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Título   Lua cheia Gênero Suspense
             
  Série   Lua cheia Parte 1    
 
     
  Publicado em página aberta ainda sem correção do texto.  
     
 

 

Título original: Lua cheia

Romance / Suspense

edição

 

Copyright© 2023 por Paulo Fuentes®

Todos os direitos reservados

 

Este livro é uma obra de ficção.

Os personagens e os diálogos foram criados a partir da imaginação do autor.

 

Autor: Paulo Fuentes

Preparo de originais: Paulo Fuentes

Revisão: Sônia Regina Sampaio

Projeto gráfico e diagramação:

Capa: Paulo Fuentes

 

Todos os direitos reservados no Brasil:

Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica Ltda.

Impressão e acabamento:

 

 

- Filho! Tem certeza que ficará bem aqui em casa sozinho?

- Claro mamãe!

- Tem certeza?

- Mamãe! Não sou mais uma criança.

- É que fico preocupada em te deixar só aqui em casa.

- Mamãe! Já tenho quinze anos de idade, portanto, sei me cuidar.

- Gostaria tanto que você fosse conosco.

- Mamãe! Sabe que não curto música clássica.

- É que perdemos a apresentação dele aqui em São Paulo e depois se quisermos vê-lo cantando só lá na Europa.

- Mamãe! Pare de chatice e vá logo antes que o papai fique bravo e desista.

- Está bem meu anjinho! Vamos, mas amanhã até a hora do almoço estaremos de volta.

- Está bem! Ficarei quietinho aqui esperando vocês para almoçar amanhã. Vão, divirtam-se e aproveitem para namorar um pouco.

- Pedro! Tome jeito. Que namorar o que.

- Ué! O que é que tem?

- Deixa para lá! Respondeu Eduarda sua mãe saindo sorrindo maliciosamente.

 

Seu pai que já havia se despedido aguardava ansioso na porta e preferiu ficar lá pois sabia como era sua amada esposa quando se tratava do único filho que tinham. Para ele Pedro já era um home feito, mas ela ainda lhe via como criança e ele ria quando via o tratamento que dedicava ao filho e mais que isso vendo a cara que ele fazia por vê-la tratando-o como criança, mas enfim, assim era Eduarda e sabia que enquanto vivessem Pedro sempre seria o bebê dela.

 

Eduarda se aproximou e Douglas a segurou pela mão não antes de lhe dar um beijo nos lábios para depois descerem da suntuosa cobertura que possuíam em um dos hotéis de sua propriedade. Estavam juntos a dezessete anos e por segundos passou por sua mente no dia em que se conheceram.

 

Douglas estava saindo através da porta de um dos hotéis dos sessenta e dois hotéis que faziam parte do conglomerado de empresas de seu pai Gustavo Santilena Spallucci, quando sem querer esbarrou em Eduarda quase a derrubando no chão. Lembrava-se das palavras dela como se ela as pronuncia naquele momento e soltou um leve sorriso.

 

- Posso saber do que meu marido está rindo?

- De nada! Respondeu Douglas sorrindo.

- Nem vem! Pode ir contando.

- Estava me lembrando de quando a conheci.

- Ai meu Deus!

- Lembrei-me que você quase me esganou por eu ter quase te derrubado ao chão e que na queda acabou rasgando parte de seu belo vestido.

- Nem me lembre isso! Que vergonha.

- Lembro sim, pois foi naquele instante que conheci a mulher da minha vida.

- Mude de assunto por favor! Pediu ela encabulada.

- Lembro também que me xingou mais que qualquer coisa, pois tinha uma entrevista com o Mário e não sabia o que fazer.

- O que deu em você? Resolveu voltar no passado?

- Um passado maravilhoso diria eu para a mulher que eu amo.

- Já que é para recordar, lembra-se do que fez em seguida?

- Claro!

- E o que fez heim?

- Te arrumei uma roupa nova e te levei até o Mário.

- Uma roupa de arrumadeira do hotel.

- Ué! O que você tem contra elas?

- Nada, mas a vaga era para recepcionista.

- E ele não te empregou?

- Não né!

- Não porque você não quis.

- Eu fiquei indignada e sai de lá.

- Saiu batendo a porta e me xingando.

- Vamos mudar de assunto e vamos embora senão perderemos o show.

- Não perderá porque eles não irão começar antes de chegarmos.

- Ah é!

- É! Já avisei lá.

- O senhor é muito metido doutor Douglas Santilena Spallucci Spadonni.

- Tudo para satisfazê-la meu amor.

 

Eduarda acabou rindo. Saíram e o automóvel que os levaria até o aeroporto de Congonhas que já os aguardava e depois de algumas ruas e avenidas Jonas entrava pela entrada VIP do aeroporto e de lá Douglas e Eduarda rumaram para o jato da empresa que os levaria até a cidade do Rio de Janeiro.

 

Alheio às conversas de seus pais Pedro olhou para o relógio e viu que ainda era cedo. Chamou a governanta para saber o que ela diria, afinal ela era uma governanta fiel aos padrões de seus familiares.

 

- Dona Elenice, posso lhe fazer uma pergunta?

- Claro jovem Pedro, mas acho que sei o que é que vai perguntar.

- Sabe? Perguntou Pedro curioso.

- Sei sim, ou acho que sei.

- E o que seria?

- Quer me perguntar se poderia convidar uns amigos seus para virem aqui e fazer uma festinha. Estou errada?

- Como sabe disso?

- Jovem Pedro! Eu já tive a sua idade.

- Hum! E o que acha?

- Não vão quebrar nada?

- Claro que não!

- Então traga e farei de conta que nada aconteceu.

- Você é um anjo Elenice!

- Não jovem! Acho que precisa mesmo disso.

- Posso chamar então?

- Pode e eu nem ouvi que pensou em fazer isso! Disse Elenice saindo rindo.

 

Feliz por ao menos naquele dia poder ser o dono da casa Pedro rapidamente ligou para alguns amigos convidando-os para irem até sua casa e rapidamente se recolheu para tomar banho e sabia que seus pais gostavam que ele tivesse amigos, só não gostavam de bagunça ali naquele imenso apartamento.

 

Não tão distante de onde Pedro estava Jonas estacionou o automóvel ao lado da aeronave para que Douglas e Eduarda embarcassem. Ao pé da escada estavam Diego, Marcília, Ilda e Igor, os tripulantes aguardando-os, coisa que vinha da geração de seu pai querer ver todos que compunham a mesma, se bem que eram sempre os mesmos.

 

- Boa noite doutor Douglas e senhora Eduarda! Cumprimentou Diego.

- Boa noite meninos! Respondeu Douglas de forma carinhosa.

- Rio de Janeiro mesmo doutor?

- Sim Diego! Respondeu.

 

Acessaram a aeronave, se acomodaram e logo em seguida a torre de comando autorizou a decolagem.

 

- Senhores passageiros do voo particular SSS com destino à cidade do Rio de Janeiro já se encontra no ar com o tempo de percurso de quarenta e nove minutos. A temperatura prevista para a cidade de destino e a temperatura lá é de vinte e nove graus. Deus abençoe a todos e boa viagem.

  

Esta era a saudação que tinha sido imposta pelo patriarca e multimilionário Gustavo Santilena Spallucci Spadonni já a alguns anos e Diego tivera o privilégio de ter ainda voado com ele mesmo que por pouco tempo quando acabou se afastando após a morte de sua esposa em consequência misteriosa.

 

Gustavo não suportando a dor pela perda da amada esposa preferiu se ausentar da vida corrida que levava pois julgava-se culpado por não ter dado mais tempo ao lado dela e o que lhe pesava mais era o fato de quando Marli, sua esposa mais precisava dele ele lá não estava e por mais tempo que vivesse jamais se perdoaria por este fato.

 

Ausentando-se acabou se mudando para a imensa fazenda que possuíam na pequena cidade de Joanópolis onde o forte era a criação de gado e dentro dela acabou fazendo seu refúgio e o poderoso e imponente Gustavo praticamente se tornou em um ser esmagado pelo que ele mesmo julgara ter sido seu maior erro, seu passado.

 

- O que é aquilo ali adiante Igor?

- Onde senhor! Perguntou.

- Ali! Vindo em nossa direção.

- Não sei senhor!

 

E estas foram as últimas palavras pronunciadas entre Igor e Diego, pois o algo desconhecido chocou-se de frente com a aeronave fazendo-a explodir não sobrando nada para servir de identificação. A aeronave se desintegrou no ar.

 

- Coronel venha até aqui! Pediu o operador da torre de Congonhas.

- Do que se trata Walter!

- A aeronave do doutor Douglas desapareceu no radar.

- Como desapareceu?

- Não sei! Simplesmente desapareceu.

- Tem certeza?

- Tenho sim senhor!

- Não é erro do radar?

- Não senhor e como sempre fazemos nestes casos de voo do doutor Douglas sempre monitoramos a aeronave dele em especial das duas pontas e a torre do Santo Dumont disse que pressentiu o mesmo a alguns minutos atrás.

- Qual o local?

- Tinham acabado de ultrapassar o limite aéreo do parque estadual de Ilhabela.

- O que disse o operador do Rio?

- A mesma coisa e na teoria no mesmo local senhor!

 

Agnaldo Ferreira da Costa Almeida, coronel da força aérea brasileira lotado para coordenar o espaço aéreo sob controle do aeroporto de Congonhas acima de tudo era amigo pessoal de Douglas. Chegaram a estudar juntos e fizeram a academia militar também juntos.

 

Ambos chegaram ao posto de capitão e estavam se preparando para receber nova promoção quando Gustavo chamou Douglas para trabalhar consigo, pois acreditou que era a hora de prepara-lo para começar a treiná-lo para assumir o seu lugar, porém, enquanto isso não se concretizou Douglas foi se dedicando cada vez mais à sua atividade civil sem, no entanto, deixar de lado seu inseparável amigo.

 

- Walter! Precisamos acionar a marinha para ver isso com urgência.

- Já tomei as providencias quanto a isso coronel.

- Pediu para que a força área sobrevoe o teórico local?

- Sim senhor!

- Vou solicitar que o capitão Aristides assuma o comando e vou lá acompanhar isso pessoalmente. Me mantenha informado caso saiba de algo. Informou o coronel Agnaldo se afastando arrasado.

 

Alheio a tudo isso Pedro se divertia com seus amigos e nem se deu conta de que sua mãe como sempre fazia lhe ligaria para comunicar que haviam chegado na cidade do Rio de Janeiro, ter ido ao show e se hospedariam em um dos muitos hotéis o grupo. Estava animado e mesmo não terem quebrado nada seus amigos abusaram da bebida e quando a madrugada chegou delicadamente ele colocou todos para fora de casa, pois seus pais poderiam chegar cedo e todos sabiam da rigidez que era aquela família já criando uma tradição.

 

Estava quebrado. Não era de beber. Na verdade, não bebia, mas naquele dia, talvez por se sentir mais solto e em liberdade abusou da bebida, porém, sem, no entanto, ficar embriagado.

 

Esperou que todos se retirassem e viu então Elenice com uma xicara com café forte nas mãos e pediu para que ele tomasse. Tomou e olhando a bagunça não sabia o que dizer, mas ela compreensiva pediu para que ele se recolhesse que ela cuidaria de tudo e foi o que fez.

 

Se retirou. Chegou em sua suíte e depois de se despir tomou uma rápida ducha e nu como estava se deitou praticamente desmaiando. Tinha que estar bem, pois conhecendo sua mãe como conhecia tinha certeza de que ela voltaria cedo com seu pai.

 

Teve um sono estranho e se revirou de um lado para outro na cama e não fosse o efeito da bebida teria levantado. Adormeceu novamente e passava pouco das sete da manhã quando Elenice entrou no quarto para acordá-lo.

 

- Jovem Pedro! O senhor precisa levantar.

- Meus pais já chegaram?

- Não, mas o coronel Agnaldo Ferreira já te ligou duas vezes e eu disse que iria lhe acordar.

- O coronel amigo do meu pai?

- É!

- O que ele quer?

- Falar com o senhor jovem Pedro!

- Tudo bem! Vou me levantar. Disse Pedro se dando conta que estava nu.

 

Ficou sem jeito e Elenice deu um leve sorriso pelo constrangimento que ele ficara.

 

- Me perdoe Elenice!

- Não se preocupe jovem! Esqueceu que eu já dei vários banhos desde que era bebê?

- Realmente eu não lembro e deve ser porque eu era bebê, não é?

- É! Respondeu Elenice sorrindo.

 

Pedro se levantou, tomou banho, se trocou e não esperou que Agnaldo lhe telefonasse. Ele mesmo pegou o telefone no identificador e ligou.

 

- Coronel Agnaldo!

- Sim Pedro! Que bom que ligou.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não vou enrolar! Seus pais desapareceram no ar.

- Como assim? Perguntou Pedro sem entender.

- Estou onde teoricamente o avião de vocês desapareceu e não encontramos nada por aqui.

- Como assim coronel! Como não encontraram nada?

- Sabe da amizade que eu tenho com seu pai, não sabe?

- Sei sim senhor!

- Ele é, foi e sempre será meu melhor amigo. Sabe disso, não sabe?

- Sei sim, mas não entendi isso do desaparecer.

- A impressão que temos é que o avião desintegrou.

- Mas isso é possível?

- Não! Sinceramente pelo que eu sei e conheço da vida acredito que não, mas vou continuar por aqui e só vou parar quando realmente não restar mais esperanças e a propósito já avisei seu avô.

- Obrigado coronel!

 

Desligaram e somente ali foi que Pedro se deu conta do que o coronel Agnaldo havia falado e se pareceu ter sido desinteressado foi por causa da bebida que sorvera na noite anterior, porém, agora, parecia que ela havia evaporado de seu corpo e fora este choque pesou bem o que o coronel dissera sobre ter avisado seu avô. Isso o assustava, pois tinha-o como um ditador autoritário.

 

Não sabia o que falar, o que fazer e nem como fazer. Restava-lhe apenas esperar seu avô chegar e ver o que ele faria e como faria e ainda tentava achar um algo no que o coronel lhe falara que nem viu o tempo passar e duas horas e meia a campainha tocou e abrindo a porta ali estava ele. O imenso, impassível e assustador Gustavo Santilena Spallucci Spadonni, seu avô.

 

- Bom dia Pedro! Disse secamente aquele brutamontes.

- Bom dia vovô!

- O que sabe sobre o ocorrido com seus pais?

- Apenas que o coronel Agnaldo me informou agora cedo.

- E o que foi que ele te disse?

- Que a aeronave desapareceu no céu como se tivesse se desintegrado, evaporado.

- Sente aqui garoto! Pediu Gustavo.

 

Pedro estranhou aquela forma de seu avô trata-lo. Ele sempre fora duro, ou mesmo grosseiro e agora mostrava um lado que ele não estava reconhecendo. Sentou-se.

  

- Você sabe que eu já estou com oitenta e quatro anos, certo?

- Sei sim senhor!

- Também sabe que seu pai era meu filho único, certo?

- Sei sim senhor!

- E também sabe que seu pai só teve um filho que é você, estou certo?

- Está sim senhor!

- Pois bem! Com isso tudo, se por acaso seu pai ter deixado de existir você sabe que é o meu único herdeiro e consequentemente sucessor, não sabe?

- Prefiro pensar que meus pais ainda estejam bem vovô.

- Eu também prefiro, mas pelo que Agnaldo me informou as possibilidades de ele ter partido só haverá uma alternativa que é a de eu voltar a assumir o grupo de nosso patrimônio e o preparar para assumi-lo. Sente-se preparado para isso?

- Vovô! Eu só tenho dezesseis anos de idade.

- E o que tem isso?

- Não acha que sou muito novo para assumir as empresas?

- Não acho! Tenho certeza disso e foi por causa disso que lhe disse que terei que sair da minha caverna para prepara-lo para que cuide do vosso patrimônio antes que algum esperto o faça se eu morrer.

- Você não vai morrer vovô!

- Deixa de ser puxa saco Pedro! Todos nós iremos morrer um dia.

- Sei que iremos e nem quis lhe puxar o saco, apenas quis dizer que não ia morrer agora.

- Ah bom! Vamos pegar um helicóptero da empresa e iremos até o litoral para acompanhar o que está acontecendo. Pegue um par de roupas que talvez dormiremos lá um ou dois dias.

 

Pedro foi até seu quarto e lá pegou algumas roupas e colocou em uma mochila. Voltou para a sala e viu seu avô conversando com Elenice e parou para vê-lo com mais atenção.

 

Não era baixo. Pelo contrário. Apesar de seus dezesseis anos era um garoto alto para os padrões e percebera de onde viera aquilo de sua altura olhando para seu avô. Ele deveria ter perto de dois metros de altura. Alto, forte e parecia um verdadeiro touro. Suas mãos eram grandes. Seus olhos possuíam uma mistura de cores que girava entre o castanho claro para o esverdeado.

  

Seu rosto também era incomum e se parecia mais um do tipo dos super-heróis. Queixo quadrado e o olhar penetrante quando estava irritado e parecia que ele sempre estava deste jeito dando pavor para quem ele fitasse, mas pela primeira vez vi-o de uma forma diferente e poderia dizer por conhece-lo bem que ele fora até carinhoso.

 

- Pronto para irmos Pedro?

- Sim vovô!

- Elenice! Cuide do forte. Ficaremos fora por pelo menos dois dias.

- Sim senhor! Respondeu ela submissa.

 

Saíram, pegaram o elevador e logo estavam no automóvel que os levou até o aeroporto de Congonhas onde um imenso helicóptero os aguardava e junto a ele uma equipe de oito homens estavam esperando-os.

 

- Tudo preparado Jorge?

- Sim senhor!

- Todos sabem o que tem que fazer?

- Sabem sim senhor!

- Este é meu neto, meu único neto e meu herdeiro universal. Quero que o trate como se estivessem tratando comigo. Fui claro?

- Claríssimo senhor!

- Então vamos!

 

Entraram naquele imenso helicóptero que mais parecia uma arma de guerra e levantaram voo. Gustavo nada disse e Pedro nada comentou sobre as palavras de seu avô, mas ficou orgulhoso por elas, pois viu que ele estava lhe valorizando e faria de tudo para não o desapontar.

 

Jorge, o piloto procurou fazer o trajeto do avião que estavam seus pais totalmente dentro do plano de voo e quando atingiram o provável local onde teoricamente teria desaparecido a aeronave onde estavam seus pais teve a impressão, olhando para a janela ter visto um objeto ou qualquer coisa que desapareceu como surgira, do nada para o nada.

  

Nada comentou, pois parecera que somente ele vira aquilo algo ou nada, mas buscou com os olhos tentando ver de novo o que vira e não encontrou.

 

- Algo errado Pedro? Perguntou Gustavo.

- Não senhor!

- Senti que procurava algo no céu.

- Não era nada vovô.

- Acho que você viu algo e foi somente você quem viu. O que foi?

- Não sei! O que pareci ter visto era algo que surgiu do nada e desapareceu em segundos.

- Tipo o que?

- Não sei definir, mas me pareceu um drone.

- Drone!

- Parecia ser, mas foi rápido demais.

- Rápido em que sentido?

- Parecia vindo em nossa direção e de repente desapareceu.

- Hum! Interessante. O que acha disso coronel Rafael?

- Pelo que ouvi de seu neto senhor, até poderia ter o formato de um drone, mas a velocidade não bate de acordo com o relato.

- E o que poderia ser? Uma nave espacial por acaso?

- Não ousaria ir tão longe senhor!

- Um experimento desconhecido do governo?

- Não temos algo deste tipo dentro de nossas forças armadas senhor e posso lhe garantir isso.

- Poderia ser um experimento desconhecido de outro país?

- Veloz da forma que seu neto disse acho improvável.

- Tudo bem, mas digamos que fosse o que fosse teria o poder de desintegrar uma aeronave e porque justo a que estava meu filho e esposa dentro dela?

- Hora errada em lugar errado! Ousou dizer Pedro sem querer.

- Como disse Pedro? Perguntou Gustavo.

- Não escolheram o avião onde estavam meus pais e sim eles estavam na hora errada passando por aqui.

- Um disparo ao acaso! Comentou Rafael.

- Vamos descer e citar esta visão de meu neto para o coronel Agnaldo. Quem sabe ele tenha alguma novidade. Frisou Gustavo.

 

Ato seguinte foi pedir para que Jorge pousasse próximo da base onde haviam montado para tentar localizar o avião onde estariam Douglas, Eduarda e a tripulação. Pousaram e Gustavo acompanhado de Pedro foram os primeiros a desembarcarem e perguntando sobre onde estaria o coronel Agnaldo foram até ele seguidos de perto pelos homens que os acompanhavam.

 

- Doutor Gustavo não vou dizer que é um prazer revê-lo devido as circunstancias.

- Tudo bem Agnaldo! Bom dia para você também.

- Bom dia! Me perdoe, mas a minha indelicadeza é por causa do ocorrido.

- Compreendo! Lembra de meu neto Pedro?

- Estava em dúvida se era ele. A última vez que o vi era ainda bem pequeno. Bom dia Pedro!

- Estávamos sobre a possível área do desaparecimento e Pedro viu ou pressentiu algo que talvez pudesse ajudar. Conte para ele, por favor. Pediu Gustavo.

 

Rapidamente Pedro ainda estranhando seu avô pedir por favor detalhou em poucas palavras o que tinha visto ou imaginou ter visto e sem nada dizer Agnaldo se levantou e aproximou-se de um painel que mostrava o trafego aéreo do litoral paulista e depois acessou uma tela que era acessada através de um satélite da força aérea e reprogramou-a para a hora do desaparecimento da aeronave.

 

- Vejam aqui o que temos aqui na rota do SSS desde que saiu do aeroporto de Congonhas.

  

Pedro se aproximou da tela e Gustavo pediu autorização para que seus homens pudessem entrar e olhar também. Autorizados os oito membros que acompanhavam Gustavo e Pedro se aproximaram da tela e Agnaldo soltou o trajeto do voo pouco tempo antes do ocorrido.

 

- Prestem atenção no momento em que subitamente a aeronave sumiu do radar tanto do controle de São Paulo quanto do Rio de Janeiro. Pediu Agnaldo.

 

Olhos atentos na tela todos puderam constatar um pequeno sinal de luz e a aeronave desapareceu no ar.

 

- Poderia ampliar um pouco a imagem coronel? Pediu Rafael.

- Por aqui não, mas pedi para que me fornecessem imagens mais detalhadas e devo receber daqui a uma ou duas horas.

- O que viu na imagem Rafael? Perguntou Gustavo.

- Não sei precisar senhor, mas eu, a princípio acreditei que poderia ter sido um drone, porém, vendo a imagem mais detalhadamente pareceu ser um pouco maior.

- Acha que pode ser algo tipo uma aeronave secreta? Perguntou Agnaldo.

- Não sei dizer.

- Poderia ser algo tipo uma nave extraterrestre?  Perguntou Pedro.

- Se quer saber jovem Pedro, eu não descartaria isso também.

- Vamos aguardar a imagem mais detalhada para tentar descobrir o que poderia ter sido. O que mais conseguiu encontrar Agnaldo? Perguntou Gustavo cortando as indagações.

- Nada senhor! Absolutamente nada. Nem um pedaço de qualquer coisa foi encontrado.

- Pode autorizar que minha equipe possa olhar sob o mar e sobre a ilha? Pediu cortesmente Gustavo.

- Claro que sim senhor! Ajuda sempre é bem-vinda e quero saber quem foi que causou esta tragédia para a família de vocês quanto para mim que era amigo pessoal de seu filho.

- Obrigado por isso coronel. Sei de fato que eram amigos de longa data.

 

Os homens sob o comando de Gustavo entraram em uma busca frenética e antes que eles retornassem Agnaldo informou que as imagens do satélite haviam chegado e que poderiam ver então com mais detalhes.

 

Levou Pedro e Gustavo até o anexo das instalações onde haviam enormes telas de alta resolução e acionando alguns comandos apareceu a primeira imagem que era a que eles tinham visto anteriormente e Agnaldo já ia mudar de imagem quando Rafael chegou com sua equipe.

 

- Chegou bem a tempo de ver as imagens captadas pelo satélite. Informou Gustavo.

 

Na imagem seguinte ainda não conseguiram identificar ou definir o que seria aquele objeto que poderia ser um drone, uma aeronave de abate de pequeno porte ou quem sabe uma pequena espaçonave extraterrestre, porém, na imagem que se seguiu foi descartado ser de origem espacial e restou apenas o drone e um objeto militar de pequeno porte, mas na imagem que veio em seguir conseguiram desconsiderar até o drone e pelo conhecimento que possuíam Agnaldo e Rafael se entreolharam e disseram juntos que era de origem militar.

  

- Tem certeza disso? Perguntou Gustavo com o semblante fechado.

- Absoluta! Responderam os dois.

- De que país?

- Não tenho conhecimento deste tipo de aeronave de guerra de nosso governo senhor. Respondeu Agnaldo.

- Tem ideia de que país poderia ser Rafael?

- Pela velocidade, pela forma de ataque e de desaparecer dá para se concluir que o país que criou esta arma possui tecnologia sofisticada, mas não descarto nenhum dos países que podem ir desde os EUA até mesmo a Coréia do Norte sem esquecer a China.

- Mas porque atacar justo a aeronave onde meu filho estava e aqui no Brasil? Perguntou Gustavo enraivecido.

- Acredito que sendo qualquer país senhor, eles acreditaram talvez que derrubar uma aeronave comercial em nosso país não seria levado em conta, pois a meu ver, quem mandou fazer isso acreditou ou acredita que não temos tecnologia para ir a fundo em apurar a calamidade. Disse Agnaldo.

- Tem jeito de descobrir quem foi o autor ou o construtor de tal arma? Perguntou Gustavo.

- Apesar de que em tese poder ser demorado acredito que poderemos descobrir isso utilizando outros satélites que também monitoram o nosso país, mas isso precisaria da autorização de alto escalão senhor. Informou Agnaldo.

- Moverei o céu, a terra e o mar se for necessário, mas chegarei em que foi o responsável por isso nem que tenha que invocar o demônio para tal. Está é uma promessa minha coronel e sabe que nunca prometi algo que não cumprisse em toda a minha vida. Falou Gustavo sério e trincando os dentes.

- Farei o impossível para descobrir os autores disso senhor. Pode ter certeza disso.

- Sei que fará coronel. Confio em você. Vamos embora! Nada mais temos que fazer aqui. Disse Gustavo chamando Pedro e seus comandados.

 

Saíram e longe dos ouvidos de Agnaldo Gustavo chamou Rafael de lado e ordenou-lhe que assumisse a missão de descobrir quem era o autor daquela atrocidade contra sua família e a tripulação doesse em que doesse e que ele não tivesse piedade dos culpados.

 

Pedro! Venha. Voltemos para São Paulo que temos muito o que conversar.

 

Gustavo, Pedro e a equipe de apoio entraram naquela potente máquina de guerra e retornaram para a capital. Pousaram no aeroporto de Congonhas e de lá Pedro e seu avô foram direto para a suntuosa cobertura onde até então Pedro morava com seus amados pais. Nada disse durante a viagem toda e a dor que dominava seu coração era intensa.

 

Quando seu avô chegou e o levou para o local do ainda suposto incidente ele ainda mantinha a chama da esperança de que a notícia poderia ser enganosa, mas a verdade infelizmente se fizera presente e constatado que de fato seus pais haviam sido barbaramente assassinados.

 

A dor começou a se transformar em ódio e seu avô percebendo isso tentou trata-lo como jamais o tratara antes, ou seja, com carinho e um amor que ele jamais demonstrara até então.

 

- Meu querido neto! Sei que a dor que está sentindo dentro de si é intensa e não pense que a minha seja menor, pois tiraram de nós as pessoas que mais amávamos e não pense você que eu seja um homem sem coração ou que tenha um coração de pedra, mas te garanto que quem fez isso pagará e de uma forma que não haverá perdão ou prisão. Agora relaxe um pouco e respire fundo porque temos muito para conversar e acertar na sua vida.

  

Pedro permaneceu calado. Nada disse e apesar de estar estranhando o comportamento de seu avô que estava demonstrando que havia algo de humano dentro dele. Entendia bem as palavras de seu avô e pelo pouco que sabia dele tinha a certeza de que ele não perdoaria quem mexera com a sua família e sem querer, naquele momento passou por sua cabeça de que ele, se tivesse força e poder faria até mais do que seu avô faria.

 

Conversaram muito e Gustavo explanou para Pedro os bens que a família possuía e que a partir da morte de seu pai tudo aquilo seria a herança dele. Não disse tudo o que compunha o grupo empresarial, mas como já passava da hora Gustavo resolveu levar Pedro para conhecer a central administrativa do grupo empresarial de surpresa logo na manhã seguinte. Comunicou isso a Pedro sem que ele tivesse direito de negar ao pedido do avô.

 

Pedro não se importava em ter ou não dinheiro. Sabia que sua família era detentora de vários hotéis e outras coisas além de participação em diversas empresas e a partir do falecimento de seus pais tudo isso agora era herança sua e mesmo não se importando era fato consumado.

 

Pediu licença para seu avô e se retirou. Deitou na cama sem sequer prensar em tomar banho. Aquilo estava doendo demais. Seu coração parecia querer saltar para fora da boca. Não aceitava o que acontecera e jamais perdoaria quem havia causado aquilo.

 

A noite passou e Pedro não conseguiu dormir. A revolta tomou conta de si e ele queria a todo custo mesmo sem saber como pegar os culpados por terem ceifado a vida de seus amados pais e mesmo sabendo que era o herdeiro de um império ele só queria seu pai e sua mãe de volta.

 

- Pedro! Já acordou?

- Já vovô!

- Então levante-se, se arrume porque quero chegar na empresa antes de quem cuida dela.

- Me dê dez minutos que estarei ponto vovô.

 

Gustavo saiu da porta do quarto. Pedro levantou-se rapidamente porque se havia uma forma de chegar aos assassinos isso só poderia ser realizado através de seu avô e mesmo tendo certas cismas e diferenças com ele sabia que agora era a hora de deixar isso de lado.

 

Tomou um banho rápido, se trocou como seu avô pedira e saiu do quarto indo encontrar com ele e com Elenice na sala aguardando-o.

 

- Tome café filho! Disse seu avô para sua surpresa.

- Não estou com fome vovô!

- Tome ao menos um copo de suco de laranja para não sair sem nada no estomago.

- Está bem! Respondeu tomando o suco para logo saírem.

 

Pegaram o elevador privativo e chegaram na garagem onde Jonas os aguardava. Entraram no automóvel e Gustavo pediu para que ele os levasse até a sede da empresa que ficava próxima do rio Pinheiros em uma imponente torre.

 

Era cedo e o transito ainda não havia chegado no ápice e como Jonas já conhecia bem o caminho cortou por vias de menor intensidade e passando pouco tempo chegaram às torres gêmeas.

 

Jonas se identificou na entrada da garagem e mesmo o segurança não conhecendo os ocupantes deixou-o entrar e logo estavam diante dos elevadores. Gustavo levou Pedro até onde ficava o elevador privativo que os levaria direto ao vigésimo terceiro andar onde era o destinado à diretoria.

 

Inseriu a chave digital e após colocar o dedo local apropriado e o reconhecimento da íris a porta se abriu e ambos entraram. Foi uma rápida subida mesmo porque ele só tinha dois destinos, o topo ou o subsolo onde ficava a garagem exclusiva.

 

Desceram e não havia ninguém por ali a não ser as pessoas que faziam a limpeza, porém que não os viram por já terem limpado a sala da presidência.

 

- Aqui é sala da presidência. Já a conhecia?

- Não que me recorde! Respondeu Pedro.

- Seu pai nunca lhe trouxe aqui?

- Não! Combinou algumas vezes, mas os compromissos adiaram a minha vinda.

- Sente-se nesta cadeira, por favor! Pediu Gustavo.

  

Atendendo seu avô Pedro sentou-se e o encarou sem saber porque ele lhe pediu isso, mas sentiu que ali era o centro de controle de várias empresas as quais ele nem sabia quais eram e de que tipo seriam.

 

- O que sentiu ao se sentar aí filho?

- Algo estranho vovô!

- Estranho como o que?

- Não sei dizer, mas foi como se sentisse a força de algo desconhecido.

- Poder por exemplo?

- Isso! Exatamente isso. Poder.

- Esta cadeira me pertencia e a comprei quando adquiri o decimo hotel.

- São quantos no total vovô?

- No total são sessenta e dois.

- Não sabia a quantidade toda.

- Alguns deles foram aquisições recentes e todos fora do país que apesar de já serem do grupo seu pai estava providenciando a logomarca neles.

- Temos empresas em que segmentos?

- São sessenta e dois hotéis, quatro resorts, três metalúrgicas, duas cutelarias, um centro de pesquisas, uma torrefadora de café, oito fazendas, dois clubes de tiro, uma escola de treinamento tático e ações em várias empresas de grande porte no Brasil e fora dele além de várias obras de arte.

- Nossa vovô! É muita coisa.

- Isso é o resultado de vários anos de trabalho e preste muita atenção no que irei lhe dizer. Tudo isso que te informei é herança sua e por isso tem que sentir bem o poder desta cadeira dentro de si. Entendeu?

- Entendi sim!

- Daqui a pouco Mário estará chegando e algo me diz que ele virá direto para esta sala. Portanto, iremos nos esconder na sala privativa que tem aqui do lado e lá lhe mostrarei a antessala secreta que será onde estaremos esperando.

- Como sabe que ele virá direto para cá?

- Pedi para que a força aérea e o governo não divulgassem que seus pais haviam fatidicamente morrido e quero ver a reação dele.

- Não confia nele?

- Jamais confiei, mas como eu já havia me aposentado e ele foi colocado na função de superintendente pelo seu pai eu não quis criar atrito com ele.

- Posso te fazer uma pergunta pessoal?

- Pode e já imagino qual seja.

- Imagina! O que seria?

- Se eu me dava bem com seus país ou mais precisamente com o seu pai. Seria isso?

- Isso mesmo!

- Esta resposta eu lhe darei depois e prometo te contar tudo, mas agora vamos para a antessala porque pressinto que ele está chegando e virá direto para cá.

- E como saberemos se ele vier direto para cá?

- Olhe bem para o quadro que tem ali na parede do outro lado da sala.

- O senhor quer dizer a réplica do quadro da Ginevra de' Benci?

- Conhece de arte?

- Um pouco! Respondeu Pedro sorrindo.

- E quem lhe disse que é uma réplica?

- Porque pelo que eu sei o quadro original de Leonardo da Vinci deveria estar na Galeria Nacional de Arte de Washington, nos Estados Unidos da América.

- Nossa! Agora você me surpreendeu e não vá me dizer quando ela foi pintada.

- Dizem que ela foi pintada por ele no ano mil quatrocentos e setenta e cinco.

- Quantos anos você tem mesmo meu filho?

- Dezesseis anos vovô. Sabe bem disso. Nasci no dia treze de abril e o nome de Pedro me foi dado pelo senhor porque simbolizava a data do falecimento de Simão que virou Pedro e que representava a pedra de Jesus Cristo.

- Como consegue guardar tudo isso?

- Não sei. Talvez seja algo de meu DNA ou coisa assim.

- Estou impressionado, mas voltando ao quadro há uma câmera ali e repare nos olhos dela.

- Não vá me dizer que estragou a pintura de Da Vinci colocando uma câmera nos olhos dela. Não fez isso fez?

- Claro que não! Olhe quinze centímetros para cima do centro dos seus olhos e o que vê lá?

- Nada!

- Exatamente isso. Agora vamos logo para não estragarmos a surpresa.

 

Saíram da sala da presidência e depois de entrarem na sala privativa Gustavo acessou um lugar camuflado e a parede ricamente adornada por uma bela pintura se abriu e entraram na antessala e lá Gustavo pediu para que Pedro se sentasse em uma confortável poltrona e depois dele apertar alguns botões a câmera começou a funcionar e em menos de três minutos Mário acessou a sala jogando sua bolsa sobre o sofá que lá existia foi direto para a cadeira da presidência e sentou-se nela.

 

- Enfim cá estou! Disse alto e em bom som.

 

O sangue de Pedro quanto o de Gustavo ferveu na hora. Mario sabia do ocorrido de alguma forma e se ele não fosse o culpado pela morte de Douglas, com certeza estava ligado a quem o matou.

 

- Cibele venha até a sala da presidência!

- Sala da presidência?

- É! Agora.

- Tá! Estou indo. Respondeu ela sem entender e logo entrava na sala.

- O que acha?

- Está doido?

- Porque?

- Está é a cadeira do doutor Douglas.

- É não, era.

- Como era?

- Era do verbo já foi. Agora é minha.

- Ah tá! Você assumiu o grupo todo agora é?

- É apenas uma questão de tempo. Logo assumirei.

- Você bebeu?

- Não! Estou muito bem e sei o que digo.

 

Pedro sentiu vontade de se levantar, sair dali e estrangular Mário, pois em poucas palavras ele assumia que mandara matar seus pais.

 

- Calma filho! Vamos ouvir mais. Estou gravando tudo. Disse Gustavo friamente.

- Saia daí que daqui a pouco o doutor Douglas e vai te pegar aí.

- Só se for em espírito. Respondeu Mário sorrindo.

- Ele morreu?

- Digamos que ele e a esposa evaporaram.

- Você os matou?

- Não né!

- Não entendi!

- Ele estava incomodando muitas pessoas poderosas e resolveram ajudar ele a descansar.

- O mataram?

- Digamos que eles fizeram eles evaporarem.

- Eles quem?

- Douglas, Eduarda, o filho Pedro e a tripulação do jato.

- Não quero saber de mais nada. Isso foi assassinato.

- Pense pelo lado positivo. Eles partiram, eu assumo a empresa e você se torna a primeira dama. Não é uma boa coisa?

- Você só pode estar doido mesmo e se esqueceu do doutor Gustavo né?

- Ele está velho e qualquer remédio errado também o fará desaparecer.

- Não quero saber e nem participar disso. Disse saindo batendo a porta.

 

Mário sorriu. Gostava de Cibele. Ela era uma pessoa carinhosa, fazia tudo o que ele queria, mas era substituível. Seria fácil arrumar outra e até mais nova que se deliciasse com o poder e já ia começar a se fartar do poder quando a recepcionista lhe comunicou que o doutor Rafael estava ali para falar com ele.

 

- Rafael! Quem é este Rafael?

- Disse que veio por parte do doutor Gustavo.

- Que merda! Mande ele entrar.

- Sim senhor!

 

Não demorou nada e pela porta acompanhado de um segurança da empresa entraram Rafael e mais dois homens todos vestido de preto.

 

- No que posso lhes ajudar?

- Poderá nos ajudar daqui a pouco. Assim que o doutor Gustavo aparecer.

- Mas que porra é esta dele aparecer?

- Calma! Está preocupado com o que?

- Não estou preocupado!

- Mas deveria estar. Disse Gustavo saindo da sala ao lado acompanhado de Pedro.

- O que é isso aqui?

- Seu nome é Rodnei, é isso?

- É sim senhor!

- Sabe quem sou eu?

- Sei sim senhor!

- Então por favor sai da sala e diga que não queremos ser incomodados.

- Sim senhor! Disse Rodnei saindo.

- Agora vamos ter uma conversa só nós três. Eu, você e o herdeiro do grupo.

- Conversar sobre o que?

- Vou direto no assunto. Sabe que nunca gostei de você e ouvi tudo o que disse quando se sentou na cadeira que é agora de Pedro. Quero saber quem são os que mataram meu filho, nora e a tripulação do avião.

- Não sei do que está falando!

- Sabe, mas saiba que tudo foi gravado e tem a oportunidade de começar a falar ou conhecerá o meu lado obscuro.

- Não tenho nada para contar!

- Tudo bem! Se não quer contar por bem, vai me contar por mal. Pedro, por favor saia da sala e aguarde alguns minutos lá fora.

- Mas vovô!

- Por favor Pedro! Ouça o seu avô. Pediu Rafael.

 

Mesmo a contragosto Pedro saiu da sala e Rafael e os demais fecharam as persianas deixando-os isolados dos que estavam do lado de fora daquela sala.

 

- Agora sim teremos uma conversa boa e garanto que não irá gostar do que verá. Aliás, nem eu gostaria de ver o que está para acontecer, mas tem a última chance. Vai falar por bem ou não?

