo.

- Confia neles para uma mudança radical de militarismo coronel?

- Até o momento não há nada que desabone qualquer questionamento da minha parte senhor. Sempre foram militares que honraram e honram a farda que vestem.

- Será que honrariam o que está para ocorrer no país todo?

- Acredito que sim.

- Vamos ver o que acontece então e só mais uma coisa. Precisamos comunicar aos soldados que estarão sob uma nova direção, porém, com o vosso acompanhamento aqui ao meu lado. Agora vamos ver a outra sala que eu usarei por algum tempo.

- Vamos lá senhor!

 

Ambos saíram da sala de comando que Leopoldo estava usando até então junto com o general que diferia e muito dos demais generais que tivera o desprazer de ter conhecido. Algo grande estava no ar e o que era ou parecia ser apenas uma mera dúvida estava se tornando cada vez mais evidente. O país estava para entrar em uma verdadeira e dolorosa guerra civil e milhares ou milhões de pessoas poderiam morrer assim que ela explodisse, mas ele saberia o lado em que ficaria, só não sabia como conseguir levar isso adiante, pois se mostrasse o seu eu verdadeiro naquele momento, tinha certeza de que o general Juarez mostraria o eu verdadeiro dele também.

 

São Luiz, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM

 

 

A madrugada daquele dia havia sido fora do normal para uma região do Nordeste brasileiro. A chuva que caia superava as últimas dos apontados em mais de oitenta anos e amanheceu desta forma e se alguém mais cristão ousasse dizer algo diria que seria um novo dilúvio de Deus e logo poderiam ver a arca de Noé.

 

E foi desta forma que alguns navios de carga trazendo barcos anfíbios e dezenas de blindados além de outras dezenas de tanques de guerra de última geração adquiridos ainda no governo anterior que acreditara na reeleição, porém cometera o mesmo erro de quem havia cometido em eleições realizas a mais de uma década atrás.

 

Aliado a isso os três porta aviões também se aproximaram do porto de Itaqui e caças se preparavam para levantar voo e pousarem sobre a base aérea, mas antes disso havia a necessidade de assumirem o comando inicialmente sem derramarem sangue, pois havia a prioridade do comando ser substituído para depois colocarem o plano presidencial em ação.

 

- Senhor! Estamos prontos para irmos até o comando central. Informou o coronel Soares.

- Coronel! Faltam ainda quarenta e três minutos e temos que agir todos pontualmente. Os veículos já estão em terra?

- Sim senhor!

- Sabe para onde devemos ir sem alarde?

- Sim senhor!

- Fica longe daqui do porto até lá coronel?

- Não senhor e com esta chuva as ruas devem estar todas vazias.

- Lá é o 24º batalhão de infantaria de selva, é isso?

- Isso mesmo senhor e o comando está também nas mãos de um general que está com o pedido de reforma já aprovado. Resumindo, ele está saindo.

- Isso eu já estava sabendo e acredito que eu já o conheço.

- O nome dele é Felipe Ferreira Alves e é daqui da região Nordeste mesmo.

- Bem! Vamos lá para resolvermos logo isso.

 

Saíram do porto acompanhado de três outros veículos e tiveram que ir devagar devido a intensidade de água que caía do céu, mas faltando sete minutos para o horário ajustado chegaram diante do portão do comando do 24º batalhão. Se identificaram e logo transpunham o portão e foram acompanhados por um cabo até ao corredor que ficava o agrupamento da administração da base.

 

- General! Aguarde um momento por favor que vou anuncia-lo.

- Pois não!

 

O cabo bateu na porta da sala do comandante foi autorizado a entrar e logo após passar pela porta fechou-a e não demorou nada para que o general Felipe viesse atendê-los.

 

- Finalmente chegaram! Já estava pensando que teria que ficar mais tempo no meu posto.

- Chegamos?

- Claro! Não é o general que veio me substituir?

- Sim! Ele mesmo.

- Parece que já o conheço. Sou o general Felipe Ferreira Alves, comandante do 24º comando de selva e também interinamente comandante da base aérea e da base da marinha aqui da região e nem tem ideia da minha felicidade com a sua chegada aqui para ocupar o meu posto.

- Sou o general Ângelo Marques Moret, o seu substituto.

- Moret! Ângelo Moret. Lhe conheci em uma reunião dos comandos do país a cinco anos atrás, mas jamais imaginei que sairia lá do Sul para vir ocupar um posto tão ao Nordeste do país.

- Pois é general! Nunca sabemos para onde eles nos irão oferecer uma mudança de vida.

- Bem por aí mesmo. Sou do interior de São Paulo e sonhava em ir para uma base lá dos Estados do Sul e de repente me mandaram para cá e era pegar ou ficar na geladeira sabe-se lá por quanto tempo.

- Não gosta daqui?

- Agora que estou indo embora posso comentar. Detesto este lugar. Povo ignorante, inculto e vagabundo.

- São assim mesmo? Perguntou Ângelo sorrindo.

- A escória da escória da sociedade, mas se quer saber tem um lugar pior que aqui, a Bahia. Lá é dose para leão.

- Pretende sair quando daqui?

- Desde a semana retrasada.

- Como assim?

- Espero esta mudança desde o final do ex presidente sair de sua cadeira, mas ele saiu e se esqueceu de mim infelizmente.

- Infelizmente! Não gostava dele?

- General! Já estou velho e não tenho que gostar deles, apenas honrar a farda que visto, mas felizmente a minha jornada de trabalho já terminou e vou lhe desejar uma boa chegada aqui.

- Obrigado!

- Vou lhe apresentar o capitão que é o subcomandante e daí irei embora.

- O sub comando aqui está nas mãos de um capitão?

- Interino! O major que ocupava o posto sabendo que eu ia sair daqui pediu transferência e foi para São Paulo.

- Ah São Paulo!

- Gosta de lá?

- Digamos que eu tenho minhas restrições.

- Bem vou chamar o capitão Claudinei Lombardo. Vai gostar dele. Falou Felipe saindo da sala e voltando com o capitão.

- Este é o capitão que me falou general? Perguntou Ângelo.

- Ele mesmo! Capitão Claudinei este é o meu substituto, general Ângelo Marques Moret. General, este é o capitão Claudinei Lombardo que lhe prestará todas as informações. Boa sorte para os senhores. Informou o general Felipe pegando sua pequena mala e saindo rapidamente dali.

- Capitão! O general é sempre assim?

- Nem sempre, mas faz alguns dias que anda agindo como se o mundo fosse acabar e não via a hora do senhor chegar.

- Ele está com problemas pessoais?

- Não! Nunca teve problemas pessoais, mas a ter semanas parece que haviam formigas na sua cadeira e queria ir embora daqui de qualquer forma, mas tudo o que necessitar saber estarei aqui para lhe passar nesta transição de comando senhor.

- Obrigado capitão! Aproveitando, este é o coronel Hélio Moretti meu assistente pessoal e que ocupará o posto de subcomandante, se me permite informar-lhe.

- Sem problemas senhor! Eu estava de subcomandante interino por causa do meu antecessor ter pedido transferência. Vou até minha sala e retirar as minhas coisas. Disse Claudinei batendo continência e saindo da sala.

- Vai deixar ele sair assim senhor? Perguntou o coronel Moretti.

- Vou! Um a menos para me encher o saco. Agora vamos avisar as duas bases, da marinha e da força aérea e acertar tudo. Depois tomamos posse de vez.

- Acha que o capitão aqui vai dar trabalho?

- Se der você dará um jeito nele.

- Se for necessário desta forma será senhor!

 

Teresinha, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

- Coronel! Acho que não vai gostar de ver quem avistamos vindo para cá.

- O que está vindo para cá tenente e já cansei de dizer que sou tenente coronel e não coronel.

- É que é sem graça dizer tenente coronel senhor! Coronel fica mais bonito de dizer.

- Tudo bem Augusto! Do que não vou gostar?

- Ah sim! Logo de madrugada, pelo que fiquei sabendo atracou no porto um enorme navio de onde desembarcaram dezenas de veículos militares.

- Como assim tenente?

- Não vi ainda, mas meu cunhado que trabalha lá no porto me ligou e disse que eram dezenas de veículos blindados, tanques e centenas de soldados.

- Ué! Para que isso?

- Não tenho a menor ideia senhor, mas pelo que ele me disse, ouviu um tenente dizendo que ia ser fácil tomar conta daqui.

- O navio era brasileiro?

- Era!

- E os soldados eram brasileiros?

- Pelo que ele disse sim.

- Alerte aos soldados, pois se forem piratas querendo tomar o forte, vamos recebe-los à bala.

- Sim senhor! Respondeu Augusto saindo rapidamente.

- Que merda é essa? Se perguntou o tenente coronel Odilon Dorneles saindo da sala.

 

O que imaginou que estaria para acontecer não demorou muito para aparecer diante do protegido portão do 25º batalhão de caçadores e dele desceu inicialmente um militar alto e forte que se aproximou da guarita de segurança.

 

- Bom dia soldado! Queremos falar com o comandante.

- Pois não senhor! Saudou o soldado.

- Diga a ele que o general Willian Pacheco do alto comando está aqui e eu sou o major Lúcio Pereira.

- Um momento senhor!

 

O soldado entrou na guarita, pegou o telefone e ligou, porém, o mesmo tocou sem ser atendido, pois Odilon descera e se aproximava do portão.

 

- Estou aqui soldado Aldo! Posso saber do que se trata a sua visita major?

- Claro, mas é melhor falar com o general. Podemos entrar?

 

Odilon olhou para os dois lados da praça Floriano Peixoto e percebeu que a mesma estava com dezenas de veículos militares leves, blindados e alguns caminhões de onde desceram muitos soldados e se por acaso ele resolvesse entrar em conflito não tinha a menor dúvida de que seriam todos eliminados.

  

- Claro! Soldado, abra o portão, mas como pode ver major, por aqui poderão entrar apenas alguns veículos menor.

- Não tem a necessidade disso tenente! Podemos entrar para que eu me identifique e lhe passe as ordens. Perguntou o general se aproximando.

- Claro senhor! Me acompanhe por favor. Respondeu Odilon depois de se perfilar.

 

Os veículos ficaram fora do complexo militar e acompanharam Odilon apenas o general, o major e mais seis soldados. Entraram e subiram o lance da escada que os levaria ao andar superior onde ficava a sala do comandante.

 

- Por favor sentem-se! Pediu.

 

Sem constrangimento algum o general Pacheco passou para o lado de dentro da mesa e sentou-se na cadeira do comando antes que Odilon pudesse dizer ou fazer algo.

 

- Não estou aqui para constrange-lo tenente, estou apenas cumprindo ordens e trago as minhas credenciais e as ordens encaminhadas ao senhor pelo alto comando das forças armadas compostas pelos generais e almirantes.

- Ah sim, mas deixe eu me apresentar. Sou o tenente coronel Odilon Dorneles até então o comandante aqui deste destacamento.

- Não precisa se apresentar tenente, mas sendo cordial sou o general Willian Pacheco e este é o major Lúcio Pereira que será o segundo em comando. Veja as ordens que acaba de receber e entre em contato com o estado maior a fim de que não haja dúvida quanto a esta decisão que eles tomaram de troca de comando.

- Posso saber porque eles estão procedendo desta forma senhor?

- Se quer saber de qualquer coisa pergunte para eles e se por acaso algum de vocês que servem a esta base não estiver satisfeitos podemos providenciar as suas transferências ou baixa se for necessário. Disse Pacheco grosseiramente.

- Posso usar o telefone senhor?

- Não este! Pode usar qualquer outro. A partir de agora nada terá deste local a não ser seus objetos pessoais que solicito que os retire daqui agora.

 

Odilon não se conformava com o que estava vendo e ouvindo. Era um oficial graduado e de carreira e não um simples pescador. Estava com quarenta e cinco anos e chegara naquela posição por méritos e não por influência política, mas a documentação que tinha em mãos era oficial e mesmo que pudesse reclamar com o alto comando duvidava que eles mudassem as ordens dadas e mesmo querendo socar a cara daquele general idiota e arrogante que estava sentado em sua cadeira de comando preferiu ser prudente e se retirar. Foi isso o que pensou e pegando pouca coisa pessoal que possuía ali se retirou da sala que orgulhosamente utilizou por quase sete anos.

 

- Não tem necessidade disso senhor! Permissão para me retirar.

- Vá logo porque tenho que me sintonizar com este local fedorento e convoque todos os soldados que servem aqui para eu me apresentar.

- Sim senhor! Farei isso agora mesmo. Respondeu Odilon se remoendo, mas se contendo saiu da sala.

- Acho que ele não gostou, senhor!

- Ele que se foda! É um soldado e tem que cumprir o que é ordenado.

- Acha que ele aceitará o que está por vir?

- Se não aceitar é porque é inimigo e sendo inimigo sabe bem como devemos trata-lo, não sabe major?

- Sei sim senhor!

- Vamos lá fora para conhecer estes soldados fedidos e depois mandar que os veículos sejam colocados todos para dentro e aproveite e mande que uma centena de nossos homens acessem o forte.

- Sim senhor! Respondeu o major se postando e saindo em seguida.

 

Fora da sala do comando da base Odilon se mordia de raiva, mas não porque se importava em ser substituído, mas sim pela arrogância daquele general de merda que simplesmente o tratara como um cão sarnento.

 

Não sabia o que estava acontecendo, mas sentiu que coisa boa não era e preferiu agir com prudência e depois ver o que faria e saindo para o pátio convocou todos os soldados para que estivem ali a fim de que recebessem a notícia da substituição de posto.

 

Fortaleza, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

- Senhor! Acho que não vai gostar do que vai ver daqui a pouco.

- O que este alvoroço todo major e porque não irei gostar?

- Nem irei dizer nada e sim lhe mostrar. Me acompanhe por favor.

- O que é isso? Perguntou o general de guerra Sérgio Ribeiro.

- Não sei, mas eles cercaram praticamente todo o nosso comando.

- Quem são?

- Parece ser soldados senhor, mas ainda não temos certeza e já ordenei que se posicionasse contra invasões.

- Calma major! Vamos ver do que se trata primeiro.

 

Não deu tempo nem da major dizer algo quando o telefone tocou.

 

- Senhor! Tem alguns veículos aqui diante do portão e o general Ademar Capistrani pede autorização para entrar.

- General Capistrani?

- Foi o que ele disse senhor!

- Deixe-o entrar que já estou descendo.

- Sim senhor!

- Me acompanhe major.

- Conhece ele senhor?

- Muito! Fomos promovidos juntos.

- Então são amigos?

- Não diria amigos, mas passamos um bom tempo juntos. Venha comigo.

 

Desceram e levaram quase que o mesmo tempo para chegar ao portão de entrada do complexo que Capistrani levou para chegar à entrada.

 

- Ribeiro! Perguntou Capistrani surpreso.

- Ele mesmo meu amigo. Entre por favor.

- É uma surpresa para mim te encontrar aqui. Achei que estivesse no Sul.

- Estive em Porto Alegre, mas fui transferido para cá ainda no mandato do presidente anterior ao outro que saiu na semana passada. O que faz aqui?

- Podemos entrar para eu lhe contar?

- Claro, mas antes deixe-me te apresentar. Está é a major Elaine Martins Farias, a subcomandante deste comando aqui de Fortaleza. Major! Este é um velho amigo meu, o general Ademar Capistrani.

- Parabéns meu amigo. Tens uma bela subcomandante ao passo que tenho t coronel Roney Dias Nunes ao meu lado.

-Vamos entrar por favor.

 

Galgaram o lance de escadas que levava até andar superior e entraram na sala de comando e Sérgio pediu para que sentassem.

 

- O que está acontecendo, estamos em guerra por acaso?

- Sim e não, mas poderia falar com você a sós?

- A major é da minha confiança.

- Prefiro falar com você a sós, pode ser?

- Bem se é sério, podemos falar sim. Major! Por favor pode aguardar lá na sua sala?

- Sim senhor!

- Tenente! Aguarde do lado de fora e comporte-se.

- Mas senhor! Quis indagar Roney.

- Tenente! Voltou a dizer Ademar com olhar sério.

- Sim senhor! Respondeu, se prostrou e saiu fechando a porta atrás de si.

- Do que se trata meu amigo?

- Está sabendo o que está acontecendo no comando central lá do planalto?

- Nem tenho ideia.

- O que pensa das regiões do país?

- As do Norte, e Nordeste nem se comparam com as do Sul do Centro Oeste e do Sudeste, porque?

- Digamos, apenas digamos que houvesse uma separação entre Norte e Nordeste do restante do país de que lado você ficaria?

- Não entendi a pergunta, pode ser mais claro?

- Posso e serei, pois temos amizade suficiente para poder falar a mesma língua.

- Diga então!

- Digamos e apenas digamos que houvesse um levante oficial do governo que entrasse em conflito as regiões Norte e Nordeste contra as demais de que lado você ficaria?

