Título original:
Lua
cheia
Romance / Suspense
1ª
edição
Copyright© 2023 por Paulo Fuentes®
Todos os direitos reservados
Este livro é uma obra de ficção.
Os personagens e os diálogos foram criados a
partir da imaginação do autor.
Autor: Paulo Fuentes
Preparo de originais: Paulo Fuentes
Revisão: Sônia Regina Sampaio
Projeto gráfico e diagramação:
Capa: Paulo Fuentes
Todos os direitos reservados no Brasil:
Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica
Ltda.

Impressão e acabamento:

)
- Filho! Tem certeza que ficará bem aqui em casa
sozinho?
- Claro mamãe!
- Tem certeza?
- Mamãe! Não sou mais uma criança.
- É que fico preocupada em te deixar só aqui em
casa.
- Mamãe! Já tenho quinze anos de idade,
portanto, sei me cuidar.
- Gostaria tanto que você fosse conosco.
- Mamãe! Sabe que não curto música clássica.
- É que perdemos a apresentação dele aqui em São
Paulo e depois se quisermos vê-lo cantando só lá
na Europa.
- Mamãe! Pare de chatice e vá logo antes que o
papai fique bravo e desista.
- Está bem meu anjinho! Vamos, mas amanhã até a
hora do almoço estaremos de volta.
- Está bem! Ficarei quietinho aqui esperando
vocês para almoçar amanhã. Vão, divirtam-se e
aproveitem para namorar um pouco.
- Pedro! Tome jeito. Que namorar o que.
- Ué! O que é que tem?
- Deixa para lá! Respondeu Eduarda sua mãe
saindo sorrindo maliciosamente.
Seu pai que já havia se despedido aguardava
ansioso na porta e preferiu ficar lá pois sabia
como era sua amada esposa quando se tratava do
único filho que tinham. Para ele Pedro já era um
home feito, mas ela ainda lhe via como criança e
ele ria quando via o tratamento que dedicava ao
filho e mais que isso vendo a cara que ele fazia
por vê-la tratando-o como criança, mas enfim,
assim era Eduarda e sabia que enquanto vivessem
Pedro sempre seria o bebê dela.
Eduarda se aproximou e Douglas a segurou pela
mão não antes de lhe dar um beijo nos lábios
para depois descerem da suntuosa cobertura que
possuíam em um dos hotéis de sua propriedade.
Estavam juntos a dezessete anos e por segundos
passou por sua mente no dia em que se
conheceram.
Douglas estava saindo através da
porta de um dos hotéis dos sessenta e dois
hotéis que faziam parte do conglomerado de
empresas de seu pai
Gustavo Santilena Spallucci,
quando sem querer esbarrou em Eduarda quase a
derrubando no chão. Lembrava-se das palavras
dela como se ela as pronuncia naquele momento e
soltou um leve sorriso.
- Posso saber do que meu marido está rindo?
- De nada! Respondeu Douglas sorrindo.
- Nem vem! Pode ir contando.
- Estava me lembrando de quando a conheci.
- Ai meu Deus!
- Lembrei-me que você quase me esganou por eu
ter quase te derrubado ao chão e que na queda
acabou rasgando parte de seu belo vestido.
- Nem me lembre isso! Que vergonha.
- Lembro sim, pois foi naquele instante que
conheci a mulher da minha vida.
- Mude de assunto por favor! Pediu ela
encabulada.
- Lembro também que me xingou mais que qualquer
coisa, pois tinha uma entrevista com o Mário e
não sabia o que fazer.
- O que deu em você? Resolveu voltar no passado?
- Um passado maravilhoso diria eu para a mulher
que eu amo.
- Já que é para recordar, lembra-se do que fez
em seguida?
- Claro!
- E o que fez heim?
- Te arrumei uma roupa nova e te levei até o
Mário.
- Uma roupa de arrumadeira do hotel.
- Ué! O que você tem contra elas?
- Nada, mas a vaga era para recepcionista.
- E ele não te empregou?
- Não né!
- Não porque você não quis.
- Eu fiquei indignada e sai de lá.
- Saiu batendo a porta e me xingando.
- Vamos mudar de assunto e vamos embora senão
perderemos o show.
- Não perderá porque eles não irão começar antes
de chegarmos.
- Ah é!
- É! Já avisei lá.
- O senhor é muito metido doutor
Douglas Santilena Spallucci
Spadonni.
- Tudo para satisfazê-la meu amor.
Eduarda acabou rindo. Saíram e o automóvel que
os levaria até o aeroporto de Congonhas que já
os aguardava e depois de algumas ruas e avenidas
Jonas entrava pela entrada VIP do aeroporto e de
lá Douglas e Eduarda rumaram para o jato da
empresa que os levaria até a cidade do Rio de
Janeiro.
)
Alheio às conversas de seus pais Pedro olhou
para o relógio e viu que ainda era cedo. Chamou
a governanta para saber o que ela diria, afinal
ela era uma governanta fiel aos padrões de seus
familiares.
- Dona Elenice, posso lhe fazer uma pergunta?
- Claro jovem Pedro, mas acho que sei o que é
que vai perguntar.
- Sabe? Perguntou Pedro curioso.
- Sei sim, ou acho que sei.
- E o que seria?
- Quer me perguntar se poderia convidar uns
amigos seus para virem aqui e fazer uma
festinha. Estou errada?
- Como sabe disso?
- Jovem Pedro! Eu já tive a sua idade.
- Hum! E o que acha?
- Não vão quebrar nada?
- Claro que não!
- Então traga e farei de conta que nada
aconteceu.
- Você é um anjo Elenice!
- Não jovem! Acho que precisa mesmo disso.
- Posso chamar então?
- Pode e eu nem ouvi que pensou em fazer isso!
Disse Elenice saindo rindo.
Feliz por ao menos naquele dia poder ser o dono
da casa Pedro rapidamente ligou para alguns
amigos convidando-os para irem até sua casa e
rapidamente se recolheu para tomar banho e sabia
que seus pais gostavam que ele tivesse amigos,
só não gostavam de bagunça ali naquele imenso
apartamento.
)
Não tão distante de onde Pedro estava Jonas
estacionou o automóvel ao lado da aeronave para
que Douglas e Eduarda embarcassem. Ao pé da
escada estavam Diego, Marcília, Ilda e Igor, os
tripulantes aguardando-os, coisa que vinha da
geração de seu pai querer ver todos que
compunham a mesma, se bem que eram sempre os
mesmos.
- Boa noite doutor Douglas e senhora Eduarda!
Cumprimentou Diego.
- Boa noite meninos! Respondeu Douglas de forma
carinhosa.
- Rio de Janeiro mesmo doutor?
- Sim Diego! Respondeu.
Acessaram a aeronave, se acomodaram e logo em
seguida a torre de comando autorizou a
decolagem.
- Senhores passageiros do voo particular SSS com
destino à cidade do Rio de Janeiro já se
encontra no ar com o tempo de percurso de
quarenta e nove minutos. A temperatura prevista
para a cidade de destino e a temperatura lá é de
vinte e nove graus. Deus abençoe a todos e boa
viagem.
Esta era a saudação que tinha
sido imposta pelo patriarca e multimilionário
Gustavo Santilena Spallucci
Spadonni já a alguns anos e Diego tivera o
privilégio de ter ainda voado com ele mesmo que
por pouco tempo quando acabou se afastando após
a morte de sua esposa em consequência
misteriosa.
Gustavo não suportando a dor pela perda da amada
esposa preferiu se ausentar da vida corrida que
levava pois julgava-se culpado por não ter dado
mais tempo ao lado dela e o que lhe pesava mais
era o fato de quando Marli, sua esposa mais
precisava dele ele lá não estava e por mais
tempo que vivesse jamais se perdoaria por este
fato.
Ausentando-se acabou se mudando para a imensa
fazenda que possuíam na pequena cidade de
Joanópolis onde o forte era a criação de gado e
dentro dela acabou fazendo seu refúgio e o
poderoso e imponente Gustavo praticamente se
tornou em um ser esmagado pelo que ele mesmo
julgara ter sido seu maior erro, seu passado.
- O que é aquilo ali adiante Igor?
- Onde senhor! Perguntou.
- Ali! Vindo em nossa direção.
- Não sei senhor!
E estas foram as últimas palavras pronunciadas
entre Igor e Diego, pois o algo desconhecido
chocou-se de frente com a aeronave fazendo-a
explodir não sobrando nada para servir de
identificação. A aeronave se desintegrou no ar.
- Coronel venha até aqui! Pediu o operador da
torre de Congonhas.
- Do que se trata Walter!
- A aeronave do doutor Douglas desapareceu no
radar.
- Como desapareceu?
- Não sei! Simplesmente desapareceu.
- Tem certeza?
- Tenho sim senhor!
- Não é erro do radar?
- Não senhor e como sempre fazemos nestes casos
de voo do doutor Douglas sempre monitoramos a
aeronave dele em especial das duas pontas e a
torre do Santo Dumont disse que pressentiu o
mesmo a alguns minutos atrás.
- Qual o local?
- Tinham acabado de ultrapassar o limite aéreo
do parque estadual de Ilhabela.
- O que disse o operador do Rio?
- A mesma coisa e na teoria no mesmo local
senhor!
Agnaldo Ferreira da Costa Almeida, coronel da
força aérea brasileira lotado para coordenar o
espaço aéreo sob controle do aeroporto de
Congonhas acima de tudo era amigo pessoal de
Douglas. Chegaram a estudar juntos e fizeram a
academia militar também juntos.
Ambos chegaram ao posto de capitão e estavam se
preparando para receber nova promoção quando
Gustavo chamou Douglas para trabalhar consigo,
pois acreditou que era a hora de prepara-lo para
começar a treiná-lo para assumir o seu lugar,
porém, enquanto isso não se concretizou Douglas
foi se dedicando cada vez mais à sua atividade
civil sem, no entanto, deixar de lado seu
inseparável amigo.
- Walter! Precisamos acionar a marinha para ver
isso com urgência.
- Já tomei as providencias quanto a isso
coronel.
- Pediu para que a força área sobrevoe o teórico
local?
- Sim senhor!
- Vou solicitar que o capitão Aristides assuma o
comando e vou lá acompanhar isso pessoalmente.
Me mantenha informado caso saiba de algo.
Informou o coronel Agnaldo se afastando
arrasado.
)
Alheio a tudo isso Pedro se divertia com seus
amigos e nem se deu conta de que sua mãe como
sempre fazia lhe ligaria para comunicar que
haviam chegado na cidade do Rio de Janeiro, ter
ido ao show e se hospedariam em um dos muitos
hotéis o grupo. Estava animado e mesmo não terem
quebrado nada seus amigos abusaram da bebida e
quando a madrugada chegou delicadamente ele
colocou todos para fora de casa, pois seus pais
poderiam chegar cedo e todos sabiam da rigidez
que era aquela família já criando uma tradição.
Estava quebrado. Não era de beber. Na verdade,
não bebia, mas naquele dia, talvez por se sentir
mais solto e em liberdade abusou da bebida,
porém, sem, no entanto, ficar embriagado.
Esperou que todos se retirassem e viu então
Elenice com uma xicara com café forte nas mãos e
pediu para que ele tomasse. Tomou e olhando a
bagunça não sabia o que dizer, mas ela
compreensiva pediu para que ele se recolhesse
que ela cuidaria de tudo e foi o que fez.
Se retirou. Chegou em sua suíte e depois de se
despir tomou uma rápida ducha e nu como estava
se deitou praticamente desmaiando. Tinha que
estar bem, pois conhecendo sua mãe como conhecia
tinha certeza de que ela voltaria cedo com seu
pai.
Teve um sono estranho e se revirou de um lado
para outro na cama e não fosse o efeito da
bebida teria levantado. Adormeceu novamente e
passava pouco das sete da manhã quando Elenice
entrou no quarto para acordá-lo.
- Jovem Pedro! O senhor precisa levantar.
- Meus pais já chegaram?
- Não, mas o coronel Agnaldo Ferreira já te
ligou duas vezes e eu disse que iria lhe
acordar.
- O coronel amigo do meu pai?
- É!
- O que ele quer?
- Falar com o senhor jovem Pedro!
- Tudo bem! Vou me levantar. Disse Pedro se
dando conta que estava nu.
Ficou sem jeito e Elenice deu um leve sorriso
pelo constrangimento que ele ficara.
- Me perdoe Elenice!
- Não se preocupe jovem! Esqueceu que eu já dei
vários banhos desde que era bebê?
- Realmente eu não lembro e deve ser porque eu
era bebê, não é?
- É! Respondeu Elenice sorrindo.
Pedro se levantou, tomou banho, se trocou e não
esperou que Agnaldo lhe telefonasse. Ele mesmo
pegou o telefone no identificador e ligou.
- Coronel Agnaldo!
- Sim Pedro! Que bom que ligou.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não vou enrolar! Seus pais desapareceram no
ar.
- Como assim? Perguntou Pedro sem entender.
- Estou onde teoricamente o avião de vocês
desapareceu e não encontramos nada por aqui.
- Como assim coronel! Como não encontraram nada?
- Sabe da amizade que eu tenho com seu pai, não
sabe?
- Sei sim senhor!
- Ele é, foi e sempre será meu melhor amigo.
Sabe disso, não sabe?
- Sei sim, mas não entendi isso do desaparecer.
- A impressão que temos é que o avião
desintegrou.
- Mas isso é possível?
- Não! Sinceramente pelo que eu sei e conheço da
vida acredito que não, mas vou continuar por
aqui e só vou parar quando realmente não restar
mais esperanças e a propósito já avisei seu avô.
- Obrigado coronel!
Desligaram e somente ali foi que Pedro se deu
conta do que o coronel Agnaldo havia falado e se
pareceu ter sido desinteressado foi por causa da
bebida que sorvera na noite anterior, porém,
agora, parecia que ela havia evaporado de seu
corpo e fora este choque pesou bem o que o
coronel dissera sobre ter avisado seu avô. Isso
o assustava, pois tinha-o como um ditador
autoritário.
)
Não sabia o que falar, o que
fazer e nem como fazer. Restava-lhe apenas
esperar seu avô chegar e ver o que ele faria e
como faria e ainda tentava achar um algo no que
o coronel lhe falara que nem viu o tempo passar
e duas horas e meia a campainha tocou e abrindo
a porta ali estava ele. O imenso, impassível e
assustador
Gustavo Santilena Spallucci
Spadonni, seu avô.
- Bom dia Pedro! Disse secamente aquele
brutamontes.
- Bom dia vovô!
- O que sabe sobre o ocorrido com seus pais?
- Apenas que o coronel Agnaldo me informou agora
cedo.
- E o que foi que ele te disse?
- Que a aeronave desapareceu no céu como se
tivesse se desintegrado, evaporado.
- Sente aqui garoto! Pediu Gustavo.
Pedro estranhou aquela forma de seu avô
trata-lo. Ele sempre fora duro, ou mesmo
grosseiro e agora mostrava um lado que ele não
estava reconhecendo. Sentou-se.
- Você sabe que eu já estou com oitenta e quatro
anos, certo?
- Sei sim senhor!
- Também sabe que seu pai era meu filho único,
certo?
- Sei sim senhor!
- E também sabe que seu pai só teve um filho que
é você, estou certo?
- Está sim senhor!
- Pois bem! Com isso tudo, se por acaso seu pai
ter deixado de existir você sabe que é o meu
único herdeiro e consequentemente sucessor, não
sabe?
- Prefiro pensar que meus pais ainda estejam bem
vovô.
- Eu também prefiro, mas pelo que Agnaldo me
informou as possibilidades de ele ter partido só
haverá uma alternativa que é a de eu voltar a
assumir o grupo de nosso patrimônio e o preparar
para assumi-lo. Sente-se preparado para isso?
- Vovô! Eu só tenho dezesseis anos de idade.
- E o que tem isso?
- Não acha que sou muito novo para assumir as
empresas?
- Não acho! Tenho certeza disso e foi por causa
disso que lhe disse que terei que sair da minha
caverna para prepara-lo para que cuide do vosso
patrimônio antes que algum esperto o faça se eu
morrer.
- Você não vai morrer vovô!
- Deixa de ser puxa saco Pedro! Todos nós iremos
morrer um dia.
- Sei que iremos e nem quis lhe puxar o saco,
apenas quis dizer que não ia morrer agora.
- Ah bom! Vamos pegar um helicóptero da empresa
e iremos até o litoral para acompanhar o que
está acontecendo. Pegue um par de roupas que
talvez dormiremos lá um ou dois dias.
Pedro foi até seu quarto e lá pegou algumas
roupas e colocou em uma mochila. Voltou para a
sala e viu seu avô conversando com Elenice e
parou para vê-lo com mais atenção.
Não era baixo. Pelo contrário. Apesar de seus
dezesseis anos era um garoto alto para os
padrões e percebera de onde viera aquilo de sua
altura olhando para seu avô. Ele deveria ter
perto de dois metros de altura. Alto, forte e
parecia um verdadeiro touro. Suas mãos eram
grandes. Seus olhos possuíam uma mistura de
cores que girava entre o castanho claro para o
esverdeado.
Seu rosto também era incomum e se parecia mais
um do tipo dos super-heróis. Queixo quadrado e o
olhar penetrante quando estava irritado e
parecia que ele sempre estava deste jeito dando
pavor para quem ele fitasse, mas pela primeira
vez vi-o de uma forma diferente e poderia dizer
por conhece-lo bem que ele fora até carinhoso.
- Pronto para irmos Pedro?
- Sim vovô!
- Elenice! Cuide do forte. Ficaremos fora por
pelo menos dois dias.
- Sim senhor! Respondeu ela submissa.
Saíram, pegaram o elevador e logo estavam no
automóvel que os levou até o aeroporto de
Congonhas onde um imenso helicóptero os
aguardava e junto a ele uma equipe de oito
homens estavam esperando-os.
- Tudo preparado Jorge?
- Sim senhor!
- Todos sabem o que tem que fazer?
- Sabem sim senhor!
- Este é meu neto, meu único neto e meu herdeiro
universal. Quero que o trate como se estivessem
tratando comigo. Fui claro?
- Claríssimo senhor!
- Então vamos!
Entraram naquele imenso helicóptero que mais
parecia uma arma de guerra e levantaram voo.
Gustavo nada disse e Pedro nada comentou sobre
as palavras de seu avô, mas ficou orgulhoso por
elas, pois viu que ele estava lhe valorizando e
faria de tudo para não o desapontar.
Jorge, o piloto procurou fazer o trajeto do
avião que estavam seus pais totalmente dentro do
plano de voo e quando atingiram o provável local
onde teoricamente teria desaparecido a aeronave
onde estavam seus pais teve a impressão, olhando
para a janela ter visto um objeto ou qualquer
coisa que desapareceu como surgira, do nada para
o nada.
Nada comentou, pois parecera que somente ele
vira aquilo algo ou nada, mas buscou com os
olhos tentando ver de novo o que vira e não
encontrou.