- Não tenho nada para falar!

- Está bem! Foi você quem pediu. Disse Gustavo.

 

A partir do momento em que fecharam as persianas nenhum som alarmante foi ouvido dentro da sala e em menos de dez minutos uma equipe de paramédicos da prefeitura municipal acessou o prédio e chegaram até a sala da presidência. Dentro dela estavam Gustavo, Rafael, dois membros da equipe e no chão, caído, estava Mário e a conclusão que a equipe médica deu foi de que ele morrera de enfarto fulminante.

 

Nada foi dito e nem comentado. Apenas que, Mário, o superintendente do grupo havia falecido e que provisoriamente Gustavo, o fundador estava voltando para assumir o controle trazendo consigo seu neto Pedro.

 

A equipe médica saiu do local carregando na maca o corpo já inerte do que fora até aquele momento o homem que teoricamente teria sido o braço direito do presidente Douglas que até então ninguém ainda tinha noção de sua morte.

 

- Vovô! O que aconteceu aqui dentro?

- Nada meu filho! Ele apenas não aguentou a pressão e teve uma parada cardíaca.

- Minha intuição diz que não foi apenas isso. Que me contar o que houve?

- Quem sabe no futuro, quando estiver mais maduro eu lhe conte sobre isso. Pode ser?

- Poder não pode, mas o que posso fazer senão aguardar, não é?

- É! Respondeu Gustavo.

- O que pretende fazer agora?

- Vou desaposentar Miguel e trazê-lo de volta para a superintendência.

- Quem é Miguel?

- Miguel Zaracho Finazzi era o meu braço direito quando eu estava aqui. Homem digno e decente que esteve comigo desde o início de tudo.

- E vai deixa-lo aqui?

- Não! Passarei alguns dias com você aqui e tentarei lhe instruir, mas pelo que vi não vai ser difícil de captar tudo que tem. Depois o levarei para a fazenda que temos lá em Joanópolis e lá fará outro tipo de treinamento com a equipe de Rafael para depois voltar e assumir de vez a direção do grupo.

- Treinamento do que?

- Saberá lá e a o seu tempo, mas garanto que vai gostar e precisará fazê-lo, pois já viu com o que estamos e estaremos lidando, não viu?

- Vi sim vovô, mas o que tem de especial em Joanópolis?

- Joanópolis é uma cidade pequena, tem pouco mais de treze mil habitantes apesar de ter sido fundada em mil oitocentos e setenta e oito e tem um excelente prefeito que é meu amigo.

- Pequena a cidade né?

- É e pretendemos que ela continue assim.

- Porque?

- Para não perdemos os encantos e mistérios que a cercam.

- Disse que o prefeito é seu amigo?

- É sim! O nome dele é Orlando e garanto que vai gostar dele, mas te adianto que não pode se apaixonar pela secretária dele.

- Porque não?

- Porque a Angelina é comprometida. Respondeu Gustavo sorrindo.

- Ah tá! Achei que era porque achava que eu era novo demais para me apaixonar.

- Calma meu filho! Tudo a seu tempo. Agora me de uns minutos que vou falar com Miguel que não vai gostar do convite, mas garanto que ele estará aqui em pouco tempo.

 

Gustavo se sentou na cadeira da presidência enquanto Pedro olhava os detalhes daquela sala e constatou que de fato era muito bem decorada. Não havia luxo excessivo, mas o que continha ali era de bom gosto e sentiu o dedo de sua mãe em alguns detalhes.

 

Pensando nela a dor voltou a bater eu seu peito, mas sabia que seu avô sabia de muito mais coisas do que lhe contara, mas que ele já tinha um ponto a seguir. Não entendeu o que seria aquele treinamento, mas se recordou que seu pai insistira para que ele dedicasse muito do seu tempo em estudos de arte incluindo pintores, inventores, sistemas feudais além de várias outras coisas, mas nunca soube o porquê daquilo.

 

- Pedro!

- Sim vovô!

- Como eu disse Miguel reclamou, mas disse que não sabia como dizer não para mim.

- Ele é honesto?

- Muito! Miguel é uma pessoa que você poderá confiar sempre nele. É da velha guarda.

- Se o senhor diz eu acredito.

- Sei que você tem certas restrições contra mim, mas verá que não sou tão mal assim.

- Não acho que seja uma pessoa má vovô!

- Realmente atualmente até que tenho me comportado e me contido, mas nem sempre fui bonzinho.

- O senhor foi uma pessoa má?

- Digamos que sempre defendi o que acreditei ser o correto e de certa forma puni os que achavam que mandavam nas pessoas e no mundo.

- Mundo?

- É! Nossa origem é da Itália.

- E o que o senhor fazia lá?

- Um dia lhe contarei isso. Tenha calma.

- Tudo em um dia né?

- É! Respondeu Gustavo.

 

Ficaram conversando e desconversando sobre vários assuntos até que Gustavo foi avisado que Miguel estava ali para vê-lo e mandou que ele entrasse. Entrou acompanhado por Rafael que permanecera do lado de fora com os outros dois.

 

Pedro levou um susto quando o viu entrando. Pela sua cabeça acho que seria um senhor de idade usando óculos, magrinho com cara de contador e o que via era um home tão grande quanto seu avô. Forte com feições enérgicas e outro com queixo de super-heróis das revistas em quadrinhos e o mais hilário foi vê-lo se aproximar de seu avô, parar diante dele como se estivesse perfilado e bater continência.

 

- Aqui estou eu atendendo ao seu chamado senhor!

- Porra Miguel! Isso de bater continência é coisa das antigas. Vem cá e me dê um abraço apertado como dão os velhos e bons amigos.

 

Miguel ainda titubeou antes de atender aquele pedido inusitado, pois Gustavo fora seu superior tanto nas batalhas que travaram e depois no controle daquela empresa que se tornou um imenso grupo empresarial.

 

- Tenho a liberdade para falar à vontade senhor?

- Deixa desta besteira de senhor e tem a liberdade para falar o que desejar e nem te pergunto a quanto tempo nos conhecemos porque tem um jovem aqui que iria dizer que somos muito velhos.

- Perdão jovem! Não tinha reparado em você.

- Sem problemas senhor!

- Lá vem isso de senhor de novo. Pergunte o que deseja meu querido amigo.

- Depois de uma eternidade comigo recluso em minha toca porque me chamou de volta?

- Porque preciso que ajude a cuidar do grupo enquanto treino meu neto para assumir.

- Neto! Tem um neto?

- É! Tenho e antes de ter um neto eu tive um filho.

- Filho! Como isso é ou foi possível?

- Te conto depois, mas poderia me ajudar a cuidar da empresa e do meu neto?

- Sabe que seu pedido é e sempre foi uma ordem para mim. Pode contar isso e se este jovem é seu neto ele também terá toda a minha determinação, garra e fidelidade.

- Sei disso velho amigo e precisamos conversar antes de qualquer coisa.

- Sou todo ouvidos!

- Assinaram meu filho, minha nora e a tripulação do jato!

- Me diga quem foi que eu mesmo vou lá e acabo com eles.

- Calma! Primeiro a empresa e a proteção de meu neto e depois pegaremos os culpados. Pode fazer isso?

- Claro que posso!

- Quando quer que eu comece a fazer isso?

- Agora mesmo se puder! Respondeu Gustavo feliz por ter ali o velho amigo.

- Então já estou pronto para ser empossado.

- Primeiro quero que conheça meu neto. O nome dele é Pedro Santilena Spallucci Spadonni, tem dezesseis anos e era filhos de Douglas Santilena Spallucci Spadonni meu filho e Eduarda Santilena Spallucci Spadonni minha nora.

- Muito prazer jovem! Meu nome é Miguel Zaracho Finazzi e estarei a partir de agora pronto para servi-lo assim como servi a seu avô por longos anos.

- Muito prazer senhor! Meu avô disse que o senhor era um bom amigo.

- Tentei ser durante estes anos que temos de convivência.

- Muito tempo?

- Mais do que você pensa jovem.

- Meu avô disse que antes de vir para cá eu tenho que fazer um treinamento lá na fazenda.

- A fazenda de Joanópolis?

- Lá mesmo!

- Fará o treinamento com o Rafael?

- Isso mesmo!

- Então se prepare porque o coronel Rafael vai exigir o máximo de você porque ele sabe que precisará estar acima dele no treinamento.

- Que tipo de treinamento?

- Saberá com certeza quando se apresentar a ele e boa sorte.

 

Gustavo cortou a conversa dos dois, pediu para que Pedro aguardasse um pouco na sala da secretária e mesmo não gostando saiu. Ao vê-lo sair Miguel perguntou como ele conseguira ter um filho e um neto e Gustavo lhe informou que foram por causa de anos e anos de pesquisas e que ele mesmo serviu de cobaia final.

 

- Não tem mais rompantes como tinha antes?

- Consigo controlar isso agora.

- E pode me fornecer isso de controlar também?

- Posso sim!

- Desde quando consegue controlar os rompantes?

- Efetivamente a treze anos, mas hoje tive que soltar a fera para um bom propósito

- Pode contar comigo então.

 

Gustavo conversou ainda mais um pouco com Miguel e depois de ter tratado de assuntos pessoais e da empresa voltou a chamar Pedro na sala da presidência assim como chamou também Cibele porque queria saber até onde ela sabia das falcatruas de Mário.

 

- Mandou me chamar senhor! Perguntou Cibele preocupada.

- Sim! Sente-se por favor.

- Eu não sabia de nada!

- Calma! Você sabe quem sou eu?

- Sei sim senhor! É o pai do doutor Douglas.

- Isso mesmo e sabe quem é este jovem aqui? Perguntou apontando Pedro.

- Não o conhecia pessoalmente, mas acredito que seja o filho do doutor Douglas.

- O nome dele é Pedro e ele é o herdeiro de todo o grupo, mas o assunto pelo que te chamei aqui foi porque deve ser ainda a única aqui na empresa que sabe da morte de meu filho a não ser que já tenha espalhado a notícia.

- Não contei nada senhor e saiba, antes que me pergunte que eu não sabia de nada do que Mário tramou ou tinha tramado.

- De que não sabia e que não teve participação nisso eu tenho certeza que não.

- Tem?

- Tenho, mas me diga, era amante de Mário a quanto tempo?

- Não vou mentir e nem enrolar. Mantinha uma relação com ele a quase dois anos.

- Era só sexual ou tinha algo mais alguma coisa?

- Era apenas sexual e nem sei porque era ou porque eu comecei a fazer isso.

- Seria por acaso assunto financeiro ou tinha algo mais?

- Bem, ele começou a me assediar e me ofereceu algumas vantagens financeiras e como eu moro só com meu filho e as coisas estavam difícil acabei cedendo.

- O que sabe a respeito de golpes dele dentro da empresa?

- Golpes?

- Sim! Desvios de dinheiro e coisas deste tipo.

- Ele era muito amigo do doutor Douglas e se ele desviava dinheiro eu juro que não sabia.

- Tudo bem! Pode voltar para a sua sala.

- Vai me mandar embora?

- Por hora não, mas vamos resolver isso agora mesmo. Pode se retirar.

 

Cilene saiu sob os olhares de Pedro, Gustavo e Miguel e só voltaram a falar algo quando ela ultrapassou a porta e a fechou.

 

- O que achou Miguel?

- Devo admitir que Mário era um crápula, mas ele tinha bom gosto porque ela é uma bela fêmea.

- Não estava falando dela ser uma bela fêmea e sim do que ela disse. Respondeu Gustavo dando um leve sorriso.

- Não diga que não achou também?

- Posso falar vovô?

- Pode sim!

- Apesar da dor que estou sentindo pela morte de meus pais eu acredito nela.

- Eu também acredito nela afinal não vimos e ouvimos tudo o que ela disse quando Mário falou com ela e saiba que apesar de eu estar querendo ser forte estou sentindo a mesma dor que você quando aos seus pais. Gostava demais de seu pai e também muito de sua mãe que sempre me tratou bem.

- Quer saber a minha opinião? Perguntou Miguel.

- Claro que sim! Diga o que achou.

- A moça estava apavorada, mas mesmo estando se abriu logo tendo a certeza de que seria demitida e sabe que eu consigo captar a verdade ou mentira nas palavras e acredito na sinceridade dela e nas suas palavras.

- A mandariam embora? Perguntou Gustavo para os dois.

- Eu não mandaria! Respondeu Pedro.

- Tampouco eu! Vamos mantê-la na empresa e ficar de olho para ter a certeza de que ela falou a verdade.

- Então assim será feito. Ela permanecerá no seu posto que é o de ser sua secretária.

- Minha!

- Sim! Afinal você está assumindo a função que era do canalha do Mário, mas não ouse nada com ela porque eu não concordaria com isso. Fui claro?

- Claríssimo senhor! Respondeu Miguel.

- Agora será a hora mais difícil. Teremos que comunicar aos funcionários daqui bem como todos do grupo sobre o falecimento criminoso de meu filho, Eduarda e da tripulação da aeronave.

- Vai comunicar a empresa também vovô?

- Vamos e você e Miguel estarão presentes, afinal, mesmo que por enquanto eu mantenha a direção da empresa quero comunicar que estará em treinamento para assumir a presidência em tempo oportuno. Concorda?

- Apesar de achar que não tenho capacidade para o cargo, mas se o senhor me acha capaz e merecedor eu concordo.

- Não só acredito que tenha capacidade bem como quero lhe lembrar que é o herdeiro de tudo isso aqui e não estará sozinho e poderá contar com o meu apoio e o de Miguel. Agora vamos chamar Gabriela para lhe informar sobre a tragédia.

 

Cinco meses se passaram desde o trágico falecimento de Douglas, Eduarda e os tripulantes da aeronave. Gustavo cheio de saudades de seu canto em Joanópolis cidade que distava em torno de cento e vinte quilômetros da capital paulista cuidava com braço forte da presidência de todo o grupo tendo o apoio de Miguel seu fiel amigo e via que Pedro tinha tino para cuidar das coisas assim que ficasse maior de idade.

 

- Vovô não conheço direito a fazenda que mora.

- Vai adorar a fazenda e a cidade meu filho!

- Meu pai sempre dizia que ia me levar lá, mas sempre tinha alguma coisa que o impediu de fazer isso. Como que é lá?

- A fazenda ou a cidade?

- Os dois!

- Joanópolis é uma cidade pequena. Tem pouco mais de treze mil habitantes, mas é uma cidade que leva centenas ou milhares de turistas para lá.

- Ouvi dizer que lá é a terra de lobisomens. É verdade isso?

- As pessoas dizem muitas coisas!

- Então é mentira que lá é a terra dos lobisomens?

- Não vou dizer que é verdade ou mentira. Há muitos habitantes na cidade que alegam já ter visto lobisomens por lá, mas se realmente eles existem são discretos e não são de causar mortes ou ataques a humanos.

- Eles são violentos?

- A lenda disse que alguns seriam, mas sabe como que é isso de lenda. Tem muitos exageros, porém, lhe garanto que lá na fazenda e na cidade você poderá ficar sossegado porque acho que eles, se existirem, tem medo de mim. Respondeu Gustavo.

- Porquê de você vovô?

- Lenda é lenda filho e estou me valorizando um pouco.

- Ah tá! Entendi. Quando quer ir para lá?

- Por mim iria agora, mas vamos programar tudo para irmos no final deste mês.

- Tudo bem!

- Quer mesmo ir para lá?

- Não sei se irei curtir bem a cidade porque é pequena, mas estou ansioso para ver o que é este treinamento que me prometeu.

- Gosta de esportes?

- Gosto!

- Pois é! Neste treinamento fará muita ginástica, vai sofrer, mas ficará bem.

- Sofrer!

- Claro! Treinamento exige o máximo de cada um e te garanto que Rafael sabe explorar os limites de quem ele quer deixar preparado para tudo.

- Tudo o que?

- Saberá a seu tempo. Aguarde e verá.

 

A previsão de alguns dias acabou passando batido e somente no final do ano foi que Gustavo chamou Pedro para lhe comunicar que dia vinte e dois de dezembro é que eles poderiam ir e isso após a festa de confraternização que a empresa sempre fazia e que fora uma tradição criada desde que Gustavo possuía apenas um hotel. Passariam o natal na fazenda.

 

Dias se passaram assim como passou a confraternização onde Pedro foi devidamente apresentado para vários funcionários de vários representantes de cada uma das unidades que possuíam e precisamente no dia vinte e três logo pela manhã saíram da capital e rumaram para Joanópolis que apesar de ser perto demorou pouco mais do que previsto devido à chuva que caía torrencialmente na capital e durante todo o percurso na rodovia Fernão Dias e a viagem que levava em torno de uma hora naquele dia chegou a quase duas e meia.

 

A rodovia Fernão Dias como sempre estava congestionada devido à proximidade do natal e devido à forte chuva fez com que Jonas dirigir com mais cuidado. Chegaram até o entroncamento e Jonas com toda a atenção do mundo saiu e pegou a SP-036 ou mais conhecida como a rodovia Entre Serras e Águas.

 

- Tem pastel ali vovô?

- Tem sim! Um dos melhores pastéis do estado. Depois você poderá vir confirmar isso.

 

Finalmente chegaram ao portal da cidade e Pedro estranhou por ver a neblina que estava fazendo e não sabia ele se era por causa da chuva ou se era normal aquela nevoa toda.

  

- Aqui é sempre assim vovô?

- Fala da neblina?

- Sim!

- Não! Geralmente não, mas deve ser por causa da chuva, mas fique tranquilo que estamos chegando.

 

De fato, passando o portal e cruzando a pequena cidade saíram por uma via secundária e de repente avistaram a bela e imensa propriedade no alto de um morro. Ali estava o reduto onde Gustavo se refugiara por longos anos e onde ele chamava de toca.

 

Jonas cuidadosamente percorreu os poucos metros que separavam a área plana até atingir o platô e finalmente estacionou o veículo debaixo de uma cobertura que dava acesso à entrada principal daquela imensa residência. Desceram assim como desceu também do outro automóvel Elenice a qual Pedro fez questão de leva-la com eles.

 

- Nossa! Como é grande isso aqui. Disse Elenice.

- Não se preocupe senhora, porque temos pessoas que cuidam da limpeza de tudo por aqui. Disse Gustavo.

- Não reclamei quando a limpeza senhor, mas sim que é grande e bela.

- A senhora conhecerá tudo nos próximos dias. Agora vamos entrar porque estou com saudades de minha querida morada e também porque parece que está chuva ainda irá demorar para parar.

 

Entraram na casa sede da fazenda e após ultrapassarem os umbrais da imensa porta de carvalho se depararam com um amplo hall e as dependências da casa praticamente ficavam no mesmo plano, mas para surpresa de Pedro havia uma escada que levava ao plano inferior onde havia uma intensa sala que deveria ser usado, ou ter sido usado para festa ou reuniões no passado. Dela, da parte baixa se saia para um belo jardim onde ficava a enorme piscina.

  

O que chamou a atenção de Pedro foi que além da casa sede ser toda avarandada ela também era toda cheia de janelas espelhadas e nem ousou perguntar para seu avô o porquê daquilo. Queria ver mais, mas a chuva ficava mais intensa a casa minuto que passava e soube que teria que esperar até o dia seguinte chegar para poder colocar os pés e a cara para fora.

 

- Devem estar com fome, não? Perguntou Gustavo.

- Um pouco! Respondeu Pedro.

- Gosta de faisão?

- Não sei! Nunca comi isso antes.

- É do tipo de carne de frango, porém mais nobre, mas também temos feijão de dois, arroz carreteiro, maionese sem cebola e também se gostar teremos javali. Já degustou da iguaria?

- Nunca! Tem gosto de que?

- Ela tem, digamos o gosto de carne de porco. Tenho certeza que irá adorar.

- Pelo que vejo o senhor gosta de comidas exóticas.

- A muito tempo, mas muito tempo mesmo, estas duas carnes eram as preferidas dos lordes do velho mundo e na Itália, terra mãe de nossa origem nossas terras ficavam no noroeste do país, quase na divisa do que hoje é a Croácia e a Eslovênia. Lá eram ainda mais apreciadas, mas não me pergunte porque, porém, sei que se provar vai gostar muito.

- Quem trabalha aqui com o senhor vovô? Não vi ninguém desde que chegamos.

- Um momento, foi falha minha. Um momento por favor.

 

Gustavo se afastou e puxou uma espécie de corda e rapidamente surgiram algumas pessoas, todas uniformizadas diante deles.

 

- Pronto! Temos aqui as cozinheiras, ajudantes, arrumadeiras, passadeiras e auxiliares. Senhores e senhoras este é meu neto Pedro que é meu herdeiro e meu protegido. Quero que cuidem dele como se estivessem cuidando de mim. Também trouxe comigo a governanta que ele insistiu em trazer porque cuida dele desde que era ainda um bebê e também Jonas o motorista e vou deixar claro que todos eles estão sob a minha proteção. Portanto, sirvam-nos com respeito e dedicação. Fui claro?

 

Todos assentiram que haviam entendido e depois se retiraram, mas não sem que Pedro reparasse que todos usavam uniformes diferenciados por função e ia perguntar isso para seu avô, mas temendo que ele não gostasse preferiu se calar. Já a discreta Elenice nem ousou comentar nada por conhecer Gustavo a muitos anos.

 

- Tenho muito que lhe mostrar aqui na fazenda e também na cidade, mas para isso, fora daqui da casa sede só depois que esta chuva passar, mas agora vamos almoçar porque sei que estão com fome.

 

Almoçaram e tanto Pedro quanto Elenice adoraram as iguarias servidas e que eles nunca haviam comido até então e após terminarem de almoçar comentaram isso com Gustavo que sorriu feliz por ouvi-los.

 

- Pedro! Amanhã teremos aqui a confraternização de natal e a maioria dos funcionários daqui virão para a festa e poderá conhece-los e eles a você.

- Ficarei honrado em poder conhece-los também vovô.

- Você está bem?

- Estou sim vovô, porque pergunta?

- Sei que não está bem e não tente me enganar. Sei ver bem em seus olhos isso.

- É que não aceitei e nem aceito ficar parado a espera de que sejam localizados os assassinos de meus pais.

- Sei como se sente, mas tenho várias pessoas buscando respostas e pode ter certeza de que eu as encontrarei bem como aos culpados.

- Meus pais eram pessoas do bem. Nunca fizeram mal a quem quer que fosse e sinceramente não acredito naquilo no que Mário disse.

- Acredita que eles foram assassinados porquê? Seja franco comigo.

- Aquilo que Mário tentou mostrar de que era por interesse de alguns e que ele seria beneficiado não está encaixando direito.

- E?

- Acredito de verdade que tem mais coisas por trás disso. Algo sinistro ou maléfico.

- Como o que por exemplo?

- Não sei dizer vovô! Meu sexto sentido diz que seria tipo algo como vingança, retaliação ou algo assim.

- Pensa isso mesmo?

- Sim, mas eles eram pessoas do bem e é aí que não encaixa.

- Não tinha pensado por este lado de retaliação, mas é uma hipótese que não se pode descartar, afinal mataram os dois, seu pai e sua mãe.

- A dor é forte e tento ser mais forte que ela, mas está difícil vovô.

- Sei que é, mas vamos tentar nos fortalecer porque eu prometo que encontrarei os culpados e não deixarei que eles saiam ilesos do que fizeram. Agora vou te mostrar toda a propriedade já que não dá para ir lá fora.

 

Gustavo pediu para que Elenice repousasse e levou Pedro para conhecem pelo menos a casa sede da fazenda a qual era muito maior do que ele imaginava. Era composta de várias suítes completas com closet, toalete também completo inclusive com banheira de hidro espaçosas. Havia também salas íntimas, de TV, biblioteca e estúdio de som. Todo aquele imenso andar era harmoniosamente bem decorado apesar do estilo rústico. Após isso desceram a escada para o andar inferior onde continha um enorme salão todo envidraçado onde continham quatro portas que levavam para o jardim que não dava para enxergar direito.

 

- Lá fora há um imenso jardim que amanhã se a chuva parar serão colocadas mesas e cadeiras para que as pessoas se acomodem e se a chuva não parar iremos espremer um pouco e tentar colocar todos dentro deste salão que hoje está vazio.

 

Pedro ia perguntar onde que guardavam as mesas e cadeiras, mas preferiu se calar e esperar para saber depois e seu avô continuou lhe dando explicações sobre o que havia por ali.

 

- Aqui fora, do outro lado da casa por onde entramos há uma área que pertence à parte técnica e que dá acesso para o laboratório onde vários cientistas trabalham para desenvolver algumas coisas.

- Que tipo de coisa vovô?

- Saberá ao seu tempo. Só tenha paciência.

- Não tenho muita paciência, mas saberei esperar. Respondeu Pedro.

 

Gustavo deu um sorriso interno, pois aquele jovem parecia ter herdado de si o seu jeito de ser e ao ouvi-lo dizer que não tinha paciência era ele escrito. Também era uma pessoa que não gostava de esperar as coisas acontecerem e no caso de seus pais, depois do que Pedro lhe falara ficou pensando que poderiam ser retaliação contra si mesmo e tentou se lembrar de quem sobrara para ter este tipo de sentimento consigo.

 

De novo Pedro foi até a imensa vidraça da sala de estar e olhando para fora viu que a chuva não demonstrava que ia parar tão cedo e de fato isso não aconteceu até a hora em que se recolheu para dormir, mas não antes de ouvir seu avô dizer que se ele ouvisse barulho de noite tipo uivados não era para ele se preocupar que a fazenda era protegida e que tal fato poderia ser coisa de lobisomens.

 

- Tem lobisomens aqui mesmo vovô?

- Dizem que tem, mas deve ser só lenda e isso dá fama para a cidade. Agora vá se deitar. Boa noite meu filho. Disse Gustavo cortando a conversa e deixando Pedro na porta de seu quarto.

 

Ao contrário da imensa tempestade que caiu na tarde e noite anterior o dia começou com um sol impressionante. Grande e radioso era assim que se mostrava a quem quisesse admirá-lo e Pedro surpreendentemente acordou antes dele dar o ar da graça e pode ver da janela de sua suíte a plenitude com a qual ele raiou.

 

Levantou-se, tomou banho, se trocou vestindo uma roupa mais confortável e saiu do quarto. Tudo estava em silencio naquele imenso corredor onde ficavam as suítes, doze no total e caminhou até chegar na sala.

 

- Bom dia senhor Pedro! Cumprimentou uma jovem senhora que arrumava a sala.

- Bom dia!

- O senhor quer tomar café aqui na sala, ir tomar na copa ou quer que eu o leve em seu quarto?

- Meu avô já acordou?

- Já sim senhor! Acordou e saiu cedo.

- Nossa! Já saiu?

- Já! Onde o senhor prefere tomar café aqui na sala, ir tomar na copa ou quer que eu o leve em seu quarto?

- Qual é o seu nome?

- Vilma! Vilma Rigolli senhor.

- Meu avô já tomou café?

- Tomou antes de sair!

- Sabe onde ele foi?

- Sim! Foi para o laboratório no prédio ao lado.

- Então vou tomar café na copa e depois vou para lá!

- Me acompanhe, por favor! Pediu Vilma

 

Pedro ia acompanhar Vilma até a copa quando viu Elenice vindo pelo corredor. Esperou-a e depois foram juntos para a copa onde se sentaram sob os olhares estranhos dos funcionários de seu avô. Serviram-lhes alimentos até os que não queriam e Elenice comentou sorrindo que parecia que queriam engordar os porcos para os comerem mais a noite.

 

Pedro riu e ia levar Elenice consigo, mas Vilma se aproximou e informou que seu avô não gostava de estranhos lá e mesmo tendo dito que ela não era estranha com voz ríspida disse que ela não poderia ir lá onde estava o patrão.

 

- Prestem atenção! Vou deixa-la aqui, mas saibam que mesmo ainda sendo novo sou um Santilena Spallucci Spadonni e se ela reclamar de algo aí não será meu avô quem irá resolver o assunto. Fui claro?

- Foi sim senhor! Respondeu Vilma encolhendo de medo pelo tom de voz de Pedro.

 

Pedro saiu e atravessou o pátio enquanto Elenice sorria internamento vendo que ele estava assumindo a rigidez do seu avô e na verdade, adorou que ele tivesse dito aquilo porque estava com medo daquelas pessoas dali.

 

Já no pátio Pedro chegou a outra construção e esta era o oposto da casa sede. Paredes altas, sem janelas e com apenas uma porta de aço que constatou ser bem resistente pelo que viu. Diante dela que estava fechada um segurança armado e de uniforme perguntou se ele estava perdido por ali.

 

- Acredito que eu não esteja perdido!

- E faz o que aqui?

- Vim conhecer as dependências!

- Ah só isso?

- Não! Também vim encontrar com meu avô!

- Que avô? Perguntou o segurança já se irritando.

- Ah! Não sabe quem sou eu?

- Não e eu deveria saber?

- Desculpe! Vou me apresentar. Sou Pedro Santilena Spallucci Spadonni, neto e único parente vivo e herdeiro de Gustavo Santilena Spallucci Spadonni. Conhece ele?

- É o neto do doutor Gustavo?

- Sou e se tem dúvida pergunte para ele para ter certeza.

 

Nem precisou dizer nada. No mesmo instante a imensa porta foi aberta e outro segurança usando o mesmo tipo de uniforme, porém, de tom diferente o atendeu cordialmente.

 

- O senhor que é o neto do senhor Gustavo?

- Ele mesmo!

- Ele nos falou do senhor e que deveríamos recebe-lo com atenção quando viesse aqui.

- Parece que o segurança lá de fora não entendeu bem o recado.

- Perdoe-o! Ele entrou no turno agora a pouco e foi falha minha comunica-lo. A propósito meu nome é Agnelo Santinni e sou o encarregado.

- Sou Pedro Santilena Spallucci Spadonni como deve saber.

- Foi isso mesmo que ele comunicou quando entrou aqui logo cedo.

- Me diga uma coisa Agnelo! Todos aqui têm sobrenomes italianos?

- Nem todos! Temos também eslovenos, croatas, bósnios e austríacos, mas a maioria italianos.

- Não tem brasileiros?

- Digamos que eles não se entenderiam bem com o senhor Gustavo. Me acompanhe por favor.

 

Pedro e se surpreendeu ao entrar no local. Estava diante de um imenso espaço todo revestido de um tipo de piso que nunca vira antes e as paredes eram de outro também desconhecidos. Parecia ser uma mistura de granito com mármore, mas que também se assemelhava a algo do tipo de ardósia.

 

Vendo pelo lado de fora acreditou que fosse um prédio quadrado, porém, vendo por dentro descobriu que era arredondado e tinha um pé direito em torno de cinco a seis metros e haviam doze seguranças ali usando uniforme diferente do que usava o do lado de fora e também do que usava Agnelo e não entendeu nada da finalidade de um imenso salão sem portas e janelas.

 

- Achei que fosse aqui o laboratório! Comentou Pedro.

- Na verdade jovem senhor, não é laboratório, mas sim um centro de pesquisas, mas o que está vendo aqui neste local?

- Além destes doze seguranças notei que há uma pequena luz esverdeada atrás deles como se fossem algum tipo de botões, mas não entendi do porquê de botões por estarem em paredes íngremes.

- Um momento! Conseguiu ver as luzes esverdeadas na parede?

- Sim! Porque?

- Realmente é o neto do senhor Gustavo, pois nem seu pai quando veio aqui notou-as.

- E o que isso tem a ver?

- É que o senhor tem com certeza a sensibilidade de um lobo para notar detalhes imperceptíveis para os mortais normal.

- Mortais?

- Ah desculpe! Foi forma de falar.

- Tudo bem, mas onde está meu avô?

- Venha comigo!

 

Agnelo levou Pedro até o segurança mais perto e pediu para que ele apertasse a luz que estava vendo e de repente a parede se abriu dando acesso a um elevador. Entraram e Agnelo apertou um dos botões. A porta se fechou e começaram a descer.

 

- Apertou o vinte e sete?

- Sim!

- Porque vinte e sete?

- Porque é o andar onde seu avô está.

- Você quer me dizer que tem vinte e sete andares abaixo?

- Não!

- Ah bom!

- Não são vinte e sete e sim sessenta e dois andares.

- Está brincando né?

- Não!

 

Pedro ia dizer algo quando ele parou e uma voz feminina disse que estavam no andar correspondente ao apertado.

 

- Não acredito que aqui tenha vinte e sete andares! Disse Pedro em voz baixa.

- Está enganado! Não são só vinte e sete andares e sim sessenta e dois andares. Corrigiu Agnello.

- Ah! Eu estava só divagando aqui. Disse Pedro.

 

A porta se abriu e o que Pedro viu ali era algo inimaginável. Ali, naquele andar a formatação do andar deixava de ser arredondada para se tornar retangular. Era imenso. Desceram em um bem estruturado andar com um hall amplo.

 

Nele descortinava-se seis corredores e todos convergiam até aquele ponto onde ele estava e todos possuíam amplas portas de vidro por onde deslizavam pessoas e carrinhos motorizados carregando coisas e sabe-se lá que coisas continham dentro daquelas caixas metálicas e Pedro ia curiosamente perguntar o que teria naquelas caixas quando avisado seu avô chegou até ele.

 

- Bom dia Pedro! Dormiu bem?

- Dormi sim vovô e achei que ia tomar café com você, mas acordou antes de mim.

- Eu acordo todos os dias mais cedo que as galinhas. Respondeu Gustavo sorrindo.

- Percebi!

- Teve algum problema lá em cima?

- Senhor! Quero me desculpar, mas por algum contratempo Igor não foi avisado

- Como assim? Ele te hostilizou meu filho?

- Não vovô, tudo de boa. Sem problemas. Cortou o assunto.

- Senhor! Quero lhe comunicar que entrei com ele na sala oval e seu neto detectou os doze seguranças e os sinais na parede.

- Como assim? Detectou as luzes na parede?

- Sim senhor!

- Como pode?

- Não sei dizer senhor!

- Algum problema vovô?

- Não, mas quero que me acompanhe a um lugar antes de te mostrar as coisas aqui.

- Aqui realmente é o vigésimo sétimo andar negativo?

- É sim e gostei do negativo.

- Está para baixo então é menos vinte e sete, não é?

- Sim é! Tem lógica a sua colocação.

- Vovô! Agnelo que disse que são sessenta e dois andares abaixo do nível da terra. É isso mesmo?

- Foi e é por isso que temos sessenta e dois hotéis na rede hoteleira de nosso complexo empresarial.

- Caramba!

- Venha comigo que quero ver algumas coisas em você.

 

Pedro acompanhou seu avô pelo corredor daquela área do complexo de pesquisas e depois de passar por divisórias onde pode ver várias pessoas entretidas em pesquisas chegaram a uma porta e entraram. Lá se encontrava uma jovem que não deveria ter mais que trinta anos que olhou para Pedro com curiosidade.

 

- Doutora Rebeka Dickson! Este é o meu neto Pedro.

- Então este é o jovem que estão comentando?

- Comentando para o bem ou para o mal? Perguntou Pedro.

- Comentando sobre curiosidade!

- Curiosidade sobre o que?

- Doutora! Quero fazer uns testes no meu neto. É possível isso? Cortou Gustavo.

- Claro senhor!

- Ele conseguiu enxergar as luzes do defletor P54 lá da sala oval.

- Ele não é um mortal?

- É! Respondeu Gustavo.

- Impossível isso!

- Eu também achei, mas pode fazer os testes e exames nele?

- Posso! Claro que posso! Apressou-se em dizer Rebeka.

- Ei vocês dois! Querem me fazer de cobaia? E que conversa é esta de mortal ou não?

- Ninguém quer te fazer de cobaia filho! Fique tranquilo.

- Não estou gostando nada disso!

- Calma Pedro! Não é nada de anormal.

- Tudo bem! Respondeu ele.

 

Rebeka pediu para que ele tirasse a camiseta que estava usando e admirou-se por seu porte físico. Alto e deveria ter mais de um metro e oitenta, portanto alto para um garoto, tórax forte e em formato de um V, musculoso, olhar altivo e resumidamente lembrava e muito seu avô Gustavo.

 

- Pode parar de olhar para o corpo dele doutora e fazer o que te pedi?

- Ah tá senhor! Claro. Respondeu Rebeka sem jeito.

- Não se preocupe que vovô é meio ranzinza mesmo. Disse Pedro fazendo até Gustavo sorrir.

 

Rebeka fez vários testes e exames que levaram mais de uma hora e quando terminou pediu que ele se vestisse a camiseta e que aguardasse ali mesmo na antessala que continha sofá, revista e TV. Gustavo ficou lá dentro da sala acompanhando tudo e quando Rebeka terminou os dois, ela e Gustavo estavam surpresos com os resultados.

 

- Ele é humano ou não doutora?

- É! Posso afirmar que em noventa e nove virgula nove ele é mortalíssimo.

- Então como pode?

- Seu filho sei que era cem por cento humano e a esposa dele, ela era humana também?

- Era!

- Honestamente senhor não sei explicar a não ser que ele tenha puxado isso do senhor.

- E isso seria possível?

- Não é normal, mas pode ou poderia acontecer.

- Mas como? Você disse que isso seria impossível a anos atrás.

- Me perdoe senhor, mas o que eu disse era que a chance de acontecer algum distúrbio era uma em um bilhão.

- A sua esposa era mortal, não era?

- Era sim!

- Seu filho sei que era mortal porque eu mesmo fiz os exames nele e segundo o senhor a esposa dele também era cem por cento mortal, daí a única possibilidade é que isso ele tenha puxado do senhor, pois não há outra forma de acontecer.

- Tem certeza de que eu estou cem por cento restaurado?

- Disso tenho certeza tanto quando tenho de que eu e centenas aqui do centro de pesquisa também estamos. O que acontece neste caso é que paramos na idade em que estávamos aparentemente e nos restauramos e aquele desejo louco se conteve apesar de ainda estar dentro de nós. Desta forma, também tenho que ressaltar que a força que tínhamos antes do tratamento permanece e rejuvenesce.

- Imortais então?

- Já lhe disse isso a anos atrás senhor, mas vou repetir. Vida eterna não, o que temos é uma expansão de muitos anos a mais que pode variar de vinte a duzentos anos por exemplo.

- Sei que me disse! Só estava querendo ouvir de novo, mas no caso de meu neto o que me diz?

- Ele irá fazer o treinamento com o Rafael?

- Irá e começará segunda feira.

- Peça para que Rafael force a barra com ele principalmente no quesito de força física e veja o quanto ele suporta.

- Farei isso, obrigado!

- Não tem de que!

- E tire os olhos dele porque ele literalmente é um feto perto de nossa idade.

- Só achei ele bonitinho doutor! Nada mais que isso.

- Sei! Conheço bem os olhares que deu para ele. Respondeu Gustavo rindo e saindo.

 

Saiu da sala de Rebeka e chamando Pedro saíram do local. Gustavo estava cada vez mais surpreso com seu neto e resolveu lhe mostrar todo o complexo. Já Rebeka assim que viu eles saindo ficou olhando para aquele espetáculo de homem ainda um garoto e suspirou fundo.

 

- Nem me atrevo a tentar algo com ele, pois se o fizesse iria despertar a ira de Gustavo.

 

O dia transcorreu tranquilamente e no final do dia, já quase noite eles voltaram para a casa sede e Pedro estava impressionado com o que vira e que deveria permanecer em segredo. No dia seguinte houve a confraternização do pessoal da fazenda e Pedro ficou surpreso com quantidade de pessoas que ali estavam presentes.

 

- Pedro quero te apresentar algumas pessoas! Venha comigo.

- Eles sabem o que o senhor faz aqui?

- Nem de longe e nem podem saber!

- Diz que faz o que aqui?

- Nesta fazenda temos cinco milhões, quinhentos e sessenta mil metros quadrados e temos aqui cento e cinqüenta mil cabeças de gado. Além disso temos também aqui na mesma área espaços onde criamos faisões, javalis, avestruzes, galinhas, patos, marrecos e outros animais que depois lhe explicarei para que.

- Sempre depois não é vovô?

- Tem que ter calma filho, mas me diga, você tem namorada?

- Sou muito novo para ter uma namorada, me apaixonar, ficar preso a um sentimento que nem sei se levaria a algum lugar. Quando acontecer quero me apaixonar de verdade e tentar viver para esta pessoa e ela para mim. Enfim um amor intenso igual a de meus pais.