- Você está me perguntando se houvesse uma guerra tipo o Norte e o Nordeste contra as demais de que lado eu estaria nisso?

- Isso mesmo!

- Eu fiz um juramento de defender o Brasil acima de qualquer coisa e sempre estarei do lado do país, mas ainda não estou entendendo.

- Vou ser direto! O presidente quer dominar todo o país se livrando das ervas daninhas. Resumindo, ele quer promover uma guerra civil dos estados daqui de cima contra os de baixo.

- Está brincando, não é?

- Não! Porque acha que vi para cá com todo este aparato militar?

- Boa pergunta e os estado do Norte e Nordeste não tem poder de fogo para bater de frente com o restante da nação.

- Matou a mosca e é por isso que todas as capitais do país que estão nestas regiões aqui de cima estão sendo substituídas por militares que na hora que isso explodir minem o poder destas regiões.

- Você está me dizendo que por ordem do presidente que mal tomou posse o comando de todas as bases das regiões Norte e Nordeste estão sofrendo infiltração de militares que comandem as forças de defesa em uma provável guerra civil, é isso que está dizendo?

- Exatamente isso e eu vi para cá para substituir o comando conforme documentações, porém, sem saber que era você quem estava aqui.

- É sério isso?

- Muito sério! Aqui estão as documentações e ordens, mas me pegou com as calças nas mãos agora.

- Com esta documentação está me dizendo que eu estou sendo removido?

- Não sei como lhe dizer isso, mas irei resolver isso agora mesmo. Posso usar seu telefone?

- Pode sim! Respondeu Sérgio sem saber como proceder.

 

Ademar deu a volta na mesa e sem usar a cadeira onde estava sentado seu amigo de alguns anos pegou o telefone e discou para um número que era exclusivo para aquelas eventualidades.

 

- Quero falar com o marechal Hildo Sanguinelli de Freitas. Aqui é o general de guerra Ademar Capistrani, código da operação PRB-37.

- Um momento senhor! Disse a voz do outro lado.

- Temos um almirante agora? Perguntou Sérgio.

- Um momento!

- Sanguinelli aqui general! O que aconteceu?

- Temos um problema aqui na 10ª região de Fortaleza.

- Problema! Sabe como resolver isso com os descontentes general e acredito que eu não tenha que lhe recordar sobre isso.

- Não é isso senhor! O problema é com o general que comanda as nossas forças aqui no estado.

- O que tem ele? Está causando problemas?

- Não!

- E qual seria o problema então?

- Ele é um velho amigo meu.

- E o que tem isso? Guerras não escolhem lados general.

- Sei disso, mas ele é dos nossos.

- Como dos nossos?

- Ele é do Sul, mais precisamente nasceu em Porto Alegre e tem os mesmos pensamentos que nós e luta pela nossa causa.

- Impossível isso!

- Não é não! Estou diante dele e não estou entendendo porque quiseram a sua remoção se ele é do nosso lado.

- Um momento general! Deixe eu ver isso aqui.

- Sim senhor!

 

Ademar colocou o telefone em viva voz e tanto ele quanto Sérgio permaneceram em silêncio e quatro minutos que pareceram horas o marechal Sanguinelli retornou.

 

- General Ademar! O seu amigo aí por acaso é o general Sérgio Fernandes Ribeiro?

- Ele mesmo senhor!

- O que ele está fazendo aí nesta corporação?

- Foi transferido para cá ainda no governo do outro presidente.

- O anterior?

- Não senhor! No outro ainda.

- Temos um problema mesmo general.

- Posso saber qual?

- Segundo consta aqui ele deveria estar morto a um ano e meio.

- Morto! Indagou Sérgio sem se conter.

- Está ouvindo general Sérgio?

- Estou sim senhor!

- Bom saber, mas temos um problema aqui. Pelo que consta em registros médicos o senhor teria morrido no dia dezessete de março de 2037.

- E posso saber do que morri senhor?

- Pode! Aqui consta que veio a falecer vítima de um câncer no pâncreas que lhe devorou por dentro.

- Pelo que vejo ele aqui senhor, ele está mais saudável que eu. Disse Ademar.

- Bom para ele, mas agora a situação ficará complicada.

- Se desejar me substituir não tem problemas senhor! Jamais faria qualquer oposição ao meu país. Falou submissamente Sérgio.

- Vejo que é um homem sensato general, mas tudo está programado e não podemos fugir disso.

- Se precisar, sem que eu tenha que me matar, pode sugerir o que desejar senhor.

- Iria para outro estado aí no Nordeste general?

- Sem problema algum.

- Aguardem aí que vou convocar uma reunião rápida e em menos de duas horas lhes darei retorno.

- Sim senhor! Responderam os dois desligando o telefone.

- Que merda que estes filhos das putas fizeram. Este é um dos melhores generais que temos no país e não podemos perde-lo. Disse para si mesmo Sanguinelli.

- E agora? Perguntou Sérgio ainda atônito por saber que tinha morrido.

- Calma meu amigo que vamos resolver tudo.

- Espero que eles não resolvam me matar para resolver o problema.

- Eles jamais fariam isso pois conhecem o seu potencial e não iriam querer queimar homens nossos. Confidenciou Sanguinelli.

- Não entendi isso deste golpe militar e do nosso presidente tomar esta decisão em apenas uma semana.

- O dia oito não lhe recorda de nada?

- Claro que sim! Eu estava no comando de um dos QG de Brasília na data e até aquartelei alguns dos que lutavam por nossa causa.

- Me recordo disso e só pode ter sido falha de algum dos que apresentaram os generais e militares simpatizantes da causa e você era uma marca especial do nosso lado e até o presidente sabe disso.

- Bem, se eu ver por este lado então, acho que não me matarão?

- Você! Mais fácil eles me eliminarem do que a você. Respondeu Ademar sorrindo.

- Quer conhecer o complexo enquanto isso?

- Seria um prazer.

- Vamos lá então. Saíram da sala e viram Roney plantado ali do lado de fora.

- Tudo certo senhor? Perguntou ele.

- Não, mas vamos aguardar.

- Necessita de meus préstimos senhor?

- Sossegue seu facho tenente. O general Sérgio além de meu amigo é um soldado exemplar e não deve ser tocado.

- Não entendi!

- Você não tem eu entender tenente. Apenas deve seguir ordens, entendeu?

- Sim senhor! Respondeu Roney baixando a cabeça.

- Podemos ir então! Perguntou Sérgio.

- Claro! Vamos lá. Respondeu e acompanhados de Elaine foram conhecer a base.

 

Natal, 08 de janeiro de 2039.

08:08 AM.

 

- Pacote fechado aqui em Natal almirante?

- Sim!

- Prefere se reunir onde, no exército, aqui na marinha ou na aeronáutica?

- Já que estamos aqui general, eu preferia chamar as três forças aqui na unidade da marinha a fim de não fazer alarde pela cidade, apesar de deixar claro que tanto eu quando o tenente brigadeiro estamos sob as suas ordens.

- Vamos desembarcar então? Perguntou o general Zanotto.

- Sim! Responderam os dois.

 

Desembarcaram de um dos navios que estavam atracados e pediram para um marujo que fazia a segurança ali naquela área que os levassem até a presença do comandante e olhando para os navios que traziam o símbolo das forças armadas e vendo três oficiais de alta patente diante dele o mesmo nem pensou duas vezes e pegando um dos veículos que estava estacionado ali do lado os conduziu até o comando central e lá para surpresa de todos ao ver três oficiais da patente dos mesmos rapidamente foram conduzidos.

 

- A que devo a honra de ter nesta humilde instalação militar três oficiais de tão graduado nível? Meu nome é Murilo Menezes Gonçalves e ocupo o posto de vice-almirante aqui.

- Obrigado pela recepção senhor vice-almirante, mas como pode ver representamos as três divisões das forças armadas do país e gostaríamos que convocasse em caráter de urgência os comandantes da aeronáutica e do exército para uma reunião aqui mesmo na sua base se nos permitir.

- Claro senhores. Podem me adiantar alguma coisa?

- Que tal deixarmos para falarmos sobre isso com os três juntos? Respondeu Romão.

- Deixe-me nos apresentarmos. Sou Pedro Tinoco Zanotto, general do exército brasileiro e faço parte, tanto quanto eles da central do controle das forças armadas lotada em Brasília. Eles são Romão Rangel Barros almirante da Marinha e Guilherme Valejo que é tenente brigadeiro da aeronáutica.

- Aguardem só um momento senhores! Pediu Murilo engolindo em seco.

 

Pegou o telefone e convocou os outros dois ali com urgência e disse a eles quem os aguardavam e nem pensaram duas vezes para ir uma vez que os que lá estavam forças muito maiores do que eles possuíam. Desligaram e enquanto tomaram um café com Murilo os outros dois militares rapidamente foram até eles. Chegaram e foram encaminhados direto para a sala do comandante. Entraram, se identificaram, sentaram-se e Zanotto tomou a palavra.

 

- Senhores! Sabem bem que estamos com o comandante em chefe, mais precisamente o presidente da República empossados a uma semana e por isso estamos aqui e sendo bem prático e objetivo, viemos até a sua cidade e estado para assumirmos os vossos postos e apresento aqui os documentos emitidos pelo estado maior confirmando isso.

- Como assim senhor general? Perguntou o general de brigada Fernando Moura.

- Isso mesmo que o senhor, aliás, os senhores ouvindo. Viemos para cá a fim de assumirmos as vossas funções.

- Isso para quando?

- Já estamos assumindo, ou seja, desde já.

- Mas sem um comunicado oficial do estado maior? Perguntou Murilo.

- Acabei de colocar na mesa diante dos senhores o comunicado, portanto, só os senhores checarem e depois desocuparem suas salas.

- Simples assim? Perguntou Mário.

- Simples assim! Respondeu o almirante Romão.

- E seremos transferidos para onde? Perguntou Fernando.

- Vejam bem! São três ordens. Uma para cada um dos senhores e nas suas ordens dizem o que precisam saber e com quem falarem, portanto, a partir de então já não será mais problema nosso, concordam?

- Não concordo! Isso é algo ultrajante e inconstitucional. Respondeu Mário.

- Bem! Temos as nossas ordens e os senhores tem a dos senhores. Se não estivem de acordo discutam com o estado maior das forças armadas ou até mesmo com o presidente se desejarem e a propósito, temos quatro navios atracados com um belo contingente de soldados, com armas de ataque, defesa e veículos de guerra para desembarcarmos e que ficarão por aqui.

- Isso está parecendo um golpe militar! Disse Fernando desgostoso.

- General! Modere seu linguajar, afinal ainda é um soldado.

- Sei que sou e por isso exijo mais respeito com a minha patente.

- Eu sou general de exército quatro estrelas e pelo que sei o senhor é um general de brigada e me parece que tenho uma patente maior que a sua, ou estou errado em afirmar isso hierarquicamente?

- Não senhor! O senhor está correto. Perdoe-me pela minha explosão.

- Tudo bem, faz parte, mas se eu fosse os senhores começariam a falar com o pessoal de Brasília e seguirem as suas remoções. Fui claro?

- Foi sim senhor! Disseram os três arriados.

- Por favor vice-almirante, poderia retirar os seus pertences pessoais daqui, porque já irei assumir o meu novo posto. Disse arrogantemente o almirante Romão.

 

Não havia mais nada a fazer. As ordens eram claras e só teriam que checar o que haviam planejado para onde eles deveriam se dirigir e antes que os outros saíssem para acompanha-los até a base do exército e da força aérea. Aguardaram alguns minutos longe dos três interventores e conversando em voz baixa tiveram a certeza de que um golpe militar a nível nacional estava chegando o que acabaria causando uma guerra no país onde milhares de pessoas inocentes acabariam sendo literalmente assassinadas por serem contra aquele que não teve e que jamais teria o apoio do presidente recem empossado.

 

 

João Pessoa, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

As ruas da cidade estavam praticamente desertas quando blindados cruzaram por elas até alcançarem a capitania dos portos e o comando da Cruz das Almas, base do exército na capital paraibana e os se encontravam transitando debaixo da chuva que começara de madrugada naquele sábado acreditavam ser apenas uma operação militar normal e nem de longe imaginariam que estavam prestes a passar por uma situação sangrenta dali a alguns dias.

 

Dezoito blindados deslizavam suavemente através da avenida general Aurélio de Lyra Tavares e antes de alcançarem o anel viário do cemitério da Boa sentença pararam e o general Cleber Afonso Peçanha e o vice-almirante Jorge Oliveira Ramos ajustaram seus relógios e ambos, só se apresentariam aos locais para onde se dirigiam exatamente às 08:08 da manhã.

 

Combinaram os detalhes e cada qual seguiria seu caminho com nove veículos cada um e por estar mais perto do seu o vice-almirante Jorge esperou que o comboio do general avançasse até que este desse o sinal de que estavam aproximadamente na mesma distância e aí sim, ambos seguiram como programado e precisamente às 08:08 horas ambos estavam diante dos portões tanto da capitania quanto do comando do exército e ambos se identificaram.

 

- Soldado! O vice-almirante que comanda o comboio necessita falar com o vosso comandante. Foi o que ambos os capitães disseram.

- Senhor! Hoje é sábado e o comandante não se encontrem na base. Responderam ironicamente ambos as sentinelas das duas bases.

- E quem está no comando na ausência deles? Perguntaram.

 

A tenente Patrícia Fernanda Ruiz respondeu o marujo da capitania dos portos ao mesmo tempo em que o soldado do comando do exército informava que o comandante em exercício era o capitão Francisco Romano e sem qualquer discussão ambos os veículos entraram no pátio das guarnições a fim de poderem conversar com eles.

 

- Bom dia! Sou a tenente Patrícia Fernanda Ruiz, no que poderia lhe ajudar senhor?

- Bom dia senhorita! Meu nome é Jorge de Oliveira Ramos e venho com ordens expressas do alto comando para falar com o vosso comandante.

- Bem senhor! Hoje é sábado e ele não costuma aparecer por aqui, mas como estou como comandante substituta acredito poder ajudar no que for necessário.

- Querendo manter a educação por ser mulher senhorita, acho que não entendeu o que eu disse, mas irei repetir e solicito que ouça bem o que direi de novo, venho com ordens expressas do alto comando para falar com o vosso comandante, fui claro nas minhas palavras.

- Foi sim senhor, mas como disse, ele não costuma vir aqui aos sábados e eu estou no comando. Fui clara?

- E onde ele se encontra neste momento?

- Por ser sábado, ser o dia de folga dele e com esta chuva que está caindo acredito que ele deva estar na cama ainda. Respondeu com uma satisfação não sentida.

- Capitão! Veja onde este imbecil folgado mora e traga-o aqui agora mesmo. Ordenou o vice-almirante.

- Sim senhor! Ouviu, bateu continência e estava se virando quando a tenente percebeu que a coisa era mais séria do que ela imaginava.

- Calma senhor! Vou chama-lo imediatamente. Respondeu temerosa ligando para o comandante.

- Que bom que entendeu agora! Disse Jorge com cara de poucos amigos.

- Major! Preciso que venha para cá imediatamente.

- Tenente! Hoje é minha folga e ainda estou debaixo do lençol.

- Melhor vir para cá agora mesmo senhor porque o assunto é sério.

- Tenente combinei de curtir o dia com meus filhos e não costumo combinar coisas que não possa cumprir. Resolva aí para mim.

- Major Agnelo! Aqui é o vice-almirante Jorge de Oliveira Ramos e venho com ordens expressas do alto comando para o senhor, portanto, vista logo a porra de suas calças e venha para cá imediatamente, fui claro? Disse energicamente Jorge tomando o telefone das mãos de Patrícia.

- Imediatamente senhor! Respondeu o major levantando-se rapidamente e batendo continência.

- Tem dez minutos para chegar aqui, senão eu mesmo irei busca-lo.

- Já estou chegando senhor! Respondeu o major todo alvoroçado.

- Bando de incompetentes. Falou Jorge jogando o fone para Patrícia.

 

Não tão longe dali a cena, se combinada não seria tão igual.

 

- Soldado! O general Cleber Afonso Peçanha requer falar com o vosso comandante. Informou o coronel que acompanhava o outro comboio.

- O comandante não se encontra senhor, mas no lugar dele está o capitão. Pode ser com ele.

- Vamos lá falar com ele. Respondeu o coronel avisando o general e logo entraram.

- Bom dia senhores! Sou o capitão Francisco Romano, comandante interino da base Cruz das Almas, posso ajudá-lo em algo? Perguntou batendo continência.

- Capitão! Meu sou o general de exército quatro estrelas como pode ver, meu nome é Cleber Afonso Peçanha e vim até aqui com ordens do alto comando para falar com vosso comandante.

- Ele não se encontra no momento senhor! Hoje é o dia da folga dele.

- Sabia que militares tem folgas coronel? Perguntou o general para seu imediato.