- Algo errado Pedro? Perguntou Gustavo.
- Não senhor!
- Senti que procurava algo no céu.
- Não era nada vovô.
- Acho que você viu algo e foi somente você quem
viu. O que foi?
- Não sei! O que pareci ter visto era algo que
surgiu do nada e desapareceu em segundos.
- Tipo o que?
- Não sei definir, mas me pareceu um drone.
- Drone!
- Parecia ser, mas foi rápido demais.
- Rápido em que sentido?
- Parecia vindo em nossa direção e de repente
desapareceu.
- Hum! Interessante. O que acha disso coronel
Rafael?
- Pelo que ouvi de seu neto senhor, até poderia
ter o formato de um drone, mas a velocidade não
bate de acordo com o relato.
- E o que poderia ser? Uma nave espacial por
acaso?
- Não ousaria ir tão longe senhor!
- Um experimento desconhecido do governo?
- Não temos algo deste tipo dentro de nossas
forças armadas senhor e posso lhe garantir isso.
- Poderia ser um experimento desconhecido de
outro país?
- Veloz da forma que seu neto disse acho
improvável.
- Tudo bem, mas digamos que fosse o que fosse
teria o poder de desintegrar uma aeronave e
porque justo a que estava meu filho e esposa
dentro dela?
- Hora errada em lugar errado! Ousou dizer Pedro
sem querer.
- Como disse Pedro? Perguntou Gustavo.
- Não escolheram o avião onde estavam meus pais
e sim eles estavam na hora errada passando por
aqui.
- Um disparo ao acaso! Comentou Rafael.
- Vamos descer e citar esta visão de meu neto
para o coronel Agnaldo. Quem sabe ele tenha
alguma novidade. Frisou Gustavo.
Ato seguinte foi pedir para que Jorge pousasse
próximo da base onde haviam montado para tentar
localizar o avião onde estariam Douglas, Eduarda
e a tripulação. Pousaram e Gustavo acompanhado
de Pedro foram os primeiros a desembarcarem e
perguntando sobre onde estaria o coronel Agnaldo
foram até ele seguidos de perto pelos homens que
os acompanhavam.
)
- Doutor Gustavo não vou dizer que é um prazer
revê-lo devido as circunstancias.
- Tudo bem Agnaldo! Bom dia para você também.
- Bom dia! Me perdoe, mas a minha indelicadeza é
por causa do ocorrido.
- Compreendo! Lembra de meu neto Pedro?
- Estava em dúvida se era ele. A última vez que
o vi era ainda bem pequeno. Bom dia Pedro!
- Estávamos sobre a possível área do
desaparecimento e Pedro viu ou pressentiu algo
que talvez pudesse ajudar. Conte para ele, por
favor. Pediu Gustavo.
Rapidamente Pedro ainda estranhando seu avô
pedir por favor detalhou em poucas palavras o
que tinha visto ou imaginou ter visto e sem nada
dizer Agnaldo se levantou e aproximou-se de um
painel que mostrava o trafego aéreo do litoral
paulista e depois acessou uma tela que era
acessada através de um satélite da força aérea e
reprogramou-a para a hora do desaparecimento da
aeronave.
- Vejam aqui o que temos aqui na rota do SSS
desde que saiu do aeroporto de Congonhas.
Pedro se aproximou da tela e Gustavo pediu
autorização para que seus homens pudessem entrar
e olhar também. Autorizados os oito membros que
acompanhavam Gustavo e Pedro se aproximaram da
tela e Agnaldo soltou o trajeto do voo pouco
tempo antes do ocorrido.
- Prestem atenção no momento em que subitamente
a aeronave sumiu do radar tanto do controle de
São Paulo quanto do Rio de Janeiro. Pediu
Agnaldo.
Olhos atentos na tela todos puderam constatar um
pequeno sinal de luz e a aeronave desapareceu no
ar.
- Poderia ampliar um pouco a imagem coronel?
Pediu Rafael.
- Por aqui não, mas pedi para que me fornecessem
imagens mais detalhadas e devo receber daqui a
uma ou duas horas.
- O que viu na imagem Rafael? Perguntou Gustavo.
- Não sei precisar senhor, mas eu, a princípio
acreditei que poderia ter sido um drone, porém,
vendo a imagem mais detalhadamente pareceu ser
um pouco maior.
- Acha que pode ser algo tipo uma aeronave
secreta? Perguntou Agnaldo.
- Não sei dizer.
- Poderia ser algo tipo uma nave
extraterrestre? Perguntou Pedro.
- Se quer saber jovem Pedro, eu não descartaria
isso também.
- Vamos aguardar a imagem mais detalhada para
tentar descobrir o que poderia ter sido. O que
mais conseguiu encontrar Agnaldo? Perguntou
Gustavo cortando as indagações.
- Nada senhor! Absolutamente nada. Nem um pedaço
de qualquer coisa foi encontrado.
- Pode autorizar que minha equipe possa olhar
sob o mar e sobre a ilha? Pediu cortesmente
Gustavo.
- Claro que sim senhor! Ajuda sempre é bem-vinda
e quero saber quem foi que causou esta tragédia
para a família de vocês quanto para mim que era
amigo pessoal de seu filho.
- Obrigado por isso coronel. Sei de fato que
eram amigos de longa data.
)
Os homens sob o comando de Gustavo entraram em
uma busca frenética e antes que eles retornassem
Agnaldo informou que as imagens do satélite
haviam chegado e que poderiam ver então com mais
detalhes.
Levou Pedro e Gustavo até o anexo das
instalações onde haviam enormes telas de alta
resolução e acionando alguns comandos apareceu a
primeira imagem que era a que eles tinham visto
anteriormente e Agnaldo já ia mudar de imagem
quando Rafael chegou com sua equipe.
- Chegou bem a tempo de ver as imagens captadas
pelo satélite. Informou Gustavo.
Na imagem seguinte ainda não conseguiram
identificar ou definir o que seria aquele objeto
que poderia ser um drone, uma aeronave de abate
de pequeno porte ou quem sabe uma pequena
espaçonave extraterrestre, porém, na imagem que
se seguiu foi descartado ser de origem espacial
e restou apenas o drone e um objeto militar de
pequeno porte, mas na imagem que veio em seguir
conseguiram desconsiderar até o drone e pelo
conhecimento que possuíam Agnaldo e Rafael se
entreolharam e disseram juntos que era de origem
militar.
- Tem certeza disso? Perguntou Gustavo com o
semblante fechado.
- Absoluta! Responderam os dois.
- De que país?
- Não tenho conhecimento deste tipo de aeronave
de guerra de nosso governo senhor. Respondeu
Agnaldo.
- Tem ideia de que país poderia ser Rafael?
- Pela velocidade, pela forma de ataque e de
desaparecer dá para se concluir que o país que
criou esta arma possui tecnologia sofisticada,
mas não descarto nenhum dos países que podem ir
desde os EUA até mesmo a Coréia do Norte sem
esquecer a China.
- Mas porque atacar justo a aeronave onde meu
filho estava e aqui no Brasil? Perguntou Gustavo
enraivecido.
- Acredito que sendo qualquer país senhor, eles
acreditaram talvez que derrubar uma aeronave
comercial em nosso país não seria levado em
conta, pois a meu ver, quem mandou fazer isso
acreditou ou acredita que não temos tecnologia
para ir a fundo em apurar a calamidade. Disse
Agnaldo.
- Tem jeito de descobrir quem foi o autor ou o
construtor de tal arma? Perguntou Gustavo.
- Apesar de que em tese poder ser demorado
acredito que poderemos descobrir isso utilizando
outros satélites que também monitoram o nosso
país, mas isso precisaria da autorização de alto
escalão senhor. Informou Agnaldo.
- Moverei o céu, a terra e o mar se for
necessário, mas chegarei em que foi o
responsável por isso nem que tenha que invocar o
demônio para tal. Está é uma promessa minha
coronel e sabe que nunca prometi algo que não
cumprisse em toda a minha vida. Falou Gustavo
sério e trincando os dentes.
- Farei o impossível para descobrir os autores
disso senhor. Pode ter certeza disso.
- Sei que fará coronel. Confio em você. Vamos
embora! Nada mais temos que fazer aqui. Disse
Gustavo chamando Pedro e seus comandados.
Saíram e longe dos ouvidos de Agnaldo Gustavo
chamou Rafael de lado e ordenou-lhe que
assumisse a missão de descobrir quem era o autor
daquela atrocidade contra sua família e a
tripulação doesse em que doesse e que ele não
tivesse piedade dos culpados.
Pedro! Venha. Voltemos para São Paulo que temos
muito o que conversar.
)
Gustavo, Pedro e a equipe de apoio entraram
naquela potente máquina de guerra e retornaram
para a capital. Pousaram no aeroporto de
Congonhas e de lá Pedro e seu avô foram direto
para a suntuosa cobertura onde até então Pedro
morava com seus amados pais. Nada disse durante
a viagem toda e a dor que dominava seu coração
era intensa.
Quando seu avô chegou e o levou para o local do
ainda suposto incidente ele ainda mantinha a
chama da esperança de que a notícia poderia ser
enganosa, mas a verdade infelizmente se fizera
presente e constatado que de fato seus pais
haviam sido barbaramente assassinados.
A dor começou a se transformar em ódio e seu avô
percebendo isso tentou trata-lo como jamais o
tratara antes, ou seja, com carinho e um amor
que ele jamais demonstrara até então.
- Meu querido neto! Sei que a dor que está
sentindo dentro de si é intensa e não pense que
a minha seja menor, pois tiraram de nós as
pessoas que mais amávamos e não pense você que
eu seja um homem sem coração ou que tenha um
coração de pedra, mas te garanto que quem fez
isso pagará e de uma forma que não haverá perdão
ou prisão. Agora relaxe um pouco e respire fundo
porque temos muito para conversar e acertar na
sua vida.
Pedro permaneceu calado. Nada disse e apesar de
estar estranhando o comportamento de seu avô que
estava demonstrando que havia algo de humano
dentro dele. Entendia bem as palavras de seu avô
e pelo pouco que sabia dele tinha a certeza de
que ele não perdoaria quem mexera com a sua
família e sem querer, naquele momento passou por
sua cabeça de que ele, se tivesse força e poder
faria até mais do que seu avô faria.
Conversaram muito e Gustavo explanou para Pedro
os bens que a família possuía e que a partir da
morte de seu pai tudo aquilo seria a herança
dele. Não disse tudo o que compunha o grupo
empresarial, mas como já passava da hora Gustavo
resolveu levar Pedro para conhecer a central
administrativa do grupo empresarial de surpresa
logo na manhã seguinte. Comunicou isso a Pedro
sem que ele tivesse direito de negar ao pedido
do avô.
Pedro não se importava em ter ou não dinheiro.
Sabia que sua família era detentora de vários
hotéis e outras coisas além de participação em
diversas empresas e a partir do falecimento de
seus pais tudo isso agora era herança sua e
mesmo não se importando era fato consumado.
Pediu licença para seu avô e se retirou. Deitou
na cama sem sequer prensar em tomar banho.
Aquilo estava doendo demais. Seu coração parecia
querer saltar para fora da boca. Não aceitava o
que acontecera e jamais perdoaria quem havia
causado aquilo.
)
A noite passou e Pedro não conseguiu dormir. A
revolta tomou conta de si e ele queria a todo
custo mesmo sem saber como pegar os culpados por
terem ceifado a vida de seus amados pais e mesmo
sabendo que era o herdeiro de um império ele só
queria seu pai e sua mãe de volta.
- Pedro! Já acordou?
- Já vovô!
- Então levante-se, se arrume porque quero
chegar na empresa antes de quem cuida dela.
- Me dê dez minutos que estarei ponto vovô.
Gustavo saiu da porta do quarto. Pedro
levantou-se rapidamente porque se havia uma
forma de chegar aos assassinos isso só poderia
ser realizado através de seu avô e mesmo tendo
certas cismas e diferenças com ele sabia que
agora era a hora de deixar isso de lado.
Tomou um banho rápido, se trocou como seu avô
pedira e saiu do quarto indo encontrar com ele e
com Elenice na sala aguardando-o.
- Tome café filho! Disse seu avô para sua
surpresa.
- Não estou com fome vovô!
- Tome ao menos um copo de suco de laranja para
não sair sem nada no estomago.
- Está bem! Respondeu tomando o suco para logo
saírem.
Pegaram o elevador privativo e chegaram na
garagem onde Jonas os aguardava. Entraram no
automóvel e Gustavo pediu para que ele os
levasse até a sede da empresa que ficava próxima
do rio Pinheiros em uma imponente torre.
Era cedo e o transito ainda não havia chegado no
ápice e como Jonas já conhecia bem o caminho
cortou por vias de menor intensidade e passando
pouco tempo chegaram às torres gêmeas.
Jonas se identificou na entrada da garagem e
mesmo o segurança não conhecendo os ocupantes
deixou-o entrar e logo estavam diante dos
elevadores. Gustavo levou Pedro até onde ficava
o elevador privativo que os levaria direto ao
vigésimo terceiro andar onde era o destinado à
diretoria.
Inseriu a chave digital e após colocar o dedo
local apropriado e o reconhecimento da íris a
porta se abriu e ambos entraram. Foi uma rápida
subida mesmo porque ele só tinha dois destinos,
o topo ou o subsolo onde ficava a garagem
exclusiva.
Desceram e não havia ninguém por ali a não ser
as pessoas que faziam a limpeza, porém que não
os viram por já terem limpado a sala da
presidência.
- Aqui é sala da presidência. Já a conhecia?
- Não que me recorde! Respondeu Pedro.
- Seu pai nunca lhe trouxe aqui?
- Não! Combinou algumas vezes, mas os
compromissos adiaram a minha vinda.
- Sente-se nesta cadeira, por favor! Pediu
Gustavo.
Atendendo seu avô Pedro sentou-se e o encarou
sem saber porque ele lhe pediu isso, mas sentiu
que ali era o centro de controle de várias
empresas as quais ele nem sabia quais eram e de
que tipo seriam.
- O que sentiu ao se sentar aí filho?
- Algo estranho vovô!
- Estranho como o que?
- Não sei dizer, mas foi como se sentisse a
força de algo desconhecido.
- Poder por exemplo?
- Isso! Exatamente isso. Poder.
- Esta cadeira me pertencia e a comprei quando
adquiri o decimo hotel.
- São quantos no total vovô?
- No total são sessenta e dois.
- Não sabia a quantidade toda.
- Alguns deles foram aquisições recentes e todos
fora do país que apesar de já serem do grupo seu
pai estava providenciando a logomarca neles.
- Temos empresas em que segmentos?
- São sessenta e dois hotéis, quatro resorts,
três metalúrgicas, duas cutelarias, um centro de
pesquisas, uma torrefadora de café, oito
fazendas, dois clubes de tiro, uma escola de
treinamento tático e ações em várias empresas de
grande porte no Brasil e fora dele além de
várias obras de arte.
- Nossa vovô! É muita coisa.
- Isso é o resultado de vários anos de trabalho
e preste muita atenção no que irei lhe dizer.
Tudo isso que te informei é herança sua e por
isso tem que sentir bem o poder desta cadeira
dentro de si. Entendeu?
- Entendi sim!
- Daqui a pouco Mário estará chegando e algo me
diz que ele virá direto para esta sala.
Portanto, iremos nos esconder na sala privativa
que tem aqui do lado e lá lhe mostrarei a
antessala secreta que será onde estaremos
esperando.
- Como sabe que ele virá direto para cá?
- Pedi para que a força aérea e o governo não
divulgassem que seus pais haviam fatidicamente
morrido e quero ver a reação dele.
- Não confia nele?
- Jamais confiei, mas como eu já havia me
aposentado e ele foi colocado na função de
superintendente pelo seu pai eu não quis criar
atrito com ele.
- Posso te fazer uma pergunta pessoal?
- Pode e já imagino qual seja.
- Imagina! O que seria?
- Se eu me dava bem com seus país ou mais
precisamente com o seu pai. Seria isso?
- Isso mesmo!
- Esta resposta eu lhe darei depois e prometo te
contar tudo, mas agora vamos para a antessala
porque pressinto que ele está chegando e virá
direto para cá.
- E como saberemos se ele vier direto para cá?
- Olhe bem para o quadro que tem ali na parede
do outro lado da sala.
- O senhor quer
dizer a réplica do quadro da
Ginevra de'
Benci?
- Conhece de arte?
- Um pouco! Respondeu Pedro sorrindo.
- E quem lhe disse que é uma réplica?
- Porque pelo que eu sei o quadro original de
Leonardo da Vinci deveria estar na Galeria
Nacional de Arte de Washington, nos Estados
Unidos da América.
- Nossa! Agora você me surpreendeu e não vá me
dizer quando ela foi pintada.
- Dizem que ela foi pintada por ele no ano mil
quatrocentos e setenta e cinco.
- Quantos anos você tem mesmo meu filho?
- Dezesseis anos vovô. Sabe bem disso. Nasci no
dia treze de abril e o nome de Pedro me foi dado
pelo senhor porque simbolizava a data do
falecimento de Simão que virou Pedro e que
representava a pedra de Jesus Cristo.
- Como consegue guardar tudo isso?
- Não sei. Talvez seja algo de meu DNA ou coisa
assim.
- Estou impressionado, mas voltando ao quadro há
uma câmera ali e repare nos olhos dela.
- Não vá me dizer que estragou a pintura de Da
Vinci colocando uma câmera nos olhos dela. Não
fez isso fez?
- Claro que não! Olhe quinze centímetros para
cima do centro dos seus olhos e o que vê lá?
- Nada!
- Exatamente isso. Agora vamos logo para não
estragarmos a surpresa.
Saíram da sala da presidência e depois de
entrarem na sala privativa Gustavo acessou um
lugar camuflado e a parede ricamente adornada
por uma bela pintura se abriu e entraram na
antessala e lá Gustavo pediu para que Pedro se
sentasse em uma confortável poltrona e depois
dele apertar alguns botões a câmera começou a
funcionar e em menos de três minutos Mário
acessou a sala jogando sua bolsa sobre o sofá
que lá existia foi direto para a cadeira da
presidência e sentou-se nela.
- Enfim cá estou! Disse alto e em bom som.
O sangue de Pedro quanto o de Gustavo ferveu na
hora. Mario sabia do ocorrido de alguma forma e
se ele não fosse o culpado pela morte de
Douglas, com certeza estava ligado a quem o
matou.
- Cibele venha até a sala da presidência!
- Sala da presidência?
- É! Agora.
- Tá! Estou indo. Respondeu ela sem entender e
logo entrava na sala.
- O que acha?
- Está doido?
- Porque?
- Está é a cadeira do doutor Douglas.
- É não, era.
- Como era?
- Era do verbo já foi. Agora é minha.
- Ah tá! Você assumiu o grupo todo agora é?
- É apenas uma questão de tempo. Logo assumirei.