- Que bom que pense assim e de você nem saber nada de amor meu filho, pois saiba que ele quando vem e acontece faz a nossa barriga tremer, o coração querer sair pela boca, nos faz levitar, perder a respiração, querer a todo instante estar do lado da pessoa amada. É uma enxurrada de sentimentos que nem sabemos se é bom ou ruim, pois queremos apenas estar do lado dela, da pessoa amada.

- Nossa! Já se apaixonou assim?

- Já! Quando conheci sua avó, já estando em idade adulta, na verdade bem adulta eu senti por um instante que para tê-la ao meu lado teria que mudar tudo em minha vida e por amor a ela eu realmente mudei toda a minha vida e minha essência, mas isso também te contarei em outra ocasião. Agora vamos cumprimentar as pessoas que aqui estão.

 

Atravessaram toda aquela multidão e Pedro pode ver que seu avô agia cordialmente com eles cumprimentando e dando a mão para cada um dos convidados e lhe apresentando a cada um deles que correspondia da mesma forma que seu avô e duas pessoas estavam de olho nisso, Elenice e Rebeka. Elenice satisfeita por ter colaborado ao menos um pouco no que estava presenciando e Rebeka olhando de uma forma especial. Após cumprimentar a todos Gustavo subiu em um pequeno palco improvisado onde logo uma banda estaria tocando e cantando e oficialmente repetiu as apresentações

 

 - Prezadas senhoras e senhores! Quero pedir um momento de vossas atenções. Apesar de já estarem sabendo quero oficialmente apresentar meu neto que é meu único parente vivo, meu herdeiro e sucessor em tudo que pertence ao grupo SSS. Aqui está o único e último da linhagem de minha família até o momento Pedro Santilena Spallucci Spadonni meu querido e amado neto e peço a cada um de vocês que os respeite e também a senhora Elenice Vieira Queirós que é quem cuida dele desde que nasceu a dezesseis anos de nossa época atual e quando eu disse respeitá-los quero que saibam que eles estão sob a minha proteção e espero que isso fique bem claro entre todos. Agora podem continuar na festa porque a mesma nem começou ainda. Obrigado.

 

Fez o discurso, olhou para todos olhando para ver se alguém não tinha entendido e desceu do palco onde uma banda subiu e começou a tocar com o vocalista soltando o som de sua voz. Olhou para Elenice que com certeza deveria saber de sua vida, mas que sempre fora discreta e reparando que ela estava aliviada levou Pedro até o lado superior esquerdo e mostrou para ele um lago que ele pretendia criar peixes e fazer um jardim estilo japonês que prometera para a sua mãe.

  

- Obrigado vovô por suas palavras, mas o que eu ia te perguntar nem o farei porque irá me dizer que depois me dirá, portanto nem irei te cobrar. Pelo menos hoje não mais. Disse sorrindo.

- Fico feliz em poder te ver sorrindo meu filho. Saiba que seu pai sempre foi fechado comigo e hoje vendo-o reconheço que a estranheza dele sempre foi culpa minha e não sossegarei enquanto não acertar as contas com quem o tirou de nós, mas agra vamos comemorar, porém, tome cuidado com a Rebeka porque ela está de olho em você.

- Fica tranquilo vovô! Ela é bem, digamos atraente em todos os sentidos, mas apesar de tudo eu quero me manter quietinho.

- Te agradeço por isso e saiba que dentro daquele belo corpo de mulher tem uma loba faminta adormecida. Falou Gustavo sem querer.

- Loba é! Estou fora disso. Respondeu Pedro tornando a sorrir.

 

As horas passaram, comemoraram o jantar, depois a noite veio e foi embora e chegou a hora do almoço natal onde se alimentaram com mais quitutes do que na noite anterior e assim o dia se foi e a noite ao se deitar Pedro ficou pensando nos seus pais e de como ele adoraria estar ali junto deles naquele momento tão bom como fora com seu avô e pensando neles acabou pegando no sono e a noite se foi iniciando outro belo dia com o sol batendo cedo na janela.

 

Pedro abriu os olhos e olhou para o celular. Nele marcava doze minutos para as cinco da manhã e resolveu levantar-se. Dormira pouco tempo aquela noite, mas o pouco se tornou muito devido à vontade que tinha dentro de si para saber o que seria o treinamento que o aguardava.

 

Levantou-se, tomou banho e vestiu uma roupa de treinamento que seu avô lhe havia entregue. Arrumou-se direito e saiu do quarto onde estava ao mesmo tempo em que seu avô saía do dele.

 

- Bom dia meu filho!

- Bom dia vovô!

- Preparado para o dia de hoje?

- Estou mais que preparado. Estou ansioso.

- Isso é bom, mas tenha calma nas coisas e saiba que Rafael irá exigir o máximo de você.

- Estou preparado para isso também.

- Bom saber e estarei lá por alguns momentos para vê-lo antes de ir cuidar das coisas da fazenda. Agora vamos tomar um leve café e recomendo que não coma coisas pesadas.

 

Desceram e a mesa que Pedro viu à sua frente era algo que só vira em hotéis quando viajara com seus pais. Nela continha de tudo e ao lado discretamente haviam três serviçais para atendê-los.

 

Nem ia sentar para se alimentar, mas Gustavo fez questão que ele o fizesse e comesse alguma coisa para poder ter algo dentro do corpo antes de ser forçado a fim de não ter vertigens ou mal-estar.

 

Tomou suco de laranja após tomar uma xícara de café com leite e uma porção de ovo mexido e não quis mais nada. Estava ansioso e Gustavo não sabia se aquilo seria bom ou mal, mas deixou que ele fizesse o que desejasse. Saíram e foram para o prédio ao lado onde ficava o laboratório e lá naquela imensa sala ovalada e desta vez a luz que foi acionada era a lilás que ficava no lado oposto aquela que descera anteriormente.

 

- Aperte aí o andar dezenove, por favor! Pediu Gustavo.

 

Pedro apertou e rapidamente o elevador desceu e parou no andar indicado. Era imenso e neste ele pode sentir as proporções do mesmo. O pé direito era altíssimo. Deveria ter em torno de vinte metros e possuía de tudo inclusive um campo de futebol em tamanho natural, pista de corrida e tudo que é tipo de equipamentos para treinamento além de uma parede para ser escalada em vários graus.

 

- Caramba! Isso aqui é enorme.

- Não viu nada ainda filho! Agora vou deixá-lo aos cuidados de Rafael e só ficar um pouco.

- Bom dia senhores! Cumprimentou Rafael se aproximando.

- Bom dia! Responderam os dois.

- Preparado jovem?

- Estou sim!

- Quer que eu pegue leve ou que faça o treinamento que fazemos com os demais?

- Não quero que pegue leve! Respondeu Pedro.

- Com carinho ou é para pegar pesado?

- O mais pesado que desejar.

- Tem certeza disso?

- Absoluta! Respondeu Pedro.

- Se alimentou?

- Levemente, mas estou bem.

- Então vamos lá. Disse Rafael encerrando a conversa levando-o.

 

O que Gustavo viu inicialmente era algo que o deixou preocupado. Pedro não se acertava e Rafael forçava cada vez mais sendo duro com ele, mas não interveio. Queria saber até onde Pedro aguentaria e isso se seguiu até que Rafael acertou com cuidado as palavras.

 

- Melhor ir embora! Você não serve para isso e não honra o nome de seu avô.

 

Estas palavras foram suficientes para que Pedro caído no chão o olhasse e com uma faísca nunca vista antes se levantou e não só fez tudo que Rafael lhe propunha a fazer como o superou deixando ele e Gustavo de queixo caído.

 

Rafael forçou mais e mais sem que Pedro se incomodasse e em tudo superava as expectativas do professor fazendo com que Gustavo até se esquecesse do que ia fazer e assim seguiu-se sempre com Pedro levando vantagem sobre seu professor e quando mais o tempo e as horas passavam mais Gustavo ficava de olhos arregalados, pois só conhecia uma pessoa que superara Rafael em tudo que era ele mesmo.

 

Pedro parecia estar se divertindo com o mestre e quando sentiu que Rafael fraquejou ele o olhou e perguntou se ele queria uma folga para descansar e isso o revigorou fazendo-o arrancar energia do mais profundo do seu ser, mas de nada adiantou porque Pedro parecia uma máquina de guerra no corpo de um menino e quando finalmente Gustavo achou que já bastava interrompeu o que Pedro fora ali fazer.

 

- Podem parar! Chega por hoje.

- Já chega senhor? Perguntou Rafael.

- Vamos com calma! Por hoje chega.

- Por mim podemos continuar!

- Vamos dar uma pausa, pois estão aí desde as seis da manhã e já são seis da tarde.

- Tudo isso senhor?

- Tudo! Pedro aguarde um instante que tenho que falar com o Rafael em particular. Pediu Gustavo se afastando um pouco.

 

Se afastaram a uma distância que acreditavam estar longe da audição de Pedro.

 

- O que achou do garoto?

- Garoto senhor!

- É! O que achou?

- Ele não é um garoto! É uma máquina de guerra e só conheço um que me superou que foi o senhor.

- Vi que estava quase pedindo água! Disse Gustavo para Rafael.

- Água seria pouco! O garoto de fato é o senhor mais renovado.

- Ele só fez uma aula. Acha que está preparado?

- Não sei como ele se escondeu este tempo todo, mas parece que ele já nasceu pronto e se me permite dizer, quando o provoquei vi uma centelha em seus olhos que me surpreendeu.

- Que tipo de centelha?

- Era cintilante puxando para o lilás arroxeado.

- Era desta forma que a viu?

- Foi sim. Com certeza foi.

- Hum! Vamos encerrar por hoje. Agora vá se alimentar.

- Obrigado senhor! Disse Rafael saindo.

 

- Pronto! Disse Gustavo ao se aproximar de Pedro.

- Vovô! Me diga isso dá centelha puxando para o lilás arroxeado. O que é isso?

- O que sabe disso?

- Ouvi você falando isso com o Rafael.

- Você ouviu a conversa toda?

- Ouvi, porque?

- Como?

- Com as minhas orelhas oras!

- Sei que foi com as suas orelhas, mas sempre escuta assim?

- Não! Começou depois que ele me desafiou.

- Sentiu raiva, ódio, estas coisas?

- Não!

- Sentiu vontade de lhe arrancar o pescoço?

- Também não!

- Sentiu vontade de matá-lo?

- Credo! Não vovô.

- O que sentiu então?

- Um desejo imenso de fazer tudo certo e se desse superá-lo.

- Só isso?

- Só, porque? Eu tinha que sentir algo mais?

- Consegue ouvir meu coração?

- Sim!

- E o seu?

- Mais ainda e se quer saber também ouço o Rafael falando com outra pessoa que nunca imaginou que um garoto pudesse superá-lo.

- Está ouvindo isso também?

- Sim e o outro dizendo que acreditava que apenas o mestre poderia vencer o Rafael.

- Consegue ouvir mais alguma coisa?

- Sim! Muitas pessoas em vários lugares aqui perto de nós.

- Perto quanto?

- Não sei! Não medi.

- Engraçadinho! Respondeu Gustavo rindo.

- É sério!

- Sei que é! Vamos subir que com a fome que eu estou comeria um boi inteiro.

- Eu já me contento com frango assado. Respondeu Pedro sorrindo de leve.

 

Subiram e Pedro não se preocupou mais com aquilo e nem sabia do porquê, mas aquilo de ouvir as pessoas falando de longe desapareceram, mas não comentou nada disso com seu avô.

 

Por outro lado, acreditando que Pedro não conseguisse ler pensamentos pensava justamente na cor daquela fagulha e lembrou-se que uma vez seu avô lhe disse quando ainda era uma criança que aquela cor representaria a cor de um mega alfa, o supremo.

 

Aquilo deixou Gustavo preocupado, não por ter alguém poderoso desta forma, mas sim por ser apenas um garoto, se é que fosse de fato. Segundo ouvira de seu avô a muitos anos atrás, um supremo era algo ou alguém que poderia fazer muito mais que um alfa normal, o que era uma raridade e não haveria nenhum outro que ousasse desafiá-lo, pois ele poderia destruir qualquer um deles com extrema facilidade.

 

Porém, por mais que tentasse entender Pedro era normal, ou seja, um humano cem por cento normal assim como fora seu pai e sua mãe, portanto para ele ser da forma que se desenhava só poderia ser por causa de algum medicamento que receber e que pulara uma geração. Não sabia explicar, mas o que sabia era que ele gerara um filho com uma humana e este lhe dera um neto, seu único herdeiro.

 

- No que está pensando vovô?

- Em você?

- Em mim?

- Sim!

- No que precisamente?

- Sobre a sua origem.

- Minha origem?

- É!

- Ué! Sou seu neto, ou tem dúvida disso?

- Disso não tenho a menor dúvida.

- Então porque disse de origem e nem venha me dizer que depois falará sobre isso.

- Não está com fome?

- Estou um pouco, mas desta vez não vai escapar de me contar esta coisa de origem.

- Então vamos almoçar e após isso vamos para o escritório porque a conversa será longa.

 

Chegaram na casa sede e a comida já estava pronta para ser servida. Foram tomar banho e vinte minutos depois retornaram para finalmente se alimentarem e Gustavo não estava brincando quando disse que comeria um boi, pois o que comeu surpreendeu tanto Pedro quanto Elenice. Terminaram e Gustavo o chamou na sua sala a prova de escutas externas. Sentaram-se e Gustavo começou a falar.

 

- O que você sabe da origem de nossa família?

- Pouca coisa! Pelo que papai me contou você teria vindo da Europa a alguns anos e depois aqui, já maduro conheceu a vovó, se apaixonou perdidamente por ela e depois de um tempo se casaram e outro tempo depois ele nasceu e posteriormente eu nasci.

- Só isso?

- Só!

- Não sabe nada mais e nem teve curiosidade de saber algo mais?

- Tive, mas puxando a árvore genealógica acabei chegando ao tataravô, o duque Lorenzo Santilena Spallucci Spadonni, pai do bisavô Agustín Santilena Spallucci Spadonni que era seu pai. É isso mesmo?

- Sim! Exatamente isso, mas o que mais sabe?

- As histórias levam a uma lenda de que o duque Lorenzo era uma pessoa misteriosa. Vivia em uma propriedade imensa e raramente era visto em público e isso se estendeu a seu filho e seus raros parentes e dizia estas lendas que ele se transformava em lobo.

- Bem lendas são lendas e realidade é realidade e vou falar da realidade que acabou virando certas lendas. Preparado?

- Sim! Estou. Respondeu Pedro atento para ouvir seu avô.

- Meu bisavô era o sétimo filho de família de nove irmãos. Ele era o caçula e quando nasceu havia uma lenda lá na Itália de que o sétimo filho poderia se transformar em lobisomem passada a adolescência e segundo relatos de meu avô isso acabou acontecendo, porém, antes dele completar vinte anos de idade acabou se enamorando por uma jovem e secretamente acabou gerando um filho, que foi meu avô e ele apavorado procurou se afastar da jovem que amava porque temia feri-la e perdeu-se nas terras da Eslovênia e procurou ficar recluso por muitos anos e não sabia mais nada de sua família, mas certo dia ficou sabendo que seu pai, ou seja seu tataravô acabou em uma noite de lua cheia literalmente devorando a esposa que amava, os filhos e os serviçais. Só restou vivo seu bisavô que já não morava com a família. Está prestando atenção?

- Estou e além de impressionado estou horrorizado, mas por favor continue vovô.

- Quando voltou a si e viu o que havia feito abalado pegou uma arma, colocou uma única bala de prata nela e disparou contra seu coração e segundo consta ele morreu na hora. Seu bisavô, ou seja, meu pai demorou para saber desta história e não querendo passar pela mesma situação acabou pondo fim a sua vida também, mas não antes de fazer um testamento me colocando nele como único herdeiro. Porém eu, bem longe dele crescia rápido demais para um garoto da minha idade e assumi a herança da família muito antes de sentir os efeitos da lua sobre mim e para sorte dela, minha mãe morreu de doença antes de eu me revelar o que aconteceu quando eu fiz vinte e três anos. Está ouvindo?

- Atentamente!

- Sabedor da tragédia ocorrida com minha família assumi todos os bens e não quis saber de nenhum relacionamento e quando me revelei preparei trinta pessoas especiais para montar minha própria matilha ou alcatéia.

- Mordeu-os?

- Sim, mas de uma forma que não os matasse e assim consegui ter eles ao meu lado.

- E eles concordaram em lhe servir desta forma?

- Sim! O sonho da vida eterna bateu forte dentro deles e aceitaram.

- Isso foi a quanto tempo atrás?

- Digamos que as caravelas tinham acabado de chegar aqui no Brasil.

- Quando?

- Ano de mil quinhentos e cinco.

- Há quinhentos e dezessete anos atrás?

- Está brincando, não é?

- Porque brincaria com isso?

- O senhor tem mais de cinco séculos de idade?

- É! Tenho.

- E porque diz que tem oitenta e quatro anos?

- Porque achei bonito o número e seu pai estava crescendo e envelhecendo também.

- Ele também era um lobo?

- Não e é aí que vem esta fazenda nesta região.

- Me conte.

- O tempo seguiu seu rumo e muitos dos meus convertidos querendo se tornar alfa me desafiaram e saíram de perto de mim e começaram a atacar seres humanos coisa que eu havia terminantemente proibido e fui obrigado a tomar uma decisão que acabou sendo chamada de lua de sangue, onde centenas de licotrampos foram exterminados e para resumir em meados de mil oitocentos e oitenta fiquei sabendo da lenda desta cidade e comprei uma fazenda e depois a aumentei, mas sem dar qualquer indicação do que temos aqui e o que fazemos.

- Já te perguntei isso, mas o prefeito sabe disso?

- De forma alguma e nem saberá! Orlando é um bom homem. Um prefeito competente e que é cheio de ideais e que está a algum tempo na política, mas jamais poderá saber o que tem aqui. Para ele temos apenas uma fazenda que cuida de gado, avestruzes, faisões e javalis. Nada mais que isso.

- Qual é o nome dele mesmo vovô?

- Sei que você sabe, mas o nome dele é Orlando Roberto Campos e sei que vai esticar a cordinha para saber o nome da secretária dele que também sei que sabe e ela se chama Angelina Fernanda Santos. Está satisfeito?

- Eu não queria saber o nome dela não. Respondeu Pedro soltando um leve sorriso.

- O que mais quer saber?

- Porque este laboratório?

- Na verdade, não é um laboratório e sim um centro de pesquisas e treinamento. Foi lá que desenvolvemos finalmente a vacina que nos torna praticamente humanos em cem por cento de novo ou na pior das hipóteses conseguimos mudar nossa existência de lobos podendo ter família de novo como aconteceu comigo. Fui a primeira cobaia deste experimento.

- Quer dizer então que de repente vocês pegam um lobisomem e o transformam em uma pessoa normal?

- Na verdade, ele já é uma pessoa normal que se transforma em lobo e não ao contrário e é isso sim que fazemos ou que desejamos fazer. Entendeu?

- Entendi perfeitamente, mas onde entra isso de meus olhos?

 

A noite novamente passou rápida para Pedro. Sonhou com a história da família, de seu avô ser um lobo alfa e estar com mais de quinhentos e o pior, dele ser na teoria um homem do tipo lobo supremo sem ser verdadeiramente um lobisomem mesmo ele sendo um humano de todas as formas e maneiras.

 

Isso martelou a sua mente até no pouco que dormiu. Era muita informação para uma mente privilegiada apesar de estar dentro da cabeça de um jovem de apenas dezesseis anos. Porém, apesar de tudo e de ter dormido pouco ainda faltavam alguns minutos para as cinco da manhã quando resolveu se levantar. Tomou banho, vestiu o uniforme de treinamento e estava saindo do quarto quando tomou um susto. Elenice estava ali encostada na parede diante de sua porta.

 

- Nossa! Que susto você me deu. O que houve?

- Sabe que eu cuido de você desde que nasceu, não sabe?

- Sei sim!

- Então, se pretender ficar por aqui quero lhe pedir um favor.

- O que aconteceu?

- Primeiro quero lhe pedir o favor e depois te conto.

- Tudo bem! Pode falar.

- Quero voltar para São Paulo ou gostaria que me mandasse embora?

- Mandar você embora! Saiba que jamais faria isso. Quanto a voltar para São Paulo sem problema, porém desde que me conte o que me conte o que está acontecendo.

- Primeiro é que me sinto como uma estranha aqui e não me deixam fazer nada. Sinto-me como se fosse uma incapaz e não gosto disso.

- Mas quer fazer o que?

- Qualquer coisa. Não gosto de ficar parada e sabe disso.

- Sei sim, mas aconteceu mais alguma coisa?

- Não queria comentar, mas as pessoas que servem esta casa bem como as que circulam lá fora parece que me vêem como se eu fosse uma gazela no pasto e sinto como se eu fosse a presa para feras sedentas de fome.

- Como assim?

- Estou com a sua família a muitos anos e sempre senti algo diferente no seu avô, mas nunca me senti amedrontada por causa disso e ao contrário disso seus pais, com os quais eu já estava a algum tempo antes de você nascer sempre me trataram como se eu fosse um membro da família e lá em São Paulo eu me sentia bem. Era como se a hoje sua casa fosse também a minha casa. Eu tinha um canto e estava feliz, mas aqui além de eu me sentir como se fosse nada ou coisa alguma, ainda tenho receio de ser atacada e isso pode parecer loucura minha, mas é como me sinto.

- Alguém fez algo para você ou insinuou alguma coisa?

- Diretamente não, mas minha intuição me faz sentir como se fosse um animal prestes a ser abatido e não sei de você entenderia isso.

- Entendi sim, mas quer mesmo voltar para a nossa casa em São Paulo?

- Eu amaria poder voltar e cuidar do que é seu lá. Posso?

- Mesmo eu sabendo que sentirei demais a sua falta eu vou te atender e chamar o Jonas para te levar e ficar com você lá se é que isso a fará feliz.

- Nem sei como lhe agradecer patrão. O senhor não nega que é filho do doutor Douglas e da senhora Eduarda. Deus lhe abençoe e proteja cada dia mais por isso.

- Não sou seu patrão. Você é parte de minha família mesmo que ela hoje seja uma família bem menor, mas farei isso por você antes de ir me exercitar.

- Mais uma coisa jovem senhor! Não queria comentar isso, mas o Jonas também se sente como eu me sinto, uma presa prestes a ser abatido e devorado.

- Deveria ter me contado antes, mas vamos resolver isso agora mesmo. Venha comigo e iremos falar com o Jonas e cuidar disso.

- Muito obrigada.

  

Saíram corredor afora, cruzaram a ampla sala e foram para a outra extremidade ainda dentro da casa sede e chegaram até a ala dos funcionários que serviam aos afazeres domésticos e ali, no corredor com quartos dos dois lados viram meia dúzia deles rondando a porta de onde era o quarto onde Jonas dormia.

 

- O que fazem aqui? Perguntou Pedro com energia.

- Nos preparando para ir trabalhar jovem patrão. Respondeu uma delas.

- Então vão e daqui a pouco convoque todos que trabalham na casa que irei ter uma conversa com vocês.

 

Não gostaram do tom de voz de Pedro, mas respeitaram seu pedido por temer Gustavo e se retiraram indo cada qual atrás de seus afazeres e quando o último deles saiu portal afora olhou e viu que Elenice já havia chamado Jonas e notou que ele estava pálido de medo.

 

- Bom dia Jonas! Prepare suas coisas que voltarão para casa assim que estiverem prontos.

- Bom dia e que Deus lhe abençoe por isso patrão!

- Não sou patrão, sou apenas seu amigo. Arrume suas coisas e quero que arrume as suas também Elenice.

- As minhas já estão prontas senhor!

- As minha também senhor! Tinha combinado com a senhora Elenice que iríamos embora daqui logo pela manhã nem que fosse a pé, porque temos medo de ficar aqui.

- Não tem que ter medo! Estavam seguros aqui comigo, mas como minha adorada Nina como eu a chamo me pediu vou sentir falta de vocês dois perto de mim, mas voltarão para cuidar da nossa casa lá na capital.

- Nem sei como lhe agradecer senhor! Disse Jonas pegando suas coisas e acompanhando Pedro e Elenice até o quarto dela e ajudando a que pegasse as suas coisas.

- Me esperem aqui um pouco que só sairão depois de tomarem café, mas antes disso quero resolver uma coisa e já os chamo. Me aguardem aqui dentro por favor.

 

Entraram no quarto e trancaram a porta. Pedro se virou e voltou para ir ter com os funcionários da casa e sem que percebesse seu avô estava saindo do quarto, mas que havia esperada para ver o que estava acontecendo aguardou e depois sem fazer alarde seguiu Pedro para ver o que ele iria fazer e o acompanhou pé ante pé até onde ele se diria e apenas ficaria ali ouvindo sem que o vissem.

 

- Quero saber o que está acontecendo aqui? Perguntou severamente.

- O que está acontecendo? Perguntou um dos serviçais.

- Meu avô não lhes informou que eles estavam sob a proteção dele?

- Disse! O mesmo serviçal respondeu.

- E mesmo estando sob a proteção dele ousaram fazer com que eles se sentissem como comida no prato de vocês?

- Não fizemos isso! Respondeu uma moça que atendia na cozinha.

- Vamos esclarecer uma coisa. Como vocês sabem sou neto e único parente de Gustavo Santilena Spallucci Spadonni e também como ele mesmo disse seu herdeiro e sucessor, portanto exijo respeito e disso não abro mão. Estou sendo claro?

- Está querendo insinuar o que? Perguntou novamente o serviçal.

- Qual é seu nome mesmo?

- Meu nome é Ygor! Ygor Valunovisk.

- Pois bem Ygor Valunovisk! Vou ser mais claro ainda. Como herdeiro e sucessor de Gustavo Santilena Spallucci Spadonni, eu Pedro Santilena Spallucci Spadonni exijo que seja lá quem for que eu por ventura traga para cá se trouxer que seja ou sejam tratados como pessoas normais, sejam humanos ou não e não aceitarei qualquer deslize disso que estou ordenando. Entenderam agora?

- Quem manda aqui é o senhor Gustavo pelo que eu sei! Respondeu Ygor.

- Sei que é, ele é meu avô. Merece e merecerá sempre o meu respeito, mas será que você vai querer me desafiar? Disse Pedro e neste instante seus olhos mudaram e o tom cintilante de lilás para arroxeado se destacou.

 

Nem precisou fazer mais nada. De repente todos eles baixaram a cabeça e se ajoelharam em sinal de respeito e temor o que lhe surpreendeu, mas se manteve de corpo ereto e demonstrando seriedade e rigidez.

 

- Levantem-se e preparem o café, pois conseguiram afastar de mim duas pessoas que eu conheci e conheço desde que nasci. Eles vão embora com medo de ser devorados por vocês, mas vou repetir, jamais cometam o erro de tentar assustar ou ameaçar quem eu proteger e aqui vou incluir até meu avô que agora faz parte de minha proteção. Fui claro agora?

- Sim supremo, sim! Responderam todos baixando a cabeça.

- Agora, por favor preparem um reforçado café para meus protegidos e saibam que, se colocarem algo no alimento deles eu saberei, assim como saberei punir a quem fez isso. Agora vão.

 

Todos saíram para seus afazeres e ao se virar Pedro deu de cara com seu avô que baixou a cabeça em sinal de respeito e orgulho de seu neto que o surpreendera.

 

- Bom dia vovô!

- Bom dia meu filho ou deveria chama-lo de mestre senhor?

- Para com isso vovô.

- Vi o que você acabou de fazer e mostrar para ele quem é que manda aqui e me coloco entre eles.

- Quem manda aqui é o senhor e não eu.

- Já estou velho meu jovem menino! Estava na hora de mudar as coisas neste lugar e estou feliz e orgulhoso de que seja você e mais que isso, de ter deixado claro para eles que não é simplesmente um simples menino, ou garoto, mas sim um líder que sabe colocar as palavras no lugar certo e tenha a plena certeza de que isso já está sendo passado de boca em boca para todos que trabalham aqui e logo toda a rede de nosso grupo saberá que o escolhido, ou a lenda do supremo está acontecendo e lhe agradeço por sua proteção.

- Ah vovô! Aquilo saiu sem querer.

- Não! Saiu da boca de um líder e entenda uma coisa. Há uma regra no seio dos lobos que diz que quando surge um líder mais forte os mais fracos poderão desafiar o alfa e ao fazer isso você me manteve, se desejar em meu devido lugar e agora com a sua proteção.

- Não sabia disso!

- Você irá para o treinamento hoje e verá como lhe tratarão lá, mas ficará apenas até ás doze horas. Depois voltaremos e iremos almoçar, comer javali e faisões para depois irmos conhecer as outras áreas da fazenda e lhe ensinarei oralmente tudo aquilo que não ouviria nos treinamentos físicos. Posso lhe dar um abraço agora mestre Pedro?

- Para com isso vovô e é claro que pode. Estava precisando mesmo de um abraço seu.

 

Abraçaram-se de fato como se abraçariam avô e neto entre os humanos e depois Pedro foi buscar Elenice e Jonas para tomar café e lhes avisou que não teriam mais que ter medo e que poderiam tomar café tranquilamente sem medo de que tivessem colocado nada dentro, porque ele havia deixado claro o seu recado. Ambos se entreolharam e ao chegar na copa sentiram a mudança, pois todos os trataram com respeito e dedicação.

 

- Tem certeza de que querem ir embora mesmo?

-Temos sim senhor! Respondeu Elenice.

- Então vão e saibam que já estou com saudade de vocês.

 

Elaine e Jonas pegaram o automóvel da família Spallucci Spadonni que fora adquirido por seu pai e depois de se despedirem partiram para a capital e ao chegarem no centro da cidade se sentiram aliviados e cada quilometro mais longe da fazenda mais a paz dominava cada um dos dois.

 

Cada vez mais longe da fazenda Gustavo perguntou se ele confiava nos dois ou se precisariam fazer algo para manter tudo que havia na fazenda em segredo e Pedro disse que não tinha receio de nada, afinal ambos eram sozinhos no mundo, ou seja, não tinham parentes e agora teriam apenas um ao outro como companhia e que torcia para que ambos se acertassem e um cuidasse do outro.

 

- Pedro! Você tem uma alma boa que pensa muito com o bom estar das pessoas. Para mim isso é e deve ser essencial para controlar os dois lados da balança.

- Dois lados?

- Sim!

- O que quer dizer com isso vovô?

- O que quero dizer é que aqui mesmo no Brasil e na América do Sul existem muitas alcateias e nestas algumas ainda não foram preparadas para se adaptarem aos humanos e em muitos lugares, com raridade tem alguns perdidos, ou os licotrampos que continuam atacando querendo um lugar melhor onde coexistem na sociedade deles, ou nossos.

- E o que se pode fazer?

- Eu nunca pode fazer isso, mas você como supremo poderá contê-los, portanto, se prepare porque a sua missão ainda nem começou e sendo lobo ou humano será isso que dizia a lenda sobre ti.

- Lenda de mim?

- É! Para minha surpresa você foi o escolhido para controlar e dominar a todos os lobisomens do mundo e se o fizer, poderemos fazer os experimentos para tentar transformá-los em humanos novamente.

- Quantos não deram certo ou não conseguiram se adaptar com os experimentos vovô?

- Poucos em relação aos que aceitaram fazer.

- Quanto seria estes poucos?

- Foram quatrocentos e trinta e seis que não deu certo.

- Tudo isso?

- Sim!

- Porque não deu certo?

- Rejeição do corpo ou do emocional.

- O emocional pode afetar?

- Pode sim! Veja bem, os lobisomens teoricamente se tornam em um de formas que já lhe disse. Podem ser na raridade o sétimo filho de sete irmãos e não de irmãos e irmãs. Por exemplo, uma família tem seis filhos, meninos e meninas. Neste caso o sétimo não tem chance de virar um ou uma. No caso de uma família ter seis filhos, o sétimo tem uma imensa probabilidade de ser um sem nada que ele tenha que fazer para isso. No caso inverso, se uma família tiver seis filhas e o sétimo for um menino este também terá grande probabilidade de ser. Já se no mesmo caso, se uma família tiver seis filhas e a sétima for menina a chance de que ela seja uma loba é bem maior e ela será mais rápida, mas ágil, mais forte e mais poderosa, mas isso é uma raridade e ainda não conheci sequer uma em meus longos anos nesta linhagem.

- Nossa! Tão poderosa assim?

- Sim! Ela praticamente já nasce um alfa e dominará mais de uma alcateia e por fim existem os que são mordidos e estes são os perigosos, pois atingem quase os mesmos dons dos mega em força e não querem ou temem perder sua força e longevidade na vida e mesmo tomando tudo que dermos para ele a mente parece congelar o desejo de serem normais e acaba matando-os.

- E perdem a força ou a longevidade mesmo?

- Nenhum dos que tomaram e sobreviveram perderam. Não serão mais imortais, mas terão uma longa vida pela frente a partir dos medicamentos.

- Quantos anos aproximadamente?

- Ainda não sabemos, mas pelo menos uns cem a mais a contar da data dos medicamentos.

- E a força. Perdem também?

- Não! Quanto a força não altera em nada.

- Então para voltarem ao normal e tomando os medicamentos ele só teria que cuidar do psicológico?

- Isso mesmo!

- Mais uma pergunta! Todos os que trabalham na fazenda são lobos tomando o medicamento?

- Sim!

- De quanto em quanto tempo?

- Já são duas perguntas, mas tem que ser tomado primeiramente de seis em seis meses em um período de dois anos. Depois de dois em dois anos e depois ainda não chegamos a uma conclusão.

- O senhor já está em que fase?

- Fui a cobaia! Estou na segunda dose da segunda fase de dois em dois anos.

- E se sente bem?

- Forte como uma rocha e já fez outra pergunta! Respondeu Gustavo sorrindo.

- Então mais uma ou duas e paro! Tudo bem?

- Pode perguntar.

- Tem ideia de quantos homens e mulheres lobos existem no planeta?

- Temos quatrocentos e quarenta e oito mil, novecentas e trinta e três devidamente identificadas e estimamos mais vinte e sete mil fora da identificação.

- São muitos!

- Muitos mesmo e posso lhe dizer que menos da metade está, digamos domesticados.

- E acredita que eu possa convencê-los a mudarem?

- Se você não conseguir ninguém jamais conseguirá. Agora vamos ao treinamento porque tem que estar preparado pelo pior que deverá surgir a qualquer momento.

- Vamos! Respondeu Pedro saindo acompanhado por seu avô.

 

Ao saírem para o pátio Pedro sentiu o que seu avô lhe dissera dentro da casa de que todos os que lá trabalhavam o veriam de outra forma e ao passarem por alguns deles todos sem exceção baixaram a cabeça em sinal de respeito.

 

- Eu não te disse que a notícia ia correr rápido por aqui? Perguntou Gustavo sorrindo.

 

Pedro preferiu não dizer nada e se aproximaram do segundo prédio e o segurança externo procedeu da mesma forma e a imensa porta foi aberta de imediato estando logo atrás Agnelo que desta vez o recebeu com deferência.

 

- Bom dia senhor Pedro e Gustavo!

- Bom dia Agnelo, mas a ordem está inversa. Vocês têm que cumprimentar primeiro meu avô, o patriarca da minha família e depois a mim.

- Mas...! Ia começar a dizer Agnelo e foi cortado por Pedro.

- Primeiro meu avô e depois a mim independentemente de que ou eu quem seja.

- Sim senhor!

 

Gustavo não disse nada, mas intimamente sorriu e sentiu outra vez orgulho de seu neto e também sem nada dizer Pedro se dirigiu para o elevador lilás e apertou a pequena luz.

 

Não deixou de perceber que todos os doze seguranças baixaram a cabeça e ele mesmo acompanhado de seu avô e de Agnelo desceram até o andar vinte e sete onde a porta se abriu e para sua surpresa todos os que trabalhavam naquele andar estavam lá no enorme hall para o saudar.

 

- Bom dia senhor Pedro! Disseram todos em coro.

- Bom dia, mas vamos consertar isso! Meu avô sempre deverá receber os cumprimentos antes de mim.

- Mas sabemos que é a pessoa da lenda, ou seja, o supremo senhor! Disse Rebeka.

- Tudo bem! Posso até ser o supremo, mas quem criou isso tudo aqui foi meu avô que é o patriarca de minha família e jamais poderá ser deixado para segundo plano e saibam que até ontem eu era o protegido dele, mas a partir de agora ele e todos vocês estão sob a minha proteção. Fui claro.

- Sim senhor! Responderam em coro e novamente baixando a cabeça.

- Doutora Rebeka! Quantos irmãos lobos temos aqui para tomar os medicamentos pela primeira vez?

- A primeira dose?

- Isso!

- Temos cinqüenta e três!

- Já tomaram?

- Não! Estão relutantes em tomar.

- Temos um espaço onde podemos nos reunir? Eu e eles.

- Temos sim senhor!

- Ótimo! Conduza-os todos para lá que vou conversar com eles.

 

Rapidamente um dos membros que auxiliava Rebeka saiu dali e foi levar os resistentes para o local indicado enquanto que cada um voltou aos seus afazeres enquanto Rebeka conduzia Pedro e Gustavo para se encontrar com eles. Chegaram no local e Pedro pode constatar que era um auditório o qual deveria ter em torno de mil e poucos assentos e todos estavam dispersos.

 

- Senhores! Por favor gostaria que ficassem aqui na frente lado a lado.

- Porque? Perguntou um deles.

- Porque estou pedindo, pode ser por favor?

 

O indagador ia dizer alguma coisa, mas vendo todos obedecendo ele também se levantou se juntando aos demais.

 

- Fiquei sabendo que vocês estão com receio de tomarem o medicamento porque acreditam que ele lhes diminuirá o tempo de vida ou que lhes tirará os dons e a força que possuem hoje, mas vocês conhecem bem e sabem que o alfa desta imensa alcatéia que é o meu avô tomou as doses e está aqui forte como direi, como um imenso lobo.

 

Disse isso sem querer citar lobo, mas isso fez com que todos rissem e prestassem mais atenção no que aquele garoto estava falando.

 

- Pois bem! Como eu disse meu avô, o patriarca da minha família e o alfa desta imensa alcatéia vem tomando as doses nas datas certas e está aqui bem forte. Não perdeu a sua força e nem a sua sanidade e se colocarem na cabeça que manterão os dons e apenas começarão a ser mais humanos que lobos, mesmo tendo a força e os dons aí sim, tudo poderá dar certo.

- Mas muitos morreram após tomar este remédio! Comentou um deles.

- Qual é o seu nome irmão?

- Valentin Kabler! Respondeu gostando do irmão.

- Conhecia algum deles?

- Conheci dois deles!

- E o que eles diziam antes de tentar?

- Medo! Estavam com medo.

- Medo do que?

- Medo de que desse errado e perderem os dons que tinham.

- Você faz o que aqui na fazenda?

- Cuido do gado!

- E por acaso não tem medo de tomar uma chifrada?

- Eu sei me cuidar!

- Não entendeu a pergunta. Eu perguntei se não tem medo de tomar uma chifrada.

- É! Este receio sempre temos se nos pegarem distraídos.

- Então você mesmo não querendo aceitar também tem medo, não é?

- Pior que é! Respondeu Valentin sorrindo.

- Sabe o que é apoio moral?

- Não!

- E quando temos alguém do nosso lado nos incentivando.

- Não sabia!

- Pois é! Se quiser fazer, estarei ao teu lado te dando apoio moral.

- Está falando sério?

- Segundo eu ouvi um dizer um supremo não pode mentir e mesmo antes de eu saber que eu deva ser um deles, ou o da lenda como dizem eu também jamais gostei de mentiras, mas se for tomar o medicamento eu estarei lá com você. Prometo isso.

- Se eu tomar e me curar eu poderei ter família?

- Esposa e filhos?

- Sim!

- Eu sou um exemplo disso! Meu avô tomou, se regenerou, teve um filho normal e cá estou eu aqui diante de vocês.

- Tudo bem! Eu vou aceitar e vou fazer, mas tem que estar lá do meu lado.

- Estarei e se quiser ir agora eu nem irei treinar.

 

Valentim de levantou, desceu os três degraus e pediu para que Rebeka aplicasse nele fosse lá o que fosse desde que Pedro estivesse lá e com isso um a um foi fazendo fila para que todos tomassem também.