- Não sabia não senhor!

- Não querendo ser inoportuno exijo que ligue para este tal capitão e informe a ele que um general de exército quatro estrelas esteja aqui em até dez minutos e informe-o que caso ele não esteja mandarei meus soldados irem atrás dele para que ele venha rápido até minha presença. Entendeu bem capitão?

- Sim senhor! Respondeu Francisco assustado com a firmeza das palavras do general.

- Não é à toa que este país está esta merda. Disse Cleber já estressado.

- Senhor, Bom dia! O general de exército quatro estrelas Cleber Afonso Peçanha está aqui e exige que venha para cá imediatamente.

- Qual é mesmo o nome do general?

 - Cleber Afonso Peçanha.

- Manda ele ir para a merda! Falou Agnelo sorrindo.

- O senhor está louco senhor?

- Coloque o celular em vídeo e passe para ele.

- Sim senhor!

- Quem você pensa que é para falar comigo assim? Perguntou o general soltando faíscas.

- Sou seu irmão, porque? Respondeu Agnelo sorrindo.

- Não acredito que seja você! Disse Cleber baixando a braveza.

- Não acredita porquê? Só porque desapareceu de minha vida depois de promovido é?

- Não foi bem assim, mas o que faz aqui neste fim de mundo?

- Vivendo e não tem melhor lugar para se viver que rodeado de uma linda esposa, dois filhos maravilhosos e lindas praias.

- Que merda! Tinha que ser você.

- Tinha que ser eu o que maninho?

- Nada! Tenho que te ver com urgência.

- Tem que ser aí?

- São ordens de cima.

- Que merda! Você me interrompeu a transa. Espere aí que vou me trocar e em quinze minutos estarei aí.

- Não acredito que estava transando!

- Transando não cunhado malvado! Estávamos fazendo amor. Disse Amanda aparecendo na câmera.

- Oi cunhada! Espero ele vinte minutos então.

- Besta! Venha aqui em casa que as crianças perguntam direto de você.

- Não posso agora Amanda! É assunto militar.

- Vem almoçar conosco depois então?

- Farei o impossível e vá logo terminar de fazer o que estava fazendo para que ele venha logo.

- Já era! Você cortou o tesão. Já estou saindo. Informou Agnelo já vestido.

- Estou te esperando aqui.

- E eu a você aqui em casa. Até depois cunhado.

- Até! Desligaram.

- Seu irmão senhor!

- É! Achei que ele estava servindo em São Paulo. Que merda.

- E agora senhor?

- Nem sei o que dizer, mas vamos ver no que dará isso tudo. Ligue para o vice-almirante e peça que ele traga o comandante da capitania até aqui.

- Sim senhor!

- Porra! Que merda que é esta agora.

- Posso lhe servir um café general? Perguntou o capitão Francisco.

- Pode e se tiver algo mais forte será bem-vindo também capitão.

- Mais forte tipo uma bebida, por exemplo senhor?

- Isso! O que vocês têm de bebida forte aqui?

- Aqui nada, mas posso providenciar.

- Não se preocupe capitão! O café mesmo servirá, mas sem açúcar.

- Sim senhor!

- Está a muito tempo servindo com meu irmão capitão?

- A oito anos senhor!

- Pelo sotaque o senhor não é daqui. De onde é?

- Sou nascido em Ponta Grossa senhor!

- Hum! Interessante.

- Aqui está o café senhor!

- Obrigado! Sente-se e me perdoe por ter sido tão rude.

- Tudo bem senhor!

- Coronel! Conseguiu falar com o vice-almirante?

- Consegui sim! Ele está aguardando o capitão Daniel chegar para virem para cá senhor.

- O que foi que o meu irmão veio fazer aqui neste fim do mundo! Perguntou Cleber para si mesmo.

 

Não havia e nem haveria jamais resposta para aquilo, mas Cleber estava em uma situação delicada. Agnelo era seu irmão dois anos a menos. Era e sempre fora uma pessoa do bem e seguindo os passos dos pais e avós entrara para a vida militar e desde pequeno era o filho e irmão amado que se tornara na alegria da família. Juntos ele e seu irmão seguiram a carreira militar, porém, Cleber era mais ambicioso e queria chegar no topo da hierarquia do exército ao passo que seu irmão se satisfizera em parar como major e o destino acabou colocando-os frente a frente de novo depois de quase nove anos de ausência causada por si mesmo e Cleber se recriminava sempre por isso.

 

 Amava seu irmão acima de qualquer coisa até mesmo da farda e da nação, mas tinha assumido um compromisso com a alta cúpula do estado maior lugar onde pretendia chegar em breve no lugar daqueles velhos que lá estavam.

 

Eram novos ainda. Na verdade, era o general mais jovem de todos. Estava com quarenta e sete anos e seu irmão amado recem completara quarenta e cinco. As ordens eram e foram claras, tinham que assumir o posto de qualquer forma nem que fosse na base da bala, mas jamais poderia fazer isso caso seu irmão não entendesse os desígnios do destino que o colocara como um castigo naquela situação e assim pensava quando o menino levado chegou até ele e se aproximando perfilou-se e bateu continência.

 

- Ah vá para a merda moleque safado! Disse Cleber quebrando o protocolo e o abraçando fortemente para surpresa de Jonas e Francisco.

- O que faz aqui maninho mais velho?

- Que saudade que eu estava de você meu irmão querido!

- Sei bem de sua saudade e ela é tão grande e forte que faz quase uma década que sumiu da família, não é?

- Uma década são dez anos e só fazem oito. Respondeu sorrindo.

- Oito não, quase nove. Retribuiu o sorriso.

- Temos muito o que conversar meu irmão querido.

- Muito mesmo. São quase nove anos de distância. Tem visto a mamãe e o papai?

- Raramente, mas sempre que posso vou até lá na roça para vê-los.

- Lá você vai, não é?

- Eu nem sabia onde você estava, como que poderia vir lhe ver.

- Sabe para que servem os telefones?

- Não vou me justificar. Sei que errei com você, mas o destino cruel e traiçoeiro me fez te achar de uma forma muito incomum.

- O que aconteceu? Perguntou Agnelo.

- Senhores! Por favor nos deixe a sós.

- Sim senhor! Responderam Jonas e Francisco saindo.

- Você porá caso não tem uma bebida aqui para eu tomar? Perguntou Cleber.

- Sabe que não bebemos em serviço, não sabe?

- Menino! Vá para a merda que sou seu superior.

- Bela merda, mas aqui não tenho nada para beber a não ser coisas tipo agua, café e suco de laranja.

- Sabe que eu também não bebo, mas para a conversa que teremos que ter eu preciso tomar algo.

- É algo muito sério?

- Muito e nem sei como dizer isso para você.

- Bem! Já que é tão séria eu trouxe de casa uma bebida que você adorava tomar.

- Não acredito que trouxe o licor de chocolate que eu amava tomar?

- Trouxe e da marca que gosta também, se bem que temos uma pessoa aqui em JP que faz algo melhor que a tradicional.

- Não creio!

- Vai comprovar na hora do almoço. A Amanda disse que vai preparar o almoço que você adora à base de camarão.

- Não acredito que ela se lembrou disso.

- Tinha que lembrar, afinal foram você e a sua esposa quem ensinaram isso para ela e ela se lembra até hoje quando ela fez a primeira vez e você disse que estava uma delícia, quando na verdade achou uma porcaria.

- Não precisava me lembrar disso também, não é?

- Isso é uma coisa que ela jamais esqueceu e disse que você ter se afastado de mim foi talvez por causa da moqueca que ela fez uma porcaria que nem o cachorro quis comer, mas ressalto que ela aprendeu e agora fica uma delícia e gostaria que trouxesse a Valéria para provar.

- Você não está sabendo?

- Sabendo do que?

- Minha amada esposa Valéria faleceu a quatro anos meio atrás de câncer.

- Faleceu! Como assim?

- O câncer que ela descobriu tardiamente que tinha a levou em vinte e dois dias depois de diagnosticado.

- Meu Deus! Não sabia disso. Ela era uma menina ainda.

- Pois é meu amado irmão! Ela partiu ainda com trinta e quatro anos de idade e talvez por isso foi que eu me entreguei a carreira militar tentando me isolar de tudo e de todos.

- Nem sei o que dizer, mas de coração eu sinto muito meu irmão.

 

Estavam ainda colocando as coisas em dia quando o capitão Francisco anunciou que os convidados haviam chegado e foram autorizados a entrar e logo após terem entrado cordialmente para surpresa até do vice-almirante Jorge foram convidados a sentarem-se.

 

- Bom dia senhores!

- Bom dia! Responderam.

- O vice-almirante já entregou para o senhor as ordens recebidas capitão Daniel?

- Não senhor! Preferi deixar para ser entregue aqui para os dois.

- Perfeito, mas disse ao capitão do porque o trouxe até aqui?

- Também não e achei que gostaria de falar sobre isso quando me chamou até aqui.

- Melhor! Bem, em primeiro lugar quero me desculpar com a tenente Patrícia Fernanda Ruiz pela minha rustidez para com ela e também com o capitão Daniel Farias dos Santos da capitania dos portos, mas a fim de não perder tempo quero entregar ao capitão Daniel as ordens recebidas do comando geral no qual tem todas as informações sobre procedimento e inclui-se aí o pedido de transferência para qualquer lugar das regiões Norte e Nordeste. Portanto, gostaria que o senhor lesse isso e soubesse que o vice-almirante estará assumindo o vosso posto tão breve terminemos este pequeno entrave aqui neste local.

 

Daniel abriu o documento entregue que estava como todos os demais lacrados com cola e com cera onde ostentava o brasão da República. Este abriu-o e surpreso leu que ele deveria deixar o posto em que comandava imediatamente dando posso a partir de então ao vice-almirante Jorge de Oliveira Ramos sem qualquer contestação e que, o convite de retirada do posto aplicava-se aos demais marujos e oficiais que estavam lotados consigo.

 

- Porque? Perguntou indignado.

- Não compete a nós julgarmos a ordens superiores capitão, mas deve ter aí uma nota que diz a quem deverão proceder as perguntas e sobre para onde estarão indo ao abandonarem o posto ocupado até então. Respondeu o general Cleber adiantando-se à Jorge.

- Não concordo com isso e não sairei de lá até me darem uma satisfação plausível.

- Veja bem capitão! Não cabe a nós discutirmos sobre isso e como eu disse e repetirei, tem aí a nota de com quem deveria se reportar pelas ordens recebidas. Repetiu Cleber.

- Acha justo simplesmente me colocarem na rua sem uma simples satisfação?

- Estou me sentindo um cão sarnento abandonado à beira da estrada e só sairei de lá na base da bala.

  

Não se deu conta disso, mas tanto o coronel Jonas quanto o contra almirante Sullivan se prepararam para sacar suas armas, mas foram contidos com um sinal do general Cleber.

 

- O senhor é de onde capitão? Perguntou Cleber mantendo a paciência por causa do seu irmão.

- Sou nascido em Salvador na Bahia senhor.

- Que bom! Podemos transferi-lo para a base naval de lá. O que me diz? Voltaria para a sua terra mãe.

- Conseguiria fazer isso senhor?

- Claro que sim, afinal somos militares e como tal temos que ver o que seria melhor para nós, mas quero lhe adiantar que talvez não tenha recebido nada adiantado por fazer apenas uma semana que o presidente tomou posse, porém, saiba que estas ordens foram a nós impostas ainda na gestão do presidente que deixou o poder.

- Isso se aplica também ao major Agnelo? Perguntou Daniel querendo achar desculpas.

- Não! Acho que nem comentei sobre isso, mas o major Agnelo é o meu irmão mais novo e vim aqui para vê-lo pois fazia anos que não o fazia.

 

Aquilo pegou de surpresa a maioria dos presentes na sala, pois jamais imaginariam aquilo e uma que mais se surpreendeu foi Patrícia por ver o quanto que o general mudara seu modo de agir ao estar agora diante de seu irmão.

 

- Senhor! Sou a subcomandante. Isso se aplica a mim também? Perguntou Patrícia.

- De que lugar do país a senhorita é? Perguntou Cleber.

- Sou nascida aqui em João Pessoa mesmo.

- Gostaria de mudar de ares?

- Uma transferência?

- Sim!

- Tenho a prerrogativa de poder continuar por aqui?

- O que me diz almirante?

- O que dizem as normas general?

- Às favas as normas. A jovem é daqui e desde que não nos de trabalho eu abriria uma exceção para ela.

- Acha isso mesmo? Perguntou Jorge querendo saber até onde ele iria.

- Sim e saiba que se eu estivesse no seu lugar iria desejar que ala estivesse honradamente ao meu lado, afinal ela conhece bem esta cidade e estado, não acha?

- Promete se comportar dentro das ordens e das leis impostas pelo alto conselho jovem?

- Sempre senhor! Tenho imensa honra em vestir esta farda.

- Então, por mim está tudo em ordem. Quando ao senhor capitão até o final da tarde vou ver com quem estiver no comando lá de Salvador e daremos um jeito no incomodo causado e pessoalmente irei solicitar a sua promoção para contra-almirante, o que me diz? Perguntou Cleber para Jorge.

- É uma ideia boa! Poderemos fazer isso mesmo e pelo que sei lá em Salvador não há um contra-almirante. Respondeu Jorge entendendo o detalhe do pedido.

- Ótimo! Então estamos todos resolvidos, só peço que que vejam quem deseja mudar de ares pois o contingente que está vindo para ocupar o posto poderão ter diferenças entre norte e sul. Tudo bem?

- Cuidarei disso pessoalmente. Confirmou Patrícia.

- Bem senhores, já que tudo está definido agora irei curtir um pouco o meu irmão. Até mais ver.

 

Todos estavam saindo até que Jorge voltou e perguntou para Cleber o que ele pretendia fazer agora ao saber que seria ele que deveria assumir no lugar de seu irmão.

 

- Boa pergunta Jorge! Nem sei o que fazer, mas saberei e resolverei isso até à tarde.

- Sabe que se precisar de mim estarei pronto para lhe ajudar, não sabe?

- Sei sim e lhe agradeço por isso.

- Sei que faria o mesmo por mim. Agora estou indo. Despediu-se batendo continência e saindo.

- Menino! Agora podemos ir até sua casa para eu rever a minha cunhada predileta e os sobrinhos que mais amo na vida.

- Diz isso porque só tem eles, mas vamos ter que conversar depois do almoço.

 

Recife, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM

 

Ninguém conseguira explicar de onde saíram aqueles veículos blindados de ataque, mas vinte deles do nada faltavam minutos para as oito da manhã estacionaram diante do portão de entrada da base do comando militar do Nordeste ao mesmo tempo em que outros tantos paravam na rua São Jorge diante da capitania dos portos e de dentro de cada comboio militar um oficial graduado desceu e informou ao soldado na guarita que de um lado um general queria ver o comandante da base do exército e na outra da base naval.

 

Imediatamente os soldados informaram ao comandante de suas respectivas bases e rapidamente foram atendidos pelos comandantes em exercício.

 

- Bom dia almirante! Sou Walter Morales capitão de patente e comandante da base naval do Recife. A que devo a honra de poder estar recebendo vossa pessoa por aqui.

- Trouxe-lhe ordens diretas do comando da capital federal para o senhor. Disse o almirante e sem palavras entregou o envelope lacrado.

 

Walter pegou o envelope colado e lacrado com cera e o brasão da República e o abriu.

 

Olhou detidamente as palavras ali descritas e depois para o almirante sem entender direito o que estava escrito na mensagem. Na verdade, entendeu o que estava escrito, porém, ela era tão absurda que não conseguia interpretá-las direito, pois aquele não era e nunca fora o procedimento das forças armadas brasileiras.

 

- Me perdoe almirante, mas acho que não entendi direito o que está escrito aqui.

- Acredito eu que aí está escrito que o senhor deverá deixar o posto de comandante aqui desta unidade e que obviamente deverá ser substituído por outra pessoa, na qual, no presente momento seria eu. Onde está a dúvida?

- Quanto a isso eu entendi e jamais iria contra o cumprimento das ordens que estou recebendo, mas para simplificar cabe uma pergunta, porque?

- Bem isso já não sei explicar, mas posso lhe dizer que, são determinações que já vinham sendo programadas desde o ano passado.

- Ah tá! Então isso foi orquestrado e programado pelo ex presidente, seria isso?

- Não sei lhe responder isso capitão, apenas que foram ordens e como militar sabe bem que devo cumpri-las e o senhor também. Porém, caso não se sinta confortável quanto a isso acredito que poderá obter as suas perguntas diretamente com eles e também acredito que eles tenham mencionado isso dentro da mensagem que lhe entreguei.

- De fato isso está descrito aqui, mas o que não estou entendendo é porque não fui comunicado antes disso.