- Você bebeu?
- Não! Estou muito bem e sei o que digo.
Pedro sentiu vontade de se levantar, sair dali e
estrangular Mário, pois em poucas palavras ele
assumia que mandara matar seus pais.
- Calma filho! Vamos ouvir mais. Estou gravando
tudo. Disse Gustavo friamente.
- Saia daí que daqui a pouco o doutor Douglas e
vai te pegar aí.
- Só se for em espírito. Respondeu Mário
sorrindo.
- Ele morreu?
- Digamos que ele e a esposa evaporaram.
- Você os matou?
- Não né!
- Não entendi!
- Ele estava incomodando muitas pessoas
poderosas e resolveram ajudar ele a descansar.
- O mataram?
- Digamos que eles fizeram eles evaporarem.
- Eles quem?
- Douglas, Eduarda, o filho Pedro e a tripulação
do jato.
- Não quero saber de mais nada. Isso foi
assassinato.
- Pense pelo lado positivo. Eles partiram, eu
assumo a empresa e você se torna a primeira
dama. Não é uma boa coisa?
- Você só pode estar doido mesmo e se esqueceu
do doutor Gustavo né?
- Ele está velho e qualquer remédio errado
também o fará desaparecer.
- Não quero saber e nem participar disso. Disse
saindo batendo a porta.
Mário sorriu. Gostava de Cibele. Ela era uma
pessoa carinhosa, fazia tudo o que ele queria,
mas era substituível. Seria fácil arrumar outra
e até mais nova que se deliciasse com o poder e
já ia começar a se fartar do poder quando a
recepcionista lhe comunicou que o doutor Rafael
estava ali para falar com ele.
- Rafael! Quem é este Rafael?
- Disse que veio por parte do doutor Gustavo.
- Que merda! Mande ele entrar.
- Sim senhor!
Não demorou nada e pela porta acompanhado de um
segurança da empresa entraram Rafael e mais dois
homens todos vestido de preto.
- No que posso lhes ajudar?
- Poderá nos ajudar daqui a pouco. Assim que o
doutor Gustavo aparecer.
- Mas que porra é esta dele aparecer?
- Calma! Está preocupado com o que?
- Não estou preocupado!
- Mas deveria estar. Disse Gustavo saindo da
sala ao lado acompanhado de Pedro.
- O que é isso aqui?
- Seu nome é Rodnei, é isso?
- É sim senhor!
- Sabe quem sou eu?
- Sei sim senhor!
- Então por favor sai da sala e diga que não
queremos ser incomodados.
- Sim senhor! Disse Rodnei saindo.
- Agora vamos ter uma conversa só nós três. Eu,
você e o herdeiro do grupo.
- Conversar sobre o que?
- Vou direto no assunto. Sabe que nunca gostei
de você e ouvi tudo o que disse quando se sentou
na cadeira que é agora de Pedro. Quero saber
quem são os que mataram meu filho, nora e a
tripulação do avião.
- Não sei do que está falando!
- Sabe, mas saiba que tudo foi gravado e tem a
oportunidade de começar a falar ou conhecerá o
meu lado obscuro.
- Não tenho nada para contar!
- Tudo bem! Se não quer contar por bem, vai me
contar por mal. Pedro, por favor saia da sala e
aguarde alguns minutos lá fora.
- Mas vovô!
- Por favor Pedro! Ouça o seu avô. Pediu Rafael.
Mesmo a contragosto Pedro saiu da sala e Rafael
e os demais fecharam as persianas deixando-os
isolados dos que estavam do lado de fora daquela
sala.
- Agora sim teremos uma conversa boa e garanto
que não irá gostar do que verá. Aliás, nem eu
gostaria de ver o que está para acontecer, mas
tem a última chance. Vai falar por bem ou não?
- Não tenho nada para falar!
- Está bem! Foi você quem pediu. Disse Gustavo.
)
A partir do momento em que fecharam as persianas
nenhum som alarmante foi ouvido dentro da sala e
em menos de dez minutos uma equipe de
paramédicos da prefeitura municipal acessou o
prédio e chegaram até a sala da presidência.
Dentro dela estavam Gustavo, Rafael, dois
membros da equipe e no chão, caído, estava Mário
e a conclusão que a equipe médica deu foi de que
ele morrera de enfarto fulminante.
Nada foi dito e nem comentado. Apenas que,
Mário, o superintendente do grupo havia falecido
e que provisoriamente Gustavo, o fundador estava
voltando para assumir o controle trazendo
consigo seu neto Pedro.
A equipe médica saiu do local carregando na maca
o corpo já inerte do que fora até aquele momento
o homem que teoricamente teria sido o braço
direito do presidente Douglas que até então
ninguém ainda tinha noção de sua morte.
- Vovô! O que aconteceu aqui dentro?
- Nada meu filho! Ele apenas não aguentou a
pressão e teve uma parada cardíaca.
- Minha intuição diz que não foi apenas isso.
Que me contar o que houve?
- Quem sabe no futuro, quando estiver mais
maduro eu lhe conte sobre isso. Pode ser?
- Poder não pode, mas o que posso fazer senão
aguardar, não é?
- É! Respondeu Gustavo.
- O que pretende fazer agora?
- Vou desaposentar Miguel e trazê-lo de volta
para a superintendência.
- Quem é Miguel?
-
Miguel Zaracho Finazzi era o meu
braço direito quando eu estava aqui. Homem digno
e decente que esteve comigo desde o início de
tudo.
- E vai deixa-lo aqui?
- Não! Passarei alguns dias com você aqui e
tentarei lhe instruir, mas pelo que vi não vai
ser difícil de captar tudo que tem. Depois o
levarei para a fazenda que temos lá em
Joanópolis e lá fará outro tipo de treinamento
com a equipe de Rafael para depois voltar e
assumir de vez a direção do grupo.
- Treinamento do que?
- Saberá lá e a o seu tempo, mas garanto que vai
gostar e precisará fazê-lo, pois já viu com o
que estamos e estaremos lidando, não viu?
- Vi sim vovô, mas o que tem de especial em
Joanópolis?
- Joanópolis é uma cidade pequena, tem pouco
mais de treze mil habitantes apesar de ter sido
fundada em mil oitocentos e setenta e oito e tem
um excelente prefeito que é meu amigo.
- Pequena a cidade né?
- É e pretendemos que ela continue assim.
- Porque?
- Para não perdemos os encantos e mistérios que
a cercam.
- Disse que o prefeito é seu amigo?
- É sim! O nome dele é Orlando e garanto que vai
gostar dele, mas te adianto que não pode se
apaixonar pela secretária dele.
- Porque não?
- Porque a Angelina é comprometida. Respondeu
Gustavo sorrindo.
- Ah tá! Achei que era porque achava que eu era
novo demais para me apaixonar.
- Calma meu filho! Tudo a seu tempo. Agora me de
uns minutos que vou falar com Miguel que não vai
gostar do convite, mas garanto que ele estará
aqui em pouco tempo.
)
Gustavo se sentou na cadeira da presidência
enquanto Pedro olhava os detalhes daquela sala e
constatou que de fato era muito bem decorada.
Não havia luxo excessivo, mas o que continha ali
era de bom gosto e sentiu o dedo de sua mãe em
alguns detalhes.
Pensando nela a dor voltou a bater eu seu peito,
mas sabia que seu avô sabia de muito mais coisas
do que lhe contara, mas que ele já tinha um
ponto a seguir. Não entendeu o que seria aquele
treinamento, mas se recordou que seu pai
insistira para que ele dedicasse muito do seu
tempo em estudos de arte incluindo pintores,
inventores, sistemas feudais além de várias
outras coisas, mas nunca soube o porquê daquilo.
- Pedro!
- Sim vovô!
- Como eu disse Miguel reclamou, mas disse que
não sabia como dizer não para mim.
- Ele é honesto?
- Muito! Miguel é uma pessoa que você poderá
confiar sempre nele. É da velha guarda.
- Se o senhor diz eu acredito.
- Sei que você tem certas restrições contra mim,
mas verá que não sou tão mal assim.
- Não acho que seja uma pessoa má vovô!
- Realmente atualmente até que tenho me
comportado e me contido, mas nem sempre fui
bonzinho.
- O senhor foi uma pessoa má?
- Digamos que sempre defendi o que acreditei ser
o correto e de certa forma puni os que achavam
que mandavam nas pessoas e no mundo.
- Mundo?
- É! Nossa origem é da Itália.
- E o que o senhor fazia lá?
- Um dia lhe contarei isso. Tenha calma.
- Tudo em um dia né?
- É! Respondeu Gustavo.
Ficaram conversando e desconversando sobre
vários assuntos até que Gustavo foi avisado que
Miguel estava ali para vê-lo e mandou que ele
entrasse. Entrou acompanhado por Rafael que
permanecera do lado de fora com os outros dois.
Pedro levou um susto quando o viu entrando. Pela
sua cabeça acho que seria um senhor de idade
usando óculos, magrinho com cara de contador e o
que via era um home tão grande quanto seu avô.
Forte com feições enérgicas e outro com queixo
de super-heróis das revistas em quadrinhos e o
mais hilário foi vê-lo se aproximar de seu avô,
parar diante dele como se estivesse perfilado e
bater continência.
- Aqui estou eu atendendo ao seu chamado senhor!
- Porra Miguel! Isso de bater continência é
coisa das antigas. Vem cá e me dê um abraço
apertado como dão os velhos e bons amigos.
Miguel ainda titubeou antes de atender aquele
pedido inusitado, pois Gustavo fora seu superior
tanto nas batalhas que travaram e depois no
controle daquela empresa que se tornou um imenso
grupo empresarial.
- Tenho a liberdade para falar à vontade senhor?
- Deixa desta besteira de senhor e tem a
liberdade para falar o que desejar e nem te
pergunto a quanto tempo nos conhecemos porque
tem um jovem aqui que iria dizer que somos muito
velhos.
- Perdão jovem! Não tinha reparado em você.
- Sem problemas senhor!
- Lá vem isso de senhor de novo. Pergunte o que
deseja meu querido amigo.
- Depois de uma eternidade comigo recluso em
minha toca porque me chamou de volta?
- Porque preciso que ajude a cuidar do grupo
enquanto treino meu neto para assumir.
- Neto! Tem um neto?
- É! Tenho e antes de ter um neto eu tive um
filho.
- Filho! Como isso é ou foi possível?
- Te conto depois, mas poderia me ajudar a
cuidar da empresa e do meu neto?
- Sabe que seu pedido é e sempre foi uma ordem
para mim. Pode contar isso e se este jovem é seu
neto ele também terá toda a minha determinação,
garra e fidelidade.
- Sei disso velho amigo e precisamos conversar
antes de qualquer coisa.
- Sou todo ouvidos!
- Assinaram meu filho, minha nora e a tripulação
do jato!
- Me diga quem foi que eu mesmo vou lá e acabo
com eles.
- Calma! Primeiro a empresa e a proteção de meu
neto e depois pegaremos os culpados. Pode fazer
isso?
- Claro que posso!
- Quando quer que eu comece a fazer isso?
- Agora mesmo se puder! Respondeu Gustavo feliz
por ter ali o velho amigo.
- Então já estou pronto para ser empossado.
- Primeiro quero que conheça meu
neto. O nome dele é
Pedro Santilena Spallucci
Spadonni, tem dezesseis anos e era filhos de
Douglas Santilena Spallucci Spadonni meu filho e
Eduarda Santilena Spallucci Spadonni minha nora.
- Muito prazer jovem! Meu nome é Miguel Zaracho
Finazzi e estarei a partir de agora pronto para
servi-lo assim como servi a seu avô por longos
anos.
- Muito prazer senhor! Meu avô disse que o
senhor era um bom amigo.
- Tentei ser durante estes anos que temos de
convivência.
- Muito tempo?
- Mais do que você pensa jovem.
- Meu avô disse que antes de vir para cá eu
tenho que fazer um treinamento lá na fazenda.
- A fazenda de Joanópolis?
- Lá mesmo!
- Fará o treinamento com o Rafael?
- Isso mesmo!
- Então se prepare porque o coronel Rafael vai
exigir o máximo de você porque ele sabe que
precisará estar acima dele no treinamento.
- Que tipo de treinamento?
- Saberá com certeza quando se apresentar a ele
e boa sorte.
Gustavo cortou a conversa dos dois, pediu para
que Pedro aguardasse um pouco na sala da
secretária e mesmo não gostando saiu. Ao vê-lo
sair Miguel perguntou como ele conseguira ter um
filho e um neto e Gustavo lhe informou que foram
por causa de anos e anos de pesquisas e que ele
mesmo serviu de cobaia final.
- Não tem mais rompantes como tinha antes?
- Consigo controlar isso agora.
- E pode me fornecer isso de controlar também?
- Posso sim!
- Desde quando consegue controlar os rompantes?
- Efetivamente a treze anos, mas hoje tive que
soltar a fera para um bom propósito
- Pode contar comigo então.
)
Gustavo conversou ainda mais um pouco com Miguel
e depois de ter tratado de assuntos pessoais e
da empresa voltou a chamar Pedro na sala da
presidência assim como chamou também Cibele
porque queria saber até onde ela sabia das
falcatruas de Mário.
- Mandou me chamar senhor! Perguntou Cibele
preocupada.
- Sim! Sente-se por favor.
- Eu não sabia de nada!
- Calma! Você sabe quem sou eu?
- Sei sim senhor! É o pai do doutor Douglas.
- Isso mesmo e sabe quem é este jovem aqui?
Perguntou apontando Pedro.
- Não o conhecia pessoalmente, mas acredito que
seja o filho do doutor Douglas.
- O nome dele é Pedro e ele é o herdeiro de todo
o grupo, mas o assunto pelo que te chamei aqui
foi porque deve ser ainda a única aqui na
empresa que sabe da morte de meu filho a não ser
que já tenha espalhado a notícia.
- Não contei nada senhor e saiba, antes que me
pergunte que eu não sabia de nada do que Mário
tramou ou tinha tramado.
- De que não sabia e que não teve participação
nisso eu tenho certeza que não.
- Tem?
- Tenho, mas me diga, era amante de Mário a
quanto tempo?
- Não vou mentir e nem enrolar. Mantinha uma
relação com ele a quase dois anos.
- Era só sexual ou tinha algo mais alguma coisa?
- Era apenas sexual e nem sei porque era ou
porque eu comecei a fazer isso.
- Seria por acaso assunto financeiro ou tinha
algo mais?
- Bem, ele começou a me assediar e me ofereceu
algumas vantagens financeiras e como eu moro só
com meu filho e as coisas estavam difícil acabei
cedendo.
- O que sabe a respeito de golpes dele dentro da
empresa?
- Golpes?
- Sim! Desvios de dinheiro e coisas deste tipo.
- Ele era muito amigo do doutor Douglas e se ele
desviava dinheiro eu juro que não sabia.
- Tudo bem! Pode voltar para a sua sala.
- Vai me mandar embora?
- Por hora não, mas vamos resolver isso agora
mesmo. Pode se retirar.
Cilene saiu sob os olhares de Pedro, Gustavo e
Miguel e só voltaram a falar algo quando ela
ultrapassou a porta e a fechou.
- O que achou Miguel?
- Devo admitir que Mário era um crápula, mas ele
tinha bom gosto porque ela é uma bela fêmea.
- Não estava falando dela ser uma bela fêmea e
sim do que ela disse. Respondeu Gustavo dando um
leve sorriso.
- Não diga que não achou também?
- Posso falar vovô?
- Pode sim!
- Apesar da dor que estou sentindo pela morte de
meus pais eu acredito nela.
- Eu também acredito nela afinal não vimos e
ouvimos tudo o que ela disse quando Mário falou
com ela e saiba que apesar de eu estar querendo
ser forte estou sentindo a mesma dor que você
quando aos seus pais. Gostava demais de seu pai
e também muito de sua mãe que sempre me tratou
bem.
- Quer saber a minha opinião? Perguntou Miguel.
- Claro que sim! Diga o que achou.
- A moça estava apavorada, mas mesmo estando se
abriu logo tendo a certeza de que seria demitida
e sabe que eu consigo captar a verdade ou
mentira nas palavras e acredito na sinceridade
dela e nas suas palavras.
- A mandariam embora? Perguntou Gustavo para os
dois.
- Eu não mandaria! Respondeu Pedro.
- Tampouco eu! Vamos mantê-la na empresa e ficar
de olho para ter a certeza de que ela falou a
verdade.
- Então assim será feito. Ela permanecerá no seu
posto que é o de ser sua secretária.
- Minha!
- Sim! Afinal você está assumindo a função que
era do canalha do Mário, mas não ouse nada com
ela porque eu não concordaria com isso. Fui
claro?
- Claríssimo senhor! Respondeu Miguel.
- Agora será a hora mais difícil. Teremos que
comunicar aos funcionários daqui bem como todos
do grupo sobre o falecimento criminoso de meu
filho, Eduarda e da tripulação da aeronave.
- Vai comunicar a empresa também vovô?
- Vamos e você e Miguel estarão presentes,
afinal, mesmo que por enquanto eu mantenha a
direção da empresa quero comunicar que estará em
treinamento para assumir a presidência em tempo
oportuno. Concorda?
- Apesar de achar que não tenho capacidade para
o cargo, mas se o senhor me acha capaz e
merecedor eu concordo.
- Não só acredito que tenha capacidade bem como
quero lhe lembrar que é o herdeiro de tudo isso
aqui e não estará sozinho e poderá contar com o
meu apoio e o de Miguel. Agora vamos chamar
Gabriela para lhe informar sobre a tragédia.
)
Cinco meses se passaram desde o trágico
falecimento de Douglas, Eduarda e os tripulantes
da aeronave. Gustavo cheio de saudades de seu
canto em Joanópolis cidade que distava em torno
de cento e vinte quilômetros da capital paulista
cuidava com braço forte da presidência de todo o
grupo tendo o apoio de Miguel seu fiel amigo e
via que Pedro tinha tino para cuidar das coisas
assim que ficasse maior de idade.
- Vovô não conheço direito a fazenda que mora.
- Vai adorar a fazenda e a cidade meu filho!
- Meu pai sempre dizia que ia me levar lá, mas
sempre tinha alguma coisa que o impediu de fazer
isso. Como que é lá?
- A fazenda ou a cidade?
- Os dois!
- Joanópolis é uma cidade pequena. Tem pouco
mais de treze mil habitantes, mas é uma cidade
que leva centenas ou milhares de turistas para
lá.
- Ouvi dizer que lá é a terra de lobisomens. É
verdade isso?
- As pessoas dizem muitas coisas!
- Então é mentira que lá é a terra dos
lobisomens?
- Não vou dizer que é verdade ou mentira. Há
muitos habitantes na cidade que alegam já ter
visto lobisomens por lá, mas se realmente eles
existem são discretos e não são de causar mortes
ou ataques a humanos.
- Eles são violentos?