 

Foram para a sala onde seriam aplicadas as doses e tanto Gustavo quanto Rebeka estavam surpresos por verem o que aquele menino nem bem saindo da puberdade tinha o dom de falar e convencer os mais radicais e Valentim de fato era o maior deles que tomou a aplicação e logo depois pediu se poderia dar um abraço em Pedro porque nunca havia se sentido em uma família e ele provara que além de família o tratou como irmão e seria desta forma que ele seria dali em diante. Pedro ainda permaneceu ali até que o último deles tivesse sido medicado e fez questão de dar um abraço em cada um deles para que sentissem forte nos dias que viriam.

 

- Você é muito mais do que imaginava meu neto querido!

- Que bom que pensa assim vovô, porque está mudando também para a minha alegria.

 

Terminado ali Gustavo sem querer ouvir qualquer desculpa praticamente arrastou Pedro para irem almoçar e tudo que planejaram fazer naquela manhã foi abortada por conta do que ele fizera com maestria e Gustavo viu que Pedro em sua jovialidade ganhara mais que o respeito dos seus súditos. Pedro estava ganhando cada vez mais a fidelidade sincera de todos.

 

- Agora almoçar e depois irei te mostrar a parte interessante da fazenda. Disse Gustavo.

 

Chegaram na casa sede e depois de se assearem foram almoçar e Gustavo percebeu que todos estavam olhando para seu neto não com temor, mas com mais respeito do que nunca dedicaram a ele. Pedro acabara se impondo pela simpatia e bondade e não pela força, porém, todos sabiam do poder que ele tinha dentro daquele corpo forte, mas ainda juvenil.

 

Almoçaram e saíram para conhecer os limítrofes daquela imensa fazenda que se embrenhava serra afora atingindo com certeza o gigante adormecido como ele pareceu ter visto la de baixo e podia ver que lá em cima, bem no alto nuvens cobriam os montes dando um aspecto de lugar propício a filmes de suspense. Sorriu ao pensar nisso, pois adorava este gênero.

 

- Vou começar pela criação de faisões e dos javalis que parecem gostar mais da temperatura mais amena. Comentou Gustavo.

 

Subiram de um platô para outro e chegaram a uma imensa área subdividida em cinco partes.

 

- Uma delas servia para a criação de faisões rigorosamente fiscalizados. Outra para os javalis também muito vigiados. Outra para pacas e antas. Outra para os avestruzes e algumas emas e finalmente a outra que fica dentro de um lago é destinada a jacarés em uma área edificada e bem segura para que eles não saiam dando shows por aí. Explicou Gustavo.

- Pacas e antas?

- Sim! Isso para a alimentação dos ainda não medicados, mas obedientes. Já os jacarés servirão para se alimentar dos rebeldes.

- Tem coragem de fazer isso?

- Tinha coragem de fazer coisas piores até conhecer a sua avó. De lá para cá eu me regenerei, mas o medo deles serem jogados para que os jacarés os devorem serviu de doutrina e mudando de assunto, já comeu carne de jacaré?

- Não! Nunca e nem teria coragem.

- Nem eu, mas tenho clientes em especial que pagam muito bem pela carne deles.

- Do Brasil?

- Alguma coisa para restaurantes indianos e a grande maioria para a Europa. França Rússia e Alemanha são os maiores clientes.

- E é legal a venda desta carne?

- Legal não seria bem o termo que eu usaria, mas também ninguém se meteu para interferir na venda e com isso fornecemos ainda alguma coisa, mas temos mais jacarés do que ainda podemos controlar e por isso mandei edificar um verdadeiro forte interno para conter os bebês lá dentro e eles também são alimentados pelo que sobrou e sempre sobra muito do que sobra da alimentação dos rebeldes e como temos muitas pacas e antas os meninos nunca passarão fome. Venha que irei te mostrar tudo isso.

 

Gustavo começou mostrando os faisões e a quantidade que possuía ali era impressionante e seu avô lhe disse que também mandava para restaurantes no país e fora deles, mas para isso tinha autorização e que era o mesmo caso dos javalis que também era de se perder de vista o que continha na área deles.

 

- Do que se alimentam os faisões?

- A alimentação deles são à base de vegetais, frutas, raízes e até mesmo insetos. Entretanto, como temos a criação voltada para o abate e desejando acelerar o crescimento das aves, as alimentamos com ração específica para contribuir com o regime dos animais e ainda mantê-los saudáveis e a ração é desenvolvida pelo centro de pesquisas a fim de deixá-las saudáveis para serem abatidas.

- E os javalis se alimentam do que?

- Estes já se alimentam de frutos, sementes, folhas, raízes, brotos, bulbos, animais, fungos e carniça. O javali pode pesar cerca de oitenta quilos e medir em média de um metro e trinta a um metro e quarenta. Já o javaporco pode pesar mais de cento e trinta quilos com comprimento médio de de um e trinta a um metro e oitenta.

- Qual a diferença entre um e o outro?

- Do javali para o javaporco?

- É!

- O javaporco é um híbrido do porco doméstico e do javali. A sua hibridação foi realizada de forma intencional para consumo da carne e tudo isso é também desenvolvido no centro de pesquisa que controla tudo.

- Caramba vovô e do que alimentam os avestruzes?

Estes são mais fáceis. Alimentam-se de gramas, sementes, insetos e pequenos animais tipo o gafanhoto e cabe aqui informas que o início da vida reprodutiva ocorre entre dois e três anos de vida e cada fêmea põem de vinte a sessenta ovos por ano e o período de incubação é de apenas quarenta e dois dias. Por fim, quanto a eles, as avestruzes vivem em média cinquenta e podem atingir até sessenta anos de idade.

- E as pacas e antas?

- Estas são mais fáceis. As antas por exemplo são animais herbívoros que ingerem entre oito e nove quilos de alimento por dia, incluindo folhas, ramos, brotos, caules, cascas de árvores, plantas aquáticas e frutos. Já as pacas são um animal noturno, ou seja, dorme durante o dia e fica ativa pela noite. Sua dieta é a base de frutas, folhas, vegetais, sementes e raízes. Destas, foi observado sua preferência em cativeiro e na natureza. Já na natureza, elas se alimentam de frutas da estação como bananas, goiabas, manga, jaca, abacate entre outros e baseado nisso, a noite abrimos a porteira que rodeia um grande terreno onde elas podem encontrar estes alimentos para comer e depois voltam para o local que saíram e podem medir cerca de setenta centímetros e pesar até dez quilos e representa um dos maiores roedores do país, perdendo, em tamanho apenas para a capivara que temos em mente de procriar também. Finalmente os jacarés o qual sei que viria a sua próxima pergunta são carnívoros vorazes, e gostam de tudo que veem pela frente, como peixes, mariscos, mamíferos, repteis até eles próprios um do outro e o que cair no meio deles.

- Estes sei que são terríveis.

- Nem tanto! Um lobo feroz é muito mais terrível que um jacaré sozinho, mas esta é a natureza e veja a inversão. Um lobo jamais comeria um jacaré, mas um jacaré saboaria um lobo com prazer e finalizando ainda temos as vacas e bois, além de alguns cavalos.

- Não tem galinha, estas coisas aqui?

- Até tínhamos, mas como estavam comendo eu resolvi dar um basta na criação deste tipo assim como patos, gansos e galos. Isso compramos nos sítios em volta e na cidade, mas raramente comemos assim como não costumamos comer ovos.

 

Pedro e seu avô seguidos por quatro seguranças viram tudo nos extremos da fazenda e depois voltaram para a casa sede e Pedro estava impressionado com tudo o que vira por ali.

 

- Amanhã depois do treinamento te levarei para conhecer a cidade e a região! Disse Gustavo.

- Só depois do almoço?

- Só e sem esta de deixar de fazer treinamento. Sinto que coisa ruim vem por aí e terá que estar preparado.

- O que está por vir vovô?

- Não sei. É intuição minha que eu deveria enfrentar, mas agora será a sua missão.

- E irá me abandonar?

- Jamais! Somos sangue do mesmo sangue e estarei ao teu lado para o que der e vier.

- Uma pergunta. Porque estes seguranças?

- Eu sei muito bem dar conta de qualquer situação, mas existem perigos que não poderemos jamais enfrentar sozinhos.

- Tipo?

- Caçadores de lobos.

- Tem isso aqui?

- Até hoje não porque acham que aqui tendo o nome de terra de lobisomens eles acreditam ser apenas lenda e nem se importam, mas aparecerá logo um que acredite que estejamos por aqui e aí é que teremos que nos precaver, mas saiba que não apenas estes dois. Temos mais quinze que fazem o trabalho de batedores e que não se deixam ver facilmente.

- Terei que tê-los também?

- Prudentemente eu diria que sim. Agora vamos tomar banho e jantar.

 

Se recolheram e antes de dormir Pedro pegou seu celular e ligou para Elenice e respirou aliviado quando ouviu sua voz do outro lado da linha.

 

- Alô!

- Você está bem Elenice?

- Oi jovem senhor! Estou bem sim e você?

- Estou bem também. Estava preocupado com você e com o Jonas.

- Ele também está bem!

- Chegaram bem em casa?

- Chegamos sim!

- E está tudo em ordem por aí?

- Está e também estamos aliviados depois que saímos daí. Foi muita pressão. Sensação de ameaça e de pavor.

- Isso aqui tudo mudou de ontem para hoje! Já não a mais aquela pressão e perigo anterior.

- Que bom para o senhor, mas prefiro ficar bem longe daí deste lugar.

- Eu te entendo, mas qualquer coisa que precisar é só me chamar, está bem?

- Sim senhor! Farei isso, mas volte logo para casa.

- Verei e quando der irei até aí vê-los. Boa noite!

- Boa noite senhor!

 

Desligaram o telefone e aliviado por saber que eles estavam bem encostou a cabeça no travesseiro e pensando no dia que tivera ainda surpreso acabou adormecendo, mas teve um sonho estranho que era sobre licotrampos invadindo cidades e causando o caos. Não soube precisar onde eram as cidades no sonho, porém isso o fez acordar sobressaltado. Tentou dormir de novo e não conseguiu conciliar o sono e o relógio não marcava três da manhã quando se levantou, trocou de roupa e saiu para correr um pouco e no pouco percorreu um grande trecho da fazenda e chegando no asfalto continuou e foi em frente.

 

Não tinha a menor ideia de onde estava e se surpreendeu ainda mais porque seus olhos sem saber como e nem porque iluminava o caminho como se tivesse visão noturna e isso facilitou muito o que estava fazendo.

 

A estrada estava boa e o silencio só era rompido pelo som de grilos ou de animais noturno. Aguçou sua audição, pois no silencio da noite e o local sem iluminação alguma era ou seria propício para assaltos ou mesmo ataques de algum animal selvagem, mas estranhamente ele não estava com receio ou medo de nada até que de repente ouviu um barulho por trás da mata como se algo ou alguém estivesse correndo por lá em sua direção e mais alguns metros adiante isso se confirmou.

 

Do nada e de repente dois imensos homens lobos saltaram diante de si. Cada qual de um lado e pode constatar que pelo aspecto deveriam ser licotrampos selvagens e parando esperou para ver o que fariam.

 

Curiosamente um olhou para o outro e correram em sua direção e sem saber como a energia que saiu de dentro dele aparou a tentativa de golpe de um deles e uma força desconhecida surgindo de dentro de si agarrou a besta fera e a jogou longe, porém, o outro conseguiu desferir um golpe com as garras afiadas abrindo três cortes profundos.

 

Olhou para baixo e viu os cortes e isso lhe irritou e não sabendo nada e nem o como ordenou-lhes que se prostrassem perante si e os dois sentindo aquelas ondas enviadas por ele pararam e ajoelhando ambos baixaram a cabeça também sem entender nada.

 

- Vocês me seguirão e lá no meu destino verei o que farei por vocês ou com vocês. Entenderam?

 

Não houve resposta, mas Pedro voltando nos pés começou a correr no sentido inverso e notou que os dois o seguiam obedientemente sem querer atacá-lo. Sentiu um conforto dentro de si e muito antes de chegar na fazenda saiu por uma imensa área aberta na mata e deu voltas em torno de si mesmo e notou que eles o seguiam por onde ele estava indo. Sorriu intimamente e quando chegou finalmente no pátio da casa grande notou que um grupo enorme de seguranças sob a coordenação de seu avô que estava aflito se preparavam para sair a fim de tentar encontra-lo já temendo pelo pior. Nada disse, mas parando ordenou que eles se ajoelhassem e assim eles fizeram e começaram a voltar a sua forma semi-humana.

 

- Meu filho o que houve? Onde estava?

- Acordei muito cedo e resolvi correr um pouco.

- Sem segurança?

- Acredito que nem precisei não é vovô?

- Porque está com a camiseta rasgada como se tivesse sido rasgada por garras?

- Onde?

- No seu abdômen!

 

Pedro baixou os olhos e outra vez surpreso viu que os cortes feitos pelas garras de um deles haviam cicatrizado e estava novo como era anteriormente e desconversou momentaneamente.

 

- Resolvi lançar uma moda de camiseta rasgada vovô!

 

Ninguém riu ou achou graça daquelas palavras. Eram ou foram homens lobos e todos conheciam a forma de rasgos como aqueles a mostra em sua camiseta. Sabiam que Pedro havia sido atacado e por baixo daquela camiseta rasgada deveriam ter cortes profundos em seu corpo, mas nada havia e aproximando-se Rebeka quis olhar mais detalhadamente e nada viu de anormal ali a não ser manchas de sangue na roupa.

 

- Me acompanhe sem discutir! São ordens médicas.

 

Apesar de não gostar do pedido a acompanhou sendo seguidos por Gustavo e Rafael, mas não antes de ordenar que os dois ficassem no mesmo lugar e esperassem ele voltar. Entraram no prédio do centro de pesquisa e foram até a sala de atendimento de Rebeka.

 

- Tire estes trapos, por favor! Pediu ela.

 

Pedro tirou o que sobrou da camiseta e ao ver aquele dorso nu diante de si seu olhar de desejo tomou conta de seu interior e Rebeka teve que se conter para não agarrar aquele jovem forte diante de si. Gustavo e Rafael entenderam o desejo dela e se entreolhando sorriram.

 

- O que aconteceu de fato?

 

Pedro não querendo enrolar contou o que aconteceu desde que saíra da fazenda até ser atacado por aqueles dois que o acompanharam na volta em detalhes contando também que ali, no seu abdômen deveria estar três cortes profundos que já não existiam mais.

 

- Vamos fazer um exame prévio. Tire toda sua roupa!

- Como? Perguntou Pedro surpreso.

- Tire tudo que sobrou de roupa em você. Entendeu ou quer que eu desenhe?

- Quer que eu fique pelado, é isso?

- É! Vamos, vá rápido.

 

Apesar de constrangido Pedro a atendeu e viu que tanto Rafael quanto Gustavo viraram de costas e sem se importar deles estarem ali ou não Rebeka foi examinando detalhe por detalhe daquele corpo jovem, mas bem desenvolvido e quando mais descia seu olhar mais excitada ficava, porém, clinicamente fez o impossível para se controlar.

 

Estava no cio e por ordens dela mesma e de Gustavo era terminantemente proibido qualquer ato libidinoso entre todos que habitavam naquela imensa propriedade e com muito custo ela procurou colocar à frente do desejo de mulher loba a sua vocação e desempenho de médica e cientista. Rafael e Gustavo sem nada dizer imaginando como estaria a cabeça dela sorriam por dentro.

 

- Não consegui detectar qualquer indicio de contaminação ou de danos que poderiam ter sido causados por ataques de lobos ou licotrampos. A meu ver você está melhor que qualquer um de nós e agora pode se vestir.

- Quer que eu vista estas roupas sujas de sangue? Perguntou Pedro tentando não rir.

 

- Não! Tenho roupas aqui de trabalho, só que ficará sem cueca. Tudo bem?

- Está!

 

Finalmente Rafael e Gustavo se viraram e foi cômico ver a cara de desejo de Rebeka que lutava contra ela mesmo para se conter e não jogar o corpo daquele menino homem sobre uma cama ou mesmo no chão e soltar todo o desejo de loba no cio sobre ele.

 

- Está difícil de se conter? Perguntou Gustavo sorrindo.

- Nem me diga! Respondeu Rebeka tentando não rir.

- Foram ordens médicas e curiosamente suas!

- É! Malditas ordens médicas. Está pronto e confortável Pedro? Perguntou voltando a ser médica.

- Sim senhora!

- Não me chame de senhora, por favor! Sou Rebeka. Apenas Rebeka.

- Tudo bem Rebeka, apenas Rebeka. Respondeu Pedro sorrindo.

- Agora saiam daqui e voltem para seus afazeres. Disse tentando segurar o que estava sentindo.

 

Saíram e mal haviam chegado aos elevadores Rebeka entrou na sua toalete intima e abrindo o chuveiro tomou um banho gelado e foi se contendo aos poucos e quando se sentiu bem se enxugou e depois de vestir-se foi para a superfície.

 

- O que quer fazer com eles senhor? Perguntou Rafael.

- Vamos ver! Podem se levantar.

 

Ainda sem entender onde estavam e o que faziam ali ambos se levantaram e ficaram olhando para Pedro em um misto de respeito e admiração.

 

- De onde vocês são? Perguntou Rafael.

 

Ambos não disseram nada e Pedro resolveu intervir.

 

 

- Deixe isso comigo Rafael! Posso saber de onde vocês são?

- De longe. Muito longe. Respondeu um deles.

- O longe muito longe pode não ser tão longe se soubermos onde fica. Poderia me responder de onde são?

- Kandália! Somos de Kandália.

- Kandália, na Índia? Perguntou Gustavo curioso.

- Sim! Responderam os dois.

- E o que estão fazendo aqui e como conhecem nosso idioma?

- Sou Raj e este é Nabir! Conhecemos os idiomas inglês e o português.

- E o que fazem aqui?

 - Viemos em busca do supremo.

- E porque o encontrariam justo aqui?

- Não sabíamos, mas o encontramos, não foi?

- Já mataram algum humano?

- Não! Nunca, nos contemos até agora, mas sentimos fome e não encontramos caça alguma e por isso lhe atacamos e peço-lhe desculpas por Nabir ter-lhe ferido.

- Me feriu?

- Foi! Disso eu me recordo.

- Como é Kandália? Existem outros iguais a vocês lá? Cortou Pedro.

- Há sim!

- Quantos?

- Centenas!

- Homens lobos ou licotrampos?

- Não há nenhum homem lobo lá, só licotrampos.

- E qual a origem disso?

- Ninguém consegue explicar! Surgiu do nada e foi crescendo. O que sei é que logo eles começarão a sair de lá e a atacar os humanos.

- O que você acha disso doutora Rebeka? Perguntou Gustavo.

- Temos que cuidar daqui onde estamos, mas não podemos deixar que o mundo caia também.

 

- E o que sugere? Perguntou Pedro.

- Na minha opinião deveríamos ir para lá e vacinarmos o maior número possível deles.

- Temos medicamento para quantos?

- Hoje temos quatro mil e duzentas doses que seria o suficiente para nós daqui, porém, podemos produzir mais e teríamos em torno de cinco mil em trinta dias.

- Estariam sujeitos a serem medicados Raj e Nabir?

- Por isso viemos senhor!

- Sabiam do medicamento?

- Não, mas um chamado nos disse que o supremo estava aqui e arriscamos vir para saber se ele poderia nos ajudar.

- Vamos fazer o seguinte! Serão aplicadas a primeira dose do medicamento e uma equipe voltará com vocês para Kandália e lá será aplicada em mais pessoas. Fica bom assim para vocês?

- Sim! Seria maravilhoso acabar com esta peste.

- Não é uma peste Raj e sim um desígnio de sabe-se lá o que, mas iremos ajuda-los.

 - Que Shiva lhes abençoe.

- Doutora! Prepare tudo. Aplique o medicamento neles e depois de cinco dias prepare uma equipe para ir para lá. Rafael, prepare um grupo de segurança para acompanha-los. Irão até a capital e embarcarão para lá no avião que temos do grupo. Ordenou Gustavo.

 

Raj e Nabir seguiram Rebeka, Rafael foi escolher alguns dos melhores seguranças e Pedro junto com Gustavo entraram voltaram para a casa sede onde Pedro foi tomar banho para depois se trocar e ir tomar café com seu avô e depois veriam o que fazer, pois para Pedro não havia mais nenhum dia normal como era até a quinze dias antes.

 

- Vovô! Eu tive um sonho meio atribulado esta noite e por isso fui correr um pouco de manhã. Disse Pedro assim que ficaram a sós.

- Que tipo de sonho?

- Tipo de algo assim como aconteceu e sobre uma guerra que está por vir onde muitos morrerão.

- Sonhou com isso?

- Sim!

- E por isso cometeu a loucura de sair de madrugada sozinho?

- Mais ou menos isso!

- Sabia que se lhe cortarem a cabeça não daria para que ela se recuperasse?

- Nem pensei nisso!

- Somos, digamos meio imortais, mas não eternos. Também temos nossas falhas.

- É verdade, mas o que acha que deveremos fazer neste caso da Índia vovô?

- Eu imaginava que isso aconteceria algum dia, mas não em alta escala e temos o primeiro ápice que precisa ser contido porque senão será uma devastação total da raça humana.

- Acredita que a solução será mandar uma equipe preparada para aplicar a dose de imediato?

- Veja bem meu filho! A nossa preocupação é aqui com a cidade, estado e este país que eu adotei como meu a muitos anos, mas não podemos esquecer que o mal que vem de fora é mais difícil de dominar. Primeiro, eu recomendaria que enviássemos a nossa equipe para combater lá enquanto cuidamos dos nossos daqui. Concorda?

- Totalmente!

- Então vamos agir como o combinado. Agora vamos almoçar e depois ver os o que deu com dois indianos que você arrumou, mas me diga, arriscaria comer carne de jacaré?

- Vou tentar!

 

Foram para a copa e lá havia uma farta mesa com várias coisas para comerem desde o tradicional javali até a carne de jacaré além de salada, batata frita, arroz e feijão. Se alimentaram e Pedro se surpreendeu com a carne de jacaré que além de ser uma carne suave se assemelhava a carne de peito de frango.

 

- Não sabia que ela era tão tenra e saborosa assim! Disse Pedro.

- Podemos coloca-la no cardápio a partir de hoje?

- Podem sim! Muito boa, mas agora vamos lá ver os novos amigos.

 

Saíram, cruzaram o pátio e logo estavam no andar onde permanecia Rebeka trabalhando.

 

- Boa tarde doutora! Cumprimentou Pedro.

- Oi Pedro! Está melhor?

- Pronto para outra como diria um amigo meu.

- Não abusa porque você não é o Superman.

- Verdade! Vou conter meu ímpeto agora.

- Fará muito bem e é para o seu bem.

- Como estão os dois novos amigos?

- Repousando e aguardando para ver se não haverá reação.

- Eles relutaram para tomar a dose?

- Nem um pouco. Na verdade, isso me surpreendeu, pois demonstrou que eles de fato queriam se curar e acredito que será fácil se eles estiverem junto dos meus assistentes lá na hora de aplicar nos demais.

- Tem ideia de quanto seriam?

- Segundo Raj são mil, quatrocentos e vinte e sete detectados, mas levaremos duas mil doses e teremos que voltar lá depois para reaplicarmos por garantia.

- Quando eles estarão aptos para viajar?

- Amanhã mesmo, mas quero deixá-los aqui para observação até lá.

- Tem receio de alguma reação?

- Teoricamente não, mas vá lá saber.

- Eles se alimentaram?

- Sim e como comeram. Parecia que não comiam nada a alguns dias.

- Não deixe que lhes falte alimentos, por favor.

- Pode ficar tranquilo porque de fome eles não morrerão e vamos ter fé que tudo dê certo e que estejam bem no final do dia. O prazo é de até doze horas para ver se dá negativo ou não.

- Em caso negativo o que acontece?

- Convulsões e morte em no máximo cinco minutos.

- Vamos torcer então para que o sistema do corpo deles aceite. Obrigado doutora. Disse Pedro e se retirando do local e já que estava no complexo do centro de pesquisa quis conhece-lo por completo e se surpreendeu de novo com o que eles faziam ali que ia desde desenvolvimento alimentício até o antídoto contra a raiva de lobos, ou o medicamento como chamavam que não passava de uma injeção contendo algo dentro que os continham e teoricamente os curavam.

 

A tarde passou e Pedro não saiu do lado daqueles dois indianos. Em um deles acabou dando febre, mas que foi controlada pela doutora Rebeka e ele adormeceu.  A tarde caiu e a noite deu sinal de vida e aquele era o momento crucial. Era a hora de saber se dera certo ou não e para alegria de Pedro que torcia por aqueles dois por volta das vinte e uma horas eles estavam instáveis e sem os riscos de regredir.

  

O tempo passou mais um pouco e faltavam dez minutos para a meia noite quando haviam se esgotado qualquer possibilidade de reação por parte dos dois e teoricamente estavam limpos e poderiam levar uma vida humana de novo. Rebeka autorizou para que abrissem a porta da gaiola de vidro como eles chamavam por ali e ambos saíram.

 

- Como vocês estão?

- Muito bem! Respondeu Raj.

- Sentem alguma coisa, alguma reação?

- Nenhuma!

- E você Nabir, o que está sentindo?

- Paz interior! Respondeu.

- Paz interior?

- Sim! Me sinto leve em corpo e alma.

- Acreditam que lhes fizeram bem o medicamento?

- Integralmente! Responderam.

- Vocês têm famílias?

- Acreditamos que ainda temos. Esposa e filhos.

- Recomendaria este medicamento para eles?

- Sim! Com certeza. Respondeu Raj.

- Sabem que daqui a seis meses tem que tomar outra dose, não sabem?

- Sabemos sim! Responderam.

- A doutora já lhes informou de tudo e dos procedimentos de agora em diante?

- Sim! Responderam.

- Estão com fome?

- Muita! Responderam.

- Já comeram carne de jacaré?

- Nunca! Responderam os dois.

- Então hoje irão provar uma nova iguaria, mas se não quiserem terão mais opções. Vamos?

- Vamos porque a fome está nos matando. Respondeu Raj rindo.

 

Subiram para a superfície acompanhados pela doutora Rebeka que pela primeira vez foi convidada para comer na casa central onde entraram e Gustavo mesmo não tendo gostado nada disse.

 

Raj e Nabir nunca haviam visto uma mesa tão farta e se alimentaram com imenso prazer e terminando de se alimentar Pedro lhes informou que dali a dois dias seguiriam para a capital e de lá, de avião da empresa, rumariam para Orissa e de lá seguiriam por terra o restante do percurso, mas ainda naquela noite para segurança de todos eles passariam por nova observação e assim foi feito e logo pela manhã foi constatado que a aplicação dera certo e fora bem-sucedida.

 

Passaram ainda mais um dia no convívio de Pedro, Rebeka e dos demais e no outro dia ainda de madrugada partiram para a capital com vinte membros da equipe de Rebeka e outros quarenta e seis seguranças da guarda pessoal do grupo.

 

- Não sabia que haviam tantos seguranças aqui vovô?

- Muitos! Temos muitos seguranças aptos para atirar e todos com porte de armas.

- Para que tudo isso?

- O que você sonhou mesmo? Perguntou Gustavo sorrindo.

- Ah tá! É verdade. Entendi.

 

Os dois indianos se foram junto com as equipes clínicas e de segurança e com isso, Pedro, Rebeka e Gustavo esperavam que com isso, a infestação de homens besta fera de Kandália fosse contida e se fosse eles teriam menos com o que se preocupar no tocante à defesa da raça humana e com isso a manhã passou sem mais nenhum contratempo. Pedro foi praticar seu treinamento e desta vez Rafael chamou mais dois assistentes qualificados e novamente passadas quatro horas os três estavam exaustos e Pedro aparentava sua total disposição para enfrentar seus oponentes.

 

Saiu do treinamento assobiando, pegou o elevador, chegou na superfície, foi para a casa sede onde viu seu avô na varanda contemplando o vale diante de seus olhos, não chegou até ele, entrou e foi tomar banho e depois voltou para almoçar.

 

- Vi você chegando e nem veio falar comigo!

- Desculpe vovô! Eu estava querendo tomar banho e não quis lhe incomodar.

- Eu estava apenas olhando para o vale e pensando no que construímos aqui durante estes anos todos.

- Construímos não, não é vovô! Você construiu um império.

- Não meu filho! Eu digo aqui mesmo na cidade de Joanópolis e pode não parecer, mas foram muitas coisas.

- Bem, pelo que eu vi foi muita coisa mesmo e lhe dou os parabéns por isso.

- Sabe! Quando cheguei aqui já havia a lenda do lobisomem como te contei e foi por isso que me refugiei. A lenda existia, mas não havia de fato um lobisomem. Pelo menos que saia matando ou machucando os humanos normais.

- Não havia de fato um lobisomem?

- Havia e lenda e pessoas que diziam ter visto um ou outro homem lobo, mas era apenas uma coisa que acabou ganhando nome e virou lenda.

- E daí, como que foi isso?

- No ano de mil novecentos e oitenta e três apareceu por aqui uma historiadora, Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima que percebeu uma quantidade enorme de histórias que tratavam de lobisomem e resolveu investigar o assunto mais a fundo. Preparou uma tese que levaria a integrar a Associação Brasileira do Folclore e que posteriormente acabou resultando em um livro de título lobisomem, mas de certa forma sem fundamento.

- Interessante! Não é tão antiga assim então a lenda, não é?

- A lenda na verdade, era apenas causos que contavam aqui e acolá e isso me atraiu, mas voltando ao assunto desta tese da historiadora torna-se atrativo da cidade bastou um pequeno salto que teoricamente teria surgido no arraial de São João em vinte e quatro de junho de mil oitocentos e setenta e oito se eu não estiver enganado. Os causos começaram a surgir e aumentar e mesmo tendo pessoas dizendo que viram o bicho fera na verdade nunca foi comprovado que havia um de fato e foi aí que entrei na história e comecei a soltar ora um ora outros nos arredores da cidade apenas para dar de certa forma veracidade aos causos e foi aí que eles, os causos se tornaram lenda assim como é o do corpo seco.

- Estou impressionado com isso vovô!

- Eu tinha que me proteger e aos homens e mulheres lobos que trouxe comigo e já nesta época a doutora Rebeka havia produzido um algo que deixava os meninos e meninas lobos mais tranquilos, porém, a teórica tranquilidade de meus meninos era e foi mais importante por temor a mim, o líder da alcatéia que eu mesmo formei.

- O alfa o senhor quer dizer?

- Sim! O lobo poderoso, ou a fera cruel.

- E funcionou?

- Até agora sim, mas para minha surpresa e a de todos, de repente você, um jovem humano surge e dá vazão à verdadeira lenda entre os homens lobos de todo o planeta que mudaria e mudará tudo entre nós.

- O senhor diz do supremo?

- Isso e nenhum de nós conseguimos saber porque o supremo seria justamente um humano restando apenas a possibilidade ou única possibilidade de que isso pode ter sido causado pelo medicamente que eu tomei e pude procriar um filho humano que casando com outra humana gerou você.

- É até engraçado isso, mas tem certeza de que este supremo sou eu mesmo?

- Se não for então eu direi que você é um anjo enviado do céu ou do inferno que veio aqui para confundir as nossas mentes, pois os poderes dele você com certeza têm.

- Será mesmo?

- Enquanto você tomava banho o Rafael o meu mais fiel colaborador veio até mim e trouxe Radamés e Hendira dois dos meus melhores guerreiros e os três estavam arrebentados e cansados de tanto apanhar de você.

- Eu não bati em ninguém. Só me defendi.

- Isso mesmo! Você foi nobre, mas eles não pegaram leve com você e foi se defendendo que deu uma surra neles.

- Hendira! Foi isso que o senhor disse?

- Sim! Ela é uma guerreira nata.

- É uma mulher?

- Uma loba mulher melhor dizendo.

- Nem percebi! Eles usavam roupas ninjas.

- Sempre usam para que não saiba quem são eles, mas vou chama-los depois para que os conheça.

- Acho que me defendi pegando pesado com ela. Tenho que me desculpar.

- Não faça isso jamais por aqui. Se desculpar mostrará fraqueza e desonra para eles.

- Tudo bem! Na hora Radamés que mais parecia um urso de tão grande e forte era o que eu mais iria concentrar atenção, mas de repente Rafael deixou os dois se exercitando comigo e Hendira era uma endiabrada. Ágil e rápida como se fosse uma cobra.

- Na verdade, Rafael achou que os dois deixariam você cansado ou subjugado, mas vendo que você não cansava ele entrou no treinamento e se deu mal também. Riu Gustavo.

- Fico impressionado com estas coisas.

- Você fica! Imagine eu que o achava um adolescente nerd e descubro que tinha uma máquina em forma de gente dentro de minha família, mas mudando de assunto hoje teremos alguma novidade sobre o caso de seus pais.

- Sério vovô? Perguntou Pedro com um sorriso nos lábios.

- Sim! Como lhe disse tenho uma rede de homens lobos esparramados por aí e eles vasculham tudo que é do nosso interesse e no final da tarde Pietro virá até aqui e nos informará sobre o ocorrido.

- Nossa! Não vejo a hora dele chegar.

- Então vamos almoçar porque não sei você, mas eu estou com uma fome de lobo. Disse Gustavo sorrindo.

- De lobo!

- É e a propósito, já comeu carne de anta e de capivara?

- Nunca! Que gosto tem?

- A de capivara tem um sabor próprio, exótico que é típico de animal de caça, porém, não dá para compará-las com as carnes suínas ou bovinas. Elas não apresentam estrias gordurosas e tem uma cor vermelha forte, do tipo que agrada e muito os homens lobos, porém, para realçar o seu sabor tem que dar uma marinada mais ou menos de um dia. Já a carne de anta, parece digamos como se fosse a carne de vaca e não é muito apreciada pelos homens lobos. A carne das pacas tem o sabor suave e levemente adocicado com baixo teor de gordura e é rica em proteínas, cálcio e fósforo.

- Acho que aprendi aqui nestes dias mais do que aprendi nas escolas desde que entrei nelas. Falou Pedro soltando um leve riso.

- Bem vamos almoçar porque senão vou acabar soltando o lobo que está guardado dentro de mim e vou morder a sua orelha. Falou Gustavo simulando que ia correr atrás de Pedro.

 

Foram para a copa e ali, sobre a mesa haviam vários pratos diferenciados, porém, Gustavo havia pedido para que colocassem diante de cada recipiente que tipo de carne era para que Pedro pudesse provar ou se servir mais caso desejasse.

 

Se alimentaram e depois foram até a enorme varanda de onde avistava-se o vale e ficaram ali sentados com Gustavo contando muito mais sobre as suas origens e mais sobre o que ele tinha em mente de criar ali na fazenda de animais exóticos próprios para alimentação, mas em momento algum ele citou galinhas, patos ou outro animal doméstico.

 

A tarde passou pelo ponto de vista de Pedro muito devagar, mas passava pouco das dezesseis horas quando um automóvel ultrapassou o portão de entrada da fazenda e seguiu em direção à casa sede. Pedro e Gustavo os aguardavam cada qual com seu jeito de sentir os sentimentos. Pedro era de agonia por saber algo de seus pais e Gustavo por saber os motivos que levavam ao culpado.

 

Saíram da varanda e foram recepcionar Pietro que trouxera com ele uma jovem de rara beleza que impressionou Pedro por ela acima de tudo ter um rosto como se fosse de porcelana, ou seja, esculpido à mão.

 

- Seja bem-vindo ao nosso cantinho meu amigo Pietro!

- Obrigado velho amigo, se bem que ainda somos dois meninos!

- Flavinha! Cada dia mais linda. Seja bem-vinda. Este é Pedro, meu neto.

- Então este é o garoto da lenda? Perguntou Pietro.

- Calma Pietro! Muita calma.

- Boa tarde senhor e senhorita! Cumprimentou Pedro sem tirar os olhos de Flávia.

- Muito prazer! Meu nome é Flávia e como papai já informou sou filha dele. Respondeu Flávia dando um leve sorriso.

- Não acha ela linda Pedro?

- Muito linda! Soltou Pedro sem querer e encabulando assim como a ela também.

- Bem vamos deixar de isso de linda ou não porque senão vamos arrumar namoro aqui e o objetivo ainda não é este. Disse Gustavo desta vez sorrindo muito.

- É verdade! Vamos ao que nos trouxe aqui.

- Vamos descer até meu escritório e ver o que tem para nos informar. Pediu Gustavo.

 

Desceram com Gustavo na frente, seguido por Pietro, por Flávia e depois por Pedro que não parava de admirar Flávia por completo. Rosto, seios, altura, olhos e corpo num todo. Era perfeita pensou ele, mas foi interrompido por Pietro que informou que ela atinha acabado de completar dezessete anos.

 

- Ah sim! Tá! Tudo bem! Sim senhor! Respondeu Pedro sem graça por ter sido flagrado.

 

Entraram na rustica, mas bem montada sala de Gustavo e este pediu para que se sentassem. Pedro cordialmente puxou uma cadeira para Flávia que sorriu agradecida e deu-lhe um sorriso em troca disso que ele sentiu como se fosse o riso mais maravilhoso que já vira em sua vida.

 

- O que tem para nos informar? Perguntou Gustavo com Pedro sentado ao seu lado.

- Lembra-se de Vladislav Ivanov?

- Sim! O que tem ele?

- Se queria saber sobre o mandante agora já sabe.

- Você quer dizer que o maldito do Vladislav Ivanov é o responsável pelo assassinato de meu filho, minha nora e dos tripulantes?

- Sim! Ele mesmo.

- Porque?

- Porque ele te odeia! Apenas isso.

- Eu devia ter dado um jeito nele quando podia, mas porque ele fez isso? Saberia me dizer?

- Segundo eu soube de fontes limpas ele teria alguns motivos. Um deles seria o hotel que você tomou dele.

- Tomei o hotel dele? Como assim?

- Ele alega que o hotel era do interesse dele e você foi lá e o comprou.

- Eu nunca soube que ele queria comprar aquele hotel.

- Pois é! Ele queria, segundo ele e você o comprou apenas para provoca-lo.

- Mas nem em sonhos eu faria isso. Que cara mais filho da puta! Disse Gustavo.

- Porém, o principal motivo teria sido de você ter roubado dele Antonella, a mulher da vida dele e depois tendo-a devorada.

- Também não roubei nada dele. Estávamos apaixonados e o que aconteceu foi uma tragédia da qual eu jamais irei me perdoar.

 

Apenas ouvindo a conversa Pedro e Flávia se entreolharam sem saber o que dizer ou fazer, pois de fato era uma coisa inexplicável aquilo sobre homens lobos, ou lobisomens.

 

- Por causa disso, Vladislav, lá no passado jurou se vingar em você nem que tivesse que esperar séculos e foi isso que ele fez a poucos dias atrás e a intenção dele era ter eliminado também seu neto Pedro.

- Maldito! Eu o julgava meu amigo tanto que lhe dei as doses do medicamento que desenvolvemos e aperfeiçoamos durante anos.

- A propósito eu jamais poderei lhe agradecer por causa disso. Graças a ele eu pude me humanizar novamente e conseguir procriar minha linda filha.

- Ela sabe sobre a nossa vida anterior no tempo?

- Sabe sim! Jamais esconderia isso dela e sei que ela é cem por cento humana.

- Meu neto também é! Pulou uma geração e ele me surpreende hoje por ser quem ele é, mas voltemos ao assunto. Quanto de certeza que tem do que acabam de me informar?

- Cem por cento!

- Onde ele se encontra hoje?

- Vladislav é um homem difícil de ser encontrado. Pode estar tanto na vila em que vocês nasceram próxima à Mântua, até estar aqui ao lado na cidade de Extrema ou de Piracaia.

- Onde ele foi localizado pela última vez?

- Estava em um castelo semi em ruínas na cidade de Modena que segundo me foi informado ele mantém a aparência de estado decadente, mas por baixo tem um verdadeiro sistema de informações e um laboratório que cria vírus para mexer com os corpos humanos transformando-os em monstros.

 

Não trocaram palavras, mas Gustavo olhou para Pedro e pensaram nos indianos que tinham apareceram por ali.