- Senhor capitão Walter! O novo governo assumi a apenas uma semana e eu recebi isso anteontem com as ordens de vir para cá e assumir o vosso posto, portanto, espero que não causa problemas ou qualquer constrangimento a fim de tumultuar isso.

- Jamais iria contra as ordens, mas sim não entendo este procedimento.

- Faça o seguinte. Pegue o telefone e ligue para eles ou então vá até Brasília e tire todas as satisfações que julgar necessárias, mas deve desocupar seu posto agora mesmo e espero que faça isso sem problemas.

- Tudo bem! Já entendi bem isso, mas vou para onde?

- Isso já não sei, mas poderá ser transferido para outra unidade em qualquer outro estado da República.

- Simples assim almirante?

- Simples assim capitão!

- Tudo bem! Vou retirar meus pertences pessoais daqui e irei para Brasília a fim de tratar isso pessoalmente com o auto comando.

- Faça isso e lhe agradeço, mas uma pergunta. De que estado o senhor é?

- Como?

- Em que estado o senhor nasceu?

- Nasci na cidade do Rio de Janeiro e depois de servir na base naval de lá fui transferido para cá e aqui estou a oito anos.

- Gosta do Rio de Janeiro?

- Gosto sim, afinal nasci lá.

- O que pensa do novo presidente?

- Como?

- O que pensa do presidente reeleito?

- Sinceramente?

- Sim!

- Que ele foi um idiota quando estava no comando da nação.

- Pode explicar melhor isso?

- Posso sim!

- Então me fale com sinceridade, por favor.

- Simples. Ele assumiu a presidência e tinha tudo para fazer um grande governo. Tinha o povo do lado dele, mas ao invés de governar a nação ele preferiu ficar passeando de moto, jet sky, fazer média com incapazes, esqueceu da pátria e quando achou que estava reeleito perdeu as eleições para ele mesmo e não para a sua oposição esquerdista.

- Hum! Então acha que ele perdeu para um partido de esquerda.

- E não foi isso almirante?

- Não sei, mas parece que foi o que o senhor disse, ou ouvi errado.

- Eu disse isso mesmo e até hoje não me conformo de ter que ter batido continência para um homem que nasceu neste maldito estado para o qual foi designado.

- Não gosta daqui?

- Senhor! Eu nasci em um estado violento, mas lá pelo menos era um lugar civilizado e não igual aqui que tem um povo folgado, omisso e que não entende nada de respeito pela lei e pelo comando militar.

- Pensa isso mesmo?

- Sim e sempre disse isso e acredito que tenha sido por isso que querem me tirar daqui.

- Percebo em suas palavras que este aqui não foi um porto que gostaria de ter desembarcado como bom marujo.

- Não foi mesmo e apesar de não concordar com a forma que estou sendo tirado do comando agradeço por isso.

- Tirando aqui e São Paulo, se tivesse que escolher um estado da República para onde desejaria ser transferido?

- Qualquer um que não fizesse parte deste pedaço do país.

- Quer dizer que poderia ser escolher o estado do Amazonas ou do Pará por exemplo?

- Não senhor! Se eu tivesse que escolher gostaria de poder ir para um estado do Sul ou do Sudeste.

- Paraná estaria bem?

- Seria um sonho realizado para mim e até para uma base da marinha no rio Paraná eu aceitaria se pudesse escolher.

- Está falando sério?

- Sim! Sempre preferi rios do que oceanos.

- Posso dar jeito nisso se desejar ir para lá?

- Para a base de Foz do Iguaçu?

- Sim! Gostaria disso?

- Adoraria e a minha esposa é daquela reunião. Ela iria adorar porque também não gosta daqui.

- Capitão Avelino! Ligue para o alto comando.

- Tem certeza senhor!

- Ligue para lá agora!

- Sim senhor!

 

Avelino não gostou muito do que estava ouvindo seu comandante pedir, mas era ele quem mandava e pegando o telefone verde como eles chamavam ligou direto para o comandante em chefe das operações de mudança nos comandos.

 

- Sim! Disse uma voz do outro lado.

- NG2024-19-26!

- Um momento! Respondeu a voz transferindo a ligação.

- Almirante Tarcísio?

- Não! Capitão Avelino Santana BXK-3276, mas é ele quem irá falar.

- Um momento capitão! Pediu a voz e Avelino passou o telefone para o almirante.

- Pronto!

- Marechal!

- Ele! Quem é?

- Almirante Tarcísio!

- Bom dia almirante! Algum problema?

- Não, problema nenhum, mas tenho um erro de procedimento aqui.

- Outro?

- Parece que sim!

- Do que se trata?

- Vim substituir o capitão Walter Morales aqui no Recife e encontrei um problema.

- Walter Morales?

- Isso mesmo senhor!

- Coloque na câmera e passe para ele.

- Como senhor? Perguntou Tarcísio estranhando.

- Passe para ele.

- Sim senhor! Intrigado Tarcísio passou o telefone para Walter.

- Bom dia pirralho!

- Oi tio! Bom dia!

- O que está fazendo aí no Recife?

- Me mandaram para cá a anos atrás e cá estou.

- Como está a Nanci e a pequena Débora?

- Da mesma forma que eu. Ainda não aceitando estar aqui, mas aguentando.

- Já sei qual é ou seria o problema mencionado pelo almirante. Você quer sair daí por vontade própria é isso?

- Muito!

- A Nanci também quer isso?

- Reclama todo dia por estarmos aqui.

- Para onde deseja ir?

- O almirante me disse que poderia ser em Foz do Iguaçu. Pode?

- Se não puder eu remexo aqui, pois sei que a Nanci e a Deb ficarão felizes.

- Ficarão mesmo! Ela sente saudade dos pais e da família dela que moram la perto de Foz.

- Porque não me pediu isso antes?

- Não queria incomodá-lo e fiquei surpreso pela sua promoção.

- Muitas coisas estão mudando aqui com o novo chefe.

- Será que ele não irá fazer merda de novo tio?

- Não! Desta vez não e depois te conto os detalhes, porque irei visitar vocês lá quando se instalarem.

- A Nanci e a Debora irão adorar te ver.

- Eu também! Tire da câmera e passe de novo para o almirante filho.

- Sim senhor! Respondeu Walter batendo continência e passando o telefone.

- Almirante!

- Sim senhor!

- Obrigado por ter encontrado meu sobrinho. Mande-o arrumar as coisas e a transferência dele para Foz. Ah, esqueci de perguntar, pergunte para ele se o subcomandante dele é o Dias.

- Ele afirmou que é ele mesmo senhor!

- Vamos alegrar os meninos! Os dois irão para lá e se ele tiver mais alguém que levou para aí e quiserem descer providencie tudo e um aviso almirante, nem ouse mexer com este menino porque ele é meu único sobrinho. Disse sorrindo.

- Fique tranquilo senhor!

- Obrigado por achar parte da minha família almirante. Disse e desligou.

- Bem jovem! Seu sonho de voltar para casa foi atendido e você ouviu, poderá levar quantos desejarem daqui. Ordens de cima.

- Obrigado senhor! Posso me retirar?

- Fique à vontade e boa sorte.

- Grato! Bateu continência e saiu da sala que usara por anos feliz da vida.

- Estou surpreso senhor! Comentou

- Com o que capitão?

- Do senhor interceder por alguém e quebrar os seus protocolos.

- Realmente Avelino, mas não sei porque me deu um estalo para fazer isso e acabou sendo bom para nós dois, porque nunca se sabe o que o alto comando cismará de fazer.

- Tem toda razão senhor!

 

Não tão longe dali precisamente às oito da manhã os veículos onde estava o general Diego Azambuja parava diante do portão de acesso ao comando do Nordeste e o tenente coronel Adriano Afonso se aproximou do soldado que estava na guarita.

 

- Bom dia soldado! Sou o tenente coronel Adriano Afonso e no comboio está o general de brigada Diego Azambuja que vem com mensagem para o comandante desta base.

- Um momento senhor! Pediu o soldado.

 

Não teve que esperar muito tempo, pois o soldado autorizou a entrada e pediu para que abrissem o portão. Adriano agradeceu, voltou para o veículo e transpuseram o portão e seguiram até onde fora indicado e lá na entrada estava postado aguardando-os Ivo Peixoto coronel e comandante da base militar do exército do comando do Nordeste.

 

Desembarcaram dos veículos e todos olhavam para aquele homem que mais parecia um enorme pinheiro. Alto, forte, musculoso, sem uma grama de gordura no corpo, olhos claros, cabelos castanhos da cor dos olhos que foi em direção a eles para recepciona-los.

 

- Bom dia senhores! Sou Ivo Peixoto, coronel das forças armadas e comandante desta base do exército aqui no Recife. A que devo a honra da visita dos senhores.

- Bom dia coronel! Sou o general de brigada Diego Azambuja e este é o tenente coronel Adriano Afonso. Podemos entrar para podermos conversar melhor? Retribuiu o general se sentindo constrangido com o tamanho do coronel.

- Claro senhor! Por aqui por favor.

 

Entraram na base e o coronel Ivo os levou até sua sala no meio do corredor. Pediu para que se sentassem e dando a volta na mesa sentou na cadeira que ocupava ali no seu comando e chamou Celso o major que era o subcomandante da base.

 

- No que posso lhe ajudar senhor?

- Viemos aqui por ordens expressas do comando central em Brasília que pediram para que eu lhe entregasse em mãos estas ordens. Informou o general ainda constrangido.

- Que coisa estranha! O alto comando mandando mensagens através de cartas e além de colada vem selada com cera e com um brasão da República e isso me lembrou daquelas mensagens que se usavam antigamente. Comentou com uma voz forte e inflexível.

- Mudança de projetos do governo coronel.

 

Ivo abriu a carta em papel pardo especial que lembrava a uma mensagem tipo pergaminho. Leu e olhou para os que estavam à sua frente.

 

- Interessante! Aqui diz que estou sendo demitido e que o novo dono da casa vai assumir de imediato, é isso mesmo general?

- Bem coronel! É um ato de alterações de comando que está ocorrendo em todo o território nacional e não apenas aqui. Informou o general tentando se conter pelo medo que sentia daquele homem diante de si.

- Tudo bem! Já estou aqui a quase oito anos e de repente uma mudança seria bom, mesmo porque as aulas das escolas estão de férias e não atrapalhariam as crianças e as esposas com certeza iriam se sentir entristecidas, pois deixariam as amigas que fizeram, mas superariam, mas há uma interrogação aqui. Para onde querem me enviar?

- O senhor é casado e tem filhos coronel? Perguntou Adriano querendo quebrar o gelo.

- Infelizmente não sou casado e nem tenho filhos. Minha ex esposa me demitiu igual me sinto agora e nem deu tempo para que tivéssemos um filho.

- Coronel! Ninguém está lhe demitindo. Falou Diego com a voz tremula.

- Está com frio senhor?

- Não, porque?

- Porque parece que o senhor está sentindo frio, mas me responda, para onde querem me enviar se não for uma demissão?

- O senhor é de onde?

- Quer saber onde eu nasci, é isso?

- Isso!

- Sou do estado de São Paulo, mais precisamente da terra do lobisomem, mais precisamente da Megalópoles de Joanópolis. Já ouviu falar senhor?

- Terra de lobisomem?

- Isso! Dizem que lá é a terra dos lobisomens, mas claro que é apenas uma lenda.

- Ah sim! Claro que sim. Falou Diego.

- Tudo bem que já ouvi algumas vezes que eu deveria ser ou seria um deles.

- Deles quem coronel? Perguntou Adriano também assustado.

- Um ou o lobisomem, mas claro que isso deve ser porque tenho apenas dois metros e vinte e um de altura.

- Caramba! Tudo isso? Perguntou Adriano não se contendo.

- Só é ruim quando viajo de avião e para arrumar namoradas. Respondeu Ivo sorrindo.

- Isso se aplica apenas ao coronel, ou é extensiva. Perguntou o major Celso.

- Como? Ah sim, as ordens são apenas para o comandante, mas como o subcomandante também será trocado entenderia eu que seja para os dois. Respondeu o general ainda desconcertado.

- Uma pergunta general! Eu estou sendo dispensado ou se trata apenas de uma substituição de posto?

- Dispensado jamais coronel! São ordens apenas de trocas de comando, porém, de uma forma diferente, sem alarde, entendeu?

- Isso eu entendi, mas tem algum lugar que desejem me enviar?

- Gostaria de ir para onde?

- Poso escolher?

- Fora São Paulo poderá sim.

- Ué, porque fora São Paulo?

- Porque lá já estão todos substituídos. Mentiu o general.

- Estranho! Meu irmão que também é coronel não disse nada de transferência lá.

- Ele é de São Paulo?

- Sim senhor!

- É sim senhor! Está lotado na 2ª região militar do parque Ibirapuera na capital paulista. É subcomandante de lá.

- E ele poderia leva-lo para lá?

- Meu irmão, o pitoco não poderia me levar lá para ocupar o posto dele, não é?

- Pitoco? Perguntou Diego curioso.

- Ah desculpe. Chamamos ele de pitoco porque ele é mais baixo que eu em três centímetros.

- Caramba! Sua família é toda grande assim?

- Não! Minha mãe é baixinha. Ela tem apenas um metro e noventa e oito e meu pai tinha dois metros e vinte e cinco de altura.

- Pode ser outro estado coronel? Perguntou Diego engolindo em seco.

- Posso escolher?

- Pode! Disse apressadamente Diego.

- Para onde poderemos ir major?

- Poderia ser Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul eu Espírito Santo?

- Cuiabá! Citou Adriano.

- Não! Muito quente e as mulheres são muito baixas.

- Vitória? Citou Diego.

- Não! Quero distancia de praia.

- Curitiba?

- Hum! Lá tem mulheres bonitas apesar de serem baixinhas. O que acha major?

- Poderia ser Goiânia também ou quem sabe no Distrito Federal. Respondeu Celso já satirizando.

- Curitiba é um lugar maravilhoso. Disse Diego querendo acabar com aquela situação.

- Tudo bem! Curitiba então, mas posso levar mais alguns de meus comandados daqui?

- Pode! Quantos desejar.

- São somente doze que são lá da parte de baixo do mapa.

- Sem problemas. Providenciarei a transferência dos senhores para Curitiba imediatamente e poderão levar suas famílias.

- Obrigado general, mas infelizmente nenhum de nós temos família ou esposas e filhos por aqui.

- Nenhum dos quatorze?

- Não!

- Porque?

- Porque acho que crescemos demais e isso dificultam as coisas.

- Cresceram demais? Não entendi.

- Vocês não viram o major quando entrou e se sentou?

- Não!

- Major, por favor, fique de pé.

 

Celso se levantou e quase que os dois caíram das cadeiras, pois ele era quase tão alto quanto o coronel Ivo e este aproveitou para dizer que os doze tinham mais de dois metros cada um que depois ao confirmarem quiseram despacharem eles o mais rápido possível.

 

Maceió, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

Vinte e oito veículos blindados rodavam tranqüilamente pela avenida da paz. O dia estava claro apesar de que a previsão do tempo seria de chuvas fortes que deveriam cair no final da tarde. A praia estava praticamente vazia e os que transitavam pela areia ou mesmo no calçadão não deram a menor atenção para aquela quantidade de veículos militares pelos quais passaram.

 

Pararam de repente e o bloco de quatorze blindados seguiram adiante e adentraram pela avenida Humberto Mendes e rumaram até a 59º batalhão de infantaria. Os demais aguardaram as informações para seguirem em frente e rumaram para a capitania dos portos que ficava logo adiante. Sabiam que iriam encontrar uma mulher no comando em uma das unidades que era uma fera e tanto o general quanto o contra-almirante de certa forma temiam bater de frente com a besta fera como ela era chamada, mas independentemente de qualquer coisa ordens eram ordens e tinham que ser cumpridas, mas mesmo sendo militares de alta patente nenhum dos dois queriam vê-la, mas disso o contra-almirante escapou pois ele ao chegar na base da marinha soube que o comandante de lá era um homem e após se identificarem foram autorizados a entrar e rumaram acompanhados por uma maruja até a sala do comando.

  

- Senhor! Temos aqui alguns marinheiros tendo à frente dele o contra-almirante Paulino Silveira que deseja falar com o senhor.

- Mande-os entrar por favor!

- Podem entrar! Disse a maruja.

 

Entraram na sala e foram recebidos pelo comandante que se apressou em apresentar-se após bater continência ao ver que o que ali estava tinha patente maior que a sua.

 

- Bom dia senhores! Sou o capitão Silvano comandante desta base militar.

- Bom dia capitão! Sou o contra-almirante Paulino Silveira e venho com ordens para o senhor direto do comando central de Brasília as quais estão. Disse lhe entregando o envelope.

 

Silvano estranhou ordens vindas através de um envelope, mas pegou e abriu e leu o conteúdo da mensagem e se surpreendeu com o que viu.

 

- Isso é uma substituição de comando! Foi isso que eu li aqui?