- A lenda disse que alguns seriam, mas sabe como
que é isso de lenda. Tem muitos exageros, porém,
lhe garanto que lá na fazenda e na cidade você
poderá ficar sossegado porque acho que eles, se
existirem, tem medo de mim. Respondeu Gustavo.
- Porquê de você vovô?
- Lenda é lenda filho e estou me valorizando um
pouco.
- Ah tá! Entendi. Quando quer ir para lá?
- Por mim iria agora, mas vamos programar tudo
para irmos no final deste mês.
- Tudo bem!
- Quer mesmo ir para lá?
- Não sei se irei curtir bem a cidade porque é
pequena, mas estou ansioso para ver o que é este
treinamento que me prometeu.
- Gosta de esportes?
- Gosto!
- Pois é! Neste treinamento fará muita
ginástica, vai sofrer, mas ficará bem.
- Sofrer!
- Claro! Treinamento exige o máximo de cada um e
te garanto que Rafael sabe explorar os limites
de quem ele quer deixar preparado para tudo.
- Tudo o que?
- Saberá a seu tempo. Aguarde e verá.
A previsão de alguns dias acabou passando batido
e somente no final do ano foi que Gustavo chamou
Pedro para lhe comunicar que dia vinte e dois de
dezembro é que eles poderiam ir e isso após a
festa de confraternização que a empresa sempre
fazia e que fora uma tradição criada desde que
Gustavo possuía apenas um hotel. Passariam o
natal na fazenda.
)
Dias se passaram assim como passou a
confraternização onde Pedro foi devidamente
apresentado para vários funcionários de vários
representantes de cada uma das unidades que
possuíam e precisamente no dia vinte e três logo
pela manhã saíram da capital e rumaram para
Joanópolis que apesar de ser perto demorou pouco
mais do que previsto devido à chuva que caía
torrencialmente na capital e durante todo o
percurso na rodovia Fernão Dias e a viagem que
levava em torno de uma hora naquele dia chegou a
quase duas e meia.
A rodovia Fernão Dias como sempre estava
congestionada devido à proximidade do natal e
devido à forte chuva fez com que Jonas dirigir
com mais cuidado. Chegaram até o entroncamento e
Jonas com toda a atenção do mundo saiu e pegou a
SP-036 ou mais conhecida como a rodovia Entre
Serras e Águas.
- Tem pastel ali vovô?
- Tem sim! Um dos melhores pastéis do estado.
Depois você poderá vir confirmar isso.
Finalmente chegaram ao portal da cidade e Pedro
estranhou por ver a neblina que estava fazendo e
não sabia ele se era por causa da chuva ou se
era normal aquela nevoa toda.
- Aqui é sempre assim vovô?
- Fala da neblina?
- Sim!
- Não! Geralmente não, mas deve ser por causa da
chuva, mas fique tranquilo que estamos chegando.
De fato, passando o portal e cruzando a pequena
cidade saíram por uma via secundária e de
repente avistaram a bela e imensa propriedade no
alto de um morro. Ali estava o reduto onde
Gustavo se refugiara por longos anos e onde ele
chamava de toca.
Jonas cuidadosamente percorreu os poucos metros
que separavam a área plana até atingir o platô e
finalmente estacionou o veículo debaixo de uma
cobertura que dava acesso à entrada principal
daquela imensa residência. Desceram assim como
desceu também do outro automóvel Elenice a qual
Pedro fez questão de leva-la com eles.
- Nossa! Como é grande isso aqui. Disse Elenice.
- Não se preocupe senhora, porque temos pessoas
que cuidam da limpeza de tudo por aqui. Disse
Gustavo.
- Não reclamei quando a limpeza senhor, mas sim
que é grande e bela.
- A senhora conhecerá tudo nos próximos dias.
Agora vamos entrar porque estou com saudades de
minha querida morada e também porque parece que
está chuva ainda irá demorar para parar.
Entraram na casa sede da fazenda e após
ultrapassarem os umbrais da imensa porta de
carvalho se depararam com um amplo hall e as
dependências da casa praticamente ficavam no
mesmo plano, mas para surpresa de Pedro havia
uma escada que levava ao plano inferior onde
havia uma intensa sala que deveria ser usado, ou
ter sido usado para festa ou reuniões no
passado. Dela, da parte baixa se saia para um
belo jardim onde ficava a enorme piscina.
O que chamou a atenção de Pedro foi que além da
casa sede ser toda avarandada ela também era
toda cheia de janelas espelhadas e nem ousou
perguntar para seu avô o porquê daquilo. Queria
ver mais, mas a chuva ficava mais intensa a casa
minuto que passava e soube que teria que esperar
até o dia seguinte chegar para poder colocar os
pés e a cara para fora.
- Devem estar com fome, não? Perguntou Gustavo.
- Um pouco! Respondeu Pedro.
- Gosta de faisão?
- Não sei! Nunca comi isso antes.
- É do tipo de carne de frango, porém mais
nobre, mas também temos feijão de dois, arroz
carreteiro, maionese sem cebola e também se
gostar teremos javali. Já degustou da iguaria?
- Nunca! Tem gosto de que?
- Ela tem, digamos o gosto de carne de porco.
Tenho certeza que irá adorar.
- Pelo que vejo o senhor gosta de comidas
exóticas.
- A muito tempo, mas muito tempo mesmo, estas
duas carnes eram as preferidas dos lordes do
velho mundo e na Itália, terra mãe de nossa
origem nossas terras ficavam no noroeste do
país, quase na divisa do que hoje é a Croácia e
a Eslovênia. Lá eram ainda mais apreciadas, mas
não me pergunte porque, porém, sei que se provar
vai gostar muito.
- Quem trabalha aqui com o senhor vovô? Não vi
ninguém desde que chegamos.
- Um momento, foi falha minha. Um momento por
favor.
Gustavo se afastou e puxou uma espécie de corda
e rapidamente surgiram algumas pessoas, todas
uniformizadas diante deles.
- Pronto! Temos aqui as cozinheiras, ajudantes,
arrumadeiras, passadeiras e auxiliares. Senhores
e senhoras este é meu neto Pedro que é meu
herdeiro e meu protegido. Quero que cuidem dele
como se estivessem cuidando de mim. Também
trouxe comigo a governanta que ele insistiu em
trazer porque cuida dele desde que era ainda um
bebê e também Jonas o motorista e vou deixar
claro que todos eles estão sob a minha proteção.
Portanto, sirvam-nos com respeito e dedicação.
Fui claro?
)
Todos assentiram que haviam entendido e depois
se retiraram, mas não sem que Pedro reparasse
que todos usavam uniformes diferenciados por
função e ia perguntar isso para seu avô, mas
temendo que ele não gostasse preferiu se calar.
Já a discreta Elenice nem ousou comentar nada
por conhecer Gustavo a muitos anos.
- Tenho muito que lhe mostrar aqui na fazenda e
também na cidade, mas para isso, fora daqui da
casa sede só depois que esta chuva passar, mas
agora vamos almoçar porque sei que estão com
fome.
Almoçaram e tanto Pedro quanto Elenice adoraram
as iguarias servidas e que eles nunca haviam
comido até então e após terminarem de almoçar
comentaram isso com Gustavo que sorriu feliz por
ouvi-los.
- Pedro! Amanhã teremos aqui a confraternização
de natal e a maioria dos funcionários daqui
virão para a festa e poderá conhece-los e eles a
você.
- Ficarei honrado em poder conhece-los também
vovô.
- Você está bem?
- Estou sim vovô, porque pergunta?
- Sei que não está bem e não tente me enganar.
Sei ver bem em seus olhos isso.
- É que não aceitei e nem aceito ficar parado a
espera de que sejam localizados os assassinos de
meus pais.
- Sei como se sente, mas tenho várias pessoas
buscando respostas e pode ter certeza de que eu
as encontrarei bem como aos culpados.
- Meus pais eram pessoas do bem. Nunca fizeram
mal a quem quer que fosse e sinceramente não
acredito naquilo no que Mário disse.
- Acredita que eles foram assassinados porquê?
Seja franco comigo.
- Aquilo que Mário tentou mostrar de que era por
interesse de alguns e que ele seria beneficiado
não está encaixando direito.
- E?
- Acredito de verdade que tem mais coisas por
trás disso. Algo sinistro ou maléfico.
- Como o que por exemplo?
- Não sei dizer vovô! Meu sexto sentido diz que
seria tipo algo como vingança, retaliação ou
algo assim.
- Pensa isso mesmo?
- Sim, mas eles eram pessoas do bem e é aí que
não encaixa.
- Não tinha pensado por este lado de retaliação,
mas é uma hipótese que não se pode descartar,
afinal mataram os dois, seu pai e sua mãe.
- A dor é forte e tento ser mais forte que ela,
mas está difícil vovô.
- Sei que é, mas vamos tentar nos fortalecer
porque eu prometo que encontrarei os culpados e
não deixarei que eles saiam ilesos do que
fizeram. Agora vou te mostrar toda a propriedade
já que não dá para ir lá fora.
Gustavo pediu para que Elenice repousasse e
levou Pedro para conhecem pelo menos a casa sede
da fazenda a qual era muito maior do que ele
imaginava. Era composta de várias suítes
completas com closet, toalete também completo
inclusive com banheira de hidro espaçosas. Havia
também salas íntimas, de TV, biblioteca e
estúdio de som. Todo aquele imenso andar era
harmoniosamente bem decorado apesar do estilo
rústico. Após isso desceram a escada para o
andar inferior onde continha um enorme salão
todo envidraçado onde continham quatro portas
que levavam para o jardim que não dava para
enxergar direito.
- Lá fora há um imenso jardim que amanhã se a
chuva parar serão colocadas mesas e cadeiras
para que as pessoas se acomodem e se a chuva não
parar iremos espremer um pouco e tentar colocar
todos dentro deste salão que hoje está vazio.
Pedro ia perguntar onde que guardavam as mesas e
cadeiras, mas preferiu se calar e esperar para
saber depois e seu avô continuou lhe dando
explicações sobre o que havia por ali.
- Aqui fora, do outro lado da casa por onde
entramos há uma área que pertence à parte
técnica e que dá acesso para o laboratório onde
vários cientistas trabalham para desenvolver
algumas coisas.
- Que tipo de coisa vovô?
- Saberá ao seu tempo. Só tenha paciência.
- Não tenho muita paciência, mas saberei
esperar. Respondeu Pedro.
Gustavo deu um sorriso interno, pois aquele
jovem parecia ter herdado de si o seu jeito de
ser e ao ouvi-lo dizer que não tinha paciência
era ele escrito. Também era uma pessoa que não
gostava de esperar as coisas acontecerem e no
caso de seus pais, depois do que Pedro lhe
falara ficou pensando que poderiam ser
retaliação contra si mesmo e tentou se lembrar
de quem sobrara para ter este tipo de sentimento
consigo.
De novo Pedro foi até a imensa vidraça da sala
de estar e olhando para fora viu que a chuva não
demonstrava que ia parar tão cedo e de fato isso
não aconteceu até a hora em que se recolheu para
dormir, mas não antes de ouvir seu avô dizer que
se ele ouvisse barulho de noite tipo uivados não
era para ele se preocupar que a fazenda era
protegida e que tal fato poderia ser coisa de
lobisomens.
- Tem lobisomens aqui mesmo vovô?
- Dizem que tem, mas deve ser só lenda e isso dá
fama para a cidade. Agora vá se deitar. Boa
noite meu filho. Disse Gustavo cortando a
conversa e deixando Pedro na porta de seu
quarto.
)
Ao contrário da
imensa tempestade que caiu na tarde e noite
anterior o dia começou com um sol
impressionante. Grande e radioso era assim que
se mostrava a quem quisesse admirá-lo e Pedro
surpreendentemente acordou antes dele dar o ar
da graça e pode ver da janela de sua suíte a
plenitude com a qual ele raiou.
Levantou-se,
tomou banho, se trocou vestindo uma roupa mais
confortável e saiu do quarto. Tudo estava em
silencio naquele imenso corredor onde ficavam as
suítes, doze no total e caminhou até chegar na
sala.
- Bom dia senhor
Pedro! Cumprimentou uma jovem senhora que
arrumava a sala.
- Bom dia!
- O senhor quer
tomar café aqui na sala, ir tomar na copa ou
quer que eu o leve em seu quarto?
- Meu avô já
acordou?
- Já sim senhor!
Acordou e saiu cedo.
- Nossa! Já saiu?
- Já! Onde o
senhor prefere tomar café aqui na sala, ir tomar
na copa ou quer que eu o leve em seu quarto?
- Qual é o seu
nome?
- Vilma! Vilma
Rigolli senhor.
- Meu avô já
tomou café?
- Tomou antes de
sair!
- Sabe onde ele
foi?
- Sim! Foi para o
laboratório no prédio ao lado.
- Então vou tomar
café na copa e depois vou para lá!
- Me acompanhe,
por favor! Pediu Vilma
Pedro ia
acompanhar Vilma até a copa quando viu Elenice
vindo pelo corredor. Esperou-a e depois foram
juntos para a copa onde se sentaram sob os
olhares estranhos dos funcionários de seu avô.
Serviram-lhes alimentos até os que não queriam e
Elenice comentou sorrindo que parecia que
queriam engordar os porcos para os comerem mais
a noite.
Pedro riu e ia
levar Elenice consigo, mas Vilma se aproximou e
informou que seu avô não gostava de estranhos lá
e mesmo tendo dito que ela não era estranha com
voz ríspida disse que ela não poderia ir lá onde
estava o patrão.
- Prestem atenção! Vou deixa-la
aqui, mas saibam que mesmo ainda sendo novo sou
um
Santilena Spallucci Spadonni e se
ela reclamar de algo aí não será meu avô quem
irá resolver o assunto. Fui claro?
- Foi sim senhor!
Respondeu Vilma encolhendo de medo pelo tom de
voz de Pedro.
Pedro saiu e
atravessou o pátio enquanto Elenice sorria
internamento vendo que ele estava assumindo a
rigidez do seu avô e na verdade, adorou que ele
tivesse dito aquilo porque estava com medo
daquelas pessoas dali.
Já no pátio Pedro
chegou a outra construção e esta era o oposto da
casa sede. Paredes altas, sem janelas e com
apenas uma porta de aço que constatou ser bem
resistente pelo que viu. Diante dela que estava
fechada um segurança armado e de uniforme
perguntou se ele estava perdido por ali.
- Acredito que eu
não esteja perdido!
- E faz o que
aqui?
- Vim conhecer as
dependências!
- Ah só isso?
- Não! Também vim
encontrar com meu avô!
- Que avô?
Perguntou o segurança já se irritando.
- Ah! Não sabe
quem sou eu?
- Não e eu
deveria saber?
- Desculpe! Vou
me apresentar. Sou Pedro Santilena Spallucci
Spadonni, neto e único parente vivo e herdeiro
de Gustavo Santilena Spallucci Spadonni. Conhece
ele?
- É o neto do
doutor Gustavo?
- Sou e se tem
dúvida pergunte para ele para ter certeza.
Nem precisou
dizer nada. No mesmo instante a imensa porta foi
aberta e outro segurança usando o mesmo tipo de
uniforme, porém, de tom diferente o atendeu
cordialmente.
- O senhor que é
o neto do senhor Gustavo?
- Ele mesmo!
- Ele nos falou
do senhor e que deveríamos recebe-lo com atenção
quando viesse aqui.
- Parece que o
segurança lá de fora não entendeu bem o recado.
- Perdoe-o! Ele
entrou no turno agora a pouco e foi falha minha
comunica-lo. A propósito meu nome é Agnelo
Santinni e sou o encarregado.
- Sou Pedro
Santilena Spallucci Spadonni como deve saber.
- Foi isso mesmo
que ele comunicou quando entrou aqui logo cedo.
- Me diga uma
coisa Agnelo! Todos aqui têm sobrenomes
italianos?
- Nem todos!
Temos também eslovenos, croatas, bósnios e
austríacos, mas a maioria italianos.
- Não tem
brasileiros?
- Digamos que
eles não se entenderiam bem com o senhor
Gustavo. Me acompanhe por favor.
)
Pedro e se
surpreendeu ao entrar no local. Estava diante de
um imenso espaço todo revestido de um tipo de
piso que nunca vira antes e as paredes eram de
outro também desconhecidos. Parecia ser uma
mistura de granito com mármore, mas que também
se assemelhava a algo do tipo de ardósia.
Vendo pelo lado
de fora acreditou que fosse um prédio quadrado,
porém, vendo por dentro descobriu que era
arredondado e tinha um pé direito em torno de
cinco a seis metros e haviam doze seguranças ali
usando uniforme diferente do que usava o do lado
de fora e também do que usava Agnelo e não
entendeu nada da finalidade de um imenso salão
sem portas e janelas.
- Achei que fosse
aqui o laboratório! Comentou Pedro.
- Na verdade
jovem senhor, não é laboratório, mas sim um
centro de pesquisas, mas o que está vendo aqui
neste local?
- Além destes
doze seguranças notei que há uma pequena luz
esverdeada atrás deles como se fossem algum tipo
de botões, mas não entendi do porquê de botões
por estarem em paredes íngremes.
- Um momento!
Conseguiu ver as luzes esverdeadas na parede?
- Sim! Porque?
- Realmente é o
neto do senhor Gustavo, pois nem seu pai quando
veio aqui notou-as.
- E o que isso
tem a ver?
- É que o senhor
tem com certeza a sensibilidade de um lobo para
notar detalhes imperceptíveis para os mortais
normal.
- Mortais?
- Ah desculpe!
Foi forma de falar.
- Tudo bem, mas
onde está meu avô?
- Venha comigo!
Agnelo levou
Pedro até o segurança mais perto e pediu para
que ele apertasse a luz que estava vendo e de
repente a parede se abriu dando acesso a um
elevador. Entraram e Agnelo apertou um dos
botões. A porta se fechou e começaram a descer.
- Apertou o vinte
e sete?
- Sim!
- Porque vinte e
sete?
- Porque é o
andar onde seu avô está.
- Você quer me
dizer que tem vinte e sete andares abaixo?
- Não!
- Ah bom!
- Não são vinte e
sete e sim sessenta e dois andares.
- Está brincando
né?
- Não!
Pedro ia dizer
algo quando ele parou e uma voz feminina disse
que estavam no andar correspondente ao apertado.
- Não acredito
que aqui tenha vinte e sete andares! Disse Pedro
em voz baixa.
- Está enganado!
Não são só vinte e sete andares e sim sessenta e
dois andares. Corrigiu Agnello.
- Ah! Eu estava
só divagando aqui. Disse Pedro.
A porta se abriu
e o que Pedro viu ali era algo inimaginável.
Ali, naquele andar a formatação do andar deixava
de ser arredondada para se tornar retangular.
Era imenso. Desceram em um bem estruturado andar
com um hall amplo.