 

- Vírus? Perguntou Pedro entrando na conversa.

- Sim meu jovem! Segundo relatos ele estão criando alguma coisa para aplicar em seres humanos de lugares pequenos e lá, nestes lugares, teoricamente a população acaba em alguns dias ou horas se transformando em licotrampos e saem devorando os humanos que encontrarem pela frente, mas claro que isso é apenas um boato e nem dei atenção para isso.

- E se eu lhe disser que sei de um local que ele soltou este vírus? Falou Gustavo.

- Isso não existe meu velho amigo!

- Existe! Ele soltou isso em um vilarejo lá na Índia.

- Não acredito que ele tenha conseguido isso. Disse Pietro arregalando os olhos.

- Pior que conseguiu!

- Meu Deus! A raça humana não suportará isso.

- Vamos tentar impedir isso, mas primeiro preciso de informações sobre o local que ele montou este laboratório e tentar acha-lo e quando eu o encontrar o eliminarei com as minhas próprias mãos.

- Não vovô! Isso já é uma coisa pessoal minha. Sabe que não gosto de violência, mas estes dois atos que ele cometeu não merece perdão.

- Calma que vamos resolver isso juntos, mas me diga o que ele usou no avião que estava meus entes queridos?

- Pelo que eu descobri é uma arma experimental feito pelas indústrias bélicas da China e o primeiro teste foi justamente para atender aos propósitos dele.

- Uma arma que desintegra um avião? Perguntou Pedro.

- Uma arma que pode desintegrar qualquer coisa e até coisa maior que um avião jovem.

- Vovô! Temos que encontrar este monstro.

- Encontraremos! Pode ficar tranquilo. Isso é ponto de honra para mim e Vladislav não irá escapar de sua punição que lhe é devida.

- Quanto a mim nobre amigo, colocarei todos os meus informantes e colaboradores na caça dele imediatamente.

- Obrigado meu amigo por sua colaboração.

- Quanto a você jovem! Como vi seus olhares para minha filha e ela retribuir, se quiser vê-la ou até namorá-la, se ela quiser é claro, tem a minha permissão para isso.

- Papai! Disse Flávia baixando a cabeça corada.

 

Pedro por outro lado não sabia o que dizer e isso acabou fazendo tanto Gustavo quando Pietro acabarem rindo do embaraço dos dois.

 

- Pedro fará aniversário em breve e farei uma festa para ele aqui e antecipadamente os convido para virem.

- Será dezessete dias antes da lua cheia?

- Sim! O que tem isso?

- E ele fará dezessete anos?

- Sim! Algum problema quanto a isso?

- Não! Apenas um comentário bobo meu.

- Se vierem pode ter certeza de que serão bem-vindos.

- Pode aguardar que viremos sim! Agora temos que ir.

 

Se despediram e tanto Pedro quanto Flávia trocaram olhares indecifráveis. O de Pedro não era de amor, pelo contrário, era de puro desejo. Quanto ao de Flávia também não era de amor, mas sim de algum tipo de atração e mais ainda por ele ser ou devendo ser o supremo.

 

Anselmo acompanhou-os até o automóvel e aguardou até que eles saíssem da visão daquele lado da casa sede e imediatamente retornou até onde Pedro estava e ficou olhando para ele sem dizer nada. Sabia o que passava pela cabeça de seu neto bem como entendeu bem o que passava pela de Flávia. Não havia a chama do amor em ambos, mas sim apenas o desejo cada qual da sua forma ou maneira.

 

- O que faremos agora vovô?

- Primeiro vamos começar a cuidar de sua festa de aniversário e ver quem deseja convidar e pode ser seus amigos lá de São Paulo que se não tiverem condução para trazê-los mandaremos busca-los.

- Acha certo isso?

- De convidá-los ou de mandar trazê-los?

- Os dois!

- Depende apenas de você e não de mim.

- Não acha arriscado trazê-los até aqui?

- Você tem receio de que não seja uma boa ideia?

- Não disse que não queria se expor?

- Disse!

- E abriria mão disso por mim?

- Você é acima de tudo meu neto e meu único parente, além de ser um jovem que eu admiro muito, portanto, faria e farei se você desejar.

- Não vovô! Vou respeitar a sua intenção de ficar sem se expor para outros que poderiam começar a comentar sobre a fazenda ou o risco de verem aqui o que não deveriam ver.

- Obrigado por isso meu filho, mas eu não vivo em uma caverna. Também saio daqui para ir na cidade e raras vezes para a capital também.

- Isso é verdade e por falar em ser verdade ainda me deve a ida até a cidade para conhecê-la melhor e quem sabe até o prefeito Orlando.

- Sei! E também a Angelina, não é?

- O senhor quem disse e não eu. Respondeu Pedro sorrindo.

- Vai convidá-lo para o meu aniversário?

- Pelo mesmo motivo que você alegou de seus amigos, acho melhor não ainda. Não na verdade como dissemos a pouco a dezessete dias antes da véspera de lua cheia.

- Teme por algo então?

- Nunca se sabe, não acha?

- Verdade! Melhor não e afinal são apenas mais um aniversário.

- Não é apenas um simples aniversário e você sabe bem disso.

 

A tarde findou, a noite chegou, se recolheram e sem nenhum contratempo a noite passou e na madrugada uma forte chuva caiu sobre eles o que adiou a ida dos dois para a cidade o que frustrou Pedro mais uma vez, mas ele não tinha pressa. Esperaria pela hora certa e mais uma vez o dia passou tranquilo e Pedro apenas fez o seu treinamento normalmente deixando de novo seus opositores quebrados de tanto tentar pegá-lo de jeito.

 

Mais outro dia chegou e o líder do grupo de segurança que acompanhavam os assistentes de Rebeka ligaram e disseram que com a ajuda e apoio de Raj e Nabir mais da metade dos infectados já haviam recebidos o medicamento, porém, a notícia ruim era que muitos humanos foram mutilados pelos infectados e dois deles não resistiram ao medicamento e morreram, mas isso não chegou a abalar os que queriam a cura.

 

Por outro lado, Pietro ligou e disse que Vladislav havia sido visto em Viena e no outro dia em Londres e com isso estava sendo dificultado a sua localização precisa.

 

- Que tipo de pessoas estão caçando Vladislav? Perguntou Gustavo quando estava sozinho.

- Homens lobos de extrema confiança!

- São preparados para tudo?

- Sim! São uma espécie de soldados que o caçam! O quer que eu faça se ele for localizado?

- Nem preciso dizer, preciso?

- Não quer você mesmo fazer isso?

- Não! Não vamos correr o risco de ele escapar novamente e a sentença dele já está definida e sabe o que fazer depois que cumpram a missão, não sabe?

- Ela será entregue em uma bandeja para você velho amigo! Pode contar com isso.

- Conto com você meu amigo! Respondeu Gustavo desligando.

 

Desligou o telefone e ainda ficou ali parado pensando nele e em Vladislav. Eram amigos de infância, da velha infância. Brincavam de todos os jeitos que dois meninos costumam brincar até que quando Gustavo estava se transmutando Vladislav mão entendeu nada e para não o ferir Gustavo preferiu se trancar por trás de uma cela no porão de um velho castelo.

 

Vladislav ficou ali do lado do amigo a noite toda vendo a transmutação de e impressionado ficou por ver aquele pequeno amigo se transformar em um lobo imenso e feroz. Não teve medo, mas sentiu desejo de ser igual, pois via além da ferocidade a força que seu amigo adquirira e quando pela manhã voltou ao normal ali estava ele sentado apenas o olhando.

 

- Nikolai! Quero ser igual a você. Pediu.

- Você está doido Vladislav?

- Não! Vi o poder e a força dentro de você e também quero isso.

- Para que fosse parecido comigo eu teria que te morder acho eu.

- Então que me morda! Quero a imortalidade também.

- Não sou imortal! Também posso morrer.

- Não importa! Me prometa que atenderá ao meu pedido.

- Pela amizade que temos de anos não posso fazer isso.

- Vou te contar um segredo! Eu estou com uma doença que está me consumindo a meses e não quero morrer e acho que este seu dom irá me ajudar a viver mais tempo.

- Não sabia disso! Porque não me contou?

- Não percebeu que estou emagrecendo cada dia mais e mais?

- Isso eu percebi e até ia comentar contigo, mas acabou passando porque você nunca me deu uma brecha para eu comentar sobre isso.

- Pois é! Não sei quanto tempo ainda tenho de vida e não quero morrer. Por favor, me ajude a acabar com isso.

- Sabe que isso não tem mais volta, não sabe?

- Sei!

- Estará amaldiçoado pelo restante de seus dias, também sabe disso, não sabe?

- Sei!

- Não poderá mais ter amigos mortais por perto de sua transformação, sabe disso, não sabe?

- Sei sim!

- E está disposto a abrir mão de sua humanidade por isso?

- A minha humanidade terminará em poucos dias, meses ou horas. Me ajude, por favor.

- Tudo bem! Amanhã à noite eu me trancarei aqui de novo e irá me ajudar a me amarrar para evitar eu te destroce. Concorda?

- Concordo sim e se acabar comigo melhor ser por um amigo do que por causa desta maldita doença.

- Se deseja assim em nome de nossa amizade eu o farei, mas pense bem porque depois não haverá mais cura. Fui claro?

- Foi sim e quero mesmo isso!

- Então à noite farei a sua vontade.

 

Tudo isso passou pela cabeça de Gustavo que na verdade era Nikolai em poucos segundos. Não contara a verdade de sua origem para ninguém e eram raros os que sabiam de seu nome verdadeiro, porém, esperava ter a oportunidade de contar para Pedro o mais rápido que pudesse.

 

Também não nascera na Itália e sim em um pequeno povoado no leste da Rússia, hoje Ucrânia e depois das atrocidades que cometera Nikolai Volkov migrou de um lado para o outro sempre cometendo atrocidades por onde passara até ir parar na Itália onde adotou o nome de Gustavo Santilena Spallucci Spadonni que na verdade era Gustave e readaptado no passado para o nome que usara por centenas de anos.

 

Já Vladislav nunca se preocupou em mudar de nome, pois o seu desejo íntimo era o de matar sem medo de que fosse atingido e acabou ficando ainda mais violento quando Nikolai tomara para si e depois supostamente matou a mulher que ele amava. Não sabia desta ira que ele guardara por séculos, mas quando descobriram o medicamento que dava a eles o direito de poderem conter o ímpeto da besta sem pensar ofereceu a provável cura para que Vladislav tomasse e mesmo ele tendo sofrido por quatro dias seguidos acabando se recuperando e ficando mais humano na vida, mas na essência acabou ficando ainda mais destrutivo que era antes e agora queria destruí-lo.

 

Nem sabe quanto tempo ficou ali recordando o trágico passado que o prendia à Vladislav, mas teve a oportunidade de acabar com a vida dele mais de uma vez, porém, algo daquela velha amizade o impediu de concretizar a oportunidade a ele dada.

 

Vladislav tomando o medicamento e se recuperando parou de atacar os humanos e se reeducou, porém, ainda tinha possibilidade de transformar em homens lobos aos humanos normais, mas ele preferiu montar um verdadeiro exército que o servia cegamente e a única pessoa que passava pela sua cabeça era a destruição de qualquer um e agora Gustavo sabia que ele possuía um laboratório com a finalidade de criar vírus mortais e estava usando-o em lugares improváveis em qualquer lugar do planeta e não duvidava que ele ousasse vir para perto dele para destruir tudo que estava ao seu lado. Ele tinha que ser detido e exterminado e disso não restava a menor dúvida.

 

Tinha que dar um jeito naquela situação e daria sem dó nem piedade, pois não permitiria que aquilo que ele criou respingasse por ali onde eles estavam e nem em lugar algum. Ser um homem lobo ou um lobisomem era uma coisa, mas sair destroçando tudo e a todos como ele fez em um passado negro de sua vida isso ele não aceitava e nem aceitaria mais.

 

Passou horas e mais horas pensando nisso e faltava pouco para clarear quando deu uma leve cochilada, pois queria acordar cedo para começar a cuidar da festa que daria para Pedro e disso não abriria mão de forma alguma.

 

Pedro acordou quase no mesmo instante que seu avô pegara no sono no quarto próximo do seu. Levantou-se, tomou banho, se trocou, tomou café e foi animado para o prédio ao lado da casa sede. Cumprimentou o segurança que estava do lado de fora. A porta se abriu e lá estava Agnelo. Cumprimentou-o e aos seguranças internos. Apertou a luz, a porta se abriu e ele desceu sozinho até o imenso espaço onde Rafael e desta vez outros quinze ninjas o aguardavam.

 

- Vai apelar é? Perguntou sorrindo.

- Precaução senhor!

- Fazia isso com meu avô?

- Não! Se eu fizesse isso ele me jogaria para os jacarés. Respondeu sorrindo.

- Não acha exagero quinze ninjas?

- Corrigindo! Quinze ninjas e eu.

- Não vai querer dar moleza hoje é?

- Nunca dei senhor, mas apanhar cansa.

- Eu nunca bati em vocês!

- Sei disso, mas as suas defesas também machucam sabia?

- Vai amarelar Rafael?

- Nunca! Vamos.

- Vamos!

 

Foram cinco horas sem interrupção de treinamento da pior espécie que uma pessoa normal poderia passar e ao final disso todos estavam extenuados e com sede. Muita sede.

 

- Chega ou quer mais?

- Você é normal senhor?

- Dizem os exames da doutora Rebeka que sou, porque?

- Porque parece mais uma máquina que um ser humano e te garanto que nem os homens lobos são como o senhor em agilidade, força e inteligência.

- Pode parar de me puxar o saco porque sou apenas um menino.

- Então vou começar a me preparar para quando crescer. Respondeu Rafael sorrindo.

- Quantas garotas tem nestes quinze?

- Já vai descobrir! Vuks!

 

Rafael pronunciou a palavra Vuks e imediatamente eles se postaram em sinal de prontidão e respeito.

 

- O que é Vuks?

- Vuks é o mesmo que lobos em Croata.

- Gostei!

- Vuks retirem a veste da cabeça.

 

Rafael virou de costas e imediatamente um a um foi retirando o véu e mostrando seus rostos e para surpresa de Pedro todas eram garotas.

 

- Todas são garotas?

- São! Na verdade, mulheres lobas e guerreiras.

- São meninas ainda!

- Meninas! A mais nova delas tem idade para ser sua tataravó no mínimo senhor!

- Está brincando não está?

- Não!

- Tudo bem, mas porque colocou um grupo com quinze garotas?

- Porque elas são mais rápidas e perigosas de toda a legião que temos na matilha com poder de destruição letal.

- Espera aí! Você colocou estas garotas para me matarem?

- O senhor está morto?

- Não!

- Tenho permissão para expressar minhas palavras?

- Tem!

- Se está vivo então não enche! Respondeu.

- Fazia isso com meu avô também?

- Fazia sempre, só não dizia para ele não me encher. Respondeu sorrindo de leve.

- E se elas tivessem cortado meu pescoço?

- Jamais fariam isso, porque em treinamento contra os alfas elas são proibidas de fazer isso.

- E se tivesse uma má intencionada:

- Se tivesse uma má intencionada a esta hora já teria servido de comida para os jacarés. Respondeu sério.

- Deram o máximo delas?

- Deram! Eu também.

- É sempre assim com você?

- Me perdoe, mas fui preparado por seu avô para não ter dó e nem piedade nos treinamentos.

- Alguma vez ele fraquejou?

- Nunca e pelo que vi se for treinar com ele seria difícil saber quem cansaria primeiro.

- Qual sua avaliação quanto a mim?

- Isso terei que passar para o doutor Gustavo e para a doutora Rebeka antes de que saiba.

- Nem vou falar nada então! Normas são normas e regras são regras e não serei eu que as mudarei por enquanto.

- Obrigado por entender senhor!

- Senhoritas! Foi uma honra treinar com vocês! Disse Pedro fazendo uma referência tipo em japonês.

 

Saiu sem dizer nada e nem percebeu que elas se entreolharam e sorriram agradecidas pelo tratamento a elas concedido. Pedro sem saber disso pegou o elevador, subiu e se encontrou com seu avô na varanda da casa sede.

 

- Você está bem vovô?

- Estou! Quase não dormi a noite e peguei no sono o sol já estava quase saindo. Como foi no treinamento.

- Acho que bem! Rafael colocou quinze garotas ninjas para treinar comigo.

 - Quinze?

- Sim!

- Garotas?

- Pareciam ser, apesar dele dizer que eram mais velhas que a minha tataravó.

- As Vuks?

- Foi o que ele disse!

- Tem certeza de que eram as Vuks?

- Não sei, mas pedi para vê-las e ele ordenou que elas tirassem as toucas ninjas.

- E elas tiraram?

- Sim!

- Como eram elas?

- Aparentemente jovens. Asiáticas, da Europa dos lados escandinavos, uma deveria ser africana, algumas deviam ser russas ou croatas, uma tinha uma cicatriz embaixo do pescoço e outra tinha uma cicatriz próxima da orelha.

- Reparou nisso tudo?

- Sim!

- As duas das cicatrizes são Herta e Ingrid, mas confesso que nunca vi os rostos delas e se os viu é porque elas têm certeza de que é o supremo mesmo, pois jamais mostrariam para quem quer que fosse e nem eu ousei vê-las.

- Porque?

- São verdadeiras armas de guerra, imbatíveis e não deixa ninguém ver seus rostos.

- Nem o Rafael?

- Você viu ele olhando para elas?

- Não! Na verdade, ele virou de costas quando pediu para que elas tirassem a touca.

- Ninguém jamais ousou isso e se elas tiraram é porque a partir de hoje morrerão por você.

- Vovô! Sou apenas um garoto da cidade grande.

- Grande é o seu potencial, isso sim, mas tenho que ter uma longa conversa com você e quero tê-la logo depois que tomar banho e almoçar contigo. Hoje teremos rãs no cardápio. Já comeu isso?

- Isso já! Meu pai me levou uma vez para pescar e tinha isso lá e ele me enganou dizendo que era frango e eu acreditei.

- Penso em criar isso aqui também! Agora vá tomar banho que estou com fome.

 

Pedro se retirou e Gustavo ficou ali sentado em uma cadeira na varanda olhando para o horizonte. Estava cansado e sentindo o peso dos longos anos. Era hora de passar o bastão e tinha o melhor de todos para passar que era seu neto e o homem das lendas dos lobos.

 

Iria contar toda a verdade para Pedro e nem sabia como ele reagiria, mas não poderia mais guardar segredos ou fatos imprecisos dele. Pedro tinha que saber que na verdade não havia tido avôs e pais lobos na família. Ele fora o primeiro e foi o causador de muita desgraça e destruição no decorrer dos séculos. Ele era o primeiro e único desde a origem do mal na família e tudo o que aconteceu no decorrer dos anos foi culpa de si próprio.

 

Pedro voltou e foram para a copa almoçar e desta vez Pedro comeu mais que seu avô e lhe perguntou porque ele estava preocupado, porém ele desconversou e disse que diria tudo lá no escritório dentro de pouco tempo e assim aconteceu. Terminaram de almoçar e foram para o escritório que Gustavo usava quando queria tratar de algo sigiloso.

 

- Sente-se Pedro porque acho que isso irá demorar um pouco ou não, mas acima de qualquer coisa quero que tente entender tudo que irei lhe falar e contar.

- Estou ouvindo de mente aberta vovô!

  

Gustavo começou a contar desde a sua origem humilde que não fora na Itália, mas sim na Rússia antiga ainda sob o domínio do império mongol onde Khan Mamai assumiu o poder e empreendeu uma campanha militar.

 

- Eu era ainda um garoto e via aquela horda mongol destruindo tudo que via pela frente, na época, no verão de mil trezentos e oitenta o príncipe Dmitri reuniu vários exércitos vindos das regiões norte e leste da Rússia, dos principados de Súzadal, Tver, Smolénsk e outros e suas tropas ganharam as bênçãos do reverendo Radonej, mas mesmo assim os mongóis eram em maior número e somente um milagre poderia salvá-los. Nesta ocasião eu já havia me revelado e transformado meu único e melhor amigo Vladislav também em homem lobo e ele era mais sádico que eu e o seu prazer era matar sem olhar a quem e finalmente no dia vinte e um de setembro de mil trezentos e oitenta no campo de Kilikóvo perto da foz dos rios Don e Nepriádva ocorreu a grande, longa e feroz batalha. As tropas russas usavam uma bandeira vermelha e Vladislav dizia que adorava aquela cor porque era a cor do sangue dos humanos e nós dois, apenas dois meninos homens lobos causamos mais baixas do que uma guerra hoje em dia e nem os cavalos conseguiam evitar de pisar em cadáveres que deixamos para trás.

- Isso foi em mil trezentos e oitenta?

- Sim! Foi.

- Isso quer dizer que o senhor tem quase seiscentos e sessenta anos?

- Não! Eu tenho seiscentos e cinqüenta e nove anos, mas voltando ao assunto foi ali que as duas bestas feras se uniram e passaram a destruir tudo que viam pela frente. Cansei e me afastei de Vladislav e migrei para outro e outros lugares e mudei o meu nome que era Nikolai Volkov para Gustave Santilena Spallucci Spadonni e de lá para cá fui me moldando e também cansado de devorar seres humanos passei a devorar animais selvagens e domésticos. Aprendi a ser um lorde e fiz uma fortuna inimaginável.

- Foi um guerreiro?

- Não! Fui um lobo assassino.

- Mas ajudou a destruir os invasores mongóis e isso pesa.

- Não muda o que fui. Um terrível e perigoso lobo assassino.

- Como que é esta história sobre a vovó que Vladislav disse que era dele?

- Talvez aí esteja a grande ira dele para comigo. Ele conheceu Antonella antes de mim e tinham o que vocês chamam hoje de algo tipo namorico quando eu apareci de novo na vida dele, mas nestas idas e vindas que a vida dá ela se apaixonou por mim e eu por ela e Vladislav nunca aceitou isso que ele chamou de maior traição por ele sofrida e certa noite, eu já regenerado e casado com Antonella sofri um surto e a devorei por inteiro, mas honestamente não me recordo disso.

- Você se lembra de tudo que fez quando está em estado de lobo?

- No começo não, mas quando me habituei com o que fazia me recordava vagamente, mas depois que conheci Antonella eu já estava em outro tipo de vida e de condição e fazia anos que eu não atacava ninguém e me recordo de cada animal que usei para saciar minha fome, mas te juro que não me recordo de ter atacado minha amada esposa.

- Me diga uma coisa vovô! Quando aconteceu isso por acaso se encontrou com Vladislav naquele mesmo dia?

- Sim! Ele me procurou e disse que entendia que não dava para controlar isso do coração e quis comemorar comigo pela nova amizade alegando que iria se mudar de país e pensava e ir quem sabe para a China ou outro lugar.

- Lembra-se do que bebeu?

- Na verdade não! Foi ele quem pegou a bebida e levou até a mesa em que estávamos sentados em uma bodega e só me lembro de ter acordado no dia seguinte jogado em uma vala coberto de sangue e sabendo que Antonella havia sido atacada por um animal feroz que havia destroçada por completo.

- Não querendo mudar estes anos todos de dor em seu peito, por acaso já pensou que poderia ter sido ele quem tenha feito isso?

- Ele a amava! Não faria isso.

- Ele a amava, mas já a tinha perdido para você vovô!

- Honestamente não tinha pensado nisso, mas infelizmente isso não mudaria mais nada de quem foi e ele acima de qualquer coisa tem uma dívida de sangue para comigo.

- Direta ou indiretamente comigo também vovô, mas continue por favor.

- Como eu estava dizendo a partir dali comecei a migrar de país para país sempre na Europa e continha à custo o meu desejo por carne humana e procurava me satisfazer com a carne animal e fiz disso um hábito na minha vida. Possuía uma verdadeira fortuna que soube aproveitar para fazer mais fortuna, mas não me sentia seguro, pois de uma forma ou de outra esperava por alguma agressão de Vladislav e resolvi criar um exército para minha defesa e comecei a juntar soldados de todos os lados do planeta e quando certo dia eu lhe informei sobre o poder da força dos lobos e sobre a longevidade a maioria quis saber como era e dos que quiseram ver um ou outro não aceitaram e os demais bastou apenas uma mordida para modifica-los e assim fui aumentando a minha particular força militar e não demorou muito para que um grupo de jovens guerreiras me procurarem, todas encapuçadas para aceitar esta dádiva e assim surgiram as Vuks.

- Quando foi isso vovô?

- Isso ocorreu no ano de mil setecentos e noventa e sete e de lá para cá elas se tornaram cada vez mais competentes e violentas, porém, jamais contrariam a minha norma de que jamais deveriam atacar os humanos e quanto a isso eu nunca tive problemas com elas e todos que compõem o grupo de nossa empresa que são homens ou mulheres lobos sabem que elas existem e temem que eu peça para que ela os cacem.

- Já mandou alguma vez elas irem atrás de alguém?

- Até agora não, mas vai depender de você se as mandará atrás de Vladislav.

- Posso fazer isso?

- Pode sim, afinal elas mostraram seus rostos para você e segundo a lenda elas só fariam isso para quem dedicassem matar e morrer por esta pessoa, no caso você.

- Terminou o que tinha para me contar vovô?

- Sim e temo pelo que irá me dizer.

- Posso dizer o que penso?

- Pode!

- O senhor começa a sua história de vida no ano de mil trezentos e oitenta. Conta-a como foi a sua transformação em anos de batalhas e guerras quase que medievais e usou o poder que conseguiu de uma forma que não pediu e usou-o bem ou mal para combater os invasores. Não se conteve e ainda continuou cometendo atrocidades até que por vontade própria resolveu parar de atacar humanos e partiu para a carne animal e a meu ver foi criminosamente acusado de ter matado sua esposa e carrega esta dor dentro de si até hoje, porém, procurou fazer de tudo até encontrar o tipo de um antídoto para controlar as bestas feras, homens lobos ou lobisomens, o que demonstra uma força interior muito forte. O que me resta a dizer então é que, o que ficou no passado nada poderá ser mudado ou alterado, portanto, quem sou eu para julgá-lo ou criticá-lo mesmo porque, desde que te conheci por motivos também trágicos o senhor mudou o meu pensamento contigo por completo.

- Pensa isso mesmo de mim?

- Sim!

- Muito obrigado por não ter me entendido mal. Saiba que é a pessoa mais importante na minha vida e não porque é o supremo, mas sim porque é o meu neto, fruto de um amor que tive por sua avó e o de seus pais.

 

Nada mais disseram. Simplesmente se aproximaram um do outro e se abraçaram em algo que demonstrava o carinho e amor que possuíam um pelo outro.

 

Os dias se passaram, o ano novo avançou, a operação na Índia foi um sucesso e o número de rejeição foi mínimo. Mil novecentos e dezessete pessoas foram imunizadas e apenas dois tiveram rejeição e com isso, aquele pedacinho de lugar algum no planeta estava temporariamente a salvo. Mais dias se passaram e o aniversário de Pedro se aproximava e apesar de fazer poucos meses que ele estava ao lado de seu avô ali na fazenda parecia que haviam se passado anos e ele se sentia melhor do que nunca.

 

A dor e a saudade de seus amados pais ainda lhe apertavam o peito, mas ele sabia que era questão de tempo para pegarem Vladislav, pois tinham um verdadeiro exército de agentes, soldados e espiões caçando-o por todas as partes do planeta.

 

O laboratório de Vladislav foi descoberto e destruíram tudo que havia lá bem como um outro em terras russas o qual foi literalmente enterrado sobre toneladas de erra e rochas, porém, infelizmente, nos dois casos muitas pessoas morreram dentro daqueles perfeitos bunkers de guerra.

 

O dia seis se aproximava, seu aniversário de dezessete anos chegava e sabiam pelo que seu avô dizia é que o dia dezessete a dezessete dias da lua cheia poderia acontecer com ele uma mudança brutal e isso para Pedro poderia ser considerado o dia mundial de efeito nos homens e mulheres lobos, ou seja, a talvez transmutação de mudança de idade e finalmente o dia fatal chegou e mesmo ainda não sendo dia de lua cheia a mudança poderia acontecer.

  

Devido a isso, por motivo de prevenção Gustavo resolveu fazer a festa de aniversário de Pedro no horário do almoço, ou seja, começar em torno das onze horas e que se prolongaria exageradamente até às dezenove.

 

Gustavo não queria correr risco mesmo porque as mutações ou transformações ocorriam sempre ou geralmente quando a pessoa atingia os dezessete anos e por segurança ia pedir para que Pedro em torno das vinte e três horas ficasse em um local isolado que ele possuía na casa grande a fim de saber se ele poderia ou não se transformar em um lobo.

 

Mais um dia se passou e finalmente chegou o dia do aniversário de Pedro Santilena Spallucci Spadonni herdeiro e sucessor de uma família abastada que no anonimato possuía uma forma de conter a fúria de homens lobo, mais conhecidos por lobisomens.

 

Todos os integrantes da fazenda e do complexo do centro de pesquisa da cidade compareceram pelo menos por alguns momentos na comemoração da festa apenas alternando a segurança que fora reforçada depois de saberem sobre a ira de Vladislav que poderiam ocorrer naquele dia especial onde Pedro mesmo sem saber deixaria de ser apenas um menino e se tornaria a pessoa ou ser mencionado nas lendas dos homens lobos, ou seja, o supremo.

 

Muitos outros homens lobos que trabalhavam na rede nacional de hotéis e empresas do grupo compareceram na festa realizada na fazenda se dirigiram, a qual caiu em plena quarta feira para prestar homenagens ao novo líder de imensa e poderosa alcatéia a qual não deixava de ter Gustavo como líder, mas que agora havia um superior a ele que ironicamente era seu neto.

 

Não foi convidado sequer alguém fora do grupo apesar de Gustavo ter desejado que Orlando ali estivesse e com isso, a única cem por cento humana que compareceu foi Flávia, a filha de Pietro.

 

Tudo correu bem e em ordem, porém, faltando pouco para às dezenove horas os poucos que restaram foram se retirando e no horário combinado apenas o pessoal do dia a dia da fazenda por ali se encontrava.

 

- Gostou da festa Pedro?

- Sim vovô! Foi demais.

- Vai atender ao pedido que lhe fiz para as vinte e três horas?

- Mesmo sabendo que não mudará nada vou fazer o que me pediu sim. Fique tranquilo.

- Mandei colocar uma cama melhor lá no local que irá ficar para que não se sinta desconfortável.

- Não precisava!

- Precisava sim porque lá é do tipo de uma cela de calabouço. Respondeu Gustavo.

- Bem! Se é assim então eu aceito a cama porque tenho certeza que não irei me transformar.

- Torço para isso meu filho!

 

Jantaram naturalmente sem se preocupar com a meia noite e faltavam oito minutos para as vinte e três horas quando Pedro atravessou as portas de aço de uma das três celas existentes no terceiro piso da casa sede. Ali havia apenas uma cama com lençol, travesseiro, dois cobertores e uma garrafa de água caso ele sentisse sede que estava sobre uma cadeira.

 

Era de fato bastante rústica e as paredes eram composta de rocha pura e a única entrada daquela cela úmida e fria era a porta minúscula de aço a qual Pedro teve que se abaixar para entrar.

 

- Toca de ratos vovô?

- Na verdade meu filho, eu mesmo já pedi para ser encarcerado aqui em noites de lua cheia e garanto que por mais forte que você possa ser não conseguirá arrancar as grades e se por ventura conseguir só terá uma saída que é a oposta à que entrou e lá do lado de fora dela haverá algumas Vuks que você não teve contato que são chamadas de almas da morte e estas não brincarão de treinar com você, pois sabem que se você sair daqui poderá se tornar o ser destrutivo mais perigoso do planeta.

- Caramba! Sou tão perigos assim?

- Espero que não seja e se for e escapar elas têm ordens minhas para não o poupar pelo que você poderá representar para a humanidade.

- Está querendo me assustar?

- Não! Estou apenas retratando uma realidade possível a qual eu não desejo ver.

- Entendi!

- Está preparado?

- Estou! Pode fechar e até amanhã da manhã na hora do café da manhã!

- Espero você para toma-lo! Respondeu Gustavo temendo o pior.

  

Gustavo fechou a pesada porta. Fechou os seis trincos, travou algo que parecia cadeados medievais, passou mais duas portas de aço trançadas entre si e se afastou pesaroso, pois sabia que ali dentro era pior que os estertores da morte. Era como se fosse o simbolismo de que estava cercado de espíritos do presente e passado que ali foram para enlouquecer qualquer um, porém, até então haviam sido suficientes para segurar um estouro de uma manada de elefantes.

 

Pedro tentou ver o que tinha nela e teve que formar o seu foco infravermelho já usado uma vez, mas ali nada conseguiu. Pareceu-lhe que qualquer poder ali dentro não tinha força alguma. Não havia sequer uma fresta de luz e a escuridão era total. E como não se afastara muito da cama tateando sentou-se sobre ela e ficou pensando em sua vida até então.

 

Nascera de uma família abastada onde teve tudo o que quis e desejou desde que era pequeno, porém, seus pais haviam notado um grau elevado de inteligência desde cedo e o colocara nas melhores escolas onde só cursavam as crianças acima da média,

 

Não era de ter muitos amigos, mas o que tinha o invejavam por ele estar sempre adiantado em tudo que se propunham a fazer e quando ele pressentia isso freava seus impulsos para que eles, os mais dotados o acompanhasse, porém, quando saia da escola, em casa ou em cursos que seus pais bancavam com prazer ele procurava se inteirar de tudo em assuntos de antiguidade, artes, lutas, fauna, flora, evolução humana, tecnologia, lutas entre tantas outras coisas. Sua mente era como que uma enciclopédia humana e possuía algo dentro dela que armazenava tudo o que lia, via ou ouvia.

 

Interrompeu seus pensamentos e tentou imaginar o horário, mas como ali o tempo parecia não existir ajeitou o travesseiro, esticou os cobertores sobre o lençol e se despindo colocou as roupas no encosto de cadeira e se deitou. Voltou a repensar sobre sua vida, curta, mas muito bem vividas naqueles poucos meses até que acabou adormecendo e foi acordado justamente por seu avô que veio abrir a cela onde ele estava deitado e ainda dormindo.

 

- Você está bem meu filho? Perguntou Gustavo preocupado, mas jogando um canhão de luz ali dentro da cela.

- Oi vovô! Já está na hora do café?

- Acho que passou da hora, mas você está bem?

- Estou sim, porque?

- Não sentiu nada estanho a noite?

- Não! Tudo normal. Disse Pedro se sentando na cama apenas de cueca e camiseta.

 - É! Deve estar bem mesmo porque ainda usa a mesma camiseta e está apenas de cueca.

- Desculpe! Foi mal. Disse Pedro se recobrindo.

- Meninas! Podem parar de olhar que ele permanece sendo ele.

 

Pedro ouviu risos que se afastaram. Se levantou, vestiu suas roupas e saiu da cela se espreguiçando após a excelente noite de sono.

 

- Acho que vou dormir todas as noites aqui! Me recompôs e me rejuvenesceu.

- Dormir aqui todas as noites?

- É! Me fez bem. Respondeu Pedro sorrindo.

- Cada uma que eu ouço! Vamos subir e tomar café que estou com fome.

- Vamos! Respondeu Pedro sorrindo novamente.

 

Subiram, tomaram café e depois disso Pedro foi tomar banho. Naquele dia não praticou qualquer tipo de treinamento, mas quis sair e andar a cavalo pela propriedade e Gustavo não quis acompanha-lo, mas quinze Vuks se postaram atrás dele também cada qual em seu cavalo e foram atrás dele por todo o percurso que Pedro quis fazer.

 

Foi ver as criações de faisões, javalis, antas, pacas, jacarés e até o novo espaço para as rãs ele acabou olhando. Depois resolveu sair da parte conhecida da fazenda e se embrenhar na mata e as Vuks o acompanhavam sempre atenta aos mínimos detalhes na floresta que foi se tornando mais densa.

 

Pedro continuou galopando até que de repente o cavalo parou e começou a bater as patas no chão. Duas das Vuks se aproximaram e pediram para que voltassem porque ali era um local proibido para eles passarem.

 

- Proibido porquê e por quem?

- Proibido porque segundo consta seu avô tem um pacto de honra com o corpo seco e não nos é permitido quebrar isso. Respondeu supostamente Herta.

- Corpo seco?

- Sim!

- Quem é este?

- Não sei bem da história, mas é coisa antiga e logo ali adiante fica o pico do selado que é o ponto mais alto da região e seria o local de morada deste tal de corpo seco.

- Deve ser mais um dos contos da região!

- Sendo ou não sendo não temos permissão para ir até lá e se desejar ir seremos obrigadas a tentar impedi-lo senhor.

- Me impedir?

- Tentar te impedir, pois se não podemos romper um pacto e o senhor insistir teremos uma situação complicada.

- Não vou lhe complicar, mas vou querer saber mais sobre este tal de corpo seco.

- Seu avô poderá lhe dar detalhes disso, pois nós realmente não sabemos de como é isso deste pacto nem de quem seria este corpo seco.

- Vamos voltar então e ver de novo os jacarés porque quero conhecer melhor aquela construção.

 

Pedro puxou as rédeas do cavalo que estava montado e pareceu-lhe sentir um alivio por parte do animal. Não lhe teria chamado a atenção se ele não tivesse visto algo no meio da mata que parecia estar olhando para eles e a sensação que teve era a de por instantes ter visto o corpo de um homem que tinha a aparência de longe de ser magro ao extremo do tipo cadavérico. Voltou a vista mais duas vezes, porém, aquilo que pensou ter visto havia desaparecido e sentiu o animal que montava se acalmar placidamente. Trotando chegaram na área destinada aos jacarés e notou que dezenas de pessoas trabalhavam na ampliação daquela área construindo um enorme dique que por dentro deveria aparentar a construção de uma muralha para que eles não fugissem.

 

Acompanhados das Vuks que raramente saiam de dia foi até a parte mais alta da construção onde divisou centenas de centenas daqueles animais extremamente perigosos. Olhou todos os detalhes e depois foi olhar o novo dique que estava quase pronto. Este era bem maior. Na verdade, era quase quatro vezes maior o que deixava claro que seu avô queria cada vez mais se fortalecer no ramo daquele tipo de alimento.

 

Caminhou pela passagem de acesso acima daquela verdadeira muralha construída toda de pedras e rochas do tipo da prisão que passara a noite e foi admirando a verdadeira obra de arte que era aquela construção, pois na primeira fase da construção já haviam previsto que ela poderia ser aumentada e havia um preparo para a liberação de água e das feras de uma para a outra. Para tanto bastaria abrir apenas duas barragens e eles poderiam transitar à vontade.

  

Além da barragem afastada de toda aquela obra de construção em toda a sua complexidade havia o tipo de praias para que eles pudessem alternar entre ficar totalmente submersos ou curtindo o sol nas prainhas artificiais naquele local existente. Caminhou até se encontrar com uma das pessoas da obra que parecia ser o responsável e este ao vê-lo se prostrou em sinal de respeito.

 

- Fique à vontade! Não precisa disso.

- Questão de respeito senhor!

- Qual é o seu nome?

- Enrico! Enrico Casarotto senhor.

- Você é o responsável pela obra?

- Sou engenheiro, mas na verdade, sou o sub responsável. A responsável por esta obra é a engenheira Radeckia Grigori. Quer falar com ela?

- Quero, mas me fale mais sobre esta obra, por favor.

- O doutor Gustavo quando teve a ideia de construir este espaço para os jacarés nem de longe pensava em cria-los para alimentos, mas sim para usar, teoricamente para servir de exemplo a todos a eliminação dos radicais. Usou pouco para esta finalidade, mas os bichos se reproduzem muito rápido. Cada fêmea pós a cópula posta entre vinte a setenta ovos que chocam entre setenta a noventa dias, mas elas constroem seus ninhos perto da água usando folhas secas e pedaços de plantas cobrindo-os com folhas secas e areia.

- Estranho! Não vi aqui dentro areia nem folhas secas e pedaços de plantas. Só concreto.

- Na verdade senhor, se reparar bem não é concreto, mas sim uma textura que a doutora Radeckia desenvolveu que apesar de parecer concreto na verdade é uma espécie de areia sintética e que eles acreditam que sejam areia natural e a usam para criar seus ninhos.

- Eles não cavam para fazer os ninhos?