- Isso mesmo capitão!

- E a substituição funciona desta forma agora?

- Isso mesmo capitão! Tornou a repetir Paulino.

- Agora a coisa é simples assim?

- Exatamente assim. Resumindo o senhor pega suas coisas e eu coloco as minhas. O senhor se retira e eu assumo. Bem simples.

- E por acaso que as coisas funcionam assim senhor?

- Sim! A partir do novo comando será assim que as coisas funcionarão.

- E posso saber para onde eu serei transferido?

- Isso o senhor tem que resolver com o alto comando.

- Ah sim! Eu pego o telefone, ligo para Brasília, falo com alguém de lá e ele me dirá onde deverei me apresentar, é isso?

- Bem simples não achou capitão?

- Me perdoe a pergunta senhor, mas quantos anos o senhor tem?

- Porque quer saber?

- É apenas uma pergunta simples tal qual é esta mensagem. Pode me responder?

- Tenho quarenta e dois anos, porque?

- Senhor! Com todo respeito à sua patente, mas eu tenho cinquenta e seis e prestes a ser reformado, mas é um disparate isso aqui.

- Porque acha isso?

- Por nada! Querem que eu saia para que se sente em minha cadeira, é isso?

- Em tese e simplificadamente é!

- E posso ir para casa, pegar minha rede, colocar debaixo de uma árvore, me deitar nela e não esquentar com mais nada, é isso?

- O que o senhor irá fazer eu não sei, mas para onde vai e o que fará a partir de agora é isso mesmo e qualquer coisa o senhor deverá acertar com o comando central.

- Tudo bem! Posso pegar minhas coisas?

- Claro que pode!

- O meu subcomandante fica ou sai também?

- Não temos ordens para ele, mas se ele ficar estará sob nova administração para ser prático.

- Tudo bem! Obrigado pela atenção senhor! Disse Silvano, bateu continência e saiu da sala.

- Nossa! Nem acredito no que vi senhor.

- Nem eu capitão! Também não acredito que ele aceitou de boa e saiu sem outras contestações.

- Povinho ignorante este aqui do Nordeste e se quer saber, já foi tarde.

- Acha que o general vai se ferrar coma besta fera?

- Queria ser uma mosca para ver ele enfrentando a fera. Falou o contra-almirante sorrindo.

- Eu não senhor! Se ela for metade do que falaram preferia ver o diabo na minha frente. Respondeu o capitão Cláudio sorrindo.

 

Enquanto eles passaram por aquela situação tranquila os quatorze veículos adentravam nas dependências do 59º batalhão de infantaria que era muito maior do que imaginavam, porém lá não tiveram qualquer empecilho para entrar com as viaturas motorizadas e estacionaram onde fora indicado. Desceram e olharam para os lados e viram vários soldados se exercitando e de olho em tudo ali dentro.

 

- Coisa mais estranha isso! Comentou o general Miguel.

- Estranho mesmo senhor! Respondeu o major Leonardo.

- Nenhuma comunicação interna e nos deixaram entrar sem nenhuma pergunta mais ou comunicação com o comandante daqui desta base militar. Estranho demais isso.

- Senhores! Por favor me acompanhem que os levarei até à comandante que está à vossa espera. Pediu uma jovem com a patente de tenente que se aproximou deles.

- Aqui é uma mulher a comandante? Perguntou Leonardo.

- Digamos que seja isso na linguagem popular. Respondeu contendo um riso.

 

Entraram, subiram as escadas do enorme prédio principal e foram conduzidos até uma sala bem diante da escada e a tenente bateu na porta anunciando os oficiais que ali estavam para falar com ela e foram autorizados a entrar.

 

Miguel e Leonardo, general e major respectivamente entraram na sala tosca, mas bem arrumada e esperando bater de frente com uma mulher baixa, gorda, desleixada se surpreenderam com o que viram. Estavam diante de uma jovem que não deveria ter mais que trinta e cinco anos morena, olhos esverdeados, cabelos lisos negros como a noite e excessivamente linda, além é claro de notarem o corpo perfeito da mesma quando ela se levantou.

 

- Sei que vocês não sabem, mas eu sou Anna Garcia Pedregon a comandante desta unidade militar, não tenho trinta e cinco anos como devem ter pensado e sim trinta e nove senhores general Miguel Sandoval e major Leonardo Rivera e lhes pergunto porque demoraram tanto para chegar aqui.

- Como demoramos?

- Estão com uma mensagem de ordem que me pertence com vocês desde segunda e só me trouxeram agora e aí vem a pergunta do porquê demoraram tanto para virem aqui.

- Como sabe desta mensagem, alguém lhes avisou disso?

- Não, mas nela há uma ordem clara e objetiva de que eu tenho que sair da minha cadeira a qual eu comprei com meus proventos e entregar o comando da base para o senhor, correto general?

- Quem lhe informou disso?

- Minhas fontes superiores.

- Alguém do comando central lhe disse isso?

- Acha mesmo que o comando de Brasília composta de marechais recem promovidos estão de fato no comando central senhor?

- E não estão?

- Não, e a propósito eu não recebo informações de ninguém vivo e sim de um comando muito superior aos mortais.

- Coronel por acaso está querendo caçoar de mim?

- De forma alguma, afinal eu sou apenas coronel e o senhor um general recem nomeado e antes de ser promovido era apenas um capitão de conveniência.

- Está me desacatando e pode ter sérias complicações com isso coronel.

- Hum! Que tipo de complicações general? Talvez pense em corte marcial, prisão ou mesmo pelotão de fuzilamento, mas será que faria isso mesmo?

- Como?

- A propósito como estão seus filhos André e Paloma?

- Estão bem, porque?

- E sabe da vida deles e do que eles andam fazendo?

- Estão indo na faculdade e bem, mas como sabe deles?

- Sua esposa Ingrid continua fazendo artes, não é?

- Como?

- General! O senhor me faz uma ameaça velada e nem sabe o que acontece dentro da sua casa. Isso é coisa de menino malvado.

- O que quis dizer da minha família?

- Bem, para começar eles não são sua família. O menino que mexe com drogas não é seu filho de fato e sim filho do Randal. Já a menina que também não é sua filha e sim do James está indo no mesmo caminho que a mãe leva até hoje e se não procurar cuidados médicos não durará até o final do ano por conta de doenças venéreas.

- Você está doida?

- Estou! Será que estou mesmo? Vamos ver. O senhor conheceu sua esposa que de sua não tem nada no dia doze de março de dois mil e dezoito quando ainda tinha vinte e oito anos naquela balada de bacanas e lá se apaixonou por ela e sabendo que o senhor era filho de militares de alta patente de repente, em segundos se apaixonou por ti. O levou para fora daquela orgia onde estavam e lá dentro do apartamento que ainda tem lá no Jardim América onde ela leva até hoje os namorados dela o embebedou e alegou depois de vinte dias que estava grávida sua e daí nasceu o garoto e se quiser ter o trabalho de fazer a conta verá que ele nasceu prematuramente obviamente porque não é seu e sim do Randal que a engravidou e meteu o pé no traseiro dela. Quer que eu continue.

- Para com estas besteiras! Quis cortar o major vendo seu superior desmontando.

- Hum! Major Leonardo Varela o eterno bajulador e puxa saco de quem manda em você. Melhor ficar quieto porque senão contarei para você de sua noiva Eloah.

- O que tem a Eloah?

- Eloah Cristina Peres, bonita moça por sinal e que tem vinte e cinco anos, mas que tem algo que você não tem que é vontade de transar muito. Na verdade, ela é uma ninfomaníaca insaciável ao extremo e que já deu em cima até do general que está aí do seu lado, mas como ele se preocupa mais com suas aspirações pessoais a despachou, mas não antes de frustra-la na cama no dia vinte e três de novembro passado, mas claro que nem ela, nem ele te contou e nem você sabia disso, ou fez questão que não soube.

- Quem é você? Perguntou Miguel aturdido.

- Uma simples comandante de um batalhão de infantaria motorizada no estado de Alagoas. Está é quem sou general.

- Você não é uma pessoa, é um demônio.

- Não general! Não sou um demônio e se fosse eu seria uma demônia, mas te garanto que sou tão humano quanto aos senhores, mas que tem o dom, de ver presente, passado e até o futuro e se quiser saber o destino de cada um de vocês que estão nesta de darem um golpe militar no país já lhes adianto que vão sofrer mais baixas que o lado oposto ao de vocês.

- Se é humana e mortal como eu sou então você mesma diz que pode morrer e quanto a isso podemos dar um jeito.

- Podem mesmo! Onde e quando? Disse Anna calmamente.

- Poderia ser aqui mesmo.

- E acham que conseguiriam disparar uma arma aqui dentro de boa? Porque não tentam?

 

Leonardo estava possesso. Acabara de saber que seu superior tinha saído e transado com sua noiva e ela não parava de confrontá-los. Se levantou e sacou da arma e fez um disparo e seguiu-se o segundo, o terceiro, o quarto e eles disparou até que terminasse a quantidade de balas que cabiam na arma e olhando para ela viu-a sorrindo porque sequer uma bala saiu de sua arma.

 

Olhou para a arma, para o general, para Anna e depois para a arma e constatou que todos os tiros haviam disparado, mas nada de nenhuma bala ter seguido seus caminhos e o que via era uma linda moça olhando para eles sorrindo.

 

- Querem mesmo me dispensar do comando? Tudo bem eu saio daqui e o senhor, nobre general assumirá, mas quero a carta porque ela é minha e saiba que vai ser difícil os senhores comandarem esta base militar com os quinhentos soldados que temos aqui. Vou retirar meus pertences e pode assumir aqui.

- Espere um momento! Fique onde está. Pediu o general e ele mesmo ligou para o comando central.

 

Lá entenderam, ele se identificou, passaram a ligação para o marechal no comando e ele disse que não queria assumir aquela base militar.

 

- Porque não quer general?

- Porque eu contei algumas coisas para os dois aqui e eles se assustaram marechal Hildo Sanguinelli de Freitas e aproveito para dar um recado para o senhor, cuide do seu filho Robson porque nisso dele mexer com o tráfico de drogas está deixando espaço para que a Valéria saia com alguns amigos dele e daqui a menos de dois meses ele irá descobrir e depois de matá-la irá tirar a própria vida.

- Quem é esta doida general?

- Uma pessoa que não se deve mexer com ela e estou voltando para Brasília porque nem sou doido de ficar mais perto dela. Disse, desligou o telefone e saiu rapidamente de Anna.

 

Desceu como se perseguido pelo demônio, chamou seus soldados e em poucos minutos estavam bem longe daquela base que dentro de pouco tempo ganharia o apelido de toca do demônio.

 

- O que houve aqui coronel?

- Nada!

- Nada! Me contaram que um general veio aqui e que saiu correndo como se estivesse sendo perseguido pelo demônio.

- Até que não capitão, mas se quer saber, acho que vou convocar alguns amigos espirituais para entrarem nesta coisa de menino que nunca soube perder está inventando.

- O que está querendo dizer senhor?

- Nada capitão! Vão tentar de tudo contra o Norte e o Nordeste, mas aqui, em Maceió será um oásis no mar de sangue que pretendem comandar.

- Não estou entendendo nada coronel. Pode ser mais prática?

- Posso! Você tem parentes fora da capital?

- Tenho sim. Minha família toda mora no interior.

- Confie em mim. Traga-os todos para cá porque o armageddon está chegando.

- Quando?

- Muito antes do que você imagina, portanto, seja rápido.

- Sei que não fala por falar e farei isso. Posso informar a todos da base?

- Pode, mas que eles sejam rápidos também e peça para que o capitão Silvano venha falar comigo por favor.

- Farei isso agora mesmo senhor.

 

Aracaju, 03 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

Faltava vinte minutos para as seis da manhã quando um grande contingente de veículos militares começou a desembarcar no porto dos coqueiros. No total os dois comboios eram compostos por veículos leves, blindados e doze caminhões e em cada um deles havia um contingente de vinte soldados fortemente armados e quem visse aquilo, se soubesse que era para uma simples troca de comando acharia que de fato era muito mais do que isso, porém, era um sábado e a população em geral não estava nem aí com isso de veículos militares circulando pelas ruas, afinal ainda curtiam a ressaca das festas do final de ano.

 

Veículos desembarcados dois comboios saíram das dependências daquele porto que não se prestava para este tipo de operação, mas enfim, nesta ocasião estava servindo.

 

A liderança dos comandantes era composta por quatro homens de longa data nas forças armadas e que estavam preparados para o que desse e viesse, pois não eram de muita conversa, mas de uma coisa sabiam bem, quem estava no comando tanto da capitania dos portos bem como do comando militar do exército eram mulheres e era a única coisa que servia de diferencial para eles uma vez que, podiam ser militares com experiências, mas jamais machucariam ou tentariam a todo custo bater de frente com qualquer uma delas.

 

Saíram pelas ruas da cidade pouco depois das sete da manhã e tinham o compromisso de estarem diante dos portões das unidades militares no horário programado com todos os outros membros de todos os estados do Norte e Nordeste, pois a ação era algo que deveria ser mantida com precisão milimétrica a fim de que não ficassem ligando uma para outra comentando o ocorrido antes da hora a fim de que não desse tempo para se armarem ou se prepararem para coisa pior. A surpresa era a melhor tática que estavam usando e que deveria ser usada.

 

Cumprindo os horários combinados faltavam poucos minutos para as oito horas da manhã quando ambos os comboios de aproximaram dos portões de entrada dos seus destinos.

 

O que sabiam das duas comandantes e subcomandantes é que nas duas unidades ambas eram dedicadas ao extremo e tinham um enorme apreço pela farda que usavam, na verdade, eram perfeitas para os postos que ocupavam, mas tinham um defeito, estavam servindo do lado errado do país, ou como o presidente e seus fiéis defensores, elas estavam do lado do que chamavam de inimigos sem, no entanto, saberem o que pensavam os que estavam nos estados das regiões do Norte e do Nordeste.

 

O primeiro grupamento militar estacionou diante do local onde era o espaço da capitania dos portos do estado e o capitão de fragata Willian desceu do veículo e se aproximou do portão precisamente às oito horas e oito minutos daquela manhã de sábado que prenunciava um dia de sol, porém, com chuva no final do dia.

 

- Marujo! Sou o capitão Willian Peliciari e acompanho o contra-almirante Hugo Agostineli e desejamos falar com a comandante desta unidade.

- Um momento senhor! Disse o marujo após bater continência.

 

Willian olhou para os lados e constatou que poucas pessoas passavam pela rua bem como o movimento de veículos ainda era bem pequeno e por sua cabeça passou que eram um bando de preguiçosos que deveriam ainda estarem na cama dormindo.

 

- Senhor! Por favor, acompanhem a cabo Edileusa que ela os levará até a comandante.

- Obrigado marujo! Podemos deixar os veículos estacionados aqui fora mesmo?

 Podem sim senhor!

- Obrigado! Agradeceu o capitão e chamando o contra-almirante.

 

Este desceu do veículo e acompanhado por outros seis militares acompanhou a cabo até o prédio diante deles e lá prontamente foram atendidos pela subcomandante Hilda Albino e esta os acompanhou até a sala da comandante Sandra que os recebeu depois das devidas apresentações com as reservas militares.

 

- Bom dia senhores! Sejam bem-vindos.

- Obrigado senhora!

- Vamos entrar na minha sala para podermos conversar melhor. Disse ela abrindo a porta.

 

Entraram e como imaginavam a sala era o trivial das unidades militares, porém, com um detalhe feminino e outro o qual demonstrava o diferencial.

 

- Sentem-se por favor e me digam o motivo de tão honrosa visita.

- Viemos por conta do alto comando do novo governo e tenho uma mensagem que na verdade é uma ordem para lhe entregar.

- Ordem em formato de mensagem! Agora é norma isso? Perguntou a comandante.

- Mudança de hábito às vezes funcionam melhor.

- Cada qual tem seu método, mas deixe eu ver o que me trouxe. Disse ela abrindo o envelope depois de analisa-lo bem.

 

Leu, releu, se levantou e foi até a janela. Olhou para fora e viu a avenida diante das instalações. Olhou de um lado para outro do lado de fora. Olhou teoricamente para o rio que passava do outro lado da avenida. Olhou para o céu azul sem sequer uma nuvem naquele momento. Parou, olhou para o chão, depois para o teto da sala, respirou fundo como se meditasse e ficou ali parada por alguns minutos.

  

Hugo e Willian não puderam deixar de reparar que apesar da farda militar que estava usando a comandante possuía fortes atributos físicos e duvidavam que ela tivesse mais que quarenta anos. Na verdade, sabiam que ela tinha um bom tempo de carreira, mas sua aparência física acreditara eles que sem aquela farda não demonstraria que ela tivesse mais que uns vinte e cinco anos. Era alta, bem desenvolvida, cabelos alourados, olhos azuis, enfim uma bela mulher assim como era a subcomandante.