Nele
descortinava-se seis corredores e todos
convergiam até aquele ponto onde ele estava e
todos possuíam amplas portas de vidro por onde
deslizavam pessoas e carrinhos motorizados
carregando coisas e sabe-se lá que coisas
continham dentro daquelas caixas metálicas e
Pedro ia curiosamente perguntar o que teria
naquelas caixas quando avisado seu avô chegou
até ele.
- Bom dia Pedro!
Dormiu bem?
- Dormi sim vovô
e achei que ia tomar café com você, mas acordou
antes de mim.
- Eu acordo todos
os dias mais cedo que as galinhas. Respondeu
Gustavo sorrindo.
- Percebi!
- Teve algum
problema lá em cima?
- Senhor! Quero
me desculpar, mas por algum contratempo Igor não
foi avisado
- Como assim? Ele
te hostilizou meu filho?
- Não vovô, tudo
de boa. Sem problemas. Cortou o assunto.
- Senhor! Quero
lhe comunicar que entrei com ele na sala oval e
seu neto detectou os doze seguranças e os sinais
na parede.
- Como assim?
Detectou as luzes na parede?
- Sim senhor!
- Como pode?
- Não sei dizer
senhor!
- Algum problema
vovô?
- Não, mas quero
que me acompanhe a um lugar antes de te mostrar
as coisas aqui.
- Aqui realmente
é o vigésimo sétimo andar negativo?
- É sim e gostei
do negativo.
- Está para baixo
então é menos vinte e sete, não é?
- Sim é! Tem
lógica a sua colocação.
- Vovô! Agnelo
que disse que são sessenta e dois andares abaixo
do nível da terra. É isso mesmo?
- Foi e é por
isso que temos sessenta e dois hotéis na rede
hoteleira de nosso complexo empresarial.
- Caramba!
- Venha comigo
que quero ver algumas coisas em você.
)
Pedro acompanhou seu avô pelo corredor daquela
área do complexo de pesquisas e depois de passar
por divisórias onde pode ver várias pessoas
entretidas em pesquisas chegaram a uma porta e
entraram. Lá se encontrava uma jovem que não
deveria ter mais que trinta anos que olhou para
Pedro com curiosidade.
- Doutora Rebeka Dickson! Este é o meu neto
Pedro.
- Então este é o jovem que estão comentando?
- Comentando para o bem ou para o mal? Perguntou
Pedro.
- Comentando sobre curiosidade!
- Curiosidade sobre o que?
- Doutora! Quero fazer uns testes no meu neto. É
possível isso? Cortou Gustavo.
- Claro senhor!
- Ele conseguiu enxergar as luzes do defletor
P54 lá da sala oval.
- Ele não é um mortal?
- É! Respondeu Gustavo.
- Impossível isso!
- Eu também achei, mas pode fazer os testes e
exames nele?
- Posso! Claro que posso! Apressou-se em dizer
Rebeka.
- Ei vocês dois! Querem me fazer de cobaia? E
que conversa é esta de mortal ou não?
- Ninguém quer te fazer de cobaia filho! Fique
tranquilo.
- Não estou gostando nada disso!
- Calma Pedro! Não é nada de anormal.
- Tudo bem! Respondeu ele.
Rebeka pediu para que ele tirasse a camiseta que
estava usando e admirou-se por seu porte físico.
Alto e deveria ter mais de um metro e oitenta,
portanto alto para um garoto, tórax forte e em
formato de um V, musculoso, olhar altivo e
resumidamente lembrava e muito seu avô Gustavo.
- Pode parar de olhar para o corpo dele doutora
e fazer o que te pedi?
- Ah tá senhor! Claro. Respondeu Rebeka sem
jeito.
- Não se preocupe que vovô é meio ranzinza
mesmo. Disse Pedro fazendo até Gustavo sorrir.
Rebeka fez vários testes e exames que levaram
mais de uma hora e quando terminou pediu que ele
se vestisse a camiseta e que aguardasse ali
mesmo na antessala que continha sofá, revista e
TV. Gustavo ficou lá dentro da sala acompanhando
tudo e quando Rebeka terminou os dois, ela e
Gustavo estavam surpresos com os resultados.
- Ele é humano ou não doutora?
- É! Posso afirmar que em noventa e nove virgula
nove ele é mortalíssimo.
- Então como pode?
- Seu filho sei que era cem por cento humano e a
esposa dele, ela era humana também?
- Era!
- Honestamente senhor não sei explicar a não ser
que ele tenha puxado isso do senhor.
- E isso seria possível?
- Não é normal, mas pode ou poderia acontecer.
- Mas como? Você disse que isso seria impossível
a anos atrás.
- Me perdoe senhor, mas o que eu disse era que a
chance de acontecer algum distúrbio era uma em
um bilhão.
- A sua esposa era mortal, não era?
- Era sim!
- Seu filho sei que era mortal porque eu mesmo
fiz os exames nele e segundo o senhor a esposa
dele também era cem por cento mortal, daí a
única possibilidade é que isso ele tenha puxado
do senhor, pois não há outra forma de acontecer.
- Tem certeza de que eu estou cem por cento
restaurado?
- Disso tenho certeza tanto quando tenho de que
eu e centenas aqui do centro de pesquisa também
estamos. O que acontece neste caso é que paramos
na idade em que estávamos aparentemente e nos
restauramos e aquele desejo louco se conteve
apesar de ainda estar dentro de nós. Desta
forma, também tenho que ressaltar que a força
que tínhamos antes do tratamento permanece e
rejuvenesce.
- Imortais então?
- Já lhe disse isso a anos atrás senhor, mas vou
repetir. Vida eterna não, o que temos é uma
expansão de muitos anos a mais que pode variar
de vinte a duzentos anos por exemplo.
- Sei que me disse! Só estava querendo ouvir de
novo, mas no caso de meu neto o que me diz?
- Ele irá fazer o treinamento com o Rafael?
- Irá e começará segunda feira.
- Peça para que Rafael force a barra com ele
principalmente no quesito de força física e veja
o quanto ele suporta.
- Farei isso, obrigado!
- Não tem de que!
- E tire os olhos dele porque ele literalmente é
um feto perto de nossa idade.
- Só achei ele bonitinho doutor! Nada mais que
isso.
- Sei! Conheço bem os olhares que deu para ele.
Respondeu Gustavo rindo e saindo.
Saiu da sala de Rebeka e chamando Pedro saíram
do local. Gustavo estava cada vez mais surpreso
com seu neto e resolveu lhe mostrar todo o
complexo. Já Rebeka assim que viu eles saindo
ficou olhando para aquele espetáculo de homem
ainda um garoto e suspirou fundo.
- Nem me atrevo a tentar algo com ele, pois se o
fizesse iria despertar a ira de Gustavo.
)
O dia transcorreu tranquilamente e no final do
dia, já quase noite eles voltaram para a casa
sede e Pedro estava impressionado com o que vira
e que deveria permanecer em segredo. No dia
seguinte houve a confraternização do pessoal da
fazenda e Pedro ficou surpreso com quantidade de
pessoas que ali estavam presentes.
- Pedro quero te apresentar algumas pessoas!
Venha comigo.
- Eles sabem o que o senhor faz aqui?
- Nem de longe e nem podem saber!
- Diz que faz o que aqui?
- Nesta fazenda temos cinco milhões, quinhentos
e sessenta mil metros quadrados e temos aqui
cento e cinqüenta mil cabeças de gado. Além
disso temos também aqui na mesma área espaços
onde criamos faisões, javalis, avestruzes,
galinhas, patos, marrecos e outros animais que
depois lhe explicarei para que.
- Sempre depois não é vovô?
- Tem que ter calma filho, mas me diga, você tem
namorada?
- Sou muito novo para ter uma namorada, me
apaixonar, ficar preso a um sentimento que nem
sei se levaria a algum lugar. Quando acontecer
quero me apaixonar de verdade e tentar viver
para esta pessoa e ela para mim. Enfim um amor
intenso igual a de meus pais.
- Que bom que pense assim e de você nem saber
nada de amor meu filho, pois saiba que ele
quando vem e acontece faz a nossa barriga
tremer, o coração querer sair pela boca, nos faz
levitar, perder a respiração, querer a todo
instante estar do lado da pessoa amada. É uma
enxurrada de sentimentos que nem sabemos se é
bom ou ruim, pois queremos apenas estar do lado
dela, da pessoa amada.
- Nossa! Já se apaixonou assim?
- Já! Quando conheci sua avó, já estando em
idade adulta, na verdade bem adulta eu senti por
um instante que para tê-la ao meu lado teria que
mudar tudo em minha vida e por amor a ela eu
realmente mudei toda a minha vida e minha
essência, mas isso também te contarei em outra
ocasião. Agora vamos cumprimentar as pessoas que
aqui estão.
Atravessaram toda aquela multidão e Pedro pode
ver que seu avô agia cordialmente com eles
cumprimentando e dando a mão para cada um dos
convidados e lhe apresentando a cada um deles
que correspondia da mesma forma que seu avô e
duas pessoas estavam de olho nisso, Elenice e
Rebeka. Elenice satisfeita por ter colaborado ao
menos um pouco no que estava presenciando e
Rebeka olhando de uma forma especial. Após
cumprimentar a todos Gustavo subiu em um pequeno
palco improvisado onde logo uma banda estaria
tocando e cantando e oficialmente repetiu as
apresentações
- Prezadas senhoras e senhores!
Quero pedir um momento de vossas atenções.
Apesar de já estarem sabendo quero oficialmente
apresentar meu neto que é meu único parente
vivo, meu herdeiro e sucessor em tudo que
pertence ao grupo SSS. Aqui está o único e
último da linhagem de minha família até o
momento
Pedro Santilena Spallucci
Spadonni meu querido e amado neto e peço a cada
um de vocês que os respeite e também a senhora
Elenice Vieira Queirós que é quem cuida dele
desde que nasceu a dezesseis anos de nossa época
atual e quando eu disse respeitá-los quero que
saibam que eles estão sob a minha proteção e
espero que isso fique bem claro entre todos.
Agora podem continuar na festa porque a mesma
nem começou ainda. Obrigado.
Fez o discurso, olhou para todos olhando para
ver se alguém não tinha entendido e desceu do
palco onde uma banda subiu e começou a tocar com
o vocalista soltando o som de sua voz. Olhou
para Elenice que com certeza deveria saber de
sua vida, mas que sempre fora discreta e
reparando que ela estava aliviada levou Pedro
até o lado superior esquerdo e mostrou para ele
um lago que ele pretendia criar peixes e fazer
um jardim estilo japonês que prometera para a
sua mãe.
- Obrigado vovô por suas palavras, mas o que eu
ia te perguntar nem o farei porque irá me dizer
que depois me dirá, portanto nem irei te cobrar.
Pelo menos hoje não mais. Disse sorrindo.
- Fico feliz em poder te ver sorrindo meu filho.
Saiba que seu pai sempre foi fechado comigo e
hoje vendo-o reconheço que a estranheza dele
sempre foi culpa minha e não sossegarei enquanto
não acertar as contas com quem o tirou de nós,
mas agra vamos comemorar, porém, tome cuidado
com a Rebeka porque ela está de olho em você.
- Fica tranquilo vovô! Ela é bem, digamos
atraente em todos os sentidos, mas apesar de
tudo eu quero me manter quietinho.
- Te agradeço por isso e saiba que dentro
daquele belo corpo de mulher tem uma loba
faminta adormecida. Falou Gustavo sem querer.
- Loba é! Estou fora disso. Respondeu Pedro
tornando a sorrir.
As horas passaram, comemoraram o jantar, depois
a noite veio e foi embora e chegou a hora do
almoço natal onde se alimentaram com mais
quitutes do que na noite anterior e assim o dia
se foi e a noite ao se deitar Pedro ficou
pensando nos seus pais e de como ele adoraria
estar ali junto deles naquele momento tão bom
como fora com seu avô e pensando neles acabou
pegando no sono e a noite se foi iniciando outro
belo dia com o sol batendo cedo na janela.
)
Pedro abriu os olhos e olhou para o celular.
Nele marcava doze minutos para as cinco da manhã
e resolveu levantar-se. Dormira pouco tempo
aquela noite, mas o pouco se tornou muito devido
à vontade que tinha dentro de si para saber o
que seria o treinamento que o aguardava.
Levantou-se, tomou banho e vestiu uma roupa de
treinamento que seu avô lhe havia entregue.
Arrumou-se direito e saiu do quarto onde estava
ao mesmo tempo em que seu avô saía do dele.
- Bom dia meu filho!
- Bom dia vovô!
- Preparado para o dia de hoje?
- Estou mais que preparado. Estou ansioso.
- Isso é bom, mas tenha calma nas coisas e saiba
que Rafael irá exigir o máximo de você.
- Estou preparado para isso também.
- Bom saber e estarei lá por alguns momentos
para vê-lo antes de ir cuidar das coisas da
fazenda. Agora vamos tomar um leve café e
recomendo que não coma coisas pesadas.
Desceram e a mesa que Pedro viu à sua frente era
algo que só vira em hotéis quando viajara com
seus pais. Nela continha de tudo e ao lado
discretamente haviam três serviçais para
atendê-los.
Nem ia sentar para se alimentar, mas Gustavo fez
questão que ele o fizesse e comesse alguma coisa
para poder ter algo dentro do corpo antes de ser
forçado a fim de não ter vertigens ou mal-estar.
Tomou suco de laranja após tomar uma xícara de
café com leite e uma porção de ovo mexido e não
quis mais nada. Estava ansioso e Gustavo não
sabia se aquilo seria bom ou mal, mas deixou que
ele fizesse o que desejasse. Saíram e foram para
o prédio ao lado onde ficava o laboratório e lá
naquela imensa sala ovalada e desta vez a luz
que foi acionada era a lilás que ficava no lado
oposto aquela que descera anteriormente.
- Aperte aí o andar dezenove, por favor! Pediu
Gustavo.
Pedro apertou e rapidamente o elevador desceu e
parou no andar indicado. Era imenso e neste ele
pode sentir as proporções do mesmo. O pé direito
era altíssimo. Deveria ter em torno de vinte
metros e possuía de tudo inclusive um campo de
futebol em tamanho natural, pista de corrida e
tudo que é tipo de equipamentos para treinamento
além de uma parede para ser escalada em vários
graus.
- Caramba! Isso aqui é enorme.
- Não viu nada ainda filho! Agora vou deixá-lo
aos cuidados de Rafael e só ficar um pouco.
- Bom dia senhores! Cumprimentou Rafael se
aproximando.
- Bom dia! Responderam os dois.
- Preparado jovem?
- Estou sim!
- Quer que eu pegue leve ou que faça o
treinamento que fazemos com os demais?
- Não quero que pegue leve! Respondeu Pedro.
- Com carinho ou é para pegar pesado?
- O mais pesado que desejar.
- Tem certeza disso?
- Absoluta! Respondeu Pedro.
- Se alimentou?
- Levemente, mas estou bem.
- Então vamos lá. Disse Rafael encerrando a
conversa levando-o.
O que Gustavo viu inicialmente era algo que o
deixou preocupado. Pedro não se acertava e
Rafael forçava cada vez mais sendo duro com ele,
mas não interveio. Queria saber até onde Pedro
aguentaria e isso se seguiu até que Rafael
acertou com cuidado as palavras.
- Melhor ir embora! Você não serve para isso e
não honra o nome de seu avô.
Estas palavras foram suficientes para que Pedro
caído no chão o olhasse e com uma faísca nunca
vista antes se levantou e não só fez tudo que
Rafael lhe propunha a fazer como o superou
deixando ele e Gustavo de queixo caído.
Rafael forçou mais e mais sem que Pedro se
incomodasse e em tudo superava as expectativas
do professor fazendo com que Gustavo até se
esquecesse do que ia fazer e assim seguiu-se
sempre com Pedro levando vantagem sobre seu
professor e quando mais o tempo e as horas
passavam mais Gustavo ficava de olhos
arregalados, pois só conhecia uma pessoa que
superara Rafael em tudo que era ele mesmo.
Pedro parecia estar se divertindo com o mestre e
quando sentiu que Rafael fraquejou ele o olhou e
perguntou se ele queria uma folga para descansar
e isso o revigorou fazendo-o arrancar energia do
mais profundo do seu ser, mas de nada adiantou
porque Pedro parecia uma máquina de guerra no
corpo de um menino e quando finalmente Gustavo
achou que já bastava interrompeu o que Pedro
fora ali fazer.
- Podem parar! Chega por hoje.
- Já chega senhor? Perguntou Rafael.
- Vamos com calma! Por hoje chega.
- Por mim podemos continuar!
- Vamos dar uma pausa, pois estão aí desde as
seis da manhã e já são seis da tarde.
- Tudo isso senhor?
- Tudo! Pedro aguarde um instante que tenho que
falar com o Rafael em particular. Pediu Gustavo
se afastando um pouco.
Se afastaram a uma distância que acreditavam
estar longe da audição de Pedro.
- O que achou do garoto?
- Garoto senhor!
- É! O que achou?
- Ele não é um garoto! É uma máquina de guerra e
só conheço um que me superou que foi o senhor.
- Vi que estava quase pedindo água! Disse
Gustavo para Rafael.
- Água seria pouco! O garoto de fato é o senhor
mais renovado.
- Ele só fez uma aula. Acha que está preparado?
- Não sei como ele se escondeu este tempo todo,
mas parece que ele já nasceu pronto e se me
permite dizer, quando o provoquei vi uma
centelha em seus olhos que me surpreendeu.
- Que tipo de centelha?
- Era cintilante puxando para o lilás arroxeado.
- Era desta forma que a viu?
- Foi sim. Com certeza foi.
- Hum! Vamos encerrar por hoje. Agora vá se
alimentar.
- Obrigado senhor! Disse Rafael saindo.
)
- Pronto! Disse Gustavo ao se aproximar de
Pedro.
- Vovô! Me diga isso dá centelha puxando para o
lilás arroxeado. O que é isso?
- O que sabe disso?
- Ouvi você falando isso com o Rafael.
- Você ouviu a conversa toda?
- Ouvi, porque?
- Como?
- Com as minhas orelhas oras!
- Sei que foi com as suas orelhas, mas sempre
escuta assim?
- Não! Começou depois que ele me desafiou.
- Sentiu raiva, ódio, estas coisas?
- Não!
- Sentiu vontade de lhe arrancar o pescoço?
- Também não!
- Sentiu vontade de matá-lo?
- Credo! Não vovô.
- O que sentiu então?
- Um desejo imenso de fazer tudo certo e se
desse superá-lo.
- Só isso?
- Só, porque? Eu tinha que sentir algo mais?
- Consegue ouvir meu coração?
- Sim!
- E o seu?
- Mais ainda e se quer saber também ouço o
Rafael falando com outra pessoa que nunca
imaginou que um garoto pudesse superá-lo.
- Está ouvindo isso também?
- Sim e o outro dizendo que acreditava que
apenas o mestre poderia vencer o Rafael.