- Não! Eles são meio preguiçosos. A fêmea constrói o tipo de um morrinho de aproximadamente dois metros de largura e deveria ser por um metro de altura, mas aqui elas se adequaram e fazem menores. Depois fazem um buraco no meio, põem os ovos e os cobrem. Neste período de reprodução aí de quem ousar se aproximar de seu ninho.

- Interessante, mas onde elas acham folhas secas e pedaços de plantas?

- São jogados em pontos estratégicos isso todos os dias e elas simplesmente os reúnem e fazem seus ninhos. Ah! Aí vem a doutora Radeckia.

 

Pedro viu que realmente uma jovem vinha na direção deles. Parou antes de chegar e o cumprimentou como todos faziam.

 

- Não precisa disso como eu disse para o Enrico.

- Respeito senhor!

- Certo! Você que é a responsável pela obra?

- Revezamos eu e Enrico! Temos muitas coisas para fazer aqui e apesar dos assistentes são muitos afazeres.

- Enrico estava me explicando sobre a reprodução dos jacarés e é uma coisa surpreendente o sistema que criou aqui e eles terem se adaptado à areia que adaptou.

- Jacarés, apesar de acharem que são animais primitivos e são não são burros. Eles desejam se reproduzir com algum propósito o qual não sabemos e com isso se adaptam ou se readaptam com o que lhes é oferecido e garanto que a reprodução deles é impressionante.

- Quer dizer que ele tem inteligência acima da média dos anfíbios?

- Ouso dizer que em matéria de inteligência só perderiam para os macacos, porém, os macacos na maioria das vezes só reproduzem um por ano enquanto que as fêmeas dos jacarés podem reproduzir de vinte a setenta filhotes em média a cada setenta dias o que daria até quatro ninhadas por ano de uma fêmea mais assanhada.

- Quantos jacarés temos aqui hoje?

- Se não nasceu nenhum nas últimas horas devemos ter em torno de sete mil deles e a nova área segundo desejo do doutor Gustavo é de ter entre trinta a quarenta mil deles.

- Tudo isso?

- Sim e oitenta por cento para venda no mercado de carnes exóticas do Brasil e do exterior.

- Não tem medo de que esta estrutura se rompa?

- Da forma que construímos não tenho e só haveria duas formas de ocorrer. Através de um terremoto acima de nove ou pelo uso de bombas do tipo C4, mas para proteger-nos disso é que temos um forte sistema de segurança como deve saber.

- Realmente estou impressionado com isso tudo. Obrigado pelas informações.

 

Se despediu dos dois, voltou onde deixara seu cavalo e junto com as Vuks desceu para a edificação principal da fazenda e lá, após descer do cavalo e este ser recolhido Pedro se despediu de sua segurança e foi até a varanda da casa sede onde seu avô descansava em uma cadeira de balanço e depois de dar um beijo na testa dele foi logo no assunto que lhe interessava.

 

- Vovô! Me conte tudo sobre o Pico do Selado e do Corpo Seco porque acho que eu o vi nos espionando.

 

- Você viu o corpo seco?

- Na verdade, não sei se o vi, mas se não era ele com certeza quem eu vi ou quem eu vi e o que eu vi não era um homem.

- Espere! Você viu o que não sabe se viu ou acha que talvez tenha visto, foi isso?

- Foi!

- Confuso não acha?

- É! De fato é. Respondeu Pedro sorrindo.

- Mas me diga o que realmente viu.

- Não sei precisamente o que vi. Na verdade, o cavalo estava assustado e já estávamos retornando porque Herta comentou comigo sobre um tal de pacto que teria feito com o tal Corpo Seco quando tive a impressão que o tinha visto.

- Como ele estava vestido?

- Calça jeans rasgada e camiseta azul.

- Era ele mesmo! Você realmente o viu.

- Porque Corpo Seco vovô?

- Você realmente quer ouvir a história toda sobre ele?

- Sim! Quero.

- Acho que não vai acreditar, mas se quer eu lhe contarei.

- Estou ouvindo!

- O corpo-seco, ou Zeca, é um ser amaldiçoado, uma espécie de mortovivo que está condenado a vagar pela Terra aterrorizando as pessoas. Ele é um cadáver que foi devolvido pela terra, que não o aceita por conta das maldades que realizou em vida. As maldades do defunto que se transforma em corpo-seco são tão grandes que nem Deus nem o diabo quiseram receber sua a alma. Como a alma do defunto não foi aceita no céu e no inferno e a terra rejeitou devorar o corpo, o morto retornou ao plano dos vivos e, na condição de nem vivo nem morto, vai aterrorizar os viventes que passarem por ele. Como não é morto, o seu corpo não apodrece, mas, como não é vivo, também não é alimentado, portanto, o corpo-seco, literalmente, tem o corpo ressecado, com apenas os ossos e o couro.

- O senhor disse que ele foi amaldiçoado?

- Sim! Zeca foi amaldiçoado por conta das maldades que cometeu em vida e segundo consta ele torturou e assassinou a própria mãe, ou seja, ele teria sido um homem conhecido por cometer inúmeras maldades contra familiares e desconhecidos, mas isso é o que contam na cidade, porém, tem várias cidades no país que também denotam sobre esta lenda do corpo seco.

- Mas o daqui o senhor conheceu?

- Na verdade, eu conheci um morto vivo que é temido pelas bandas de cá e tal qual nós, os lobisomens de verdade preferimos mantermo-nos afastados um dos outros.

- Como o conheceu?

- Isso aconteceu a muitos anos atrás. Eu procurava espaço para expandir nossas terras, mas não queria entrar nas áreas que algum dia poderia atrair turistas por causa das inúmeras e belas cachoeiras do local e acabei chegando próximo do morro do pico do selado o qual segundo a lenda seria o local onde ele moraria e de repente eu vi aquele ser cadavérico, seco e nós nos olhamos. Eu um velho homem lobo modificado e ele um morto vivo que vagava pela mata e para encurtar a conversa fizemos um pacto de que, ele não invadiria as nossas terras e nem a cidade e eu faria de conta que jamais acreditaria em sua existência.

- E ele aceitou isso vovô?

- Na verdade ele não disse nada. Apenas assentiu com a cabeça e nunca mais nos vimos, mas a fim de preservar o pacto proibi que qualquer um da fazenda se aproximasse das terras dele e até hoje vivemos em harmonia.

- Ninguém nunca o viu desde então?

- Não! Pelo menos daqui ninguém me disse nada e até agora a não ser você que o viu.

- Ele não aparece para outras pessoas?

- Dizem que sim e quem o vê desaparece, mas não me meto nestes assuntos.

- E porque ele deixou que eu o visse a nada fez?

- Talvez ele soubesse, ou sabe que é meu neto e por ser ele curiosamente apenas quis vê-lo.

- Tem mais relatos de coisas misteriosas aqui em Joanópolis?

- Tem muitos causos e não casos que os mais velhos contam sobre os mistérios aqui da velha serra da Mantiqueira, mas procuro não dar atenção para não sermos alvos de nossa história real.

- Pelo que vejo aqui é um lugar intrigante.

- Eu diria que é um lugar maravilhosamente perfeito para nós. Não incomodamos ninguém e ninguém nos incomoda e com isso passamos apenas por criadores de gado e de alimentos exóticos para o mundo.

- Bem conveniente, não é?

- Digamos que não queremos nos fazer ser notados meu filho e procuro fazer de tudo para permanecermos no anonimato e tenho conseguido isso por anos.

- E se descobrirem?

- Quem diria isso para o restante do mundo?

- Não sei vovô! Sempre tem alguém que comenta.

- Não daqui. Isso posso lhe garantir, mas agora vou me preparar para jantar porque estou com fome.

- Jantar! São apenas dezessete horas.

- Ué! E por acaso tem hora para jantar ou ficar com fome? Respondeu se levantando rindo.

 

Era obvio que seu avô não queria mais comentar sobre aquele assunto e deixou-o ali na imensa varanda. Pedro olhando para aquele imenso vale ficou pensando em tudo que estava passando e mais uma vez se deu conta que se contasse ninguém acreditaria. Pensou em voltar para a capital, mas não queria abandonar seu único parente vivo.

 

Pensando nisso foi que se deu conta que não tinha lembrança de sequer um parente por parte de sua mãe e ficou encucado com isso. Pelo que soubera sua mãe era filha única de pais que haviam falecido em um acidente a alguns anos bem antes dele nascer e antes da geração deles nada sabia.

 

Nunca soube coisa alguma sobre ter primos, tios ou qualquer outro parente materno e pela primeira vez sentiu curiosidade sobre tal fato, mas o que sabia era que sua mãe era uma pessoa normal e que nunca tivera algo que mostrasse o contrário. Carinhosa, atenta e uma mãe que se dedicara ao máximo a ele e a seu pai. Uma mulher amada por todos principalmente por seu avô que ele sempre achara indiferente e ranzinza e percebeu que havia algo errado nisso, mas jamais aceitaria qualquer insinuação sobre a sua conduta de vida. Enfim, suspirou fundo e foi para o seu quarto tomar banho e se preparar para jantar.

 

- Pedro! Você tem ideia do que fazemos aqui?

- Aqui onde vovô?

- No centro de pesquisa e na fazenda!

- Cria animais para venda e para alimentação. É isso?

- Mais ou menos isso!

- E tem mais?

- Isso não é nem o começo do que fazemos!

- O que mais fora isso?

- Eu te contei sobre quantas pessoas trabalham aqui não contei?

- Contou que eram mais de mil, é isso?

- É bem mais que isso!

- Quantos são?

- Quando você saiu hoje com as Vuks eu fui contabilizar isso. Na verdade, eu estava bem desatualizado.

- Não entendi!

- Como te disse eu estou cansado e quero te passar o comando de tudo e para tanto iria começar por aqui, pela fazenda e tem que saber o que fazemos e quantos temos aqui neste complexo.

- Ah tá, mas acho que já vi todos eles, não vi?

- Chegou a contar em seu aniversário?

- Na verdade não, pois muitos vieram e outros saíram e não me ative em contar vovô!

- Quantos acha que viu?

- O senhor me disse que eram mais de mil, mas acredito que eram bem mais de dois mil.

- Hum! Mais de dois mil?

- Diria que chegava perto de três mil.

- Como chegou a esta conclusão?

- Bem! Tinha muitas pessoas que eu não me recordava de tê-las visto e mentalmente fiquei tentando saber de onde eram. Quantas são?

- No total, atualizados são três mil, cento e dezesseis pessoas, ou besta feras como preferir.

- Tudo isso?

- Sim!

- Nossa!

- A maioria fica no complexo do centro de pesquisa, preciso te mostrar todos os sessenta e dois andares e o que fazemos lá.

- Tem tantos alojamentos assim lá dentro?

- Sim! Temos para pelo menos uma quinze mil, mas quantas são cem por cento humana de todos eles?

- Nem faço ideia vovô!

- Apenas uma pessoa.

- E esta pessoa vive no meio deles?

- Sim! Na verdade, é a mais respeitada aqui dentro depois de mim e de você.

- Nossa! Quem é ela?

- Karla Cantizani! Ele é, digamos a nossa nutricionista, desenvolvedora de pesquisa e é como se fosse a coordenadora do que também chamariam de alimentadora de animais, caso isso aqui fosse um zoológico.

- Não entendi!

- O que entende de sistema alimentar?

- Nada! Respondeu Pedro sorrindo.

- Quanto um ser humano consome de alimento por dia?

- Também não faço ideia!

- Qual é a alimentação mais importante no dia?

- Acredito que seja a primeira, ou o café da manhã.

- Não necessariamente nesta ordem, pois temos aqui uma vasta rede de opções.

- Como assim vovô?

- Digamos que cada ser vivente daqui tem uma necessidade de alimentação. Humanos, homens ou mulheres lobos, animais e por aí vai.

- Continuo sem entender!

- Para o ser humano por exemplo deveria e deve ter a sua primeira alimentação mais reforçada, pois é ela que dá a base da sustentação diária, mas muitos acreditam que seja o da hora do almoço que deva ser mais reforçada.

- Está seria a minha teoria se me fosse perguntado.

- O que acha que seja a base da alimentação do ser humano?

- Várias coisas!

- Tipo o que?

- Café, leite, frutas, estas coisas.

- Não é só isso! Vamos analisar o seu café da manhã. O que tem mais fora isso?

- Tem queijo, presunto, café, leite, várias frutas, sucos, geleias, pães, bolos, ovos, estas coisas.

- Quantas destas tem ou são de origem animal?

- Quase que a maioria vovô!

- Tem ideia de quanto precisamos de alimento por dia para vivermos?

- Não sei, mas sei que a maioria das pessoas não tem nem um pãozinho para comer de manhã.

- É bem por aí, mas o que fazemos neste local é tentar balancear as coisas por aqui.

- Tipo o que vovô?

- Vou te dar um exemplo para que entenda. Um ser humano normalmente tem a altura entre um metro e sessenta a um e setenta, estou certo?

- Mais ou menos por aí na média!

- E um homem lobo, lobisomem ou besta fera, tem quanto?

- Nunca pensei nisso, mas acredito que fique bem maior que isso.

- Isso mesmo! Alguns já são grandes, mas depois de modificados eles podem passar de um metro e oitenta e sua massa muscular também aumenta. Com isso a sua fome também e é aí que entra o centro de pesquisa e desenvolvimento.

- No tratamento da fome?

- Bem por aí!

- Como?

- Viu que temos vários animais que criamos aqui, certo?

- Sim!

- Pois bem! Cada um tem a sua finalidade e o que fazemos é tentar contrabalancear a alimentação de cada um deles.

- Não entendi!

- Simples! Temos as pacas, os jacarés, as vacas, as capivaras e por aí vai e de certa forma cada um tem a sua finalidade na cadeia alimentar do outro.

- Isso eu tinha percebido quando sai com as Vuks.

- Viu os jacarés e por acaso achou que tinham muitos lá?

- Vi e sei que quer quintuplicar a quantidade, mas não acho que seja apenas para a venda da carne deles. Tem mais algo por aí. Respondeu Pedro sorrindo.

- Tem sim!

- Posso saber o que seria vovô?

- Claro que pode, mas primeiro vamos comer que estou com fome.

 

Pedro olhou para seu avô e de novo viu que ele se esquivava de uma pergunta que talvez ele não quisesse responder e não adiantava insistir, porque ele tinha a sua hora de comer e de certa forma entendia isso cada dia mais claramente.

 

Jantaram e Gustavo não tocou mais no assunto e Pedro nem insistiu. Sabia que seu avô era daquele jeito e de um jeito ou de outro ele acabaria descobrindo o que queria, sempre dava o seu jeito e logo após jantarem seu avô lhe levou até a enorme varanda da casa sede e sem nada dizer lhe apontou áreas diante deles e as que tinha a intenção de adquirir para aumentar suas criações e todas apontavam para a serra, porém, nada que se aproximasse das cachoeiras ou do pico do selado como se aquele lugar de fato estivesse selado para sempre para ele.

 

- Preciso te levar para conhecer o Orlando!

- O prefeito?

- É!

- Algo em especial nele?

- Não, a não ser a de que ele é gente boa e gosto dele.

- Ele é seu parceiro ou sócio em alguma coisa?

- Não meu filho! Ele é apenas o prefeito e por ser competente aprendi a admirá-lo. Foi algo impulsivo, mas nada tenho e nem quero ter nada de negócios com ele.

- Porque não?

- Porque se tiver algum relacionamento comercial ou de sociedade com ele seria obrigado a mostrar o que nem ele e nem ninguém tem que ver ou saber. Entendeu?

- Entendi!

- Vamos ver se amanhã daremos um jeito de ir até lá na prefeitura. Agora vamos dormir.

- É cedo ainda vovô!

- Cedo para você e não para um velho igual eu. Respondeu Gustavo rindo e saindo.

 

Pedro também riu e foi para seu quarto e pela primeira vez sentiu falta da TV que tinha na capital e resolveu que iria cuidar disso no dia seguinte, pois Joanópolis era carente de um bom sistema de telefonia. Celular ali para pegar era artigo de luxo devido à falta de antena de qualquer operadora que não se interessava por causa da baixa população e seu avô nunca quis ir atrás porque queria viver isolado, porém, este era o desejo de seu avô e não dele.

 

A noite passou e logo pela manhã, antes ainda do sol mostrar a sua cara lá estava Pedro na área de treinamento e novamente se superou, só que agora sabia que não alisavam mais com ele e já havia até um desejo de vence-lo, porém, parecia que cada dia que se passava isso ficava mais difícil para os demais.

 

Voltou para a casa sede e foi direto tomar banho. Não encontrou seu avô e lhe informaram que ele havia saído para cavalgar. Achou estranho, mas sabendo que seguranças haviam saído com ele ficou mais sossegado e resolveu pegar um cavalo e ir procura-lo depois de ser informado para que lado ele fora. Pediu um e logo lhe trouxeram um belo animal negro por inteiro assim como era as altas horas da noite e junto com ele as Vuks o acompanharam.

 

- Herta! Porque as Vuks não acompanharam meu avô?

- Porque as que não estavam com o senhor no treinamento ele informou que a segurança maior deveria ser para consigo e elas ficaram.

- Quem o acompanhou?

- Foram doze seguranças da confiança dele.

- Bons!

- São sim!

- Vamos ver onde que ele foi com os seguranças dele! Disse Pedro preocupado.

 

Subiu no belo cavalo e se pôs a trote apressado seguido pelas vinte e cinco Vuks. Seguiram para uma parte desconhecida da fazenda e que era composta por uma vasta mata que mais parecia uma floresta. Herta apressou o passo, beirou seu animal com o dele e lhe mostrou algo.

 

Pararam e desceram das montarias e Herta lhe mostrou pequenas gotas de sangue no meio da ramagem.

 

- O que aconteceu por aqui? Perguntou Pedro preocupado.

- Posso lhe garantir que não é do seu avô!

- Como sabe disso?

- Já vi algumas vezes o sangue de seu avô nos treinamentos e por isso lhe garanto que não é dele.

- De quem seria então Herta?

- Isso teremos que descobrir senhor, mas as marcas das patas dos cavalos indicam que foram nesta direção.

- Vamos lá então!

 

Saíram do local e se embrenharam ainda mais na serra e acabaram saindo da propriedade. Subiram mais um trecho da picada e atingiram um local no qual conseguiam ter uma visão do caminho por onde vieram e novamente Herta lhe indicou outra direção e seguiram por ela até chegarem a uma clareira onde encontraram com seu avô e seus seguranças.

 

- Você está bem vovô?

- O que faz aqui? Perguntou Gustavo.

- Vim ver onde estava!

- Eu estou bem, mas ele não! Disse indicando um corpo caído ao chão.

- Quem é ele?

- Um metamorfo!

- Um homem lobo?

- Mais ou menos isso! Este é o homem lobo modificado.

- Não entendi!

- Um homem que se transforma em lobo, mas que não é um ser humano.

- Espere ai vovô! Quer dizer que ele é um hibrido?

- Hibrido? Perguntou Gustavo curioso.

 - É! Um ser gerado de um cruzamento genético entre duas espécies vegetais ou animais distintos, porém, produzidos em um laboratório tipo um bebê de proveta.

- De onde tirou isso filho?

- Ué! Se ele é um homem que não é humano e com certeza não deva ser extraterrestre pela lógica deveria ter sido produzido em um laboratório com o cruzamento genético de um animal, aqui no caso um lobo e de um homem, porém não humano.

- Nunca ouvi falar disso em toda a minha longa vida, mas tem lógica o que está dizendo e isso, pois fazemos cruzamento hibrida de animais aqui, mas se for este novo fato me preocupa demais, pois eles não têm origens, medo ou noção de nada.

- Porque a preocupação vovô?

- Porque temos diante de nós um ser vivo que não existe, ou melhor dizendo, existe fisicamente, mas não oficialmente e tenho certeza de que isso é obra de Vladislav.

- Acha que ele faria isso?

- Não acho! Tenho quase que cem por cento de certeza e escolheu esta região para nos atacar.

- Acha que daremos conta de um ataque dele?

- Temos três mil cento e dezesseis lobos no complexo e consigo trazer para cá pelo menos mais uns doze mil, mas se o pedido for seu acredito que conseguiríamos mais uns cinquenta ou até setenta mil deles que estão esparramados pelo Brasil e na América do Sul.

- Vovô! Está falando de uma guerra?

- Pode ter certeza de que ela se aproxima e disso não tenho dúvida e a única chance de evita-la seria a de eliminar o Vladislav, mas isso está parecendo coisa impossível, pois ele é mais liso que pedra recebendo água direto em cachoeira e não acredito que ele tenha mandado apenas este aqui ou que já não tenham mais se aproximando.

- Seria este um batedor?

- Acredito que sim!

- Posso interrogar ele?

- Se acha que conseguirá tirar algo dele vá em frente, pois não conseguimos.

- Então se afastem um pouco, por favor. Pedir Pedro.

 

Gustavo deu a ordem e todos se afastaram incluindo as Vuks para dar espaço para que Pedro tentasse descobrir algo daquele metamorfo agora em forma humana. Pedro se aproximou mais.

  

- Posso saber o seu nome?

- Orbyu!

- Sabe quem sou eu?

- Sei! É o soberano.

- Isso mesmo, mas como sabe disso?

- Quando nasci uma das primeiras coisas que nos ensinaram era que havia um soberano no mundo.

- E nasceu onde?

- Na Bavária.

- Bavária que fica na Alemanha?

- Isso mesmo!

- Quantos anos tem?

- Não sei!

- Sabe quem são seus pais?

- Também não, mas temos um líder a quem devemos obediência.

- Este líder seria por acaso Vladislav Ivanov?

- Sim! Ele mesmo. O conde Vladislav Ivanov.

- Conde!

- Sim! É assim que ele quer que o chamemos.

- Tudo bem, mas me responda uma coisa. Porque está aqui tão longe de casa?

- Sou apenas um batedor de um grupo de duzentos outros.

- Qual sua missão?

- Ser apanhado! Apenas isso.

- Ser apanhado por nós?

- Na verdade, ser apanhado pela guarda pessoal de Nikolai Volkov.

- E sabe quem é este Nikolai Volkov?

- Não sabia até que cheguei aqui, mas agora sei quem é ele.

- E quem é ele? Pode me mostrar?

- Posso! É ele. Respondeu Orbyu apontando para Gustavo.

- Tem certeza que é ele este tal de Nikolai Volkov?

- Tenho!

- Mas disse que não o conhecia!

- Não conhecia, mas tenho a imagem dele na minha memória.

- Na memória!

- Sim! Sabia que o reconheceria assim que o visse.

- E porque queria ser apanhado por Nikolai Volkov?

- Para tentar mata-lo se tivesse a chance, mas se não desse, como não deu, eu deveria dar o recado para o senhor mestre e soberano.

- Para mim!

- Sim! O conde, apesar de considerar Nikolai Volkov um inimigo antigo no fundo tem respeito por ti senhor.

- Como faço para encontra-lo?

- Não vai encontra-lo, mas saiba que ele estará chegando aqui em breve porque quer vingança de qualquer forma com Nikolai Volkov.

- Este era o recado?

- Era, mas tenho um pedido pessoal para fazer!

- Qual?

- Somos milhares de lobos híbridos e cada dia o conde produz mais de nós, mas eu gostaria de saber se a transmutação também daria certo em mim.

- Pedro! Venha aqui um instante. Pediu Gustavo.

- O que foi vovô?

- Não está pensando em ajudar este ser hibrido nesta loucura, pensa?

- Vovô! Acredito que ele não sendo humano de fato, seria uma boa oportunidade de saber se daria ou não.

- Não vai dar certo! Nem perca seu tempo.

- E se der certo?

- Não dará!

- Pode até não dar, mas tentaremos, pois se der certo Orbyu quem sabe poderá convencer outros a mudarem de lado.

- Ele não faria isso!

- Será que não faria mesmo?

- Eu se fosse você não arriscaria!

- É vovô! Você não arriscaria e eu até aceitarei isso se disser que eu não sou o soberano de fato.

- Não posso negar que é!

- Então tirando a graduação familiar que nos une reconhece que eu teria poderes de decidir isso?

- Não posso negar isso também, pois você é o soberano.

- Obrigado pela confiança na minha decisão!

- Eu não disse que concordei!

- Não disse, mas como não discordou de que sou eu quem decide vamos tentar. Disse Pedro se afastando e se aproximando de Orbyu.

- Me dará está oportunidade de tentar me transformar em humano? Perguntou Orbyu.

- Bem, Nikolai Volkov acha que não dará certo, mas ele não é eu e eu quero lhe dar esta chance, mas antecipadamente quero saber porque quer se transmutar e isso se der certo. Porque?

- Não sei dizer. Sou um soldado hibrido assim como milhares de nós. Na vinda para cá fiquei sabendo do que fez e está tentando fazer e fiquei pensando se esta guerra não poderia ser evitada.

- Ficou pensando? Perguntou Pedro curioso

- Sim!

- Vocês têm esta opção?

- Qual? A de pensar?

- Sim! Respondeu Pedro.

- Acho que temos!

- Não sabe se tem?

- Na verdade, fui criado para ser soldado, mas não sei se é o que desejo para mim.

- Ainda não me respondeu!

- Sinceramente acho que fui criado com algum defeito, pois desejo ser humano.

- É uma piada o que disse?

- Porque piada ou o que seria piada?

- Deixa para lá! Vou lhe dar esta oportunidade, mas tem que saber duas coisas antes.

- Quais seriam?

- Uma que será vigiado e mantido em local fechado!

- Não tem problema!

- E o mais grave é que poderá morrer na tentativa da transmutação.

- Também não tem problema! Assumo o risco.

- Nunca tentamos isso com um hibrido e já lhe informo que muitos homens lobos de origem humana não resistiram à transmutação e morreram.

- Senhor soberano! Eu não sou nada, não sou ninguém e nem sei o que eu sou ou seria. Na verdade, sou uma criação de laboratório e fui criado para uma guerra que está para acontecer. Sou um batedor de um grupo de outros duzentos que estão a caminho daqui e estes duzentos estarão apenas causando caos e destruição antes de chegarem as falanges que estão sendo produzidas e treinadas para dominar não apenas aqui, mas em vários lugares do mundo e não sei nem porque não quero participar desta guerra de destruição em massa.

- Levante-se e nos acompanhe! Vamos tentar e ver se consegue sobreviver à tentativa de transmutação. Pediu Pedro para Orbyu que permanecera ajoelhado.

- Está cometendo um erro meu filho! Disse Gustavo para Pedro.

- Pode ser vovô, mas vamos tentar para ver no que dá. Finalizou Pedro.

 

Se puseram a caminho e depois de um bom tempo chegaram na entrada do complexo onde Orbyu foi conduzido com um capuz na cabeça a fim de não identificar nada por ali. Chegaram, entraram no barracão do laboratório e desta vez desceram pelas escadas coisa que Pedro nunca havia visto antes e depois de centenas de degraus chegaram até onde estava Rebeka se encontrava.

 

- Desculpe-me senhor, mas isso é loucura! Disse ela ao ver aquele ser na sua frente.

- Porque doutora? Perguntou Pedro.

- Ele, pelo que está me dizendo ele é um hibrido. É isso mesmo?

- É sim!

- E acha que dará para fazer dar certo com ele a transmutação?

- Acho!

- Desculpe, mas está doido senhor?

- Acredito que não e na verdade é desejo dele tentar e não meu.

 

- Senhor! Se ele é um hibrido como diz ser não dará certo, posso lhe garantir isso.

- Doutora! Onde está a sua fé?

- Fé é uma coisa humana, mas ele nem humano é.

- Pode fazer o procedimento com ele por bem ou terei que exigir que faça?

 - Ele não é humano e nem muitos humanos conseguiram resistir ao procedimento e sabe disso, não sabe?

- Sei sim! Pode fazer?

- Bem, em nome da ciência é uma tentativa válida, mas que dará em nada.

- Então faça logo de uma vez! Pediu Pedro já de mau humor.

- Tudo bem, mas ele irá morrer na tentativa.

- Faça logo! Disse Pedro irritado.

- Farei! Calma.

 

Ninguém nunca vira Pedro irritado e procuraram logo fazer o que ele pedira, afinal, não queriam ver o que ele faria em seguida se fosse ainda mais contrariado. Levaram Orbyu para uma ala da clínica onde praticamente era uma prisão e o trancaram lá para que Rebeka providenciasse tudo que seria necessário para realizar o procedimento básico.

  

Pedro não saiu de perto, pois acima de tudo tinha curiosidade de como se comportaria                                         aquele ser inumano criado em laboratório com a única finalidade de causar o mal, mas que soubesse lá porque insistiu em se submeter a algo que poderia lhe causar a morte, mas enfim, o desejo era dele e mesmo no fundo sentindo que ele acabaria morrendo sentia uma tênue esperança de que poderia dar certo.

 

Duas horas depois os efeitos do medicamento recebido começaram a fazer efeito e Orbyu começou a contorcer-se em dores que foram ficando cada vez mais fortes e viu que ele tentava resistir, mas ficou penalizado já antevendo o fim daquele pobre ser.

 

Saiu de perto e Gustavo se aproximando apenas o olhou e nada disse. Não precisava dizer nada e Pedro sentiu em silêncio as palavras “bem que te avisei”, porém Gustavo não ousou pronunciá-las. Cabisbaixo afastou-se dali frustrado, afinal era ou seria uma forma de transformar uma mutação genética em algo quem sabe mais humano. Subiu para a superfície e caminhou pelo pátio e ficou admirando o vale abaixo de si.

 

- Ele vai morrer doutora? Perguntou Gustavo.

- Com certeza irá! Nunca vi reação alguma como está em nenhum dos pacientes.

- Não sei quem Pedro puxou de tão teimoso que é.

- Não sabe mesmo? Perguntou Rebeka sorrindo.

- O que está insinuando?

- Eu! Nada. Respondeu sorrindo.

- Deixe ele trancado aí e depois me avise quanto tempo ele demorou para morrer, mas filme tudo.

- Farei isso! Pode deixar.

 

Gustavo deixou Rebeka em seu posto e também subiu. Procurou por Pedro e o encontrou sentado em um banco contemplando o belo vale diante deles com o pensamento longe dali.

 

- Este lugar é lindo mesmo!

- É sim vovô! Um verdadeiro paraíso.

- Foi o que pensei quando o vi pela primeira vez a anos atrás quando não havia ainda nada por aqui.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Pode! Claro.

- O senhor disse que tem vários anos de idade, foi isso?

- Sim! Centenas de anos para ser mais preciso.

- E neste tempo todo, a maioria dele o Vladislav Ivanov declarou guerra contra o senhor, correto?

- Sim! Na verdade, tudo foi uma coisa linda, mas pelos olhos dele uma fatalidade. Coisas do coração e contra isso não há como impedir.

- Tudo bem! Já me disse o motivo, mas agora é que vem a pergunta. O que ele ganhará com isso de criar híbridos para destruir quem cruzar o seu caminho?

- Bem, o que ele tem em mente é a tal vingança que tem contra mim. Para isso não importa o que ele faça contra outros desde que ele me atinja. Ele já me atingiu muito quando matou seu pai e sua mãe. Sei que ele tinha certeza de que você estaria junto e com isso ele teria eliminado todos os que amei na vida, bem como sei que ele só sossegará quando morrer ou cumprir o que tem em mente.

- Acredita mesmo que ele entraria em uma guerra aberta contra o senhor?

- Tenho cem por cento de certeza disso. Vladislav não é algo ou alguém que tenha sentimentos e se algum dia o teve foi quando ainda éramos jovens. Para ele destruir e eliminar pessoas é nada, pois ele tem sede de coisas que terminam em sangue inocente.

- Um assassino inumano, é isso?

- Bem pior que isso! Ele é um sádico e feroz assassino.

- Não haveria uma forma racional de conter esta besta fera?

- Não! Tento isso a séculos e ele não se rende aos devaneios que criou para si mesmo.

- Então a solução seria esta guerra que parece eminente?

- Sim, mas ele jamais se porá à frente de seus soldados. Ficará bem longe apenas acompanhando as mortes que para ele não significara nada.

- Se ele é um homem lobo, mesmo que modificado, não teria motivo para me ouvir?

- Ele até te ouviria, mas mais por curiosidade de conhece-lo e te estudar, mas em um simples vacilo ele te mataria por ser meu neto. Tenho certeza de que ele te respeita pelo que ou quem é, mas a vingança dele sempre estará em primeiro lugar.

- Acreditou no que Orbyu disse de outros duzentos híbridos vindo para cá?

- Está aí uma coisa curiosa. Foi muito fácil apanhá-lo. Foi como se ele quisesse de fato ser detido e quando o encontramos ele estava ferido, mas nada disse para nós sobre isso e no fundo, mesmo achando que será uma tremenda perda de tempo até cheguei a ponderar sobre o que quis fazer.

- Diz de passa-lo pelo procedimento?

- Sim! Seria uma tentativa maior de saber mais sobre ele mesmo achando uma tremenda perda de tempo.

- Se pensou assim porque foi contra a minha decisão?

- Digamos que queria saber até onde iria o seu desejo de líder de mostrar quem era ao tomar uma decisão do tipo desta que tomou.

- Estava me testando?

- Digamos que quis ver até onde estava preparado para ser quem o é.

- Um teste! Foi apenas um teste. É isso?

- Digamos que sim. Respondeu Gustavo sorrindo.

- Foi um teste! Como é que pode? Disse Pedro também sorrindo.

- Foi auto firmação para não chamar de teste, mas não acredito que ele sobreviva ao procedimento.

- Porque acha que não?

- Já lhe disse. Ele não é humano é um ser hibrido e sabendo que mesmo os humanos transmutados poderiam não resistir de forma alguma acredito que ele sobreviva.

- E se acontecer?

- Lhe recordo que o primeiro a passar pelo teste do procedimento fui eu e mesmo eu sendo forte e tendo desejos de sobreviver quase morri. Daí dá para se ter uma ideia de um não humano.

- Pergunto de novo, e se der certo nele e ele sobreviva?

- Sobreviva para ser o que? Acha que ele irá se tornar um mortal ou melhor dizendo ele um ser hibrido se tornar em um ser humano? Me responda isso se conseguir.

- Humano eu duvido que seja se sobreviver, mas eu jamais deixaria de ao menos tentar para saber mais dele e quem sabe conter uma guerra eminente.

- É uma tentativa, mas uma tentativa a meu ver inútil.

- O que acha que estes outros supostos duzentos batedores estão vindo fazer caso de fato seja verdade o que ele disse?

- Se de fato existirem estes duzentos posso lhe assegurar que conhecendo Vladislav como conheço eles não estariam por exemplo vindo destruindo tudo em seu caminho. Pelo contrário, tentando ver o modo de operação dele, estes duzentos viriam direto para cá e começariam a eliminar pessoas inocentes pausadamente, mas deixando o recado para mim que chegaram.

- Há uma forma de identifica-los?

- Isso só quem poderia nos informar seria o Orbyu e isso se ele resolver falar mais.

 

Pedro ia questionar seu avô quando um assistente da doutora Rebeka foi até eles comunicar que Orbyu estava morrendo. Rapidamente se levantaram e correram para o complexo. A morte daquele ser hibrido em nada os ajudaria a tentar entender um pouco mais sobre o que estava por vir. Chegaram na porta de entrada, foram até os elevadores e desceram. Chegaram até o andar onde Rebeka os aguardavam.

 

- Tenho certeza de que ele tem ainda alguns minutos de vida se é que ainda terá.

- Vamos lá vê-lo. Disse Pedro correndo pelo corredor.

 

A cena que viu o deixou em um misto de perplexidade e pena. Orbyu tentava dizer algo, mas a voz não saia de sua boca. Parecia estar agonizando como acontecia com todos os que rejeitavam o procedimento. Se contorcia devagar ao contrário dos outros homens lobos, mas o desejo de se fazer ouvir era claro e evidente.

 

Pedro pediu para que se abrisse a porta de segurança e mesmo Gustavo tentando impedir a sua entrada no local não conseguiu contê-lo. Entrou e se aproximou daquele ser de aparência humana o qual estava amarrado em fortes cintas, porém, que de humano só tinha a capa externa. Aproximou-se mais.

 

- Por favor me ajude, não quero morrer! Conseguiu ouvir ele dizer.

- Sei que é difícil, mas tenha calma que tentaremos de tudo para mantê-lo vivo. Respondeu.

 

Se afastou um pouco e chamando Rebeka ordenou-lhe que não importava o que ele era ou seria, mas que ela fizesse de tudo para salvá-lo e mesmo não concordando com a ordem ela não desacatou e fez tudo o que pode para conter aquelas dores pelo qual Orbyu estava passando e depois de quase meia hora ele foi se aquietando e Pedro temeu pelo pior.

 

- Ele está bem sedado agora! Respondeu Rebeka.

- Sedado, mas não morto?

- Sim!

- O que fez?

- Dei um sedativo que estou fazendo testes com ele nos jacarés.

- Sedativo de jacaré?

- É! Jacarés ou crocodilos.

- De onde tirou esta ideia de aplicar isso nele?

- Eu já tinha tentado outros tipos de sedativos e este, que ainda estou em fase de experimentos e teste nos repteis parece ter dado certo, ou acredito que pareça estar ajudando.

- Como um sedativo experimental usado em jacarés pode tê-lo deixado mais calmo?

- Senhor! Posso falar com sinceridade? Perguntou Rebeka.

- Pode sim!

- Não sabemos qual é a fisiologia dele e nem como procederam para cria-lo e está a meu ver seria a última tentativa mesmo estando ela em fase de testes.

- O que ela faz nos jacarés ou crocodilos quando se é aplicada?

- Os deixam calmos e inertes por algum tempo.

- Sedativo de jacarés! Cada uma que vejo.

- Foi a última tentativa senhor, mas parece que o acalmou.

- Se o acalmou, porque não aplicou nos que passaram pelo procedimento?

- Porque os que passaram antes deste aqui eram de origem humana e como disse o sedativo ainda está em fase de testes.

- E agora?

- Sentar e aguardar! Nada mais que possa ser feito a partir de agora.

- Quanto tempo mais teremos que aguardar?

- Sinceramente não sei responder isso, portanto, só resta dizer que temos que aguardar.

 

De fato, não havia mais nada que pudesse ser feito e a recuperação ou morte daquele ser que Pedro queria preservar vivo por vários motivos só dependia dele mesmo, porém, a diferença era que agora estando sob efeito daquele sedativo ele permanecia mais calmo apesar de parecer estar em coma.

 

Um dia se passou e nada de normal ou anormal aconteceu com Orbyu que com a ajuda daquele sedativo permanecia adormecido ou mais calmo. Pedro passava a maior parte de seu tempo perto dele esperando qualquer reação que demonstrasse que ele ainda estivesse vivo, mas não havia qualquer movimento que indicasse isso.

 

Mais outro dia e outro se passaram e o que Rebeka informava é que a situação dele era estável e outra alternativa havia que não fosse aguardar e desta forma uma semana se passou e doze dias depois Pedro viu que ele dava um leve sinal de vida mexendo de leve um dos dedos.

 

- Doutora venha aqui! Acho que ele está acordando. Chamou Pedro.

 

Rebeka o examinou e disse que devia ter sido um leve espasmo, mas era um bom sinal, pois afinal ele ainda estava vivo o que deixou Pedro mais confiante e com isso outros cinco dias se sucederam e outros cinco mais e nada de Orbyu voltar a si.

 

Os dias passavam, Orbyu não se recuperava. Gustavo e Pedro haviam formado um verdadeiro esquema de segurança na região, porém, devido ser uma área turística e com várias cachoeiras isso se tornava praticamente impossível, pois sabiam que os híbridos tinham a mesma aparência que os humanos e isso dificultaria a identificação deles e Pedro confiava que Orbyu poderia lhes dar informações que os identificariam.

 

Mais um dia, dois, três, uma semana e nada, porém, no quadragésimo primeiro ele finalmente abriu os olhos para a surpresa da doutora Rebeka e de seus assistentes. Rapidamente Pedro e Gustavo foram chamados e apenas Pedro entrou na cela de vidro onde ele estava.

 

- Como está se sentindo?

- Vivo! Respondeu Orbyu forçando um sorriso.

- Ah! Então sabe rir e fazer piadas é? Perguntou Pedro sorrindo.

- Não sei dizer, mas me sinto diferente.