 

Ela nada disse e menos ainda eles que tentavam a todo custo imaginar no que ela estava pensando até que ela finalmente se voltou para eles que permaneciam em silêncio e mostrou a mensagem para Hilda que leu e olhou para os dois e os fitou sem dizer nada.

 

- Os senhores devem estar brincando, não é?

- Porque faríamos isso senhora?

- Pela inusitada situação de que saíram lá de Brasília e vieram até aqui sem comunicação alguma trazendo uma afronta desta simplesmente exigindo que eu tire o meu assento da cadeira que uso a sete anos inteiro e como se isso não fosse nada lhe entregasse apenas porque me trouxe uma carta enfadonha e sem noção como se fosse eu e minha subcomandante uma pessoa qualquer que pudesse ser jogada em uma latrina e depois dessem a descarga. É isso mesmo que desejam?

 

Aquelas palavras apesar de já esperarem por elas mexeu com os conceitos dos dois que ali estavam diante dela e por um instante ficaram sem saber o que responder.

 

- Querem mesmo que eu dê valor para isso e que me orgulhe de estar vestindo com dignidade esta farda que carrego com orgulho por longos anos?

- Senhora! Entenda que são ordens que nós também recebemos. Disse Hugo incomodado.

- E querem que eu e a minha subcomandante façamos o que?

- Há recomendações aí para que a senhora entre em contato com o comando central.

- Sei! O senhor quer dizer em outras palavras que eu deva pegar o telefone que está aqui diante de mim ligue para um telefone qualquer e fale com um subalterno ou aspone de algum militar de baixa patente para que ele me diga que eu deva voltar para casa e que vá lavar pratos e limpar a cozinha?

- Não é isso que acontecerá senhora!

- Ah não mesmo? O que acha que quem atender dirá?

- São ordens e espero que entenda.

- Senhor! Com todo o respeito. Sei que é bem mais velho que eu e, portanto, deva ter mais tempo de carreira e assim sendo, como reagiria se estivéssemos em posição oposta, aceitaria isso desta forma tão simples e grosseira de remoção, pois é isso do que se trata este documento. Como reagiria?

- Bem! Tentou dizer o contra-almirante sem saber o que responder.

- Por acaso tem ideia do que enfrentamos aqui sendo mulheres? Tem ideia de como é ter que manter um posto masculino com eficiência e dignidade? Por acaso sabe como que é isso senhor?

- Minha senhora são ordens que recebemos e que como militares temos que cumprir.

- Tudo bem! Então por favor pegue o telefone, ligue para o número que está aí anotado e depois que alguém de patente superior à minha e a sua atender passe o telefone para que eu possa falar com a pessoa.

- Senhor! Isso é coisa que a senhora deverá fazer.

- Faça! Disse Sandra Regina com um olhar que assustou aos dois.

- Tudo bem! Me passe o envelope. Pediu.

 

Pegou o envelope e o telefone e discou. O telefone do outro lado tocou uma, duas, três, quatro, cinco vezes e a ligação caiu. Ligou de novo e de novo e aconteceu a mesma coisa e até o contra-almirante ficou desconcertado.

 

- E?

- Vou tentar de novo! Disse e assim o fez mais uma, duas, três, quatro, cinco vezes e foi a vez de ele ficar indignado.

 

Era um militar de carreira. Era duro e inflexível que jurara proteger e defender a pátria acima de qualquer coisa, mas aquilo que estava pressentindo e sentindo melhor dizendo era uma afronta com uma companheira de farda.

 

- Capitão me dê o telefone verde!

- Sim senhor! Respondeu passando o aparelho.

 

Hugo mesmo fez a ligação e depois de passar pelo controle de senhas conseguiu falar com um dos seus superiores.

 

- Bom dia almirante! No que posso lhe ajudar.

- Marechal temos um problema sério aqui.

- Do que se trata almirante?

- Estou em Aracaju diante da comandante e passei o envelope com as ordens para ela.

- E o que aconteceu, ela se recusa a sair?

- Mais ou menos isso marechal.

- O que está acontecendo!

- Acontece que ela citou alguns parâmetros nos quais eu concordo com ela e me pediu para que eu ligasse por ela e o telefone que consta no documento não atende o que pode se chegar à conclusão que ele seja um número frio.

- Está querendo dizer que estamos de brincadeira aqui almirante?

- Não coloque palavras em minha boca senhor, mas é o que deixa bem clara a situação.

- Me passe o número para que eu cheque aqui. Pediu o marechal mal-humorado.

 

O número foi passado e confirmado e no final de algum tempo de espera o marechal com voz de que também estava incomodado em ter que reconhecer informou que realmente o número não procedia e com isso era para que ele desconsiderasse as ordens e retornasse para Brasília que eles iriam ver o que fariam quanto a isso.

 

- O senhor está cancelando a ordem dada senhor?

- Foi o que eu disse?

- Poderia me enviar alguma coisa para justificar o cancelamento senhor?

- A minha palavra não vale nada almirante?

- Claro que tem, mas tenho uma ordem aqui a qual se a comandante aceitasse eu assumiria e ela iria ficar tentando ligar e ninguém lhe daria atenção, mesmo porque jamais ela conseguiria falar e como eu sou um militar de carreira lhe peço isso para que eu não sofra um ato de insubordinação sem ter algo por escrito. Concorda comigo senhor?

- O senhor estaria me desacatando por acaso?

- De forma nenhuma, só me resguardando quanto à má interpretações senhor.

- Almirante! Ordeno que venha urgentemente para Brasília para que tenhamos uma conversa sobre esta sua insubordinação.

- Estou indo marechal! Me aguarde que estarei aí logo.

- Estou te aguardando! Disse o marechal desligando.

- Capitão Willian! A quanto tempo está junto comigo?

- Estou servindo ao seu lado a quase dez anos senhor!

- E de que lado o senhor está capitão.

- Alguma vez já viu o tratamento que dão para os militares capitão?

- Não senhor! Jamais senhor e o general nos aguarda.

- Obrigado pela informação, mas acha digno isso capitão?

- Não senhor!

- De que estado do país você é capitão?

- Sou nascido em São Paulo senhor.

- Portanto, se eu tiver que romper com o que está por vir estará de que lado capitão?

- Sempre do lado da bandeira que jurei honrar senhor.

- Qual bandeira capitão?

- A nossa bandeira senhor!

- Não capitão! A que jurou defender e honrar está sendo mudado pela nova bandeira.

- Nova bandeira senhor? Não entendi.

 

Sandra e Hilda ao lado, ouvindo o que o contra-almirante dizia estavam sem entender nada assim como estava o capitão Willian.

 

- Ligue para o general Roberval e peça para ele aguardar chegarmos lá até onde ele está.

 - General Roberval senhor? Perguntou Hilda.

- Isso mesmo!

- Não seria o general Roberval Augusto Pimenta, seria?

- Ele mesmo!

- Podemos ir com os senhores?

- Ir conosco?

- Sim!

- Posso saber porque senhora?

- Saberá dele assim que ele me ver.

- Podem então, mas antes me diga capitão, de que lado estariam os nossos soldados, do lado da nossa bandeira ou de outra bandeira que estão criando?

- Posso saber que nova bandeira senhor?

- Saberá assim que estivermos reunidos com o general, mas me diga, qual lado?

- A nossa bandeira verde e amarela com os dizeres ordem e progresso senhor.

- Era o que eu precisava ouvir. Vamos até o 28º batalhão.

 

Ainda aturdidos por não entenderem nada Sandra, Hilda, Willian e o contra-almirante Hugo Agostineli saíram da sede da capitania dos portos e rumaram para onde estava o general

 

Não demoraram a chegar no 28° batalhão denominada de caçadores onde se identificaram e os veículos acessaram a imensa sede que compunha a base militar do exército da cidade de Aracaju no estado do Sergipe.

 

Aracaju, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.
 


Se enganaria quem pudesse acreditar que no segundo menor estado do país poderia haver um batalhão tão guerreiro e tão abastado de soldados como eram os que compunham o valoroso 28º batalhão de caçadores e quem olhasse de fora não imaginaria tudo o que eles representavam. Chegaram e o major Anderson fez a sua parte. Desceu do veículo, se aproximou da guarita e após se apresentar informou que o general Roberval Pimenta estava ali para falar com a comandante da unidade e assim que informado o soldado autorizou que eles entrassem e informou onde deveriam estacionar.

Autorizado, os veículos subiram o aclive e dois oficiais os aguardavam e depois de se identificarem os acompanharam até a sala da comandante da base onde uma bela jovem devidamente fardada se levantou e bateu continência para os dois.

- Bom dia senhores! Cumprimentou.
- Bom dia! Retribuíram o cumprimento.
- A que devo o prazer de estar recebendo dois oficiais de alta patente da capital federal?
- Viemos até aqui trazendo uma mensagem com ordens para a senhora. Disse o general.
- Ordens por mensagem escrita? Curioso isso.
- São novas formas do novo governo proceder.
- Não seria mais fácil enviar a mensagem por email, telefone ou aplicativo senhor?
- É que a mensagem se segue ao procedimento final delas.
- Que seria o que por exemplo.

O general já ia responder quando o seu telefone particular tocou e ele vendo quem era pediu licença para que pudesse atende-lo.

- General! Já entregou a mensagem?
- Não! Atrasei um pouco devido ao espaço que tive que percorrer aqui dentro.
- Então não entregue. Me aguarde que estou indo para onde está.
- Como?
- Tome café, água, jogue conversa fora mais não entregue até que eu chegue ai e mantenha a mensagem com o senhor.
- Não quer me dizer nada mais?
- Não! Aguarde que chego logo aí.
- Tudo bem! Desligou o telefone.
- Aconteceu algo senhor?
- Não! Acredito que não, mas daqui a pouco saberei do que se trata.
- Ah tá! Tudo bem, mas o senhor me dizia sobre uma mensagem escrita. Pode entrega-la?
- Vocês têm café aqui, ou suco de laranja, ou de outro sabor ou até mesmo água?
- Claro! O que preferem?
- Por favor, água e café para nós dois.
- Sim senhor! Só um momento por favor.
- É bem grande aqui!
- Quem olha de fora até acha que não, mas a propriedade e a quantidade de soldados que temos na ativa e no treinamento complementar que damos prosseguimento para a companhia de Fuzileiros tendo como missão, preparar os soldados da reserva mobilizável, instruindo-os no efetivo variável para cumprir os objetivos previstos no Programa de Instrução Militar e com isso temos o orgulho de termos a maior quantidade de soldados e fuzileiros aptos para ir para a guerra se necessário for. Informou Marilu.
- Pelo que ouvi dizer vocês também realizam muitos serviços de ajuda social, é isso mesmo? Perguntou o general querendo ganhar tempo.
- Sim e como está aguardando a chegada de outro militar vou pedir para que a major lhe mostre algumas coisas aqui da base até que ele chegue, tudo bem?
- Maravilhoso! Volto quando ele chegar. Obrigado!

Roberval saiu da sala da comandante aliviado, pois estava se sentindo mal em ter que tirar a base daquela jovem que aparentava ser exemplar. Desceram as escadas e caminharam por dois outros prédios anexos e iam ver outras coisas quando o comboio esperando chegara e depois de estacionados todos os veículos os ocupantes desceram e a surpresa se fez presente, pois de dentro deles desceu a Hilda que era a subcomandante da base da marinha.

- Não acredito no que estou vendo! Falou em voz baixa com Sandra Regina.
- O que foi capitã!
- Meu pai!
- Pai! Quem?
- O general que vem em nossa direção com a major.
- Seu pai é um general?
- É!
- Nunca me disse isso!
- É que tivemos uma discussão idiota com ele e sai de casa a anos atrás.
- Como é que é?
- Te conto depois, mas me arrependo até hoje pelas palavras que disse bruscamente para ele, mas agora é tarde para desculpas.
- Nunca é tarde para um perdão capitão. Quem estava errado nisso?
- Eu! Coisa de adolescência rebelde.
- Peça perdão para ele e pronto!
- Ele jamais me perdoaria. É um general de linha dura. Daqueles inflexíveis e duro nas suas decisões.
- Você tem mais irmãos?
- Só uma irmã, mas isso é coisa de um passado que me machucou muito.
- Converse com ele e peça perdão.
- Ele jamais me perdoaria.
- Tente!

Falavam isso enquanto eles vinham direto até o contra-almirante e de repente ele olhou e viu ali, logo a frente sua filha que havia desaparecido a anos. Ficou sem fala quando chegou até eles e o contra-almirante o saudou.

- O que houve general?
- Um momento! Você seria a Hilda?
- Sim senhor! Respondeu batendo continência.
- E está na marinha?
- Sim senhor!
- E pelo que vejo é capitão de corveta, é isso?
- Sim senhor!
- Nos dêem alguns minutos, por favor. Capitã venha comigo! Pediu o general para os demais.

Ninguém entendeu nada, mas também nada disseram pois apenas Sandra Regina sabia do que ele deveria querer falar com sua subcomandante e os acompanhou com os olhos até que o general parou a uma distância que sabia que não seriam ouvidos por eles.

- Hilda Albino Pimenta! Como foi parar na marinha?
- Corrigindo senhor! Hilda Albino Pimenta Veiga e lhe respondendo sim, entrei para a marinha onde hoje sou capitã de corveta e subcomandante desta base militar.
- Este Veiga vem de onde?
- Sobrenome de meu marido senhor!
- Então se casou e nem comunicou isso?
- Senti vergonha senhor!
- Vergonha de comunicar que ia se casar?
- Não senhor! Vergonha das palavras que lhe disse a anos atrás.
- Hum! Ficou com vergonha?
- Na verdade, senti mais arrependimento pelo que disse para o senhor.
- Na marinha tem tempo para pensar em seu marido?
- Não senhor! Vida corrida, mas infelizmente ele morreu a três anos atrás.
- Sinto muito, mas teve filhos?
- Tive sim senhor! Na verdade, tenho uma filha de oito anos que é a minha vida.
- Então tenho uma neta é? Como que ela é?
- Se parece demais com a Ivana quando era pequena.
- Não sentiu saudades dela e da sua mãe?
- Muita e não só delas, do senhor principalmente que sempre foi um pai exemplar.
- Exemplar, mas que você não entendia sobre as minhas responsabilidades, não é?
- Senhor general! Se eu pudesse voltar no tempo eu me ajoelharia diante de ti e lhe pediria perdão pela dor que lhe causei, na mamãe, na minha querida irmã e até em mim mesmo. Disse Hilda com lágrimas nos olhos.
- Sabe que me machucou muito o que me disse?
- Sei sim e como sei e somente depois que entrei para a marinha e comecei a ver as responsabilidades foi que entendi a sua ausência.
- O que fazia seu marido?
- Era da marinha também. Na verdade, ele que me convenceu a entrar aqui onde estou.
- Era um soldado então?
- Não senhor! Ele era um capitão de fragata e estava para ser promovido quando partiu e nos deixou aqui.
- Sinto muito de verdade, mas como que é a minha netinha?
- Linda, maravilhosa, olhos e cabelos castanhos, inteligente e um tanto rebelde.
- Ah! Então ela é um tanto rebelde.
- É sim senhor!
- E ela lhe lembra alguém que foi assim?
- Lembra sim e isso me faz tentar dar a maior atenção possível para ela a fim de que não se sinta esquecida.
- Tem toda razão em fazer isso e aqui eu lhe peço perdão por não ter lhe dedicado mais atenção quando era menor.
- Não tem que me pedir perdão senhor! A errada fui eu.
- Onde está a minha netinha?
- Aqui perto! Moramos na casa da vila de oficiais.
- Aqui dentro mesmo?
- Sim senhor e o engraçado foi que hoje de manhã ela acordou cedinho e me perguntou quando era que ela iria conhecer o vovô e a vovó.
- E o que você respondeu?
- Que tinha vergonha de ir até onde vocês estavam lá em Brasília.
- Não se envergonha por isso, mas lembra de quando você era pequena ainda que ficávamos de mal um com o outro o que fazíamos?
- O dedinho?
- É! Me dê seu dedinho aí e vamos colocar uma pedra em cima do passado.
- Vai me perdoar?
- Só se me perdoar primeiro.
- Nem sei o que dizer senhor!
- Pare com isso de senhor e me abrace porque eu acreditei que jamais iria lhe ver de novo.

Emocionada e com lágrimas nos olhos Hilda abraçou com forma seu pai e pela primeira vez na vida aquele homem alto e forte, duro e inflexível sentiu algumas lágrimas escorrendo de seu rosto que diziam que era de pedra e ali ficaram algum tempo sem se importar com a cena de amor que dedicaram um ao outro aos olhos de quem estava vendo e que, apenas Sanda Regina entendeu o fato não segurando duas lágrimas que escorreram de seu belo rosto.