- Consegue ouvir mais alguma coisa?
- Sim! Muitas pessoas em vários lugares aqui
perto de nós.
- Perto quanto?
- Não sei! Não medi.
- Engraçadinho! Respondeu Gustavo rindo.
- É sério!
- Sei que é! Vamos subir que com a fome que eu
estou comeria um boi inteiro.
- Eu já me contento com frango assado. Respondeu
Pedro sorrindo de leve.
Subiram e Pedro não se preocupou mais com aquilo
e nem sabia do porquê, mas aquilo de ouvir as
pessoas falando de longe desapareceram, mas não
comentou nada disso com seu avô.
Por outro lado, acreditando que Pedro não
conseguisse ler pensamentos pensava justamente
na cor daquela fagulha e lembrou-se que uma vez
seu avô lhe disse quando ainda era uma criança
que aquela cor representaria a cor de um mega
alfa, o supremo.
)
Aquilo deixou Gustavo preocupado, não por ter
alguém poderoso desta forma, mas sim por ser
apenas um garoto, se é que fosse de fato.
Segundo ouvira de seu avô a muitos anos atrás,
um supremo era algo ou alguém que poderia fazer
muito mais que um alfa normal, o que era uma
raridade e não haveria nenhum outro que ousasse
desafiá-lo, pois ele poderia destruir qualquer
um deles com extrema facilidade.
Porém, por mais que tentasse entender Pedro era
normal, ou seja, um humano cem por cento normal
assim como fora seu pai e sua mãe, portanto para
ele ser da forma que se desenhava só poderia ser
por causa de algum medicamento que receber e que
pulara uma geração. Não sabia explicar, mas o
que sabia era que ele gerara um filho com uma
humana e este lhe dera um neto, seu único
herdeiro.
- No que está pensando vovô?
- Em você?
- Em mim?
- Sim!
- No que precisamente?
- Sobre a sua origem.
- Minha origem?
- É!
- Ué! Sou seu neto, ou tem dúvida disso?
- Disso não tenho a menor dúvida.
- Então porque disse de origem e nem venha me
dizer que depois falará sobre isso.
- Não está com fome?
- Estou um pouco, mas desta vez não vai escapar
de me contar esta coisa de origem.
- Então vamos almoçar e após isso vamos para o
escritório porque a conversa será longa.
Chegaram na casa sede e a comida já estava
pronta para ser servida. Foram tomar banho e
vinte minutos depois retornaram para finalmente
se alimentarem e Gustavo não estava brincando
quando disse que comeria um boi, pois o que
comeu surpreendeu tanto Pedro quanto Elenice.
Terminaram e Gustavo o chamou na sua sala a
prova de escutas externas. Sentaram-se e Gustavo
começou a falar.
- O que você sabe da origem de nossa família?
- Pouca coisa! Pelo que papai me contou você
teria vindo da Europa a alguns anos e depois
aqui, já maduro conheceu a vovó, se apaixonou
perdidamente por ela e depois de um tempo se
casaram e outro tempo depois ele nasceu e
posteriormente eu nasci.
- Só isso?
- Só!
- Não sabe nada mais e nem teve curiosidade de
saber algo mais?
- Tive, mas puxando a árvore
genealógica acabei chegando ao tataravô, o duque
Lorenzo
Santilena Spallucci Spadonni, pai
do bisavô Agustín Santilena Spallucci Spadonni
que era seu pai. É isso mesmo?
- Sim! Exatamente isso, mas o que mais sabe?
- As histórias levam a uma lenda de que o duque
Lorenzo era uma pessoa misteriosa. Vivia em uma
propriedade imensa e raramente era visto em
público e isso se estendeu a seu filho e seus
raros parentes e dizia estas lendas que ele se
transformava em lobo.
- Bem lendas são lendas e realidade é realidade
e vou falar da realidade que acabou virando
certas lendas. Preparado?
- Sim! Estou. Respondeu Pedro atento para ouvir
seu avô.
- Meu bisavô era o sétimo filho de família de
nove irmãos. Ele era o caçula e quando nasceu
havia uma lenda lá na Itália de que o sétimo
filho poderia se transformar em lobisomem
passada a adolescência e segundo relatos de meu
avô isso acabou acontecendo, porém, antes dele
completar vinte anos de idade acabou se
enamorando por uma jovem e secretamente acabou
gerando um filho, que foi meu avô e ele
apavorado procurou se afastar da jovem que amava
porque temia feri-la e perdeu-se nas terras da
Eslovênia e procurou ficar recluso por muitos
anos e não sabia mais nada de sua família, mas
certo dia ficou sabendo que seu pai, ou seja seu
tataravô acabou em uma noite de lua cheia
literalmente devorando a esposa que amava, os
filhos e os serviçais. Só restou vivo seu bisavô
que já não morava com a família. Está prestando
atenção?
- Estou e além de impressionado estou
horrorizado, mas por favor continue vovô.
- Quando voltou a si e viu o que havia feito
abalado pegou uma arma, colocou uma única bala
de prata nela e disparou contra seu coração e
segundo consta ele morreu na hora. Seu bisavô,
ou seja, meu pai demorou para saber desta
história e não querendo passar pela mesma
situação acabou pondo fim a sua vida também, mas
não antes de fazer um testamento me colocando
nele como único herdeiro. Porém eu, bem longe
dele crescia rápido demais para um garoto da
minha idade e assumi a herança da família muito
antes de sentir os efeitos da lua sobre mim e
para sorte dela, minha mãe morreu de doença
antes de eu me revelar o que aconteceu quando eu
fiz vinte e três anos. Está ouvindo?
- Atentamente!
- Sabedor da tragédia ocorrida com minha família
assumi todos os bens e não quis saber de nenhum
relacionamento e quando me revelei preparei
trinta pessoas especiais para montar minha
própria matilha ou alcatéia.
- Mordeu-os?
- Sim, mas de uma forma que não os matasse e
assim consegui ter eles ao meu lado.
- E eles concordaram em lhe servir desta forma?
- Sim! O sonho da vida eterna bateu forte dentro
deles e aceitaram.
- Isso foi a quanto tempo atrás?
- Digamos que as caravelas tinham acabado de
chegar aqui no Brasil.
- Quando?
- Ano de mil quinhentos e cinco.
- Há quinhentos e dezessete anos atrás?
- Está brincando, não é?
- Porque brincaria com isso?
- O senhor tem mais de cinco séculos de idade?
- É! Tenho.
- E porque diz que tem oitenta e quatro anos?
- Porque achei bonito o número e seu pai estava
crescendo e envelhecendo também.
- Ele também era um lobo?
- Não e é aí que vem esta fazenda nesta região.
- Me conte.
- O tempo seguiu seu rumo e muitos dos meus
convertidos querendo se tornar alfa me
desafiaram e saíram de perto de mim e começaram
a atacar seres humanos coisa que eu havia
terminantemente proibido e fui obrigado a tomar
uma decisão que acabou sendo chamada de lua de
sangue, onde centenas de licotrampos foram
exterminados e para resumir em meados de mil
oitocentos e oitenta fiquei sabendo da lenda
desta cidade e comprei uma fazenda e depois a
aumentei, mas sem dar qualquer indicação do que
temos aqui e o que fazemos.
- Já te perguntei isso, mas o prefeito sabe
disso?
- De forma alguma e nem saberá! Orlando é um bom
homem. Um prefeito competente e que é cheio de
ideais e que está a algum tempo na política, mas
jamais poderá saber o que tem aqui. Para ele
temos apenas uma fazenda que cuida de gado,
avestruzes, faisões e javalis. Nada mais que
isso.
- Qual é o nome dele mesmo vovô?
- Sei que você sabe, mas o nome
dele é
Orlando Roberto Campos
e sei que vai esticar a cordinha
para saber o nome da secretária dele que também
sei que sabe e ela se chama Angelina Fernanda
Santos. Está satisfeito?
- Eu não queria saber o nome dela não. Respondeu
Pedro soltando um leve sorriso.
- O que mais quer saber?
- Porque este laboratório?
- Na verdade, não é um laboratório e sim um
centro de pesquisas e treinamento. Foi lá que
desenvolvemos finalmente a vacina que nos torna
praticamente humanos em cem por cento de novo ou
na pior das hipóteses conseguimos mudar nossa
existência de lobos podendo ter família de novo
como aconteceu comigo. Fui a primeira cobaia
deste experimento.
- Quer dizer então que de repente vocês pegam um
lobisomem e o transformam em uma pessoa normal?
- Na verdade, ele já é uma pessoa normal que se
transforma em lobo e não ao contrário e é isso
sim que fazemos ou que desejamos fazer.
Entendeu?
- Entendi perfeitamente, mas onde entra isso de
meus olhos?
)
A noite novamente
passou rápida para Pedro. Sonhou com a história
da família, de seu avô ser um lobo alfa e estar
com mais de quinhentos e o pior, dele ser na
teoria um homem do tipo lobo supremo sem ser
verdadeiramente um lobisomem mesmo ele sendo um
humano de todas as formas e maneiras.
Isso martelou a
sua mente até no pouco que dormiu. Era muita
informação para uma mente privilegiada apesar de
estar dentro da cabeça de um jovem de apenas
dezesseis anos. Porém, apesar de tudo e de ter
dormido pouco ainda faltavam alguns minutos para
as cinco da manhã quando resolveu se levantar.
Tomou banho, vestiu o uniforme de treinamento e
estava saindo do quarto quando tomou um susto.
Elenice estava ali encostada na parede diante de
sua porta.
- Nossa! Que
susto você me deu. O que houve?
- Sabe que eu
cuido de você desde que nasceu, não sabe?
- Sei sim!
- Então, se
pretender ficar por aqui quero lhe pedir um
favor.
- O que
aconteceu?
- Primeiro quero
lhe pedir o favor e depois te conto.
- Tudo bem! Pode
falar.
- Quero voltar
para São Paulo ou gostaria que me mandasse
embora?
- Mandar você
embora! Saiba que jamais faria isso. Quanto a
voltar para São Paulo sem problema, porém desde
que me conte o que me conte o que está
acontecendo.
- Primeiro é que
me sinto como uma estranha aqui e não me deixam
fazer nada. Sinto-me como se fosse uma incapaz e
não gosto disso.
- Mas quer fazer
o que?
- Qualquer coisa.
Não gosto de ficar parada e sabe disso.
- Sei sim, mas
aconteceu mais alguma coisa?
- Não queria
comentar, mas as pessoas que servem esta casa
bem como as que circulam lá fora parece que me
vêem como se eu fosse uma gazela no pasto e
sinto como se eu fosse a presa para feras
sedentas de fome.
- Como assim?
- Estou com a sua
família a muitos anos e sempre senti algo
diferente no seu avô, mas nunca me senti
amedrontada por causa disso e ao contrário disso
seus pais, com os quais eu já estava a algum
tempo antes de você nascer sempre me trataram
como se eu fosse um membro da família e lá em
São Paulo eu me sentia bem. Era como se a hoje
sua casa fosse também a minha casa. Eu tinha um
canto e estava feliz, mas aqui além de eu me
sentir como se fosse nada ou coisa alguma, ainda
tenho receio de ser atacada e isso pode parecer
loucura minha, mas é como me sinto.
- Alguém fez algo
para você ou insinuou alguma coisa?
- Diretamente
não, mas minha intuição me faz sentir como se
fosse um animal prestes a ser abatido e não sei
de você entenderia isso.
- Entendi sim,
mas quer mesmo voltar para a nossa casa em São
Paulo?
- Eu amaria poder
voltar e cuidar do que é seu lá. Posso?
- Mesmo eu
sabendo que sentirei demais a sua falta eu vou
te atender e chamar o Jonas para te levar e
ficar com você lá se é que isso a fará feliz.
- Nem sei como
lhe agradecer patrão. O senhor não nega que é
filho do doutor Douglas e da senhora Eduarda.
Deus lhe abençoe e proteja cada dia mais por
isso.
- Não sou seu
patrão. Você é parte de minha família mesmo que
ela hoje seja uma família bem menor, mas farei
isso por você antes de ir me exercitar.
- Mais uma coisa
jovem senhor! Não queria comentar isso, mas o
Jonas também se sente como eu me sinto, uma
presa prestes a ser abatido e devorado.
- Deveria ter me
contado antes, mas vamos resolver isso agora
mesmo. Venha comigo e iremos falar com o Jonas e
cuidar disso.
- Muito obrigada.
Saíram corredor
afora, cruzaram a ampla sala e foram para a
outra extremidade ainda dentro da casa sede e
chegaram até a ala dos funcionários que serviam
aos afazeres domésticos e ali, no corredor com
quartos dos dois lados viram meia dúzia deles
rondando a porta de onde era o quarto onde Jonas
dormia.
- O que fazem
aqui? Perguntou Pedro com energia.
- Nos preparando
para ir trabalhar jovem patrão. Respondeu uma
delas.
- Então vão e
daqui a pouco convoque todos que trabalham na
casa que irei ter uma conversa com vocês.
Não gostaram do
tom de voz de Pedro, mas respeitaram seu pedido
por temer Gustavo e se retiraram indo cada qual
atrás de seus afazeres e quando o último deles
saiu portal afora olhou e viu que Elenice já
havia chamado Jonas e notou que ele estava
pálido de medo.
- Bom dia Jonas!
Prepare suas coisas que voltarão para casa assim
que estiverem prontos.
- Bom dia e que
Deus lhe abençoe por isso patrão!
- Não sou patrão,
sou apenas seu amigo. Arrume suas coisas e quero
que arrume as suas também Elenice.
- As minhas já
estão prontas senhor!
- As minha também
senhor! Tinha combinado com a senhora Elenice
que iríamos embora daqui logo pela manhã nem que
fosse a pé, porque temos medo de ficar aqui.
- Não tem que ter
medo! Estavam seguros aqui comigo, mas como
minha adorada Nina como eu a chamo me pediu vou
sentir falta de vocês dois perto de mim, mas
voltarão para cuidar da nossa casa lá na
capital.
- Nem sei como
lhe agradecer senhor! Disse Jonas pegando suas
coisas e acompanhando Pedro e Elenice até o
quarto dela e ajudando a que pegasse as suas
coisas.
- Me esperem aqui
um pouco que só sairão depois de tomarem café,
mas antes disso quero resolver uma coisa e já os
chamo. Me aguardem aqui dentro por favor.
Entraram no
quarto e trancaram a porta. Pedro se virou e
voltou para ir ter com os funcionários da casa e
sem que percebesse seu avô estava saindo do
quarto, mas que havia esperada para ver o que
estava acontecendo aguardou e depois sem fazer
alarde seguiu Pedro para ver o que ele iria
fazer e o acompanhou pé ante pé até onde ele se
diria e apenas ficaria ali ouvindo sem que o
vissem.
- Quero saber o
que está acontecendo aqui? Perguntou
severamente.
- O que está
acontecendo? Perguntou um dos serviçais.
- Meu avô não
lhes informou que eles estavam sob a proteção
dele?
- Disse! O mesmo
serviçal respondeu.
- E mesmo estando
sob a proteção dele ousaram fazer com que eles
se sentissem como comida no prato de vocês?
- Não fizemos
isso! Respondeu uma moça que atendia na cozinha.
- Vamos
esclarecer uma coisa. Como vocês sabem sou neto
e único parente de Gustavo Santilena Spallucci
Spadonni e também como ele mesmo disse seu
herdeiro e sucessor, portanto exijo respeito e
disso não abro mão. Estou sendo claro?
- Está querendo
insinuar o que? Perguntou novamente o serviçal.
- Qual é seu nome
mesmo?
- Meu nome é
Ygor! Ygor Valunovisk.
- Pois bem Ygor
Valunovisk! Vou ser mais claro ainda. Como
herdeiro e sucessor de Gustavo Santilena
Spallucci Spadonni, eu Pedro Santilena Spallucci
Spadonni exijo que seja lá quem for que eu por
ventura traga para cá se trouxer que seja ou
sejam tratados como pessoas normais, sejam
humanos ou não e não aceitarei qualquer deslize
disso que estou ordenando. Entenderam agora?
- Quem manda aqui
é o senhor Gustavo pelo que eu sei! Respondeu
Ygor.
- Sei que é, ele
é meu avô. Merece e merecerá sempre o meu
respeito, mas será que você vai querer me
desafiar? Disse Pedro e neste instante seus
olhos mudaram e o tom cintilante de lilás para
arroxeado se destacou.
Nem precisou
fazer mais nada. De repente todos eles baixaram
a cabeça e se ajoelharam em sinal de respeito e
temor o que lhe surpreendeu, mas se manteve de
corpo ereto e demonstrando seriedade e rigidez.
- Levantem-se e
preparem o café, pois conseguiram afastar de mim
duas pessoas que eu conheci e conheço desde que
nasci. Eles vão embora com medo de ser devorados
por vocês, mas vou repetir, jamais cometam o
erro de tentar assustar ou ameaçar quem eu
proteger e aqui vou incluir até meu avô que
agora faz parte de minha proteção. Fui claro
agora?
- Sim supremo,
sim! Responderam todos baixando a cabeça.
- Agora, por
favor preparem um reforçado café para meus
protegidos e saibam que, se colocarem algo no
alimento deles eu saberei, assim como saberei
punir a quem fez isso. Agora vão.
Todos saíram para
seus afazeres e ao se virar Pedro deu de cara
com seu avô que baixou a cabeça em sinal de
respeito e orgulho de seu neto que o
surpreendera.
- Bom dia vovô!
- Bom dia meu
filho ou deveria chama-lo de mestre senhor?
- Para com isso
vovô.
- Vi o que você
acabou de fazer e mostrar para ele quem é que
manda aqui e me coloco entre eles.
- Quem manda aqui
é o senhor e não eu.
- Já estou velho
meu jovem menino! Estava na hora de mudar as
coisas neste lugar e estou feliz e orgulhoso de
que seja você e mais que isso, de ter deixado
claro para eles que não é simplesmente um
simples menino, ou garoto, mas sim um líder que
sabe colocar as palavras no lugar certo e tenha
a plena certeza de que isso já está sendo
passado de boca em boca para todos que trabalham
aqui e logo toda a rede de nosso grupo saberá
que o escolhido, ou a lenda do supremo está
acontecendo e lhe agradeço por sua proteção.
- Ah vovô! Aquilo
saiu sem querer.
- Não! Saiu da
boca de um líder e entenda uma coisa. Há uma
regra no seio dos lobos que diz que quando surge
um líder mais forte os mais fracos poderão
desafiar o alfa e ao fazer isso você me manteve,
se desejar em meu devido lugar e agora com a sua
proteção.
- Não sabia
disso!
- Você irá para o
treinamento hoje e verá como lhe tratarão lá,
mas ficará apenas até ás doze horas. Depois
voltaremos e iremos almoçar, comer javali e
faisões para depois irmos conhecer as outras
áreas da fazenda e lhe ensinarei oralmente tudo
aquilo que não ouviria nos treinamentos físicos.