- Diferente como?

- Não sei dizer, mas estou vendo as coisas de uma forma diferente.

- Como diferente?

- Não sei dizer, mas estou feliz por estar vivo e lhe agradeço por isso.

 

Pedro ficou feliz em ouvi-lo, mas a fim de atender os critérios médicos chamou Rebeka que disse que a partir daquele momento ele teria que passar por uma avaliação mais completa que na verdade era ver o que havia acontecido com aquele ser hibrido que para começar nem coração possuía.

 

- A doutora me informou que agora passará por observações rotineiras. Informou Pedro.

- Bem compreensivo e vou me ater no que ela determinar, mas estou com fome. Tem algo para eu comer?

- Claro que sim! O que deseja comer?

- Arroz, feijão, batata frita e salada! Pode ser?

- Salada!

- É!

- Não quer carne, ovos, estas coisas?

- Não! Apenas isso.

 

Pedro olhou para Gustavo e Rebeka que estranharam tanto quanto ele aquele pedido. Não sabiam o que ele costumava comer, mas aquilo que ele pediu surpreendeu-os.

 

- Tem certeza que quer isso mesmo?

- Tenho sim! Porque?

- Nada! Apenas para saber se não entendemos errado.

- Podem ter certeza de que eu não pediria carne nem crua, porque nunca gostei disso. Respondeu sorrindo e contagiando a todos eles.

 

Pedro se afastou e logo serviram para Orbyu o que ele pedira. Ao se afastar chamou Rebeka e seu avô e lhes perguntou o que acharam daquilo.

 

- Acho que ele está tentando ser agradável e estranhei isso, afinal um híbrido não deveriam ter sensibilidade para isso. Disse Gustavo.

- Eu já penso que ele já estava programado para uma situação desta e agora está entrando na sequência do que ele foi programado. Falou Rebeka pensativa.

- Caramba! Cadê a confiança de vocês para um caso deste? Comentou Pedro.

- Você confia em um ser sem coração? Perguntou Gustavo.

- Acha que o Vladislav tem ou teve coração vovô?

- Bem ele teve, porque?

- Se ele teve um coração, concorda que ao passar pelo procedimento ele recuperou o coração talvez perdido doutora?

- Sim! Isso posso garantir.

- Porque perguntou isso Pedro? Perguntou Gustavo.

- Veja bem! Se Vladislav teoricamente tinha coração e está cometendo genocídios e destruição contra a humanidade, porque um ser ou pessoa sem coração não poderia se tornar mais humano?

- Não tenho respostas para isso, mas que é suspeito é. Voltou a dizer Gustavo.

- Uma pergunta bem simples agora. Doutora Rebeka, acha que ele está curado ou não?

- Até que se prove ao contrário posso garantir que ele está e o procedimento nele, apesar de termos que ter usado as injeções dos jacarés foi um sucesso.

- Era tudo o que eu precisava saber e agora de olho nele para ver como que ele reage. Finalizou Pedro saindo do laboratório e indo para a superfície.

- No que está pensando meu filho? Perguntou Gustavo depois pouco mais de meia hora depois vendo Pedro olhando para o vale.

- Nem sei o que dizer vovô! É muita responsabilidade para uma pessoa só e estava pensando no que teve que passar estes anos todos.

- Eram outros tempos e outras situações.

- Mesmo assim! Estava pensando no que passou desde o começo de tudo.

- Foram muitas dores e pior que isso, foram as dores que causei.

- Isso é uma coisa que não consigo nem ter ideias, mas se pensa que desisti de destruir quem matou maus pais está muito enganado. Quero eliminar aquele verme com minhas próprias mãos.

- Pedro! A vingança é uma coisa que mais faz mal do que bem e saiba que, mesmo que você elimine ele jamais trará de volta os seus pais.

- Mas o senhor não quer eliminá-lo?

- Quero, mas andei pensando muito do que me disse de que talvez, ou quem sabe, tenha sido ele quem matou a minha amada Antonella e me feito acreditar que tenha sido eu, se bem que, ainda acho que fui eu quem fez aquilo.

- Se já começou a pensar que não foi então só tem um jeito de saber.

- Qual?

- Caçá-lo e antes de exterminá-lo ouvir de sua própria boca que foi ele quem a matou.

- Ele jamais confessaria isso, posso lhe garantir isso.

- Então vamos caçá-lo e ver o que acontecerá e na pior das hipóteses estaremos vingando as mortes de meus pais e colocamos uma pedra em cima disso.

- Verdade! Vamos dar tempo ao tempo porque ele, o tempo sempre é o melhor conselheiro.

- Concordo contigo vovô!

- Em gênero, número e grau.

 

Outra semana se passou e a vigilância em cima de Orbyu bem como dos limites da cidade estavam cada vez mais intensas, porém, no caso do hibrido, este vinha se comportando bem e nada havia nele que demonstrasse animosidade, pelo contrário, Pedro dedicava bom tempo de seu dia conversando com ele e até Gustavo já acreditara que algo de bom havia naquele ser.

 

- Gostaria de leva-lo lá para fora, mas mesmo todos me considerando o soberano eu respeito ao meu avô que era, foi e para mim ainda é o líder dos que aqui habitam.

- Eu compreendo e por isso nem irei pedir mais do que me for possível para ajuda-los.

- Pode me falar mais deste processo hibrido que Vladislav criou?

- O que quer saber?

- O que se sentir à vontade para me contar, mas saiba que além de querer saber mais de você também quis salvar sua vida.

- Sei que ao me poupar quis na verdade me manter vivo para obter mais informações desta nova raça ao qual eu fazia parte, mas não me incomodo com isso, afinal eu, se fosse você teria agido da mesma forma

- Não achei justo te eliminarem e este foi o principal motivo, mas o que pode me contar?

- Falarei o que sei, mas antes disso quero lhe agradecer por salvar a minha vida e mais, ter me proporcionado o privilégio de passar pelo procedimento ao qual passei, mas vamos lá. Preparado para ouvir?

- Preparadíssimo! Respondeu Pedro.

- Pelo que sei trabalhando para meu criador um cientista que está com ele a anos de nome Stanislaus Korov. Este desenvolve projetos e processos de tudo o que é tipo e todos eles são voltados para o mal e isso é o que acalenta os desejos mais sórdidos de Vladislav. Com isso, o cientista cria vírus destrutíveis, bombas de destruição, infecções inexistentes e por último criou os homens lobos, mas híbridos.

- Sabe como ele fez isso?

- Pelo que sei ele pegou algo de DNA humano, de algum lobo e fundiu em alguma molécula que não sei dizer o que é e nem como e nos criou, porém, no começo desta insanidade muitos híbridos morreram, mas ele agiu como se não fossem nada o que de fato tinha certa razão, pois os primeiros eram mero objeto descartável. Ninguém se importou com as perdas de irmãos que vieram antes de mim mesmo porque não tinham nada na cabeça no que pensar até que ele em sua demência resolveu mudar os seus métodos e conseguiu fazer um hibrido que entendesse o que ele dizia e se empolgou com isso.

- Híbridos pensantes?

- Mais ou menos isso, mas com limitações. Entendiam o que era falado, mas não sabiam usar aquilo para mais nada. Para resumir era como pegar um animal, o domesticasse e mandasse ele fazer as coisas.

- Tipo um cãozinho treinado?

- Isso mesmo!

- E o que aconteceu a seguir?

- Vendo isso a empolgação dele aumentou e começou a aperfeiçoar os híbridos, porém nada disse para Vladislav e quando este descobriu e viu que Stanislaus estava criando uma nova raça pensante mandou matar a todos e poupou seu cientista com a ameaça de que daria sua esposa, mãe e filhos para as feras caso ele insistisse em fazer as coisas sem que ele soubesse.

- Espera ai! Stanislaus é humano?

- É!

- Ele não o transformou?

- Não!

- Porque o poupou?

- Vladislav pode ser um monstro, mas não é burro. Ele deve ter sentido que se transformasse Stanislaus em um homem lobo teria o domínio sobre ele, porém, por outro lado poderia interferir isso em sua capacidade de criar as coisas.

- Você diz de Stanislaus já tivesse a maldade dentro dele, foi isso que entendi?

- Isso mesmo! Stanislaus pelo que sei era um cientista que sabia sobre muitas coisas, mas nunca foi reconhecido e isso o revoltou até que apareceu Vladislav que o valorizou.

- Valorizou como?

- Não sei direito, mas reconheceu a capacidade de ser de Stanislaus e lhe deu autonomia para desenvolver tudo que pudesse usar para alcançar o mal maior que era, a seu ver, pelo que eu soube destruir um monstro inatingível.

- Meu avô?

- Ele mesmo e isso motivou Stanislaus que começou a se dedicar a criar a maldade em forma de vírus e finalmente nos híbridos.

- Você disse que Vladislav mandou eliminar todos os híbridos de certa forma pensante. Você fazia parte daquele grupo?

- Fazia sim!

- E como escapou do extermínio?

- Não sei como, mas Stanislaus quando me criou acredito que tenha colocado um pouco mais de capacidade de pensar em mim e eu era de certa forma um protegido dele e quando a ira de Vladislav recaiu sobre meus irmãos híbridos Stanislaus me escondeu e salvou a minha vida naquele momento.

- Então foi salvo por duas vezes?

- Na verdade, foi salvo apenas pelo senhor. Stanislaus deve ter colocado na composição daquilo que me deu vida algo mais que ele deva ter perdido quando tudo foi destruído e ele precisava de mim para tentar refazer a sua receita.

- Tipo um rato de laboratório?

- Não sei o que rato de laboratório, mas ele me usou quando quis, quanto quis e da forma que quis até que conseguiu recriar a nova geração de híbridos onde todos iriam somente obedecer e nada mais que isso.

- Um exército de sem sentimentos?

- Exatamente isso.

- E como surgiu isso dele enviar você e este grupo para cá?

- Ele não sabia que eu era um sobrevivente e quando teve a ideia de mandar um grupo grande para cá eu estava quieto no meio deles e ele mesmo separou duzentos de nós para virmos para cá.

- Assim do nada você veio no pacote?

- Não! Eu nem deveria ter vindo, mas como Vladislav havia comentado com Natália, a assessora loba dele, acreditavam que haviam sobrado alguns “pensantes” e ele iria descobrir e eliminá-los como fizera com os demais e neste momento foi que Stanislaus me infiltrou no meio deles e pediu que eu buscasse refúgio em outro lugar. Com isso, do nada, talvez por eu estar na frente de vários híbridos que recebiam ordens e as cumpriam Vladislav me ordenou que eu viesse de batedor.

- Hum! Assim do nada?

- Como assim do nada? Perguntou Orbyu estranhando.

- Porque mandou logo você de batedor e qual seria a sua função de vir na frente?

- Ah é isso!

- É!

- Ele tinha que mandar um batedor e poderia ser qualquer um de nós, mas Stanislaus disse para Vladislav que eu havia sido o primeiro da nova safra de híbridos e que o KTX034 deveria ter esta oportunidade.

- KTX034!

- Sim! O nome que foi dado para mim.

- E de onde surgiu o Orbyu?

- Orbyu foi o nome que me foi dado quando ainda haviam os pensantes. Todos tinham nomes dados por Stanislaus e este foi meu nome.

- Ah tá! Entendi.

- O que quer saber mais?

- Não sei! Estou pensando aqui comigo mesmo.

- Pensando! O que seria pensar consigo mesmo?

- No que me contou!

- O que tem?

- Não sei! Tem alguma coisa errada aí.

- Não entendi! Disse Orbyu.

- Você contou muita com coisa como se estivesse preparado para fazer isso.

- Mas falei a verdade!

- O que seria a verdade para você Orbyu?

- Fatos concretos! É isso que eu acredito ser a verdade.

- E acredita que me contou tudo de fato como aconteceu lá sei lá onde?

- Sim!

- Como funciona a cabeça de vocês, os híbridos?

- Não posso precisar disso, mas no meu caso acredito eu que Stanislaus tenha colocado algo mais.

- Tipo o que mais?

- Isso já não sei dizer, mas não acreditou em mim, não foi?

- Qual é o seu grau de raciocínio?

- O que é raciocínio?

- Quer saber o que é raciocínio?

- Quero!

- Bem, raciocínio seria mais ou menos o exercício da razão pelo qual se procura alcançar o entendimento de atos e fatos. Seria a formulação das ideias e se deduz algo a partir de uma ou mais premissas. Entendeu?

- Não!

- Vou tentar de outra forma. Raciocínio é o tipo pensar, entendeu agora?

- Pensar é ter raciocínio?

- É mais ou menos isso!

- Eu sei pensar, então eu tenho raciocínio?

- Me dê um minuto que já volto.

 

Pedro estava encucado e saiu da cela envidraçada em que Orbyu estava e foi em busca de Rebeka. Tinha que lhe perguntar algumas coisas que não estava entendendo.

 

- Doutora! Pode me dar uns minutos?

- Claro! O que houve?

- Me fale sobre um hibrido, por favor.

- Sobre o que temos aqui?

- Não! Sobre algo que seja hibrida. Sabe algo sobre isso?

- Desde que vocês trouxeram ele para cá eu andei fazendo umas pesquisas e acredito que possa comentar alguma coisa.

- O que pode me dizer sobre os híbridos e ressalto que o nome dele é Orbyu.

 

- Tudo bem, me desculpe por não ter usado o nome dele, mas ainda acho estranho o que estou vendo.

- O que está achando estranho?

- Veja bem senhor! Eu até agora jamais tinha ouvido falar de sucesso em pessoa hibrida, porém, no Japão e na Espanha além de outros países cientistas começaram a desenvolver pesquisas envolvendo o cultivo de células humanas em embriões de animais, porém, a pesquisa pode ter consequências inesperadas se algumas células humanas forem transferidas para o cérebro de um animal. Contudo há normas internacionais que dentro das leis impedem ou impediriam que a fusão de um embrião hibrido humano com o de um animal para a criação de órgãos humanos não há nenhum relato oficial de que isso fosse possível.

- O que te faz concluir o que?

- Que temos nas mãos uma verdadeira obra de arte cientifica, ou a prova viva de que é possível a criação de pessoas juntando os embriões, porém, aqui, no caso de Orbyu a coisa é mais complexa porque tenho certeza de que ele não é humano de forma alguma, mas ele age e pensa como se fosse humano.

- Tem certeza disso?

- Tenho sim e garanto que fora o coração, rim e alguns órgãos internos ele é poderia e pode ser comparado a um ser humano na aparência.

- Você me disse que ele não possui alguns órgãos internos, foi isso?

- Sim! Isso mesmo.

- Ele se alimentava antes?

- Não tenho a menor ideia.

- Ele está se alimentando agora?

- Está e adora pelo que vejo arroz, feijão, salada, batata, frutas e outras coisas de origem que não seja animal.

- Tentou dar um bife para ele?

- Tentamos sim. Bife e ovo, mas ele recusou.

- Outra pergunta. Se ele se alimenta agora o que entrar em seu corpo terá ou teria que sair e se ele não tem outros órgãos como funcionaria isso?

- Pergunta se ele tem ânus e pênis, por exemplo?

- Sim!

- Tem ambos, mas daí a saber se funcionam eu não tenho a menor ideia. Temos que esperar para ver.

- Bom ter tocado no assunto do pênis. Acredita que eles poderiam procriar?

- Também não tenho a menor ideia senhor.

- Confiaria nele?

- Também não sei lhe responder isso, mas a princípio ele não fez nada que que desabonasse a sua conduta.

- Obrigado! Vamos ver no que irá dar isso tudo.

- Estou sempre às ordens senhor.

 

Pedro saiu da sala onde estava falando com Rebeka ainda mais confuso do que entrou. Ela lhe respondera perguntas básicas, mas no fundo ele não sabia se poderia confiar ou não naquele homem hibrido. Resolveu não voltar onde Orbyu estava e voltando para a superfície sentou-se no banco que dava acesso para o vale e perdeu a noção do tempo em que ficou ali olhando para o nada e só voltou à realidade quando Gustavo o interpelou.

 

- Perdido em pensamentos filho?

- Põe perdido nisso vovô! Estou para lá de perdido.

- Dúvidas com relação ao seu hibrido?

- Ele não é meu, mas realmente é sobre ele que passei sei lá quanto tempo aqui pensando.

- E chegou a alguma conclusão?

- Não! Respondeu Pedro sorrindo.

- Tem medo de errar?

- Um pouco!

- A nossa vida é feita de erros e acertos e isso nunca mudará.

- Arriscaria toda uma coletividade achando que está certo vovô?

- O que diz o seu eu interior?

- Não sei! Estou em dúvida acredito eu por completo.

- Vamos fazer um teste. Feche os olhos e estique o braço direito para algum lugar que lhe venha na mente aqui onde estamos.

- Qualquer lugar?

- Sim! Feche os olhos e faça isso.

- Pode ser o braço esquerdo?

- Qualquer um. Apenas faça.

- Tudo bem! Respondeu Pedro erguendo o braço direito e apontando para um lugar qualquer.

- O que vê?

- Um moro alto envolto em nevoeiro.

- Quando estava aqui chegou a ver o nevoeiro lá onde está apontando?

- Não!

- E o que vê neste morro?

- Uma névoa densa.

- Ótimo e o que vê através da névoa?

- Como?

- O que vê através da névoa. Olhe bem para dentro dela.

- Tá!

- Consegue ver algo?

- Não! Espere, vejo algo.

- E o que vê?

- Uma batalha feroz.

- Quem está na batalha?

- Dois exércitos.

- Consegue identifica-los?

- Espere um momento que estou penetrando na névoa.

- Quando ultrapassar a névoa me avisa o que vê.

- Realmente são dois exércitos. Um de homens lobos e o outro são os nossos soldados.

- Consegue distingui-los?

- Sim! Estão usando um uniforme com destaque para a cor verde que são os homens lobos. Dezenas deles e no outro usa um uniforme no tom azul com o preto.

- Azul e preto?

- Sim! São estas as cores.

- Você já as viu por aqui?

- Não! Nunca.

- O que mais vê?

- Orbyu!

- O que tem ele?

- Está la luta e ao meu lado.

- Tem certeza?

- Tenho!

- Como estão lutando?

- Com espadas do tipo medieval.

- O que mais consegue ver?

- Vejo um detalhe no uniforme preto.

- Que detalhe?

- Três letras S entrelaçadas dentro de uma lua.

- Três letras S?

- Sim!

- Seria por acaso a uma alusão ao nome Santilena Spallucci Spadonni?

- É! Pode ser que sim, mas o que seria esta lua?

- O seu brasão. A lua com os três S dentro dela.

- É?

- É, ou poderá ser, mas realmente é o Orbyu que está lutando ao seu lado?

- Tenho certeza que é.

- Pode abrir os olhos então!

 

Sem entender nada Pedro abriu os olhos ao mesmo tempo em que baixava o braço, mas não sem antes ter visto que ele apontava para um enorme monte que ficava bem ao fundo da propriedade onde estavam, porém, naquele momento o sol que descortinava no vale não mostrava nada da névoa que vira com os olhos fechados.

- Entendeu o que viu?

- Não!

- Qual era a sua dúvida que o fez passar horas sentado aqui olhando para o vale?

- Era se podia ou não confiar em Orbyu.

- E a que conclusão chegou?

- Não sei!

- Tem certeza que não sabe?

- O que aconteceu aqui vovô?

- Você tem um dom e eu forcei para que ele aflorasse. Apenas isso.

- Que tipo de dom?

- De ver algo que ainda não aconteceu.

- Prever o futuro?

- Mais ou menos isso, mas viu mais do que isso. Você viu Orbyu ao seu lado e lutando contigo.

- Então acha que posso confiar nele?

- Baseado no que me relatou eu e veja que eu disse eu confiaria que ele está do nosso lado.

- Obrigado vovô!

- Obrigado nada! Vamos lá para baixo que irei te mostrar os novos uniformes, porem faltam nele a lua em volta dos três S.

- Sério?

- É! Vamos lá que vou te mostrar.

 

Voltaram para o prédio do complexo e lá pegaram o elevador e desceram até o sexagésimo segundo, ou o último andar e lá Pedro pode ver a amplitude que seu avô construíra durante anos. O local era enorme e acima de tudo era um verdadeiro arsenal composto por um armamento diferenciado que nem na internet acharia algo parecido e lá em um dos lados da imensa área estavam centenas de uniformes idênticos ao que ele vira a pouco tempo.

 

- O que é isso vovô?

- O futuro meu filho. O seu futuro.

 

Cada instante mais que passava ali naquele paraíso mais e mais Pedro descobria as coisas e quanto mais descobria mais se surpreendia com o que via.

 

Na verdade, até pouco tempo atrás era um garoto simples que vivia com seus amados pais e de repente perdera-os e seu avô que sempre achara que o rejeitava apareceu e o levou para junto de si. Pouco tempo depois que pareciam anos acabou amadurecendo mais do que amadureceria se continuasse na vida que levava e uma nova vida se abriu para ele.

 

Sem saber porque ou de que forma descobrira que era neto de um avô que era nada mais nada menos que um lobisomem reformado através de um milagroso ou cientifico elixir e que estava em vida a mais de seis séculos.

 

Para que não soubesse da sua história e eram raros os que sabiam diriam que ele era um sonhador ou maluco se contasse para um desconhecido e finalizando tudo aquilo seus pais foram barbaramente assassinados e ele era, segundo uma lenda antiga o soberano dos homens lobos, porém, ser um lobisomem. Era loucura demais, mas ele bem sabia que tinha uma missão a qual ele iria cumprir ou tentar cumprir.

 

- O que achou disso aqui tudo meu filho?

- Estava pensando nisso vovô! É muita loucura para um adolescente.

- Este é o seu destino meu filho e não tem como fugir dele.

- Não vou fugir vovô! Pode ter certeza disso.

- Sei que não, afinal você é um autêntico Santilena Spallucci Spadonni.

- Sei disso e prometo honrar o seu nome.

- Vamos subir porque você tem alguém te esperando.

- Orbyu?

- Sim! Chegou a hora de começar a cumprir o seu destino e ele faz parte do que está por vir.

- Vamos então, porque sinto que o tempo urge e logo os híbridos estarão por aqui.

 

Pedro depois de tudo que viu antes e depois que desceu até o último andar do complexo, na volta ia subir e ir conversar com Orbyu, mas pensou melhor e resolveu deixar para fazer isso mais a tarde na hora que já tivesse escurecido.

 

- Não quis ir falar com ele? Perguntou Gustavo.

- Não vovô! Vou esperar escurecer para fazer isso.

- Porque?

- Não sei, mas foi isso que meu coração me mandou fazer.

- Não vou dar palpite sobre isso, mas se seu coração lhe disse isso siga-o, pois sei que ele sabe o que faz e fará com e por você meu filho.

- Vovô! Eu estava pensando no que minha vida se tornou nestes últimos meses.

- Foram muitas mudanças, não foram?

- Falar que foram muitas é pouco. O que está me acontecendo se eu contasse para alguém fora daqui me chamariam de doido.

- Se quer saber meu filho, a meses atrás eu achava que você era apenas um menino mimado pelos seus pais e que queria apenas curtir uma vida fútil.

- Eu mimado?

- E não era?

- Bem, era, mas eu não queria uma vida fútil. Foi você vovô que não me dava atenção.

- Engano seu! Eu sempre estive presente na sua vida. Aparentemente longe, mas se o fiz foi e era para proteger você e seus país.

- Por causa do Vladislav?

- Em parte foi por causa dele também, mas mesmo sabendo que estava recuperado ainda temia um surto e que a maldição que me perseguia poderia voltar e eu causar mal principalmente para você que era fruto de algo bom que fazia parte da minha vida.

- Nossa vovô! Nem tinha ideia disso.

- Sempre protegi os meus com muita atenção depois da morte de sua avó, mas é vida que segue e não podemos deixar que ela nos leve sem nos cuidarmos.

- Tem toda razão vovô e farei o impossível para cuidar de tudo e de todos que eu puder.

- Assim é que se fala. Está cada dia mais me provando que é um legitimo Santilena Spallucci Spadonni.

- Obrigado!

 

O dia passou, a tarde chegou e após ela o sol se pôs e Pedro saindo da casa principal se dirigiu para o complexo e após pegar o elevador chegou até onde Orbyu se encontrava encarcerado.

 

- Abram a porta por favor! Pediu para o segurança.

- Tem certeza senhor?

- Tenho! Abra.

 

Cautelosamente o segurança deu sinal para a central que acionando controles abriu as três portas de segurança que havia no local. Pedro entrou e o segurança ficou atento.

 

- Vista uma roupa mais grossa que vamos dar uma volta.

- Tem certeza do que está me pedindo?

- Se não tivesse garanto que não estaria aqui! Respondeu Pedro.

- Vai confiar em mim? Perguntou Orbyu.

- Depende!

- Do que?

- Vai confiar em mim?

- Lhe devo a minha vida senhor!

- Meu nome é Pedro e não me deve nada.

- Eles iam me matar e me salvou, portanto lhe devo minha vida.

- Deixe de clichê e me acompanhe.

- Onde iremos?

- Vai ter que confiar em mim. Confia?

- Claro que sim! Respondeu Orbyu pegando um agasalho que lhe deixaram ali.

 

Saíram da cela e Orbyu perguntou se não iriam vendá-lo e Pedro fez de conta que nem ouvira. Se dirigiram para os elevadores e agora seguidos pelas câmeras por dezenas de seguranças subiram para a superfície onde a noite já dera o ar da graça.

 

- Me acompanhe!

- Sem seguranças?

- Quer que eu chame por seguranças?

- Não! É que...

- Não é nada e acho que não preciso ou precisarei de seguranças, concorda?

- Da minha parte não, mas onde iremos?

- Calma que logo verá!

 

Orbyu não estava entendendo nada, mas acompanhou Pedro em silêncio. Era estranho que estivesse fora do local onde estivera aprisionado e sem venda nos olhos e apenas com aquele ainda garoto e lado a lado acompanhou-o até onde ele queria ir e parou junto quando Pedro parou.

 

- O que vê à sua frente?

- Um imenso vale que está começando a adormecer na sombra do sol.

- Só isso? Perguntou Pedro.

- Vejo luzes bem adiante e este local deve ser maravilhoso sob a luz do sol. É isso?

- Não! Eu estou te mostrando a liberdade. Está livre de novo.

- Como?

- Não permanecerá mais recluso a uma cela.

- Não estou entendendo.

- Não quero te manter mais entre quatro paredes de vidro. Quero que sinta o local onde está e me diga o que isso tem a ver com você a partir da talvez suposta mudança.

- O que eu sinto?

- É!

- Sem comentar a liberdade a qual lhe agradeço muito estou me sentindo de uma forma que nunca estive. Sinto o frescor da noite, a suavidade do vento, a beleza de um local adormecido, um sentimento se é que é este o nome por mim jamais sentido antes e é como se eu fosse um humano, pois estou me sentindo vivo e com vontade de gritar bem alto obrigado senhor.

- Grite oras! Não se faça de rogado.

- Posso gritar?

- Pode, mas sabe o que quer dizer o ato de gritar?

- Seria falar alto, é isso?

- É! Faça se tiver vontade.

- Posso fazer isso?

- Não é o que está sentindo e que deseja fazer?

- É!

- Então faça sem receio.

 

Orbyu olhou para o vale, depois para Pedro, novamente para o vale e voltando outra vez para Pedro se ajoelhou e gritou obrigado senhor com todas as forças de seu interior surpreendendo não apenas a Pedro quanto Gustavo e as Vuks que estavam prontas para intervir.

 

- Não tem que se ajoelhar. Levante-se por favor.

- Tenho sim! Graças ao senhor eu me sinto mais vivo do que jamais fui ou poderia ser e por estar me concedendo a liberdade, mas tenho uma pergunta a fazer.

- Pode fazer!

- O sentimento de agradecimento é verdadeiro, mas eu tenho que ir embora?

- Sei que é verdadeiro, mas quanto ao ir embora, você deseja isso?

- Não! Na verdade, nunca me senti mais livre em todo o tempo que eu existo e se me deixar gostaria de ser seu amigo.

- Já tem a minha amizade Orbyu e pode contar com ela.

- Não é este tipo de amizade, mas sim a de fazer de tudo para te proteger e cuidar de ti.

- Se acha que preciso disso tudo bem, mas aceito com gosto você como meu amigo. Agora vamos aproveitar e curtir um pouco esta bela paisagem que está se descortinando à nossa frente. Venha aqui e sente-se comigo no banco que eu gosto de me sentar e olhar para o vale.

 

Orbyu seguiu Pedro e pela primeira vez na sua vida agora quase humana e sentou-se ao seu lado. Não tinha nada que pudesse comentar sobre qualquer coisa, pois tudo para ele era o pouco que vivera com Stanislaus sob o comando e controle de Vladislav. Não tinha família e sentia sem saber porque queria ter uma, mas Pedro foi comentando sobre a vida humana de uma forma natural até o ponto de lhe perguntar como que eles colocavam para fora o que ingeriam.

 

- É normal em humanos colocar para fora o que se é ingerido?

- É! Respondeu Pedro.

- Será que é por isso que estou sentindo umas contrações estranhas dentro de mim?

- Não sei, mas deve ser.

- E como que eu faço para que o que coloquei dentro de mim saia?

- Vou te explicar! Respondeu Pedro.

 

Com um sorriso nos olhos Pedro foi informando para Orbyu como era o procedimento dos humanos e de como se asseavam depois de fazer as suas necessidades. Orbyu o olhava cada vez mais surpreendido e ambos riam das explicações e entendimento de algo que poderia ser a criação de um novo humano modificado. Tudo sob os olhares atentos, mas já mais descontraídos de Gustavo, das Vuks e de Rebeka que se uniu ao grupo de observadores daquela nova raça.

 

- Não está com fome?

- Estou, mas antes disso acho que precisarei cuidar do que acabei de aprender! Respondeu Orbyu.

- Vou lhe mostrar onde poderá e deverá colocar para fora o que tem aí dentro e como se assear.

- Vai ficar lá junto comigo?

- Claro que não! Isso é uma coisa pessoal só sua.

- Vai confiar em me deixar sozinho?

- Você vai aprontar algo ou fugir?

- Nunca!

- Então é claro que ficará só! Depois vai tomar um banho, trocar de roupa e vamos jantar. Fechado?

- O que é fechado? É algo como ser preso?

- Não! Fechado é se concorda.

- Ah tá! Fechado então. Respondeu Orbyu dando um leve sorisso.

 

Pedro pediu para que Orbyu o acompanhasse. Entraram na casa sede e Pedro o conduziu até um dos vários quartos, lhe mostrou onde ele iria dormir a partir daquele dia e o local onde ele colocaria as suas novas necessidades físicas e onde tomar banho. Ao longe as Vuks quiseram ir atrás, mas foram impedidas por Gustavo.

 

- Vai confiar senhor? Perguntou Ingrid.

- Se Pedro confia devemos confiar também. O que me diz doutora?

- Acho que sem querer criamos uma nova raça humana modificada. Um hibrido humano e o melhor, que demonstra afinidade e a meu ver fidelidade ao nosso novo líder.

- Estava pensando a mesma coisa aqui, mas me responda uma coisa doutora, se ele se sente humano será que ele irá querer criar uma família?

- Bem possível!

- Ter uma esposa por exemplo?

- Também acho que isso possa acontecer, se bem que não poderia dizer até onde isso fará parte do dia a dia dele.

- A senhora o examinou então me diga, ele tem os órgãos sexuais?

- Tem sim!

- E funcionam?

- Senhor! Que pergunta mais saliente.

- Foi mal, foi apenas curiosidade, mas se por acaso arrumarmos uma hibrida será que poderia acontecer o mesmo que aconteceu com ele?

- Bem provável que ocorra, mas isso se encontrássemos uma hibrida igual a ele.

- E se Pedro arrumar uma humana que prove que as coisas nele funcionam direito, daria certo?

- Senhor! Me perdoe, mas está me fazendo perguntas nada profissionais.

- Não sei porque, eram apenas cientificas. Respondeu Gustavo sorrindo o que surpreendeu Rebeka, pois nunca o vira sorrindo.

- Posso me retirar?

- Pode, mas fiquei curioso e vou pedir para que Pedro pergunte para ele.

- Homens! Nunca mudam mesmo. Respondeu Rebeka saindo.

- Vá entender estas mulheres. Eu só estava pensando algo em nome da ciência. Disse para si mesmo Gustavo ao ver Rebeka entrando no complexo.

 

Não tão longe dali Pedro mostrou o novo quarto onde moraria Orbyu a partir de então. Lhe mostrou a toalete, o vaso sanitário, o chuveiro e como ele deveria proceder em sua nova vida a partir de então e saiu indo se encontrar com seu avô que com certeza tinha estado os observando em todos os momentos. Saiu e foi em direção à sala onde sabia que estaria seu avô naquele momento.

 

- Vovô! Estava nos observando?

- Eu! Por quem me tomas meu filho? Respondeu Gustavo sorrindo.

- Sei! Imagina que deixaria de acompanhar o que eu ia fazer, mas viu tudo?

- Vi, me surpreendi, fiquei feliz por tê-lo acomodado aqui dentro, mas tenho uma curiosidade.

- Qual?

- Será que ele sendo e uma nova raça de humanos teria ou terá vontade de ter uma família?

- Com certeza terá!

- Esposa por exemplo?

- Acredito que sim.

- E será que o negócio dele funciona?

- Acho que isso o senhor deverá perguntar para ele. Respondeu Pedro sorrindo.

- Eu não! Ele é seu amigo, portanto você se vira e pergunta.

- Está querendo muito também né vovô? Vamos ver agora se ele saberá se limpar. Disse sorrindo.

- Se limpar?

- É! Ele irá defecar pela primeira vez em sua nova vida humana.

- Não creio!

- Quer ir lá ver ao vivo?

- Eu não, mas que fiquei curioso eu fiquei. Respondeu Gustavo desta vez rindo com vontade.

- Não comente vovô, mas eu também. Disse Pedro também sorrindo.

- Vamos jantar?

- Vamos esperar e jantarmos juntos, mas já adianto que ele não come carne.

- Deste jeito você vai acabar virando vegetariano. Disse Gustavo sorrindo e novo.

 

Esperaram algum tempo até que Orbyu saiu do quarto trajando roupa nova e tentando se ajustar dentro dela. Se sentia bem e demonstrava estar feliz. Aproximou-se de Pedro e perguntou se poderia lhe dar um abraço. Pedro concordou e Gustavo ficou admirando o gesto de Orbyu que de fato demonstrava total gratidão ao seu neto que o tratava como igual.

 

- Senhor! Obrigado por me receber aqui em sua casa e acima de tudo, parabéns pelo neto que tem que está me mostrando o mais puro e sincero gesto do que é um ser humano que tem dignidade e respeito por me tratar como um igual e não uma criatura qualquer.

- Agradeço por suas palavras e seja bem-vindo ao nosso bagunçado, mas abençoado mundo dos humanos mortais. Agora vamos jantar e já sei que não gosta de carne, portanto lhe serviremos o que desejar.

 

Jantaram e mesmo vendo a mesa repleta de carnes Orbyu optou por legumes, saladas e a comida que não tinha nada a ver com animais. Terminaram de jantar e Pedro conversou muito com ele e o convidou para irem treinar logo pela manhã e depois de tudo cada qual foi para seu quarto, porém, sem que nenhum dos dois vissem ou se dessem conta Gustavo ordenara rígida e discreta vigilância sobre Orbyu a fim de não ter nenhuma surpresa desagradável, porém, esta não ocorreu.

 

Faltava pouco para as cinco da manhã quando Pedro bateu na porta do quarto de Orbyu este já estava preparado para sair. Atravessaram o corredor, tomaram um leve café e foram em direção ao complexo e chegando como se conhecessem a anos se preparam.

 

- Você era um guerreiro antes?

- Sim! Fui criado para ser um exterminador.

- E sabe bater bem?

- Me fizeram especializar nisso.

- Quer dizer então que em uma luta bateria bem forte?

- Em uma luta si, mas não viemos aqui apenas treinar?

- Seria isso se por acaso o coronel Rafael também pensasse assim, mas não foi a forma que ele quis treinar. Comentou Pedro olhando para Rafael que deu um leve sorriso.

- Espere um pouco! Sabe que sou um guerreiro ou um soldado criado não para machucar e sim para exterminar e ainda assim quer que eu bata bem?

- Bater só não! Pegue pesado e aja comigo como se eu fosse um inimigo.

- Mas o senhor não é meu inimigo!

- Não é isso! Apenas acha como um solado exterminador em nosso treinamento, entendeu?

- Entendi, mas não concordo.

- Apenas faça, por favor.

- Tudo bem!

 

Rafael sentou-se e ficou olhando porque aquilo pareceu que ia ser interessante, mas mesmo assim chamou as Vuks para que ficassem prontas para intervir e fez isso enquanto ambos se entreolhavam como que querendo achar o ponto fraco um do outro e finalmente começaram a lutar entre si.

 

A luta começou devagar, mas Pedro foi forçando, pois queria saber o que havia dentro daquele recem humanizado novo amigo e quanto ele mais forçava mais Orbyu se defendia sem querer machucá-lo.

 

- Vamos meu amigo! Me mostre a fera que tentaram você se tornar. Pediu Pedro.

- Quer mesmo?

- Quero! Mostre-me do que são capazes os seus ex irmãos.

 

O treinamento aumentou de intensidade e a luta mais intensa chegando ao ponto de ser feroz e Orbyu demonstrou que era de fato um guerreiro implacável, mas não conseguia superar Pedro em nada e quanto mais batiam um no outro parecia que mais vontade tinha de fazer isso, mas Pedro sentiu que Orbyu estava querendo poupá-lo, porém, levou-o ao extremo de sua capacidade de se segurar e foi aí que as Vuks se levantaram e se prepararam para intervir.

 

Para agravar Pedro provocou tanto Orbyu que este talvez tirando algo que ele não queria mais fazer acabou por ferir Pedro causando um corte profundo em seu estomago. Na hora Orbyu parou e quis se desculpar, mas Pedro olhando para ele pediu que continuassem e que ele pegasse ainda mais pesado. Ingrid já ia interferir com as suas guerreiras quando Gustavo chegou e as impediu.

 

- Não interfiram! Pedro sabe o que faz. Está testando as forças de seu oponente para que ele mostre o que tem de diferente nos híbridos de vocês.

 

- Mas senhor!

- Nada de senhor! Apenas olhem e aprendam, pois senti que finalmente meu neto encontrou um oponente à altura e que está fazendo o que ele pediu sem dó nem clemencia.

 

A luta continuava. O sangue parara de jorrar do corpo de Pedro e a ferida foi cicatrizando. Trocaram de armas e continuaram naquela batalha que parecia mortal e para quem estava de fora ficava claro que Pedro não queria machucar seu oponente. Apenas o provocava para que ele chegasse ao extremo ou a sua exaustão.

 

Vários soldados e o pessoal da equipe de pesquisas chegaram porque a notícia daquela luta épica estava indo por um caminho inimaginável. Rebeka chegou e quis interromper a mesma, mas Gustavo não deixou e o tempo foi passando e vários tipos de armas brancas foram usadas até que muito tempo depois Orbyu olhou para Pedro e perguntou se ele era uma máquina.

 

- Não meu novo amigo! Sou apenas um garoto normal.

- Normal não é mesmo e foi só agora que percebi que a ferida não existe mais em seu corpo.

- Está cansado? Perguntou Pedro sorrindo.

- Não! Ainda não. Respondeu Orbyu também sorrindo.

- Então vamos lá e se viu que cicatrizou então sabe que pode bater à vontade sem medo de me ferir.

- Tudo bem! Vamos lá então. Respondeu Orbyu despreocupado.

 

A partir daquele momento Orbyu começou a soltar toda a forma e a técnica do que lhe fora ensinado para derrotar os inimigos. Sabedor naquele momento que Pedro se auto regenerava deixou de lado a amizade e começou a bater cada vez mais forte e forçar Pedro à desistir ou pedir clemencia, mas se enganou quanto a isso, pois quanto mais batia e por algumas vezes feriu Pedro este se mantinha inteiro e cada vez mais forte em atacar e se defender e tal ato e fato perdurou por algumas horas sem que nenhum dos dois mostrasse cansaço ou desejo de parar até que finalmente Gustavo prudentemente se aproximou dos dois e disse que estava chegando a hora do almoço e que ele estava com fome.