Momentos depois, já refeitos, tanto pai quanto filha se recompuseram e orgulhosos que eram se ajeitaram, enxugaram o que poderia denotar as lágrimas derramadas e se sentindo novamente como militares que eram retornaram para junto dos demais.

- Almirante! Porque pediu que eu os esperasse aqui sem fazer nada. Perguntou o general como se nada tivesse ocorrido.
- Está bem general?
- Maravilhosamente bem!
- Não deseja tomar um copo de água senhor? Perguntou Sandra Regina.
- Até que viria bem e outro para a capitã Hilda.
- Apenas capitã senhor? Instigou Sandra Regina.
- Não comandante! Vou corrigir da forma que eu desejava fazer a muito tempo. Para a capitã Hilda que é e sempre foi a minha filha mais querida e que me perdoe por isso a irmã dela.
- General! Disse altivamente Hilda.
- Mas sentia vontade de fazer isso a anos menina, mas do que se trata o pedido almirante?
- Melhor entrarmos general, porque a coisa é muito mais séria do que poderia imaginar.
- Bem vamos lá então!

Novamente acompanhados pela major eles entraram na sede da impecável base do comando do 28º batalhão de caçadores da cidade de Aracaju onde muitas coisas seriam reveladas.

 

Entraram no prédio, subiram as escadas e foram direto para a sala de comando do 28º batalhão de onde Marilu assistira toda a cena daquele general que ela julgou ter rosto de aço com a subcomandante da base naval. Não comentou nada, mas pediu para que eles se sentassem para saber o que estava acontecendo.

 

- Senhor general! Antes de explicar os motivos que lhe chamei aqui vou lhe perguntar e estendo isso aos senhores e senhoras militares que estão aqui dentro desta sala a mesma pergunta. O que representa a nossa bandeira e os nossos símbolos para os senhores?

- Seja mais claro quanto aos símbolos nacionais? Perguntou o general.

- Vou dizer por mim! Quando eu virei soldado eu fiz um juramento e este foi refeito quando fui promovido e outra vez quando alcancei o cargo de militar oficial, ou seja, o juramente era o de honrar e defender à minha pátria e aos símbolos que ela representa através da bandeira, brasão, hino e aos assuntos que se relacionam isso, resumindo, o Brasil em nome de República Federativa do Brasil acima de tudo e foi isso que jurei defender entenderam?

- Sim! Responderam todos.

- Portanto, esta é a pergunta. Juraram defender a República Federativa do Brasil e os seus símbolos e na sua defesa usando a própria vida se necessário for necessário, foi isso?

- Isso mesmo! Declararam todos.

- Pois bem! Vamos aos fatos agora. Comandante Sandra, poderia me emprestar o documento comas ordens que lhe passei?

- Sim senhor! Respondeu entregado o envelope.

- Senhor general, poderia me entregar o envelope com as ordens que trouxe para a tenente Marilu?

- Não entendi ainda, mas aqui está ele.

- Agora senhores! Primeiro vou apresentar a vocês o envelope que nos foi entregue com a marca de cera no lacre com o símbolo da República. O que veem aí?

 

Disse isso passando o envelope de mãos em mãos para que todos olhassem o que ele pedira.

 

- Não entendi almirante! Aqui tem a marca de cera, mas o brasão obviamente está danificado. O que está querendo dizer? Perguntou o general curioso.

- Agora olhem o envelope lacrado e reparem no símbolo em cima do lacre de cera.

 

Passou o envelope lacrado e após verem todos ficaram incrédulos, pois o símbolo que estava ali gravado era o dos Estados Unidos do Brasil e não da República Federativa do Brasil.

 

- Meu Deus! Este novo governo está querendo mudar tudo da República. Comentou indignada Sandra Regina.

- Não é possível isso, pois deixa de ser uma modernização para um golpe militar inconstitucional, mas isso não irá ficar assim. Disse o general Roberval.

- O que pretende fazer general? Perguntou Hugo.

- Vou fazer uma ligação antes de qualquer coisa para um amigo que estará assumindo o posto da 6ª região do exército de Salvador.

- Mas será que ele ainda não entregou o envelope?

- Não! Ele ia se atrasar um pouco porque quere reunir lá o exército, a marinha e a força aérea uma vez que a Bahia é um estado com um critério diferenciado dentre todos os estados no Norte e Nordeste. Vai dar tempo, pois as três forças estarão lá.

 

Salvador, 08 de janeiro de 2039.
08:08 AM.

 

 - Senhores! Estão preparados para o impasse? Perguntou o general Ademir Pimenta.

- Acha que vai sair faísca general? Perguntou o almirante Fausto.

- Nada que não poderemos resolver, afinal temos um pequeno grupo de soldados junto de nós. Respondeu sorrindo pois sabia do contingente ali fora postado.

- Sei não, mas vamos lá e pode falar por nós dois. Falou o brigadeiro Robson.

- Sei! Sabia que sobraria para mim. João Carlos faça as honras de nos identificar ao guarda da entrada do belo prédio. Ordenou Ademir.

- Sim senhor! Respondeu o coronel.

 

Saiu de perto dos três oficiais de alta graduação e se aproximou da entrada e lá se apresentou e citou que três oficiais de alta patente desejariam falar com o comandante da base central de comando do exército dali de Salvador. Este se apressou em comunicar e rapidamente foram autorizados a entrar e antecipadamente em torno de meia hora anterior à chegada deles ali Ademir solicitara do coronel Sandro que convocasse os comandantes das outras duas forças de defesa da nação para estarem ali a fim de poupar tempo.

 

Não deu detalhe algum, mas por ser um general quatro estrelas e de carreira ilibada conhecido por quase todos os militares das forças armadas seu pedido foi atendido e acabara de entrar no gabinete do coronel Sandro Miranda com seus acompanhantes e se apresentaram o telefone pessoal dele tocou e pedindo licença o atendeu.

 

- Ademir!

- Sim general!

- Pare de frescura e me escute porque a coisa é séria. Na verdade, muito séria.

- O que houve?

- Já entrou na sala para falar com os militares daí?

- Acabei de entrar!

- Joga conversa fora, mas não entregue os envelopes para ele e repito, não entregue nada para eles e aguarde que já te ligo de volta.

- Do que se trata?

- Sou seu irmão mais velho, portanto, me atenda porque o assunto é sério demais.

- Te dou vinte minutos.

- Não preciso mais do que isso.

- Estou aguardando! Vou tomar café com eles antes então.

- Faça isso e tome até um suco de umbu que é uma delícia.

- Suco do que?

- Umbu! Já te ligo.

- Estou aguardando. Vinte minutos no máximo.

- Até já! Desligaram.

- O que seria Umbu? Perguntou o general Ademir para os presentes.

- Uma fruta natural aqui do Nordeste que é deliciosa. O suco então nem se fala. Respondeu o coronel Sandro.

- Podem nos servir café e um pouco deste suco antes de começarmos a conversar?

- Claro general! Já vou providenciar isso. Disse o major Joaquim.

 

- Os senhores viram a gravidade desta afronta que querem fazer com os militares do país? Perguntou Roberval.

- Um absurdo, pois após ser rompido o lacre e desaparecendo a marca do selo da República que está sendo substituído pelo do brasão antigo vocês assumem um compromisso com o comando central lá de Brasília sem terem como alegar nada e os que quebraram o lacre ficam sem autoridade nenhuma mais perante a pátria que juraram respeito. Frisou o contra-almirante Agostineli.

- Pois é e agora vem a outra pergunta que estou fazendo-a em nome do almirante. Que país os senhores defendem. A República Federativa do Brasil ou aos Estados Unidos do Brasil?

- Não reconheço este país que está no brasão e não foi para ele que jurei defender. Comentou o contra-almirante.

- O que pretender fazer agora? Perguntou o general Roberval fazendo Hilda se sentir orgulhosa pelo pai que tinha.

- Sou a favor de uma rebelião contra o comando central. Bravejou com fervor o contra-almirante.

- Podemos falar agora com o general Ademir e aos demais lá de Salvador e ver o que eles pensam a respeito disso, mas deixo claro que também sou a favor de romper com o governo central se outra dúvida que me surgiu aqui for confirmada que é a bandeira. Ligo?

- Ligue por favor! Disseram os presentes em coro.

 

- General Ademir! Estou no tempo combinado?

- Ligou com dezoito dos vinte minutos que lhe concedi.

- Quem está presente aí contigo?

- Todos que estão no comando e todos nós que fomos enviados.

- Quem é o comandante do exército daí?

- O coronel Sandro Euzébio Miranda, porque?

- Pode passar o telefone para ele?

- Posso!

- Bom dia general! É uma honra falar contigo.

- Igualmente, mas me responda uma coisa. O senhor tem uma tela aí que possa receber a minha imagem?

- Temos uma TV grande sim.

- Quero que conecte um aparelho aqui de onde estou aí na sua TV, tem jeito?

- Tem sim senhor!

- Vou pedir aqui para que façam os ajustes. Até já.

 

Em minutos estavam sintonizados as suas pontas e uma câmera que havia dos dois lados mostrava os presentes e todos foram devidamente apresentados.

 

- Antecipadamente quero informar que quem me alertou sobre isso foi o contra-almirante Hugo Agostineli que pediu para que eu falasse em seu nome, tudo bem?

- Tudo responderam.

- Pois bem, foi encaminhado através dos oficiais que os procuraram aí na cidade de Salvador três militares de alta patente e estes envelopes quero ressaltar que estão colados e neles consta uma marca de cera e sobre esta cera há o brasão da República como os senhores poderão notar, porém, nela não consta o brasão da República Federativa do Brasil e sim dos Estados Unidos do Brasil e sem mais delongas quero lembrar que fizemos um juramento de defender a pátria contra inimigos externos e internos acima de qualquer coisa, não foi isso?

- Foi! Responderam todos prestando atenção nas palavras do general.

- Bem, vendo desta forma nós daqui e os senhores aí e todos os militares do país fizeram um juramento para a República Federativa do Brasil, não foi?

- Sim! Responderam todos novamente.

- E se, no envelope com ordens expressas do comando central do país lá em Brasília estiver usando um brasão que não represente a nossa pátria o que os senhores achariam disso?

- Como! Indagou o general Ademir surpreso.

- Pois é! Vejam que o brasão não é o do país que juramos lealdade e digo mais, acredito e não me perguntem como estou dizendo isso que estão planejando mudar não só o brasão, mas também a bandeira nacional.

 

Um burburinho se fez presente ao ouvirem aquela afirmação do inabalado general Roberval e ele deixou que eles e ele se calou por um instante para continuar.

 

- Mas está minha dúvida poderei constatar agora mesmo e irei colocar o meu telefone na viva voz e solicito que os senhores apenas ouçam a conversa para constatarmos se há ou não algo muito sério em andamento onde Deus faça que não, a vida de milhares de seres inocentes pagará por isso.

- O senhor insinua por acaso o tipo de uma guerra civil general? Perguntou Ivo.

- Tomara que eu esteja errado, mas vamos descobrir agora mesmo e solicito que todos permaneçam em silêncio. Tudo bem?

- Tudo! Responderam.

 

Roberval pegou o telefone privado e fez uma ligação para uma pessoa ligada direto com o alto comando, porém, era uma pessoa que tinham uma forte ligação.

 

- General! Tudo bem?

- Tudo em paz graças a Deus.

- Quando poderei ir aí em Brasília comer um peixe na beira do Paranoá?

- No dia em que desejar general.

- Ando meio enrolado aqui com as novas ordens, mas pretendo ir até aí no máximo até a metade do mês que vem.

- Estaremos lhe esperando aqui com imenso prazer senhor.

- Me diga uma coisa. Ela sai daí e nem vi a nova bandeira que estavam fazendo. Ela ficou bonita.

- Espere um minuto que vou sair da sala para poder falar mais à vontade.

- Tudo bem meu amigo!

- Pronto general! O que me perguntou é ainda coisa totalmente confidencial.

- É que morra entre nós o que lhe direi foi o próprio marechal que me falou dela e disse que estava ficando linda.

- Ela é linda mesmo.

- Como que ela ficou?

- Ela foi totalmente remodelada e nela constam listras verde e amarela e dez estrelas.

- Dez estrelas?

- Sim! As dez estrelas representam como o senhor já sabe os três estados do Sul, os três estados do Sudeste e aqui se exclui o estado de São Paulo e os três estados do Centro Oeste mais o Distrito Federal obviamente.

- Ah é verdade! E com isso como ele me disse por cima os quinze estados restantes seriam os inimigos, é isso?

- General! O senhor está aí nesta reunião de estados e esperamos que os senhores consigam controlar os insurgentes e com isso cai por terra o termo inimigo, não é?

- Sei não!

- Agora se lhe preocupa com relação aos poderes legislativos e judiciário daqui a pouco eles serão dissolvidos e os da oposição serão detidos.

- Até que enfim vamos ter um país de verdade agora, não acha? Perguntou o general incrédulo.

- Vamos! O projeto do chefe tinha em mente no final do mandato do laranja que ele se perdeu no gosto do mel finalmente estará sendo cumprido.

- É! Realmente ele descumpriu as ordens que recebeu para se manter na presidência e acabou perdendo a chance que tivemos a dezessete anos.

- Pelo que o marechal me disse por cima o todo poderoso ficou possesso com o ex e atual presidente que não soube seguir ordens. Sabe de algo sobre a raiva dele?

- Ah ficou, mas a opção menos ruim para a eleição passada era ele, mas agora ele sabe que se ousar pisar na bola não sobreviverá, se bem que ele já está velho para fazer besteira de novo.

- Tem ideia de quando poderemos colocar aqui em corte marcial porque sai daí antes do marechal me informar?

- A data limite pelo que sei é de até quarenta e cinco dias, pois será tempo suficiente para nos livrarmos de todos os que se opuserem.

- Então terá que apressar a minha ida para ir aí, mas será que eu conseguirei falar com o chefe?

- Não posso lhe adiantar isso, pois ele é muito reservado e são poucos os que falam com ele.

- Tudo bem!

- Ah general! Quer ver como que ficou a nova bandeira?

- Adoraria!

- Seu celular é seguro?

- Duzentos por cento!

- Estou te mandando, mas por favor, jamais tivemos esta conversa, pois se souberem que comentei algo mesmo sendo com o senhor que faz parte da nova ordem nacional eles me eliminarão e toda a minha família.

- Fique tranquilo que nem sei quem é você!

- Obrigado general e boa sorte aí entre os rebeldes.

- Tomarei e gostei que chamasse este pessoal daqui de rebeldes.

- Não se esqueça general! Jamais falei nada que não devia

- Por mim ninguém saberá. Desligaram.

 

Roberval olhou para seu celular a fim de ver a bandeira e com isso deu tempo para que os presentes mostrassem entre si a indignação que estavam sentindo. Aquilo era uma afronta a todos os militares que fossem pessoas decentes e que haviam jurado defender a pátria acima de qualquer coisa e quando achou que poderia intervir tomou a palavras de novo.

 

- Infelizmente eu estava certo. Estamos à beira de uma guerra civil entre o Norte contra o Sul.

- Que absurdo isso! O que devemos fazer general? Perguntou Ademir.

- Por mim, eu a partir desta data estou rompendo com o controle de Brasília.

- Penso igual a você, mas vamos simplesmente entregar o país todo nas mãos deles?

- Quem disse isso?

- Você que disse isso irmão!

- Não! Eu disse que a partir desta data estou rompendo com o controle de Brasília.

- Está brincando, não é? Perguntou Hilda.

- O que eu sempre lhe disse desde que você era pequena?

- Que você lutaria para o bem de nossa nação nem que tivesse que dar a sua própria vida.

- Então! A partir de hoje se não reconheço mais o governo dos Estados Unidos do Brasil eu, se a guerra realmente vier a acontecer e ela virá, eu estou do lado que sempre defendi, ou seja, da República Federativa, ou seja, um governo do povo, pelo povo e para o povo. Quem está comigo?

 

Roberval dissera aquelas palavras sem noção do que estava dizendo, mas ali, estava sendo criada a Federação ou a Confederação dos estados do país, ou a união de estados independentes que unidos seriam quinze estados que compunham as regiões do Norte e do Nordeste e que lutariam contra o restante do que restara do país, pois mesmo sendo apenas dois estados unidos, os demais quando a gravação que Roberval fizera das palavras do general Humberto que era assessor especial do marechal Everton Luiz Alencar Santiago que nada mais nada menos era a mente à frente de todos os demais e a quem todos deveriam respeitar suas ordens.

 

- O que faremos para proteger os ministros do supremo senhor? Perguntou Hilda.

- Nada minha filha e mesmo que desejasse fazer algo seria impossível entrar com alguma força dentro da região da nossa ex capital federal.

- Mas eles poderão ser eliminados senhor!