Posso lhe dar um abraço agora mestre Pedro?
- Para com isso
vovô e é claro que pode. Estava precisando mesmo
de um abraço seu.
Abraçaram-se de
fato como se abraçariam avô e neto entre os
humanos e depois Pedro foi buscar Elenice e
Jonas para tomar café e lhes avisou que não
teriam mais que ter medo e que poderiam tomar
café tranquilamente sem medo de que tivessem
colocado nada dentro, porque ele havia deixado
claro o seu recado. Ambos se entreolharam e ao
chegar na copa sentiram a mudança, pois todos os
trataram com respeito e dedicação.
- Tem certeza de
que querem ir embora mesmo?
-Temos sim
senhor! Respondeu Elenice.
- Então vão e
saibam que já estou com saudade de vocês.
)
Elaine e Jonas
pegaram o automóvel da família Spallucci
Spadonni que fora adquirido por seu pai e depois
de se despedirem partiram para a capital e ao
chegarem no centro da cidade se sentiram
aliviados e cada quilometro mais longe da
fazenda mais a paz dominava cada um dos dois.
Cada vez mais
longe da fazenda Gustavo perguntou se ele
confiava nos dois ou se precisariam fazer algo
para manter tudo que havia na fazenda em segredo
e Pedro disse que não tinha receio de nada,
afinal ambos eram sozinhos no mundo, ou seja,
não tinham parentes e agora teriam apenas um ao
outro como companhia e que torcia para que ambos
se acertassem e um cuidasse do outro.
- Pedro! Você tem
uma alma boa que pensa muito com o bom estar das
pessoas. Para mim isso é e deve ser essencial
para controlar os dois lados da balança.
- Dois lados?
- Sim!
- O que quer
dizer com isso vovô?
- O que quero
dizer é que aqui mesmo no Brasil e na América do
Sul existem muitas alcateias e nestas algumas
ainda não foram preparadas para se adaptarem aos
humanos e em muitos lugares, com raridade tem
alguns perdidos, ou os licotrampos que continuam
atacando querendo um lugar melhor onde coexistem
na sociedade deles, ou nossos.
- E o que se pode
fazer?
- Eu nunca pode
fazer isso, mas você como supremo poderá
contê-los, portanto, se prepare porque a sua
missão ainda nem começou e sendo lobo ou humano
será isso que dizia a lenda sobre ti.
- Lenda de mim?
- É! Para minha
surpresa você foi o escolhido para controlar e
dominar a todos os lobisomens do mundo e se o
fizer, poderemos fazer os experimentos para
tentar transformá-los em humanos novamente.
- Quantos não
deram certo ou não conseguiram se adaptar com os
experimentos vovô?
- Poucos em
relação aos que aceitaram fazer.
- Quanto seria
estes poucos?
- Foram
quatrocentos e trinta e seis que não deu certo.
- Tudo isso?
- Sim!
- Porque não deu
certo?
- Rejeição do
corpo ou do emocional.
- O emocional
pode afetar?
- Pode sim! Veja
bem, os lobisomens teoricamente se tornam em um
de formas que já lhe disse. Podem ser na
raridade o sétimo filho de sete irmãos e não de
irmãos e irmãs. Por exemplo, uma família tem
seis filhos, meninos e meninas. Neste caso o
sétimo não tem chance de virar um ou uma. No
caso de uma família ter seis filhos, o sétimo
tem uma imensa probabilidade de ser um sem nada
que ele tenha que fazer para isso. No caso
inverso, se uma família tiver seis filhas e o
sétimo for um menino este também terá grande
probabilidade de ser. Já se no mesmo caso, se
uma família tiver seis filhas e a sétima for
menina a chance de que ela seja uma loba é bem
maior e ela será mais rápida, mas ágil, mais
forte e mais poderosa, mas isso é uma raridade e
ainda não conheci sequer uma em meus longos anos
nesta linhagem.
- Nossa! Tão
poderosa assim?
- Sim! Ela
praticamente já nasce um alfa e dominará mais de
uma alcateia e por fim existem os que são
mordidos e estes são os perigosos, pois atingem
quase os mesmos dons dos mega em força e não
querem ou temem perder sua força e longevidade
na vida e mesmo tomando tudo que dermos para ele
a mente parece congelar o desejo de serem
normais e acaba matando-os.
- E perdem a
força ou a longevidade mesmo?
- Nenhum dos que
tomaram e sobreviveram perderam. Não serão mais
imortais, mas terão uma longa vida pela frente a
partir dos medicamentos.
- Quantos anos
aproximadamente?
- Ainda não
sabemos, mas pelo menos uns cem a mais a contar
da data dos medicamentos.
- E a força.
Perdem também?
- Não! Quanto a
força não altera em nada.
- Então para
voltarem ao normal e tomando os medicamentos ele
só teria que cuidar do psicológico?
- Isso mesmo!
- Mais uma
pergunta! Todos os que trabalham na fazenda são
lobos tomando o medicamento?
- Sim!
- De quanto em
quanto tempo?
- Já são duas
perguntas, mas tem que ser tomado primeiramente
de seis em seis meses em um período de dois
anos. Depois de dois em dois anos e depois ainda
não chegamos a uma conclusão.
- O senhor já
está em que fase?
- Fui a cobaia!
Estou na segunda dose da segunda fase de dois em
dois anos.
- E se sente bem?
- Forte como uma
rocha e já fez outra pergunta! Respondeu Gustavo
sorrindo.
- Então mais uma
ou duas e paro! Tudo bem?
- Pode perguntar.
- Tem ideia de
quantos homens e mulheres lobos existem no
planeta?
- Temos
quatrocentos e quarenta e oito mil, novecentas e
trinta e três devidamente identificadas e
estimamos mais vinte e sete mil fora da
identificação.
- São muitos!
- Muitos mesmo e
posso lhe dizer que menos da metade está,
digamos domesticados.
- E acredita que
eu possa convencê-los a mudarem?
- Se você não
conseguir ninguém jamais conseguirá. Agora vamos
ao treinamento porque tem que estar preparado
pelo pior que deverá surgir a qualquer momento.
- Vamos!
Respondeu Pedro saindo acompanhado por seu avô.
)
Ao saírem para o pátio Pedro sentiu o que seu
avô lhe dissera dentro da casa de que todos os
que lá trabalhavam o veriam de outra forma e ao
passarem por alguns deles todos sem exceção
baixaram a cabeça em sinal de respeito.
- Eu não te disse que a notícia ia correr rápido
por aqui? Perguntou Gustavo sorrindo.
Pedro preferiu não dizer nada e se aproximaram
do segundo prédio e o segurança externo procedeu
da mesma forma e a imensa porta foi aberta de
imediato estando logo atrás Agnelo que desta vez
o recebeu com deferência.
- Bom dia senhor Pedro e Gustavo!
- Bom dia Agnelo, mas a ordem está inversa.
Vocês têm que cumprimentar primeiro meu avô, o
patriarca da minha família e depois a mim.
- Mas...! Ia começar a dizer Agnelo e foi
cortado por Pedro.
- Primeiro meu avô e depois a mim
independentemente de que ou eu quem seja.
- Sim senhor!
Gustavo não disse nada, mas intimamente sorriu e
sentiu outra vez orgulho de seu neto e também
sem nada dizer Pedro se dirigiu para o elevador
lilás e apertou a pequena luz.
Não deixou de perceber que todos os doze
seguranças baixaram a cabeça e ele mesmo
acompanhado de seu avô e de Agnelo desceram até
o andar vinte e sete onde a porta se abriu e
para sua surpresa todos os que trabalhavam
naquele andar estavam lá no enorme hall para o
saudar.
- Bom dia senhor Pedro! Disseram todos em coro.
- Bom dia, mas vamos consertar isso! Meu avô
sempre deverá receber os cumprimentos antes de
mim.
- Mas sabemos que é a pessoa da lenda, ou seja,
o supremo senhor! Disse Rebeka.
- Tudo bem! Posso até ser o supremo, mas quem
criou isso tudo aqui foi meu avô que é o
patriarca de minha família e jamais poderá ser
deixado para segundo plano e saibam que até
ontem eu era o protegido dele, mas a partir de
agora ele e todos vocês estão sob a minha
proteção. Fui claro.
- Sim senhor! Responderam em coro e novamente
baixando a cabeça.
- Doutora Rebeka! Quantos irmãos lobos temos
aqui para tomar os medicamentos pela primeira
vez?
- A primeira dose?
- Isso!
- Temos cinqüenta e três!
- Já tomaram?
- Não! Estão relutantes em tomar.
- Temos um espaço onde podemos nos reunir? Eu e
eles.
- Temos sim senhor!
- Ótimo! Conduza-os todos para lá que vou
conversar com eles.
Rapidamente um dos membros que auxiliava Rebeka
saiu dali e foi levar os resistentes para o
local indicado enquanto que cada um voltou aos
seus afazeres enquanto Rebeka conduzia Pedro e
Gustavo para se encontrar com eles. Chegaram no
local e Pedro pode constatar que era um
auditório o qual deveria ter em torno de mil e
poucos assentos e todos estavam dispersos.
- Senhores! Por favor gostaria que ficassem aqui
na frente lado a lado.
- Porque? Perguntou um deles.
- Porque estou pedindo, pode ser por favor?
O indagador ia dizer alguma coisa, mas vendo
todos obedecendo ele também se levantou se
juntando aos demais.
- Fiquei sabendo que vocês estão com receio de
tomarem o medicamento porque acreditam que ele
lhes diminuirá o tempo de vida ou que lhes
tirará os dons e a força que possuem hoje, mas
vocês conhecem bem e sabem que o alfa desta
imensa alcatéia que é o meu avô tomou as doses e
está aqui forte como direi, como um imenso lobo.
Disse isso sem querer citar lobo, mas isso fez
com que todos rissem e prestassem mais atenção
no que aquele garoto estava falando.
- Pois bem! Como eu disse meu avô, o patriarca
da minha família e o alfa desta imensa alcatéia
vem tomando as doses nas datas certas e está
aqui bem forte. Não perdeu a sua força e nem a
sua sanidade e se colocarem na cabeça que
manterão os dons e apenas começarão a ser mais
humanos que lobos, mesmo tendo a força e os dons
aí sim, tudo poderá dar certo.
- Mas muitos morreram após tomar este remédio!
Comentou um deles.
- Qual é o seu nome irmão?
- Valentin Kabler! Respondeu gostando do irmão.
- Conhecia algum deles?
- Conheci dois deles!
- E o que eles diziam antes de tentar?
- Medo! Estavam com medo.
- Medo do que?
- Medo de que desse errado e perderem os dons
que tinham.
- Você faz o que aqui na fazenda?
- Cuido do gado!
- E por acaso não tem medo de tomar uma
chifrada?
- Eu sei me cuidar!
- Não entendeu a pergunta. Eu perguntei se não
tem medo de tomar uma chifrada.
- É! Este receio sempre temos se nos pegarem
distraídos.
- Então você mesmo não querendo aceitar também
tem medo, não é?
- Pior que é! Respondeu Valentin sorrindo.
- Sabe o que é apoio moral?
- Não!
- E quando temos alguém do nosso lado nos
incentivando.
- Não sabia!
- Pois é! Se quiser fazer, estarei ao teu lado
te dando apoio moral.
- Está falando sério?
- Segundo eu ouvi um dizer um supremo não pode
mentir e mesmo antes de eu saber que eu deva ser
um deles, ou o da lenda como dizem eu também
jamais gostei de mentiras, mas se for tomar o
medicamento eu estarei lá com você. Prometo
isso.
- Se eu tomar e me curar eu poderei ter família?
- Esposa e filhos?
- Sim!
- Eu sou um exemplo disso! Meu avô tomou, se
regenerou, teve um filho normal e cá estou eu
aqui diante de vocês.
- Tudo bem! Eu vou aceitar e vou fazer, mas tem
que estar lá do meu lado.
- Estarei e se quiser ir agora eu nem irei
treinar.
Valentim de levantou, desceu os três degraus e
pediu para que Rebeka aplicasse nele fosse lá o
que fosse desde que Pedro estivesse lá e com
isso um a um foi fazendo fila para que todos
tomassem também.
Foram para a sala onde seriam aplicadas as doses
e tanto Gustavo quanto Rebeka estavam surpresos
por verem o que aquele menino nem bem saindo da
puberdade tinha o dom de falar e convencer os
mais radicais e Valentim de fato era o maior
deles que tomou a aplicação e logo depois pediu
se poderia dar um abraço em Pedro porque nunca
havia se sentido em uma família e ele provara
que além de família o tratou como irmão e seria
desta forma que ele seria dali em diante. Pedro
ainda permaneceu ali até que o último deles
tivesse sido medicado e fez questão de dar um
abraço em cada um deles para que sentissem forte
nos dias que viriam.
- Você é muito mais do que imaginava meu neto
querido!
- Que bom que pensa assim vovô, porque está
mudando também para a minha alegria.
)
Terminado ali Gustavo sem querer ouvir qualquer
desculpa praticamente arrastou Pedro para irem
almoçar e tudo que planejaram fazer naquela
manhã foi abortada por conta do que ele fizera
com maestria e Gustavo viu que Pedro em sua
jovialidade ganhara mais que o respeito dos seus
súditos. Pedro estava ganhando cada vez mais a
fidelidade sincera de todos.
- Agora almoçar e depois irei te mostrar a parte
interessante da fazenda. Disse Gustavo.
Chegaram na casa sede e depois de se assearem
foram almoçar e Gustavo percebeu que todos
estavam olhando para seu neto não com temor, mas
com mais respeito do que nunca dedicaram a ele.
Pedro acabara se impondo pela simpatia e bondade
e não pela força, porém, todos sabiam do poder
que ele tinha dentro daquele corpo forte, mas
ainda juvenil.
Almoçaram e saíram para conhecer os limítrofes
daquela imensa fazenda que se embrenhava serra
afora atingindo com certeza o gigante adormecido
como ele pareceu ter visto la de baixo e podia
ver que lá em cima, bem no alto nuvens cobriam
os montes dando um aspecto de lugar propício a
filmes de suspense. Sorriu ao pensar nisso, pois
adorava este gênero.
- Vou começar pela criação de faisões e dos
javalis que parecem gostar mais da temperatura
mais amena. Comentou Gustavo.
Subiram de um platô para outro e chegaram a uma
imensa área subdividida em cinco partes.
- Uma delas servia para a criação de faisões
rigorosamente fiscalizados. Outra para os
javalis também muito vigiados. Outra para pacas
e antas. Outra para os avestruzes e algumas emas
e finalmente a outra que fica dentro de um lago
é destinada a jacarés em uma área edificada e
bem segura para que eles não saiam dando shows
por aí. Explicou Gustavo.
- Pacas e antas?
- Sim! Isso para a alimentação dos ainda não
medicados, mas obedientes. Já os jacarés
servirão para se alimentar dos rebeldes.
- Tem coragem de fazer isso?
- Tinha coragem de fazer coisas piores até
conhecer a sua avó. De lá para cá eu me
regenerei, mas o medo deles serem jogados para
que os jacarés os devorem serviu de doutrina e
mudando de assunto, já comeu carne de jacaré?
- Não! Nunca e nem teria coragem.
- Nem eu, mas tenho clientes em especial que
pagam muito bem pela carne deles.
- Do Brasil?
- Alguma coisa para restaurantes indianos e a
grande maioria para a Europa. França Rússia e
Alemanha são os maiores clientes.
- E é legal a venda desta carne?
- Legal não seria bem o termo que eu usaria, mas
também ninguém se meteu para interferir na venda
e com isso fornecemos ainda alguma coisa, mas
temos mais jacarés do que ainda podemos
controlar e por isso mandei edificar um
verdadeiro forte interno para conter os bebês lá
dentro e eles também são alimentados pelo que
sobrou e sempre sobra muito do que sobra da
alimentação dos rebeldes e como temos muitas
pacas e antas os meninos nunca passarão fome.
Venha que irei te mostrar tudo isso.
Gustavo começou mostrando os faisões e a
quantidade que possuía ali era impressionante e
seu avô lhe disse que também mandava para
restaurantes no país e fora deles, mas para isso
tinha autorização e que era o mesmo caso dos
javalis que também era de se perder de vista o
que continha na área deles.
- Do que se alimentam os faisões?
- A alimentação
deles são à base de
vegetais, frutas,
raízes e até mesmo insetos.
Entretanto, como temos a criação voltada para o
abate e desejando acelerar o crescimento das
aves, as alimentamos com ração específica para
contribuir com o regime dos animais e ainda
mantê-los saudáveis e a ração é desenvolvida
pelo centro de pesquisas a fim de deixá-las
saudáveis para serem abatidas.
- E os javalis se alimentam do
que?
- Estes já se
alimentam de frutos, sementes, folhas,
raízes, brotos, bulbos, animais, fungos e
carniça. O javali pode pesar cerca de oitenta
quilos e medir em média de um metro e trinta a
um metro e quarenta. Já o javaporco pode pesar
mais de cento e trinta quilos com comprimento
médio de de um e trinta a um metro e oitenta.
- Qual a diferença entre um e o
outro?
- Do javali para o javaporco?
- É!
-
O javaporco é um híbrido do porco
doméstico e do javali.
A sua hibridação foi realizada de forma
intencional para consumo da carne e tudo isso é
também desenvolvido no centro de pesquisa que
controla tudo.
- Caramba vovô e do que alimentam
os avestruzes?
Estes são mais fáceis.
Alimentam-se de gramas,
sementes, insetos e pequenos animais tipo o
gafanhoto e cabe aqui informas que o
início da vida reprodutiva ocorre entre dois e
três anos de vida e cada fêmea põem de vinte a
sessenta ovos por ano e o período de incubação é
de apenas quarenta e dois dias. Por fim, quanto
a eles, as avestruzes vivem em média cinquenta e
podem atingir até sessenta anos de idade.
- E as pacas e antas?
- Estas são mais fáceis.
As antas por exemplo são animais
herbívoros que ingerem entre oito e nove quilos
de alimento por dia, incluindo folhas, ramos,
brotos, caules, cascas de árvores, plantas
aquáticas e frutos. Já as pacas são
um animal
noturno, ou seja, dorme durante o dia e fica
ativa pela noite. Sua dieta é a base de frutas,
folhas, vegetais, sementes e raízes. Destas, foi
observado sua preferência em cativeiro e na
natureza. Já na natureza, elas se alimentam de
frutas da estação como bananas, goiabas, manga,
jaca, abacate entre outros e baseado nisso, a
noite abrimos a porteira que rodeia um grande
terreno onde elas podem encontrar estes
alimentos para comer e depois voltam para o
local que saíram e podem medir cerca de setenta
centímetros e pesar até dez quilos e representa
um dos maiores roedores do país, perdendo, em tamanho
apenas para a capivara que temos em mente de
procriar também. Finalmente os jacarés o qual
sei que viria a sua próxima pergunta são
carnívoros vorazes, e gostam de tudo que veem
pela frente, como peixes, mariscos, mamíferos,
repteis até eles próprios um do outro e o que
cair no meio deles.