 

Tanto Pedro quanto Orbyu pararam. Se olharam, depois olharam para Gustavo e se aproximando um do outro se abraçaram e riram muito da cena que Gustavo estava fazendo demonstrando que era hora do seu almoço.

 

- Vocês são doidos? Perguntou Rebeka.

- Porque doidos?

- Estavam quase se matando aí nesta briguinha de homens.

- Briguinha não! Estávamos treinando.

- Treinando e quase se matando?

- Quero lhe agradecer doutora!

- Me agradecer porquê? Perguntou Rebeka com cara de brava.

- Por me incluir na categoria de homens. Obrigado por isso, pois até agora, antes que o soberano me salvasse a vida eu era apenas uma máquina.

- Tá bom! Homens! Credo. Resmungou Rebeka saindo de perto deles.

- Obrigado por se soltar meu novo amigo.

- Posso ser sincero?

- Claro que pode!

- Eu já não estava aguentando mais e estava quase entregando os pontos. Tem certeza de que é humano mesmo?

- Bem! A doutora disse que eu nasci desde jeito.

- Que jeito?

- Um humano incompreensivo, mas agora vamos almoçar porque senão meu avô vai ter um ataque. Falou Pedro sorrindo e juntos com Gustavo foram para os elevadores e subiram para a superfície.

 

Rafael permaneceu junto com as Vuks e olhando para Ingrid disse que eles tinham que se preparar mais, pois pelo que Orbyu acabara de demonstrar ali naquela feroz batalha de treinamento os híbridos estavam anos luz de força e agilidade do que eles estavam.

 

- Concordo com você coronel! Nós nos acomodamos com nosso jeito de superioridade que acreditávamos ter e se quiser começar a praticar estamos dispostos a começar já.

- Vou pedir para que Pedro peça para que Orbyu nos ajude e quem sabe assim teremos mais chances.

- Se ele lutar igual lutou com o mestre nós não teremos a menor chance.

- Vou pedir para que ele bata mais devagar em nós então. Falou Rafael sorrindo.

 

Almoçaram e de novo Orbyu não quis carne e reafirmou que nunca fora chegado em coisas ligadas a seres vivos e segundo ele mesmo por ele não saber o que era não achava certo tirar uma vida e por isso que ele preferira sumir da vista de Vladislav porque não queria matar ninguém.

 

- Fiquei surpreso com a sua arte de luta! Disse Gustavo realmente surpreendido.

- Eu nunca desejei matar ninguém, mas treinei pesado talvez pensando em me defender.

- Todos os híbridos são ágeis iguais a você?

- A maioria é sim.

- Iguais você lutou é maioria ou minoria lá no exército de Vladislav?

- Não querendo parecer que era, mas dizia Stanislaus que de todos eu era o melhor.

- Se era o melhor porque Vladislav não prestou atenção em você? Perguntou Gustavo.

- Ele não acompanhava o treinamento do exército. Dava ordens e tinham que ser cumpridas e como não tinham noção do que faziam ninguém comentava nada de quem eram melhores ou piores. Já na fase em que haviam os digamos pensantes se comentava sobre isso, depois mais nada.

- Pelo que vi e senti em você Orbyu o treinamento de vocês é muito superior ao nosso aqui e gostaria de saber se poderia me ajudar a treinar os nossos soldados para combater o que está por vir. Seria possível isso? Perguntou Pedro.

- Confiaria em mim para ajudar nisso?

- Claro que sim, só que eles não são eu e podem morrer. Teria que ajudar a treiná-los, mas não poderá mata-los. Aceitaria?

- Se acha que posso ajudar de alguma forma estou a sua disposição, afinal tenho que me fazer útil de alguma forma.

- Fechado então?

- Fechado! Respondeu Orbyu mostrando um leve sorrido nos lábios.

 

Terminaram de almoçar e estavam saindo da mesa quando Gustavo chamou Pedro de lado e perguntou para ele se achava certo convidar Orbyu para aquela tarefa.

 

- Vovô! Não sei se percebeu, mas as lutas deles são muito mais avançadas do que os nossos soldados possuem. Acha que venceria Orbyu em uma batalha?

- Realmente tem razão, mas se ele tenha sido preparado justamente para isso.

- Acabar com nossos soldados?

- É!

- Acha que ele foi?

- Não sei, mas respondendo a sua outra pergunta, acho que eu não o venceria, porém, deixo isso por sua conta. O que resolver fazer terá sempre o meu apoio.

- Obrigado vovô!

 

Pedro se afastou de Gustavo e se encontrou com Orbyu que se encontrava na varanda contemplando o belo vale. Aproximou-se mais dele e ficou olhando para o infinito.

 

- Seu avô ainda acha que sou um espião infiltrado aqui, não é?

- Acha sim!

- Mas eu não sou, pode ter certeza disso.

- Eu acredito em você e o que acha de darmos uma volta até a cidade?

- Quer me levar a sair daqui e ir até onde tem muitos humanos?

- Esta foi a minha ideia.

- Acho melhor não. Ainda não.

- Porque! O que teme?

- Não temo, mas acho que isso aumentaria ainda mais o receio que seu avô tem por mim ou comigo.

- Verdade! Pensando bem melhor ainda não irmos até lá mesmo, mas que tal treinarmos mais um pouco?

- Agora!

- Sim! O que me diz?

- Acabamos de almoçar, não acha que faria mal?

- Orbyu! Você está sendo mais humano que eu. Respondeu Pedro sorrindo.

 

Ambos riram e resolveram caminhar um pouco e conversaram muito. Pedro estava cada vez mais sabendo sobre ele e o exército de híbridos e Orbyu cada vez mais gostava daquele novo amigo e se sentindo de fato feliz por ser quase que um humano.

 

A tarde com isso foi passando e antes que o dia terminasse Rafael se aproximou e chamando Pedro de lado perguntou se ele poderia pedir para que Orbyu os treinasse com as técnicas do exército dele e quando soube que Pedro já havia pedido isso e que ele aceitara ficou feliz como uma criança.

 

- Estive conversando com Ingrid e nós concordamos que acabamos nos acomodando com as nossas velhas técnicas de lutas e ela foi superada.

- Pensei exatamente isso quando pedi para ele e para variar meu avô ficou com um pé atrás.

- Estou junto com seu avô bem como a Ingrid a muitos anos e sabemos como que ele é reservado, mas se formos enfrentar hoje um exército com nossos velhos métodos de luta seremos massacrados e nada restará para defender os humanos legítimos.

- Faço meus os teus pensamentos, mas se te agrada saber pedi para ele, mas já avisei que vocês não iguais eu que se recuperam de feridas como eu.

- Até nos recuperamos, mas não da mesma forma que o senhor.

- Ele já sabe disso, mas quando quer começar?

- Por mim agora mesmo.

- Se preparem então que vou chama-lo para treinarmos um pouco.

- Vou chamar as Vuks então senhor.

 

Pedro chamou Orbyu e comentou sobre o que conversara com Rafael e ele concordou na hora em começarem a treinar. Desceram para a área que usavam para treinos e iniciaram os trabalhos e de fato as técnicas usadas pelas Vuks e Rafael eram bem inferiores, mas nada que não pudesse ser aperfeiçoada.

 

No primeiro dia nem se preocuparam em jantar e foram até altas horas. Pararam e continuaram logo pela manhã e foram até as doze horas. Comeram algo leve, deram uma pausa e nova jornada e tudo sob os olhares de Gustavo que ainda mantinha certo receio com Orbyu.

 

Três dias depois mudaram do treinamento no complexo e passaram a treinar em uma enorme área ao ar livre e desta vez mais soldados se uniram a eles. Muitos sofreram, mas não desistiram e nem fizeram corpo mole.

 

Orbyu juntamente com Pedro começaram a forçar aqueles bravos soldados cada vez mais e no final das jornadas estavam cansados, alguns com hematomas, mas nada de ferimento grave e assim dia a dia foram treinando e cada vez mais aprendendo novas técnicas.

 

Dias se passaram e começaram a fazer com que os soldados treinassem entre si e tanto Pedro quanto Orbyu apenas orientava os que estavam mais fracos. Gustavo de longe só observava e mesmo nada dizendo estava sentindo orgulho de seus velhos soldados e do empenho de Pedro e de Orbyu que se dedicavam ao extremo para deixar aqueles homens e mulheres lobos e lobas totalmente em forma.

  

Praticamente três meses se passaram e Pedro sentiu que o progresso de cada um deles estava quase no auge da perfeição, mas mais que isso sentia que o perigo se aproximava e que uma batalha estava por vir e ela finalmente chegou até eles.

 

Era uma noite de lua cheia. A serra estava completamente nevoada e o alarme foi acionado. As fronteiras haviam sido rompidas e um grupo de vinte e sete híbridos tentou se aproximar do complexo e foram contidos pelos soldados da propriedade e ficaram surpresos com a técnica com o qual foram derrotados, pois mesmo não tendo noção das coisas algo lhes dizia que seria fácil derrotar os homens lobos do soberano.

 

No final da contenda dos vinte e sete híbridos restaram vivos quinze deles e depois de contidos foram levados até a presença de Pedro e este não sabia o que fazer com eles e perguntou para Orbyu o que fazer.

 

- Eles são apenas híbridos. Não tem noção de nada. Não tem inteligência, nem sabem como reagir. Só sabem lutar e matar os que foram programados para exterminar.

- O quer acha de fazermos o procedimento neles?

- Acho que se sobrar algum vivo seriam apenas um ou dois, pois segundo disse eles têm que desejar e aceitar o procedimento, não é?

- Isso mesmo! Respondeu Pedro.

- Eu como conheço bem estes soldados híbridos garanto que a única forma de resolver o problema seria, mesmo contra a minha vontade a de eliminá-los, pois se os deixar vivos eles voltarão contra nós de novo.

- Sugere que os exterminemos?

- Estamos em guerra senhor e eles não nos poupariam se fosse o contrário.

- Então não fará diferença nenhuma em tentar fazer o procedimento neles, pois se for para mata-los ao menos eles teriam uma chance de mudar.

- O senhor é quem decide e isso prova que o senhor realmente tem dignidade e seriedade que eu admiro e sempre admirarei.

- Pois bem! Faremos isso e que Deus tenha piedade deles.

- Quem é Deus senhor?

- Um ser supremo e acima de tudo e de todos neste e nos outros mundos que possam existir.

 

Pedro chamou Rebeka e deixou aqueles híbridos aos seus cuidados e mesmo tendo certeza de que eles não sobreviveriam acatou as ordens e eles foram levados e preparados para passar pelo procedimento.

 

Não eram homens, eram máquinas criadas para destruir. Não eram robôs, pois possuíam a aparência e jeito dos humanos. Não eram humanos e com isso não tinham noção de nada e com isso a chance de sobreviver era praticamente nenhuma. Não tinham coração e jamais teriam e com isso a chance de se ressocializarem com os humanos ou mesmo com os homens lobos era praticamente impossível e não entendia porque o soberano lhe pedira aquilo e era assim que pensava Rebeka, mas enfim após eles estarem manietados ela e sua equipe começaram a executar o procedimento com eles.

 

Rebeka sabia que as dores seriam intensas, mas ao contrário dos gritos que ela esperava ouvir o que viu foram poucos gemidos e no dia seguinte onze dos quinze haviam morrido. Os outros quatro ainda resistiam, mas ela sabia que eles sofriam muito mesmo não demonstrando.

 

Pedro, Orbyu, Gustavo e a equipe de segurança do complexo acompanhavam tudo e no segundo dia dos quatro apenas dois ainda restava com sinal de vida e assim permaneceram por mais duas semanas deixando Pedro feliz por acreditar que de repente Orbyu poderia começar a ter mais dois de sua criada família para conviver, porém, nos próximos dias que se seguiram ambos morreram mostrando que a transformação daquela safra que Vladislav criara só tinham o propósito dado por ele que era o da destruição.

 

Nada ou nenhuma informação conseguiram tirar daqueles soldados, mesmo porque eles não tinham nada de raciocínio, mas Rebeka fazendo uma autopsia em alguns deles descobriu como que ao acaso que eles possuíam um chip debaixo do braço esquerdo que analisado era como se fosse um que comandava suas ações.

 

- Senhor! Venha aqui embaixo ver uma coisa e traga o Orbyu por favor. Pediu Rebeka ligando pedindo para que Pedro descesse.

 

Pedro chamou Orbyu e também seu avô e os três desceram para o andar clinico do complexo. Rebeka os aguardava na saída do elevador e os levou para a sala de exames, mas antes pediu para ver a parte de baixo dos braços de Orbyu que mesmo não entendendo nada a atendeu. Nada foi encontrado nele e finalmente ela os levou para o local onde estavam os corpos dos híbridos e ela mostrou aquele micro chip instalado.

  

- Aí está a fonte de comando deles senhor! Informou Rebeka.

- Um micro chip!

- Sim!

- Estão ativos ainda?

- Não! Eu os desabilitei para evitar algo mais de seus criadores.

- Fez bem, mas porque debaixo dos braços? Perguntou Pedro.

- Dos braços não senhor! Apenas do lado esquerdo. Respondeu Rebeka.

- Mas porque logo ali? Tornou a perguntar Pedro.

- Acho que isso eu posso responder. Quando o doutor Stanislaus nos criou na primeira safra ele nos deu um certo conceito de entendimento e como todos foram destruídos com exceção de mim, com certeza Vladislav exigiu que eles fossem refeitos, porém, apenas com um controle que ele pudesse manusear ao seu bel prazer. Informou Orbyu.

- É! Tem sentido isso. Falou Rebeka.

- Quer dizer que se esta era a fonte deles, se eliminar estes chips eles simplesmente desligariam? Perguntou Gustavo vendo à frente.

- Tecnicamente sim! Respondeu Rebeka.

- Não acredito que Stanislaus mantenha este microchip neles e no mesmo lugar. Falou Orbyu.

- Porque acha isso? Perguntou Pedro.

- Eles enviaram duzentos híbridos. Chegaram aqui na linha de frente apenas vinte e sete e eu acredito que eles tenham retidos os outros na retaguarda apenas para testar as nossas defesas e os que vieram na frente foram para arrasar com tudo ou serem destruídos. Não sei se souberam que alguns foram aprisionados, mas vendo que eles não retornaram ao grupo com certeza mandou-os retrocederem para fazer algo diferente com eles. Esta é a minha opinião. Disse Orbyu.

- Faz sentido! Mandaram os vinte e sete como boi de piranha e antes que me pergunte já lhe informo que é uma tática que humanos usam quando querem atravessar bois em um rio cheio de piranhas que são peixes carnívoros, sacrificam um boi velho ou doente para que a boiada toda passe. Informou Pedro.

- Boi de piranha! É uma crueldade, mas se o animal está doente é uma boa tática. Falou Orbyu.

- Com isso, provavelmente este micro chip será reatualizado e com certeza eles mudarão o local onde foram implantados, pois uma coisa eu sei, eles não são tão tolos para acreditarem que não os examinaríamos por inteiro. Completou Rebeka orgulhosa de si mesma.

- O que faremos agora doutora? Perguntou Gustavo.

- Nos prepararmos, nos cuidarmos porque a próxima tentativa será bem mais feroz. Respondeu.

 

 

De tudo aquilo sabiam que não tinham ou acreditavam que não tinham a intenção de atacar os humanos, mas sim e tão somente atacarem e destruírem a maior defesa que a região de um projeto maior de Vladislav. Com isso mais soldados de fora foram convocados e entraram no treinamento intensivo comandados agora por Ingrid e Rafael observados por Orbyu e Pedro.

 

As fronteiras da imensa propriedade foram ainda mais reforçadas, mas alarmes foram instalados metro a metro com um aprimoramento a mais que era um sistema que os cientistas de Rebeka conseguiram confeccionar com urgência baseado nos microchips retirados dos híbridos.

 

Estavam preparados não para uma batalha, mas sim por uma intensa e feroz guerra que poderia significar o fim do domínio da raça humana porque Vladislav não se contentaria em dominar apenas as reservas e propriedades de Gustavo ou Nicolai Volkov como ele conhecia a séculos.

 

E assim sendo, longe dali, bem longe Vladislav convocou Stanislaus para saber de resultados e este lhe informou que mandou duzentos soldados, porém, para sentir onde estavam entrando apenas vinte e sete atacaram e foram massacrados logo na fronteira das terras de Nikolai e ele preferiu recuar com os demais para aperfeiçoa-los.

 

- Fez bem em fazer isso e demonstra que eles estão preparados.

- Foi o que pensei senhor!

- Tem ideia de quantos eles mataram?

- A informação precisa eu não tenho, mas acredito que vários, pois nossos soldados são mais preparados que os deles. Disse mentindo Stanislaus.

- Qual a sua ideia agora?

- Eu preferia tentar fazer híbridos pensantes, mas como o senhor não autoriza e eu perdi todo o projeto quando as coisas queimaram aqui vou aperfeiçoar ainda mais os microchips alterando o local que foram colocados inicialmente e talvez implante outro que nos passe informações mais precisas.

- Ótima ideia, mas híbridos pensantes nunca mais. Seriam um risco muito grande para nós e não para eles e nem tente fazê-los de novo porque se eu souber que fez sequer um membro da sua família pouparei e eles passarão por péssimos momentos antes de serem devorados. Fui claro?

- Claríssimo senhor!

- Faça o que se propôs a fazer então que lhe permitirei ter dois dias ao lado dos seus.

- Obrigado senhor!

 

Vladislav saiu e Stanislaus o amaldiçoou-o por dentro. Vladislav não era gente, não era lobo, não era hibrido e não era nada, mas tinha um poder imenso sobre ele e aos demais por causa do terror que era capaz de fazer na cabeça dos que estavam ali aprisionados por ele. Trabalhava para ele, mas no fundo torcia intimamente que ele fosse destruído.

 

Os dias foram passando e cada vez mais soldados chegaram ao centro de comando de Gustavo e Pedro. Os treinamentos se intensificaram e as fronteiras da propriedade foram mais fortificadas. Sabiam que não podiam relaxar, mas conseguiram passar por alguns dias de paz o que não queria dizer sem tensão.

 

O muro de desconfiança que Gustavo tinha com Orbyu diminuirá um pouco, mas ele continuava atento, porém, ao ver a ligação que se formara entre ele e o seu neto ficava feliz por vê-lo assim.

 

- Meu amigo! Acha que já está pronto para ir até a cidade? Perguntou Pedro.

- Ainda não! Vamos esperar a próxima batalha passar e se sobrevivermos prometo que irei pensar melhor nisso.

- Se sobrevivermos?

- É!

- Não confia em nossas defesas?

- Confio, mas uma batalha ou uma guerra se vence com ataque e não com defesa.

- Verdade! Pior que tem razão. Respondeu Pedro pensativo.

- Não acredite que Stanislaus não vá melhorar ainda mais os soldados de seu amo e sei que ele quer fazer mais soldados iguais a mim, os pensantes porque quer a todo custo destruir Vladislav e só não sabe ainda como fazer e teme muito por causa de sua família que está refém.

 Acredita que ele se viraria contra Vladislav?

- Mais certeza do que o ato de eu ainda estar vivo aqui.

- O que o prende então é a sua família?

- É! Esta é a única razão dele ainda estar lá servindo Vladislav.

- E se resgatássemos a família dele?

- Como? Ninguém sabe onde eles estão sendo aprisionados e o motivo dele querer os pensantes era para descobrir isso e usa-los para resgatá-los.

- E se conseguíssemos libertá-los, o que acha que ele faria?

- Se conseguíssemos e libertássemos a família dele das garras de Vladislav duvido que ele ficasse mais um minuto servindo aos desmandos daquele assassino.

- Tem ao menos uma ideia de onde elas poderiam estar?

- Eu arriscaria dizer que eles estivessem na Eslovênia, mas não descartaria a Letônia ou a Estônia.

- Porque estes países?

- Não sei! Talvez porque tenha ouvido algo de alguns lugares que ele tem lá, mas a área de busca seria imensa e até irracional.

- Entendi e pelo que vejo impossível de serem localizadas.

- Isso mesmo!

- Bem se não há nada a fazer você quer conhecer os jacarés?

- O que é jacarés?

- Você verá! Venha comigo.

 

Saíram dali de onde estavam, montaram em dois cavalos e seguidas por seis fieis Vuks cavalgaram até onde ficava o local onde continha centenas de jacarés e Orbyu ficou surpreso por vê-los lá contidos e condicionados.

 

Eram animais ferozes e ficou pensando sem, no entanto, perguntar porque eles tinham tanto daquelas feras ali e para que serviriam e ficou tentado a perguntar, mas se conteve, porém, de certa forma pensou que seria uma ótima forma de conter os híbridos se estivem soltos pela propriedade. Pensou, mas se calou e ficaram ali um bom tempo admirando aquela raça poderosa.

  

A tarde se pôs e resolveram voltar, porém antes passaram por um dos pontos de defesa e Orbyu viu algumas falhas dos soldados da propriedade. Comentou com Pedro e este passou as informações para as Vuks que logo falaram com Rafael para que ajustasse as posições.

 

- Será que só havia falhas aqui? Perguntou para Pedro.

- Não sei, mas se quiser amanhã logo pela manhã poderemos ver outros e você dizer se há falhas.

- Por mim tudo bem. Respondeu.

 

Voltaram, para a sede da fazenda. Cada qual foi para suas suítes, tomaram banho e se prepararam para jantar e novamente Orbyu comeu apenas comida vegetariana e durante o jantar Gustavo indagou-o sobre as falhas que ela apontara.

 

- Senhor! Eu fazia ou fiz parte do treinamento do exército dos híbridos pensantes e uma das coisas que nos mostraram nos treinamentos era o de analisar e verificar as falhas que haviam no campo inimigo. Nele não olhávamos para o obvio e sim no que eles não percebiam, ou seja, os detalhes e sempre vendo isso de cima e não frontalmente. Resumindo, através destes pequenos detalhes achávamos a brecha para invadir com mais facilidade e por sorte neste primeiro ataque mandaram apenas vinte e sete soldados porque se tivessem mandado os duzentos teriam feito uma carnificina por aqui, mas saiba que da próxima vez não virão apenas duzentos, mas sim uma legião toda.

- E você viu esta falha do chão apenas olhando para o que plantamos lá? Perguntou Gustavo.

- Sim!

- Como?

- Seus soldados apesar de melhor preparados agora ainda pensam como se estivessem lutando contra homens lobos e não contra um exército treinado com intuito não de matar, mas sim de exterminar sem dó nem piedade.

- Puta que pariu! Então quer dizer que estamos fazendo tudo errado? Tornou a indagar Gustavo.

- Tudo não. Estão apenas, digamos, desleixados. Estão agindo como se fossem lutar contra iguais e eles não são iguais. São máquinas preparadas para a guerra.

- E consegue achar as falhas?

- Sim senhor, pois vejo de forma diferente da de vocês. Vejo com a visão deles. Seu exército é de homens lobos que estão reumanizados e eles vêem com olhar clinico, cirúrgico de detalhes.

- E qual a diferença disso tudo?

- Vidas perdidas e já recomendo que deve agir e trata-los na batalha não com humanidade e sim com as intenções idênticas, afinal eles não são humanos.

- Espera! Você quer dizer que devemos exterminá-los sem lhes dar chance de rendição? Perguntou Pedro entristecido.

- Exatamente isso. Eles virão para cá com a intenção de destruir este espaço e depois quem sabe o que farão com os humanos.

- Sem dó nem piedade? Perguntou Pedro.

- Isso mesmo e não acredito que eles usarão armas letais, quero dizer de fogo, pois preferem o uso de katanas e outros tipos de espadas.

- Porque não usam armas de fogo? Perguntou Pedro.

- Porque são treinados no método militar de Sun Tzu. Vladislav tem verdadeira idolatria por isso e acredita também que armas brancas como exemplo das katanas e espadas não fazem barulho o que é obvio. Com isso, por pior que seja a batalha, não chamaria a atenção de outros batalhões de defesa de uma região maior.

- Bem esperto da parte dele. Comentou Gustavo.

- Resumindo, é matar ou morrer. Este deve ser o pensamento e saibam que o próximo será letal. Garanto isso.

- Amanhã pode acompanhar nossos técnicos e nossos líderes de nosso exército para mostrar as nossas falhas? Perguntou Gustavo.

- Farei isso com prazer senhor, afinal eu estarei do lado de cá da batalha e se quer saber peguei o gosto por viver e me sinto bem aqui.

- Obrigado por isso Orbyu. Seja bem-vindo ao nosso time. Finalizou Gustavo.

- Time! O que é time? Perguntou Orbyu.

- Vou te explicar isso com calma meu amigo. Fique tranquilo.

- Pelo que vejo tenho muito que aprender com vocês. Respondeu Orbyu tentando mostrar um sorriso.

 

Faltava pouco para as cinco da madrugada quando Orbyu se levantou, se trocou e saiu do seu quarto. A casa ainda estava silenciosa e ele foi até a sala e lá foi até a janela e contemplou a densa névoa que recobria todo o vale e por sua cabeça passou que naquela hora seria um bom momento para o exército de híbridos atacarem, pois eles não gostavam de agirem à noite, mas sim quando o dia estava clareando.

 

Olhava atentamente para um lado e para o outro tentando imaginar por onde eles atacariam. Eram violentos, mas seguiam uma ordem clara de obediência. Não eram de atacarem em vários locais ao mesmo tempo. Preferiam atacar como se fossem uma coluna única, mas que se abria em formato de seta quando atingiam o objetivo e ali sim eles executavam os objetivos determinados.

 

- Bom dia meu amigo! Cumprimentou Pedro se aproximando.

- Bom dia! Voltou-se Orbyu saindo de seus pensamentos.

- O que está olhando?

- Estava olhando o vale e as montanhas ali adiante.

- Lindo né?

- É sim, mas estava olhando e pensando por onde que o exército dos híbridos atacará.

- Consegue imaginar isso?

- Em parte sim, mas sei que eles farão isso mais ou menos neste horário antes do raiar do sol ou do dia em uma manhã igual a esta.

- Como pode saber disso?

- Fazia parte do treinamento e era um procedimento que Vladislav adorava implantar. Resumindo, ele gostava de surpreender o inimigo antes do dia raiar e de preferência com certa vantagem para eles e a névoa aqui é um dos atrativos.

- Bom dia meninos, mas como sabe disso Orbyu? Cumprimentou Gustavo.

- Senhor! Bom dia. Era este nosso treinamento.

- E ele não poderia mudar isso? Perguntou Gustavo.

- Acredito que ele mudaria, mas não sabe que eu esteja aqui entre vocês e isso é um erro dele.

- Mas Stanislaus não sabe que está aqui? Perguntou Pedro.

- Não! Ele quando me ajudou a fugir disse para que eu procurasse ficar o mais longe possível de vocês e mesmo que acreditasse que eu vim para cá ele odeia Vladislav e garanto que ele se sentiria feliz em ver o exército dos híbridos destruído.

- Não entendi! Ele quer a destruição de algo que criou? Perguntou Gustavo.

- Stanislaus tinha e sempre teve a intenção de criar híbridos pensantes e não apenas robotizados, porém, Vladislav além de mandar matar e queimar todos os meus irmãos ainda destruiu tudo o que poderia fazer que eles fossem recriados. Stanislaus tem medo dele, mas simplesmente porque ele tem reclusa a família dele em algum lugar da Europa.

- Ele mudaria de lado se recuperássemos a família dele? Tornou a perguntar Gustavo.

- Aposto tudo que vivo que sim senhor. Para ele a família dele é tudo que ele mais preza.

- Precisamos dar um jeito de encontra-los então!

- Tinha comentado isso com ele vovô, mas seria praticamente impossível de localiza-los.

- Praticamente impossível não é tudo de impossível. Vou colocar meus contatos para tentar acha-los. Pode contar com isso.

- Seria de muita utilidade isso senhor!

- Bem vamos tomar café e se puder sairmos logo em seguida.

- Fechado senhor! Respondeu Orbyu fazendo Pedro sorrir.

 

Tomaram café onde Orbyu se fartou em tomar suco de laranja causando admiração tanto em Pedro quanto em Gustavo e saíram. Lá fora Rafael e alguns soldados de elite de seu grupo e Ingrid e suas Vuks os aguardavam. Logo se puseram em marcha começando pela parte norte da propriedade foram fechando toda a região.

  

O que Orbyu viu e comprovou era que a imensa propriedade apesar de estar bem guarnecida era um alvo fácil para a entrada dos híbridos, pois os soldados achando que as câmeras, sensores e aparatos de alta tecnologia davam a eles uma vantagem, porém, nem de longe isso era verdade.

 

A parte tecnológica ajudava muito, mas isso era um nada perto de um exército mesmo sem ter uma inteligência pensante era treinado para achar brechas e depois que eles rompessem o primeiro estágio ninguém os segurariam, pois se tinha algo que eles não se preocupavam era se iam viver ou morrer, afinal foram criados para isso.

 

Pedro, Gustavo, Rafael, as Vuks e todos os de primeira linha estavam admirados com as orientações de Orbyu e pelo que ele mostrara e orientara não havia mais dúvida de que lado ele estava. Mostrou sem deixar sequer uma dúvida que estava do lado deles e isso seria e estava sendo de grande ajuda.

 

Deixaram por último o espaço que desembocaria na cidade, pois Orbyu sabia e sentia que Vladislav não tinha a priori a intenção de ataca-los antes de destruir o complexo onde estava seu inimigo mortal.

 

Sabia que ele partiria para um ataque após destruir tudo, mas isso era coisa que ele não ousaria fazer com Gustavo e principalmente Pedro vivos. Vladislav queria a todo custo a cabeça do avô e do neto e isso para ele era a prioridade.

 

Orbyu tinha certeza de que ele não mandaria poucos soldados, mas sim pelo menos mais de vinte mil deles. Vinte mil híbridos que na linguagem humana viriam com sangue nos olhos e comentou isso com todos os presentes.

 

- Apenas para constar senhor! Ele com certeza mandara ao menos meia dúzia e não mais que isso soldados lobos e não híbridos como batedores e estes virão como turistas através da cidade e deverá manter alguns dos seus da mesma forma em hotéis e pousadas e de olho nas duas entradas da cidade de olhos bem abertos.

- Turistas! Exclamou Pedro.

- Sim! Eu faria isso e sei que ele também o fará. Irá querer conhecer o terreno e estes passarão as informações para Vladislav dos melhores pontos para atacar e ele escolherá apenas um, pois não irá distribuir forças à toa.

 - E se pegarmos estes batedores? Perguntou Gustavo.

- Não recomendo que os detenham, mesmo porque eles virão de todo jeito.

- Qual a chance de eles virem pela cidade? Perguntou Rafael?

- Nenhuma! Dois, três e até seis passariam fácil como turista. Mais que isso chamariam atenção e ele não quer que as autoridades ou mesmo o exército venham se meter nesta guerra.

- Não tinha pensado nisso! De fato, ele não iria querer entrar em uma situação onde bateria de frente com as forças armadas do país. Não temos contingente disso por aqui, mas para que eles chegassem seria coisa de trinta minutos a uma hora e para ele seria um caos contra si mesmo. Ele é um psicopata, mas não é burro. Informou Gustavo.

- Bem senhor! Estes foram meus apontamentos e espero que tenham sido úteis.

- Muito úteis e lhe sou imensamente grato por isso Orbyu e feliz por Pedro ter intervindo a seu favor. De coração obrigado. Respondeu Gustavo agradecido.

 

Já era noite quando retornaram para a fazenda e naquela noite muita coisa mudaria em toda a extensão da imensa propriedade. Milhares de novos soldados se juntaram aos que faziam parte do complexo e milhares de barracas foram montadas para abriga-los.

 

Por sorte os novos soldados já haviam passado pelo procedimento e alimento para eles ali não faltaria e Orbyu pediu para que os alimentassem bem, mas não exageradamente e que evitassem ao máximo o consumo de bebida alcoólica, caso eles bebessem, porque os híbridos não bebiam e não tinham ideia de quando atacariam e nos próximos dias que se seguiram o treinamento parecido com o dos híbridos se intensificou.

 

Não havia tempo para respirar e treinavam de manhã, de tarde e até uma parte da noite e todos sabiam que ali, não se tratava apenas de proteger uma propriedade, mas sim quem sabe, talvez ou com certeza, sairia daquele lugar a destruição da raça humana como conheciam se os híbridos de Vladislav os vencesse.

 

Duas semanas depois acompanhando os treinamentos cada vez mais intensos daqueles novos soldados recém chegados fez com que Pedro, Gustavo, Rafael, Ingrid e principalmente Orbyu sentissem orgulho de todos.

 

Estavam preparados, mas nem por isso deixaram de treinar e se prepararem para a batalha sanguenta que viria e não eram soldados inocentes. Eram soldados que depois do procedimento tinham objetivos a seguir e o mais importante deles era permanecerem vivos.

 

 

Voltaram para a sede da fazenda no final da tarde depois de percorrerem o ponto norte da propriedade onde Orbyu mostrou um ponto onde tinha plena certeza de que seria por onde eles tentariam entrar.

 

Ninguém o questionou e ele parou ali, desceu do cavalo e pegou um punhado de terra nas mãos. Nenhum dos seus acompanhantes disse nada, mas ele pegou aquele tufo de terra com grama e cheirou. Novamente ninguém disse nada, porém, ao fazer isso ele olhou de um lado para o outro daquele vasto espaço, fechou os olhos como se meditasse e apontou um local no meio da floresta.

 

- Sinto que eles virão por ali! Disse.

- Como sabe? Perguntou Gustavo curioso.

- Não sei, apenas senti isso.

- Tem intuição também? Perguntou Pedro.

- Não, mas eu tentaria por ali, porque?

- Porque foi onde eu também pensei que eles viriam. Respondeu Pedro.

- Foi!

- Sim! Foi.

- Mas isso não quer dizer que eu esteja certo e nem você senhor!

- É! Não é, mas pode ser. A propriedade é grande e teremos que estar atento a tudo. Disse Pedro.

- Posso saber porque pegou a terra e a cheirou? Perguntou Gustavo curioso.

- Claro que pode senhor! Senti que meu olfato estava se desenvolvendo e o cheiro da terra molhada me fez querer senti-la mais de perto e posso lhe garantir que foi uma sensação maravilhosa.

- Não tinha nada a ver com a localização da invasão do lado deles? Perguntou Rafael.

- Não! Minha intuição, como vocês dizem já tinha me alertado sobre o provável local, mas eu não ia deixar para lá de sentir o cheiro da terra molhada com a grama.

 

Um olhou para o outro e não resistindo acabaram rindo. Orbyu um novo projeto de humano estava mostrando para eles algo que nenhum fizera até então que era o de sentir as coisas boas que a natureza lhes dava de graça e Pedro desceu também do cavalo e fez o mesmo sentindo o delicioso cheiro que Orbyu comentara.

 

- Se eu fosse os senhores faria o mesmo, porque o cheiro de terra molhada de fato é algo mágico. Disse Pedro sorrindo.

 

Já estava escuro quando chegaram à sede da propriedade. Todos se recolheram, tomaram banho, se trocaram e depois Pedro, Gustavo e Orbyu se reuniram novamente para jantar. Terminaram e os três foram para o local predileto de Gustavo e Pedro que era onde podiam contemplar o amplo vale e ficaram um bom tempo ali olhando a natureza maravilhosa que já mostrava o lado escuro, porém, com uma estupenda lua cheia que clareava toda a região.

 

Se recolheram depois porque o dia seria cheio. Orbyu havia combinado com todos de irem ver se haviam ajustado os pontos de segurança e o fizeram tão logo amanheceu e estava escuro ainda quando saíram da sede para ir exatamente onde Orbyu acreditou que eles invadiriam e para surpresa de Gustavo três soldados estavam dormindo ao pé de uma árvore e os outros oito estavam dispersos.

 

Em silêncio Gustavo desceu do cavalo, se aproximou dos três soldados e cutucou-os com pé para acordá-los, mas percebeu que eles estavam mortos com profundos cortes nas gargantas.

 

- Em forma! Eles estão por aqui. Berrou Gustavo.

  

Em segundos os soldados de Rafael e as Vuks de Ingrid se puseram de guarda e tentaram proteger Pedro e Gustavo, porém isso não foi necessário porque os outros soldados voltaram arrastando quatro corpos já mortos.

 

- O que houve aqui? Perguntou Pedro.

- Fomos atacados a mais de uma hora atrás. Informou Nagib.

- Quantos eram no total? Perguntou Rafael.

- Estes quatro aqui!

- Mais nenhum fora estes quatro? Tornou a perguntar Rafael.

- Não coronel!

- Como aconteceu?

- Estávamos terminando de instalar o novo sistema e eles atacaram justamente quando estávamos reiniciando. Eliminaram três dos nossos que estavam um pouco mais distantes e os colocaram ali onde os encontraram.

- Tem certeza de que não haviam mais do que estes quatro? Perguntou Orbyu.

- Tenho! Não há rastros de outros. Estávamos justamente olhando isso depois de eliminá-los.

- Como os pegaram? Perguntou Pedro.

- Eles cometeram o erro de irem em direção aos jacarés. Na verdade, foram as feras quem os pegaram e os mataram. Só os resgatamos já mortos porque afastamos as feras com choque.

- O sistema já está funcionando? Perguntou Gustavo.

- Não tivemos tempo de checar ainda senhor! Foi tudo muito rápido e eles surgiram do nada.

- É o modo deles agirem mesmo e acredito que eles entraram como turistas na cidade. Precisamos ver isso com atenção, porque se vieram quatro deve ter mais dois ainda por aí. Disse Orbyu.

- Como sabe disso? Perguntou Pedro.

- Stanislaus jamais envia quatro. Ele segue um padrão de dois ou seis quando são para batedores a fim de que dois passem desapercebidos e os outros quatro servem como disse de boi de piranha.

- Então tem mais dois por aqui? Perguntou Gustavo.

- Não! Quatro atacam e dois ficam na retaguarda, mas não vem junto para na pior das hipóteses retornarem para alguma base longe da cidade e de lá informam a central. Este é o modo de operação criado por Vladislav.

- O que faremos agora? Perguntou Pedro.

- Tem um deles que os jacarés não dilaceram o rosto. Vamos tirar uma foto dele e checar com urgência nos hotéis e pousadas discretamente para ver se sabem algo deles.

- Isso é possível, porque todos os proprietários das pousadas e hotéis da região são clientes daqui da fazenda. Rafael, por favor, pegue apenas dois soldados seus e vão para a cidade e mande mais dois para as duas cidades aqui de perto. Determinou Gustavo.

 

Rafael saiu para cumprir as ordens e como Orbyu informara de fato o ataque fora apenas naquele local. Todas as demais áreas estavam intactas e com os sistemas funcionando e depois de checar tudo voltaram para a casa sede e lá se encontraram com Rafael que estava voltando.

 

- Encontrou? Perguntou Gustavo.

- Sim senhor!

- Onde eles estavam?

- Chegaram de dois em dois a uma semana, mas se reuniam todos os dias e tentavam ser discretos, mas os moradores são observadores.

- E os outros dois, sabe onde estão?

- Sim senhor! Íamos pegá-los, mas pensei bem e vim ver o que o senhor determinaria. Deixei dois soldados discretamente de olho neles.

- Fez bem! O que devemos fazer com os outros dois Orbyu?

- Estes dois não são híbridos. São homens lobos e devem ser capturados e interrogados no limite da dor porque desta forma eles falarão tudo o que sabem.

- Abrirão a boca! Tem certeza?

- Tenho sim senhor, mas tem que pegar pesado no interrogatório. Tem que ser sem dó ou piedade, porque se os trata-los com carinho eles nada dirão, porém, eles como não são híbridos sabem pensar e desta forma fica mais fácil.

- Rafael! Por favor, pegue um grupo de soldados e os tragam para cá. Vamos interroga-los.

- Sim senhor! Respondeu Rafael saindo.

- O que vai fazer com eles vovô?

- Sem dó nem piedade meu filho e nem tente ajuda-los. Eles mataram três dos nossos e estamos em guerra.

- Compreendo vovô.

 

(Para ler mais somente no livro agora)

   

    Edição do 1ª obra da saga Lua cheia composta de 7 livros  

 

  Lua cheia Capítulos

71

Páginas 337
  Mutação     Capítulos 50 Páginas 226
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