- Infelizmente eles não serão os únicos. A preocupação principal é reunir os que vieram para cá a fim de substituir os que estavam empossados, eliminar as serpentes entre eles, e acima de tudo proteger nossas novas divisas e a população que mora aqui deste lado do país.

- Senhor o que faremos com os governadores, prefeitos, vereadores e membros da justiça de nosso lado? Perguntou Robson.

- Acha realmente que eles devam ser protegidos brigadeiro?

- Bem! Eles estão do nosso lado, não estão?

- Estão?

- Ué! Estão.

- Acha que em estágio de guerra eles que deveriam comandar as forças militares?

- Não! Eu não acho isso não.

- Vamos reunir ainda hoje, o mais breve possível todos os comandantes das três forças militares e ver o que eles acham disso tudo. Se a maioria optar por se render ao governo ilícito e inconstitucional recem criado eu me afasto e saio do país, mas se a maioria achar que devemos lutar pela nossa verdadeira pátria até que ela seja novamente unida ou que façamos a separação oficial permanecerei ao lado de vocês até com o risco de entregar minha própria vida em prol de um país reestruturado.

- Porque São Paulo não aceitou entrar nesta jogada de Brasília. Perguntou Sandro.

- Acredito que é porque eles sabem que os cinquenta milhões de habitantes do estado deles, os armamentos e o dinheiro que possuem prefiram não se meter e com isso, se eles por acaso resolverem entrar nesta peleja espero que seja do nosso lado, porque senão tudo seria em vão. Agora vamos convocar todos os militares dos outros treze estados, mas nada deverá ser antecipado a eles.

- Onde quer fazer a reunião central? Perguntou Ademir.

- São Luiz do Maranhão, mas se me perguntar onde eu faria uma base sede eu diria que preferiria que fosse em Aracaju. Agora mãos à obra porque temos muito o que fazer.

 

Encerraram a breve reunião onde todos estavam indignados, mas cheio de energia para lutar e Hilda se aproximou do pai.

 

- Papai!

- Sim minha filha!

- Obrigado por me mostrar quem é de verdade e saiba que tenho o maior orgulho por ser sua filha.

- Porque isso agora?

- Porque hoje recuperei meu amado pai e descobri que ele acima de tudo é e será o maior herói desta nação.

 

Brasília, 08 de janeiro de 2039.
09:18 AM

 

Passava das oito horas da manhã quando um enorme contingente de veículos das forças armadas partira dos quartéis apoiadas pela polícia federal rumo à residência dos ministros que compunham o Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal e as ordens eram claras, prender cada um por bem ou por mal. O mesmo deveria ocorrer no tribunal de justiça do Distrito Federal

 

Outro grupo de igual teor partiu em direção às residências dos deputados e senadores sem se importar se eram da oposição ou da situação e se caso algum deles se recusassem a acompanha-los, estes deveriam ter um tratamento especial que significava sem dó e nem piedade.

 

Outras ordens foram emitidas para outros estados, mas estas deveriam ser cumpridas pelas forças da polícia federal indo até a residência dos governadores de oposição nos estados que a partir daquele momento se transformavam em inimigos, bem como outro grupo também da polícia federal e da força nacional que deveriam ir até os quinze estados e lá prender e encaminhar para Brasília todos os desembargadores destes locais.

  

A ordem fora dada e por ser um sábado todos foram pegos e aprisionados em suas residências antes que saíssem para caminhadas ou algum passeio matinal e passava pouco das 10:30 quando todos eles estavam sob o controle dos militares do poder central da capital federal e para lá foram encaminhados por aviões da força aérea brasileira de outros estados pegando todos de surpresa.

 

Passava poucos minutos das 12:00 horas quando todos eles estavam sendo trancafiados em celas de unidades criadas para o combate do crime organizado, mas que estariam servindo a partir dali para acomodar aqueles novos hospedes de luxo. A lei, a partir daquele instante deixou de ser democrática e transformou-se em lei militar e já estavam sendo escolhidos os novos ministros para o futuro Supremo Tribunal Militar composto apenas por militares escolhidos a dedo pelo marechal Everton Luiz Alencar Santiago.

 

Por outro lado, militares bateram de frente com emissoras de rádios e televisões decretando lei marcial e qualquer nota que fosse divulgada seria punida com a suspensão do direito de exploração e sobrou apenas a internet como alternativa, mas as páginas de sites de comunicação foram proibidas de deixarem que se fosse divulgado qualquer coisa a respeito e tudo isso aconteceu de forma rápida, pois tudo fora meticulosamente estudado e estava sendo executada.

 

- General! Você viu o que está acontecendo pelo pais todo? Perguntou Hilda que fora convocada por seu pai para ajudá-lo.

- Vi sim! Na verdade, isso era inevitável de acontecer, pois eles tentarão conter ao máximo as comunicações. Todos já chegaram?

- Já sim senhor!

- Ótimo! Agora vamos ver quem está conosco e quem está contra nós. Disse Roberval entrando no imenso auditório que servia também de cinema o qual escolheram para a reunião de emergência.

 

Entrou acompanhado de Hilda e do general Ademir, de Rogério, marechal do ar e mais alguns que estavam presentes na instauração do rompimento inicial em Aracaju em sintonia com a base de Salvador e todos se levantaram quando eles entraram e assumiram seus lugares na mesa sobre o palco do local.

 

- Boa tarde senhores! Cumprimentou.

 

Todos responderam e ele pediu para que se sentassem, mas permaneceu de pé e ficou diante da mesa com os demais sentando também.

 

- Senhores! Os senhores e senhoras foram convocados para esta reunião, pois o país está passando por uma situação inusitada e eu, assim como os senhores estamos fazendo parte da história que querem introduzir em nossa nação, mas antes de começar a expor os fatos quero saber dos senhores se por acaso se lembram do juramento que fizeram quando se tornaram militares.

 

Parou, deu uma pausa e ninguém disse nada. Prosseguiu.

 

- Bem! Eu assim como os com quem já conversei se lembraram que o juramento era o de defender a pátria contra inimigos externos e internos. Sermos fieis à nossa bandeira e aos símbolos que representa a nossa nação e cito aqui o brasão e até mesmo o próprio hino nacional e neste juramento constava que em defesa da ordem e da paz na proteção da população em geral, se tivéssemos que colocar nossa própria vida em jogo nós o faríamos. Lembram-se disso?

 

Ouviu o burburinho esperado e alguns olhando de um para o outro e não se importou com isso. Prosseguiu.

 

- O que irei apresentar aqui agora vai mostrar que o estado da tentativa de golpe militar está sendo deflagrado e fomos, eu, assim como a maioria dos senhores que vieram para a região Norte e Nordeste como interventores e os que aqui estavam foram criminalmente afastados por ordens superiores nos usando e quem teve a curiosidade de olhar para as ordens encaminhadas que estavam lacradas e com um selo contendo o brasão que deveria ser da República foi estampado em cera como se procediam nas cartas antigas, porém, duvido que alguém reparou nisso e aqui digo de quem entregou bem como quem recebeu e isso poderão ver na tela acima de nós.

 

Disse e na imensa tela que se abriu apareceu a imagem de dois envelopes, um já aberto e outro lacrado, pois não fora entregue e a marca do brasão dos Estados Unidos do Brasil estava bem destacado, pois a imagem fora ampliada.

 

Novo estágio de comentários, indignações, revolta, assombro e todo tipo de reação se fez presente na maioria que ali estava sentada, porém, olhos acostumados a observar puderam constatar que quatro deles tentava disfarçadamente sorrir.

 

- Mas se fosse apenas isso, poderíamos alegar que alguém lá do comando central de Brasília poderia ter cometido um erro ou uma falha e ele ou eles tivessem arrumado sabe-se lá onde o brasão antigo que vigorou entre os anos de 1889 até 1967 quando foi alterado através da constituição na gestão do então presidente Arthur da Costa e Silva mudando para República Federativa do Brasil, símbolo este que foi o juramento de todos nós aqui presentes e de todos os militares do país, portanto, nós e quando digo nós é porque os que aqui se encontram fazem parte direta ou indiretamente desta trama enfiada goela abaixo de cada um dos aqui presentes.

 

Deu nova pausa para sentir o clima e de fato, os que ali estavam na imensa maioria estavam indignados e se sentindo de certa forma traídos. Prosseguiu.

 

- Sei que há aqui entre nós ainda alguns descrentes que acham que somos nós que estamos querendo criar o caos, mas poderão ver no esboço recebido de Brasília da nova bandeira que deixou de ser a que nós fizemos o juramento e na alteração ela mudou da tradicional verde, amarela, azul e excluíram na parte branca a legenda ordem e progresso do qual a maioria se orgulhava de ver e nas estrelas colocadas do lado esquerdo desapareceram as vinte e seis e constam apenas dez que são exatamente os estados compostos pelos estados do Sul, Centro Oeste e excluindo o estado de São Paulo a região Sudeste também, mas que, inicialmente, até a estrela do Distrito Federal desapareceu e isso poderão verificar na imagem na tela.

 

Mais indignação, porém, um dos presentes se levantou e questionou o que ali estava sendo dito.

 

- Senhor general Roberval! Nunca te vi antes, mas sei de sua conduta até hoje irrepreensível, porém, depois de ver o que demonstrou em três imagens me leva a crer que o senhor, ao invés de desejar defender os estados do Norte e Nordeste me parece que quer que entremos no seu jogo e nos separemos da gloriosa nação brasileira e quem sabe, talvez, pense em se eleger presidente destas duas regiões tão sofridas e massacradas pela pobreza e pior, se realmente isso, está insanidade que o senhor está declarando aí em cima do palco e que está nos passando, nada mais é que bravatas imperialistas.

 

- Seu nome é Miguel Sandoval, é isso?

- Isso mesmo e complemento que não sou um soldado de segundo nível e sim um general nomeado legalmente para exercer a minha função e que fui designado para assumir o comando 59º batalhão de infantaria motorizada do estado de Alagoas e vou mais longe nas minhas narrativas, se por acaso isso fosse verdade como é que o senhor tem estes dados que são ou seria de extrema confidencialidade?

- Antes de eu te responder quero lhe perguntar algo e vou direto na pergunta. Eu sei e muitos dos presentes aqui sabem bem que o 59º batalhão é comandando pela coronel Anna Garcia Pedregon que aqui se encontra entre os senhores e ela lhe colocou com o rabo entre as pernas e o senhor e seu estafeta, o major Leonardo Rivera estavam já voltando para a ex capital federal quando foram convocados para virem para cá e obviamente que querendo maiores detalhes do que seria aqui falado veio para depois comunicar o ocorrido aos seus cumplices de traição contra a nação. Não foi assim que o senhor pensou em proceder?

- Não aceito que me trate desta forma. Sou um general da República.

- Infelizmente não é, pois, a sua República deixou de existir quando eles mudaram o nome para Estados Unidos do Brasil, portanto, somos soldados sem pátria, pois a sua não existe mais e a nossa é de como vocês chamam de rebeldes, ou traidores, mas vou lhe mostrar e a todos os presentes a maior de todas as provas do que digo. Por favor coloque a gravação.

 

A voz vinda na gravação não deixava dúvida alguma sobre o golpe militar e a declaração de uma guerra onde muitos inocentes morreriam e enquanto as palavras do assessor dos poderosos marechais do comando central eram pronunciadas através das caixas de som não teve sequer um dos que ali estavam que não se revoltassem com a exceção é claro de apenas quatro militares que estavam de acordo com o que estava por vir.

 

- Algum dos senhores tem ideia do que está acontecendo neste momento na ex capital federal, nos estados inimigos, como eles frisam que são os daqui do Norte e Nordeste e nas redes de comunicação?

- Não! Foi a resposta em coro.

- Por volta das dez da manhã as forças armadas e a polícia federal, além da força nacional prendeu todos os ministros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, os governadores de todos os estados de onde estamos, desembargadores, deputados e senadores aliados ou não do país todo e as emissoras de rádios e televisões foram impedidas de divulgar qualquer coisa sob pena de prisão e de perderem a concessão e antes que perguntem onde estão os presos, eles estão na prisão do Distrito Federal.

 

- Oh! Foi o que se ouviu entre os presentes.

- Também perguntariam o que poderíamos fazer por eles e eu, da minha parte digo que lá, na ex capital federal já não nos pertence mais e tentar algo seria loucura ou pior que isso, colocaríamos as nossas vidas por quem nunca se preocupou com a população carente e com rara exceção a maioria de lá ainda dará um jeito de sair de alguma forma e eu, Roberval Augusto Pimenta, general de quatro estrelas de um país que já não existe mais declaro que não pertenço mais ao antigo país ao qual fiz o juramento de honrá-lo e protege-lo contra os inimigos internos e externos e faço então, se for a vontade e desejo da maioria que aqui se encontra em fazer o juramento para a nova República Rebelde independente ou seja lá qual for o nome que será dado a ela desde já. Alguém estará comigo nesta luta, ou preferem que eu me renda a eles ou saia das terras que jurei proteger?

 

Com exceção daqueles quatro todos se levantaram e bateram continência para o grupo que estava sob o palco os quais também bateram continência em respeito à criação do novo estado o qual estavam oficializando o rompimento definitivo com o ex comando republicano que já não existia mais e que lutariam ao máximo para tentar fazer com que o país voltasse a se unir, coisa que a princípio parecia ser impossível.

 

Brasília, 08 de janeiro de 2039.
15:30 PM

 

- Policial! Exijo falar com o presidente.

- Ah exige é!

- Exijo!

- E quem é você mesmo?

- Sou Antero Vilagio Correia, presidente do Supremo Tribunal Federal.

- Supremo Tribunal Federal?

- É! O poder supremo da justiça da República Federativa do Brasil.

- República Federativa do Brasil? O que é isso?

- O país em que vive criatura!

- Acho que está errado senhor. O país que eu vivo se chama Estados Unidos do Brasil.

- Você está doido!

- Não e é melhor calar a sua boca porque senão entro aí e te arrebento dos dentes. Entendeu?

- Não pode falar assim comigo!

- Acho que quer perder uns dentes mesmo! Disse o policial ameaçando entrar na cela.

- Para com isso Tadeu!

- Parar porque? Este filho da puta aqui só sabia foder com o povo, portanto tem que levar uns tapas mesmo.

- Isso não caberá a nós e nem se meta a besta porque o presidente pode não gostar disso.

- Presidente! Aquele laranja?

- Que laranja?

- Você não sabe?

- Sei o que?

- Ele é só um laranja lá no palácio. Na verdade, pelo que eu soube ele já foi da primeira vez também.

- Do que você está falando?

- Acha mesmo que ele tem cabeça para dar um golpe no país?

- Bem! É, de fato ele é meio burro mesmo.

- Quem manda nele e em todos nós, é outra pessoa.

- Quem espertalhão?

- Um marechal poderoso!

- Qual deles?

- Aí já não sei, mas quem me contou isso foi uma mina que eu saio com ela e que é amante de um general que abriu a boca quando estava com ela na cama e completamente bêbado.

- Está me zuando, né?

- Não! Ela que me disse, mas não duvido porque para mim ela nunca mentiu.

- Então fodeu, mas deixa o velho gagá aí e não vá fazer besteira.

- Tudo bem! Não vale a pena mesmo quebrar um bosta igual este. Disse e saíram dali de onde estavam deixando o ex ministro arrasado por trás das grades.

- Se a coisa está neste pé é sinal de que estamos fodidos e não duvido que eles nos matem porque seremos um perigo para eles se sairmos daqui. Falou consigo mesmo o ministro.

- Porra! Você ouviu o que aquele policial falou Jamerson?

- Ouvi, mas além de não acreditar nisso temos que falar com o presidente, afinal somos da base governista e ele não pode nos deixar aqui trancados.

- Que base governista é esta Jamerson?

- Oras! A base que sustenta o governo.

- Qual governo? Acorda que não somos mais nada.

- Deixa de dizer asneira Hélio! Somos senadores da República do Brasil e ele precisa de nós.

- Acorda Jamerson! Você não ouviu o que o policial disse? O Brasil nem República é mais e quem manda no governo nem é mais o presidente e sim um marechal.

- Isso é asneira deste policial imprestável. Imagine ele ameaçar quebrar os dentes do presidente do Supremo.

- Você é um asno mesmo. Nosso tempo mamando nas tetas do governo acabou e teremos sorte se eles não mandarem nos executar.

- O que será que eles estão armando?

- Sinceramente não sei, mas se uma parte desta conversa for verdade o país vai acabar entrando em uma guerra da qual ninguém sairá ganhando.

- Guerra! Contra quem?

- Com quem você acha?

- Não! Norte contra o Sul?

- Exatamente isso e se digo isso foi porque ele nunca aceitou que o pessoal do Norte e Nordeste não gostasse dele.

- Se isso acontecer estaremos realmente ferrados. Melhor calarmos a boca e ficarmos na nossa.

- Pois é! Foi bom enquanto durou e que Deus tenha piedade de nós, pois os militares não terão.