- Estes sei que são terríveis.
- Nem tanto! Um lobo feroz é muito mais terrível
que um jacaré sozinho, mas esta é a natureza e
veja a inversão. Um lobo jamais comeria um
jacaré, mas um jacaré saboaria um lobo com
prazer e finalizando ainda temos as vacas e
bois, além de alguns cavalos.
- Não tem galinha, estas coisas aqui?
- Até tínhamos, mas como estavam comendo eu
resolvi dar um basta na criação deste tipo assim
como patos, gansos e galos. Isso compramos nos
sítios em volta e na cidade, mas raramente
comemos assim como não costumamos comer ovos.
Pedro e seu avô seguidos por quatro seguranças
viram tudo nos extremos da fazenda e depois
voltaram para a casa sede e Pedro estava
impressionado com tudo o que vira por ali.
- Amanhã depois do treinamento te levarei para
conhecer a cidade e a região! Disse Gustavo.
- Só depois do almoço?
- Só e sem esta de deixar de fazer treinamento.
Sinto que coisa ruim vem por aí e terá que estar
preparado.
- O que está por vir vovô?
- Não sei. É intuição minha que eu deveria
enfrentar, mas agora será a sua missão.
- E irá me abandonar?
- Jamais! Somos sangue do mesmo sangue e estarei
ao teu lado para o que der e vier.
- Uma pergunta. Porque estes seguranças?
- Eu sei muito bem dar conta de qualquer
situação, mas existem perigos que não poderemos
jamais enfrentar sozinhos.
- Tipo?
- Caçadores de lobos.
- Tem isso aqui?
- Até hoje não porque acham que aqui tendo o
nome de terra de lobisomens eles acreditam ser
apenas lenda e nem se importam, mas aparecerá
logo um que acredite que estejamos por aqui e aí
é que teremos que nos precaver, mas saiba que
não apenas estes dois. Temos mais quinze que
fazem o trabalho de batedores e que não se
deixam ver facilmente.
- Terei que tê-los também?
- Prudentemente eu diria que sim. Agora vamos
tomar banho e jantar.
)
Se recolheram e antes de dormir Pedro pegou seu
celular e ligou para Elenice e respirou aliviado
quando ouviu sua voz do outro lado da linha.
- Alô!
- Você está bem Elenice?
- Oi jovem senhor! Estou bem sim e você?
- Estou bem também. Estava preocupado com você e
com o Jonas.
- Ele também está bem!
- Chegaram bem em casa?
- Chegamos sim!
- E está tudo em ordem por aí?
- Está e também estamos aliviados depois que
saímos daí. Foi muita pressão. Sensação de
ameaça e de pavor.
- Isso aqui tudo mudou de ontem para hoje! Já
não a mais aquela pressão e perigo anterior.
- Que bom para o senhor, mas prefiro ficar bem
longe daí deste lugar.
- Eu te entendo, mas qualquer coisa que precisar
é só me chamar, está bem?
- Sim senhor! Farei isso, mas volte logo para
casa.
- Verei e quando der irei até aí vê-los. Boa
noite!
- Boa noite senhor!
Desligaram o telefone e aliviado por saber que
eles estavam bem encostou a cabeça no
travesseiro e pensando no dia que tivera ainda
surpreso acabou adormecendo, mas teve um sonho
estranho que era sobre licotrampos invadindo
cidades e causando o caos. Não soube precisar
onde eram as cidades no sonho, porém isso o fez
acordar sobressaltado. Tentou dormir de novo e
não conseguiu conciliar o sono e o relógio não
marcava três da manhã quando se levantou, trocou
de roupa e saiu para correr um pouco e no pouco
percorreu um grande trecho da fazenda e chegando
no asfalto continuou e foi em frente.
Não tinha a menor ideia de onde estava e se
surpreendeu ainda mais porque seus olhos sem
saber como e nem porque iluminava o caminho como
se tivesse visão noturna e isso facilitou muito
o que estava fazendo.
A estrada estava boa e o silencio só era rompido
pelo som de grilos ou de animais noturno. Aguçou
sua audição, pois no silencio da noite e o local
sem iluminação alguma era ou seria propício para
assaltos ou mesmo ataques de algum animal
selvagem, mas estranhamente ele não estava com
receio ou medo de nada até que de repente ouviu
um barulho por trás da mata como se algo ou
alguém estivesse correndo por lá em sua direção
e mais alguns metros adiante isso se confirmou.
Do nada e de repente dois imensos homens lobos
saltaram diante de si. Cada qual de um lado e
pode constatar que pelo aspecto deveriam ser
licotrampos selvagens e parando esperou para ver
o que fariam.
Curiosamente um olhou para o outro e correram em
sua direção e sem saber como a energia que saiu
de dentro dele aparou a tentativa de golpe de um
deles e uma força desconhecida surgindo de
dentro de si agarrou a besta fera e a jogou
longe, porém, o outro conseguiu desferir um
golpe com as garras afiadas abrindo três cortes
profundos.
Olhou para baixo e viu os cortes e isso lhe
irritou e não sabendo nada e nem o como
ordenou-lhes que se prostrassem perante si e os
dois sentindo aquelas ondas enviadas por ele
pararam e ajoelhando ambos baixaram a cabeça
também sem entender nada.
- Vocês me seguirão e lá no meu destino verei o
que farei por vocês ou com vocês. Entenderam?
Não houve resposta, mas Pedro voltando nos pés
começou a correr no sentido inverso e notou que
os dois o seguiam obedientemente sem querer
atacá-lo. Sentiu um conforto dentro de si e
muito antes de chegar na fazenda saiu por uma
imensa área aberta na mata e deu voltas em torno
de si mesmo e notou que eles o seguiam por onde
ele estava indo. Sorriu intimamente e quando
chegou finalmente no pátio da casa grande notou
que um grupo enorme de seguranças sob a
coordenação de seu avô que estava aflito se
preparavam para sair a fim de tentar encontra-lo
já temendo pelo pior. Nada disse, mas parando
ordenou que eles se ajoelhassem e assim eles
fizeram e começaram a voltar a sua forma
semi-humana.
- Meu filho o que houve? Onde estava?
- Acordei muito cedo e resolvi correr um pouco.
- Sem segurança?
- Acredito que nem precisei não é vovô?
- Porque está com a camiseta rasgada como se
tivesse sido rasgada por garras?
- Onde?
- No seu abdômen!
Pedro baixou os olhos e outra vez surpreso viu
que os cortes feitos pelas garras de um deles
haviam cicatrizado e estava novo como era
anteriormente e desconversou momentaneamente.
- Resolvi lançar uma moda de camiseta rasgada
vovô!
Ninguém riu ou achou graça daquelas palavras.
Eram ou foram homens lobos e todos conheciam a
forma de rasgos como aqueles a mostra em sua
camiseta. Sabiam que Pedro havia sido atacado e
por baixo daquela camiseta rasgada deveriam ter
cortes profundos em seu corpo, mas nada havia e
aproximando-se Rebeka quis olhar mais
detalhadamente e nada viu de anormal ali a não
ser manchas de sangue na roupa.
- Me acompanhe sem discutir! São ordens médicas.
Apesar de não gostar do pedido a acompanhou
sendo seguidos por Gustavo e Rafael, mas não
antes de ordenar que os dois ficassem no mesmo
lugar e esperassem ele voltar. Entraram no
prédio do centro de pesquisa e foram até a sala
de atendimento de Rebeka.
- Tire estes trapos, por favor! Pediu ela.
Pedro tirou o que sobrou da camiseta e ao ver
aquele dorso nu diante de si seu olhar de desejo
tomou conta de seu interior e Rebeka teve que se
conter para não agarrar aquele jovem forte
diante de si. Gustavo e Rafael entenderam o
desejo dela e se entreolhando sorriram.
- O que aconteceu de fato?
Pedro não querendo enrolar contou o que
aconteceu desde que saíra da fazenda até ser
atacado por aqueles dois que o acompanharam na
volta em detalhes contando também que ali, no
seu abdômen deveria estar três cortes profundos
que já não existiam mais.
- Vamos fazer um exame prévio. Tire toda sua
roupa!
- Como? Perguntou Pedro surpreso.
- Tire tudo que sobrou de roupa em você.
Entendeu ou quer que eu desenhe?
- Quer que eu fique pelado, é isso?
- É! Vamos, vá rápido.
Apesar de constrangido Pedro a atendeu e viu que
tanto Rafael quanto Gustavo viraram de costas e
sem se importar deles estarem ali ou não Rebeka
foi examinando detalhe por detalhe daquele corpo
jovem, mas bem desenvolvido e quando mais descia
seu olhar mais excitada ficava, porém,
clinicamente fez o impossível para se controlar.
Estava no cio e por ordens dela mesma e de
Gustavo era terminantemente proibido qualquer
ato libidinoso entre todos que habitavam naquela
imensa propriedade e com muito custo ela
procurou colocar à frente do desejo de mulher
loba a sua vocação e desempenho de médica e
cientista. Rafael e Gustavo sem nada dizer
imaginando como estaria a cabeça dela sorriam
por dentro.
- Não consegui detectar qualquer indicio de
contaminação ou de danos que poderiam ter sido
causados por ataques de lobos ou licotrampos. A
meu ver você está melhor que qualquer um de nós
e agora pode se vestir.
- Quer que eu vista estas roupas sujas de
sangue? Perguntou Pedro tentando não rir.
- Não! Tenho roupas aqui de trabalho, só que
ficará sem cueca. Tudo bem?
- Está!
Finalmente Rafael e Gustavo se viraram e foi
cômico ver a cara de desejo de Rebeka que lutava
contra ela mesmo para se conter e não jogar o
corpo daquele menino homem sobre uma cama ou
mesmo no chão e soltar todo o desejo de loba no
cio sobre ele.
- Está difícil de se conter? Perguntou Gustavo
sorrindo.
- Nem me diga! Respondeu Rebeka tentando não
rir.
- Foram ordens médicas e curiosamente suas!
- É! Malditas ordens médicas. Está pronto e
confortável Pedro? Perguntou voltando a ser
médica.
- Sim senhora!
- Não me chame de senhora, por favor! Sou
Rebeka. Apenas Rebeka.
- Tudo bem Rebeka, apenas Rebeka. Respondeu
Pedro sorrindo.
- Agora saiam daqui e voltem para seus afazeres.
Disse tentando segurar o que estava sentindo.
Saíram e mal haviam chegado aos elevadores
Rebeka entrou na sua toalete intima e abrindo o
chuveiro tomou um banho gelado e foi se contendo
aos poucos e quando se sentiu bem se enxugou e
depois de vestir-se foi para a superfície.
- O que quer fazer com eles senhor? Perguntou
Rafael.
- Vamos ver! Podem se levantar.
Ainda sem entender onde estavam e o que faziam
ali ambos se levantaram e ficaram olhando para
Pedro em um misto de respeito e admiração.
- De onde vocês são? Perguntou Rafael.
Ambos não disseram nada e Pedro resolveu
intervir.
- Deixe isso comigo Rafael! Posso saber de onde
vocês são?
- De longe. Muito longe. Respondeu um deles.
- O longe muito longe pode não ser tão longe se
soubermos onde fica. Poderia me responder de
onde são?
- Kandália! Somos de Kandália.
- Kandália, na Índia? Perguntou Gustavo curioso.
- Sim! Responderam os dois.
- E o que estão fazendo aqui e como conhecem
nosso idioma?
- Sou Raj e este é Nabir! Conhecemos os idiomas
inglês e o português.
- E o que fazem aqui?
- Viemos em busca do supremo.
- E porque o encontrariam justo aqui?
- Não sabíamos, mas o encontramos, não foi?
- Já mataram algum humano?
- Não! Nunca, nos contemos até agora, mas
sentimos fome e não encontramos caça alguma e
por isso lhe atacamos e peço-lhe desculpas por
Nabir ter-lhe ferido.
- Me feriu?
- Foi! Disso eu me recordo.
- Como é Kandália? Existem outros iguais a vocês
lá? Cortou Pedro.
- Há sim!
- Quantos?
- Centenas!
- Homens lobos ou licotrampos?
- Não há nenhum homem lobo lá, só licotrampos.
- E qual a origem disso?
- Ninguém consegue explicar! Surgiu do nada e
foi crescendo. O que sei é que logo eles
começarão a sair de lá e a atacar os humanos.
- O que você acha disso doutora Rebeka?
Perguntou Gustavo.
- Temos que cuidar daqui onde estamos, mas não
podemos deixar que o mundo caia também.
- E o que sugere? Perguntou Pedro.
- Na minha opinião deveríamos ir para lá e
vacinarmos o maior número possível deles.
- Temos medicamento para quantos?
- Hoje temos quatro mil e duzentas doses que
seria o suficiente para nós daqui, porém,
podemos produzir mais e teríamos em torno de
cinco mil em trinta dias.
- Estariam sujeitos a serem medicados Raj e
Nabir?
- Por isso viemos senhor!
- Sabiam do medicamento?
- Não, mas um chamado nos disse que o supremo
estava aqui e arriscamos vir para saber se ele
poderia nos ajudar.
- Vamos fazer o seguinte! Serão aplicadas a
primeira dose do medicamento e uma equipe
voltará com vocês para Kandália e lá será
aplicada em mais pessoas. Fica bom assim para
vocês?
- Sim! Seria maravilhoso acabar com esta peste.
- Não é uma peste Raj e sim um desígnio de
sabe-se lá o que, mas iremos ajuda-los.
- Que Shiva lhes abençoe.
- Doutora! Prepare tudo. Aplique o medicamento
neles e depois de cinco dias prepare uma equipe
para ir para lá. Rafael, prepare um grupo de
segurança para acompanha-los. Irão até a capital
e embarcarão para lá no avião que temos do
grupo. Ordenou Gustavo.
Raj e Nabir seguiram Rebeka, Rafael foi escolher
alguns dos melhores seguranças e Pedro junto com
Gustavo entraram voltaram para a casa sede onde
Pedro foi tomar banho para depois se trocar e ir
tomar café com seu avô e depois veriam o que
fazer, pois para Pedro não havia mais nenhum dia
normal como era até a quinze dias antes.
)
- Vovô! Eu tive um sonho meio atribulado esta
noite e por isso fui correr um pouco de manhã.
Disse Pedro assim que ficaram a sós.
- Que tipo de sonho?
- Tipo de algo assim como aconteceu e sobre uma
guerra que está por vir onde muitos morrerão.
- Sonhou com isso?
- Sim!
- E por isso cometeu a loucura de sair de
madrugada sozinho?
- Mais ou menos isso!
- Sabia que se lhe cortarem a cabeça não daria
para que ela se recuperasse?
- Nem pensei nisso!
- Somos, digamos meio imortais, mas não eternos.
Também temos nossas falhas.
- É verdade, mas o que acha que deveremos fazer
neste caso da Índia vovô?
- Eu imaginava que isso aconteceria algum dia,
mas não em alta escala e temos o primeiro ápice
que precisa ser contido porque senão será uma
devastação total da raça humana.
- Acredita que a solução será mandar uma equipe
preparada para aplicar a dose de imediato?
- Veja bem meu filho! A nossa preocupação é aqui
com a cidade, estado e este país que eu adotei
como meu a muitos anos, mas não podemos esquecer
que o mal que vem de fora é mais difícil de
dominar. Primeiro, eu recomendaria que
enviássemos a nossa equipe para combater lá
enquanto cuidamos dos nossos daqui. Concorda?
- Totalmente!
- Então vamos agir como o combinado. Agora vamos
almoçar e depois ver os o que deu com dois
indianos que você arrumou, mas me diga,
arriscaria comer carne de jacaré?
- Vou tentar!
Foram para a copa e lá havia uma farta mesa com
várias coisas para comerem desde o tradicional
javali até a carne de jacaré além de salada,
batata frita, arroz e feijão. Se alimentaram e
Pedro se surpreendeu com a carne de jacaré que
além de ser uma carne suave se assemelhava a
carne de peito de frango.
- Não sabia que ela era tão tenra e saborosa
assim! Disse Pedro.
- Podemos coloca-la no cardápio a partir de
hoje?
- Podem sim! Muito boa, mas agora vamos lá ver
os novos amigos.
Saíram, cruzaram o pátio e logo estavam no andar
onde permanecia Rebeka trabalhando.
- Boa tarde doutora! Cumprimentou Pedro.
- Oi Pedro! Está melhor?
- Pronto para outra como diria um amigo meu.
- Não abusa porque você não é o Superman.
- Verdade! Vou conter meu ímpeto agora.
- Fará muito bem e é para o seu bem.
- Como estão os dois novos amigos?
- Repousando e aguardando para ver se não haverá
reação.
- Eles relutaram para tomar a dose?
- Nem um pouco. Na verdade, isso me surpreendeu,
pois demonstrou que eles de fato queriam se
curar e acredito que será fácil se eles
estiverem junto dos meus assistentes lá na hora
de aplicar nos demais.
- Tem ideia de quanto seriam?
- Segundo Raj são mil, quatrocentos e vinte e
sete detectados, mas levaremos duas mil doses e
teremos que voltar lá depois para reaplicarmos
por garantia.
- Quando eles estarão aptos para viajar?
- Amanhã mesmo, mas quero deixá-los aqui para
observação até lá.
- Tem receio de alguma reação?
- Teoricamente não, mas vá lá saber.
- Eles se alimentaram?
- Sim e como comeram. Parecia que não comiam
nada a alguns dias.
- Não deixe que lhes falte alimentos, por favor.
- Pode ficar tranquilo porque de fome eles não
morrerão e vamos ter fé que tudo dê certo e que
estejam bem no final do dia. O prazo é de até
doze horas para ver se dá negativo ou não.
- Em caso negativo o que acontece?
- Convulsões e morte em no máximo cinco minutos.
- Vamos torcer então para que o sistema do corpo
deles aceite. Obrigado doutora. Disse Pedro e se
retirando do local e já que estava no complexo
do centro de pesquisa quis conhece-lo por
completo e se surpreendeu de novo com o que eles
faziam ali que ia desde desenvolvimento
alimentício até o antídoto contra a raiva de
lobos, ou o medicamento como chamavam que não
passava de uma injeção contendo algo dentro que
os continham e teoricamente os curavam.
A tarde passou e Pedro não saiu do lado daqueles
dois indianos. Em um deles acabou dando febre,
mas que foi controlada pela doutora Rebeka e ele
adormeceu. A tarde caiu e a noite deu sinal de
vida e aquele era o momento crucial. Era a hora
de saber se dera certo ou não e para alegria de
Pedro que torcia por aqueles dois por volta das
vinte e uma horas eles estavam instáveis e sem
os riscos de regredir.
O tempo passou mais um pouco e faltavam dez
minutos para a meia noite quando haviam se
esgotado qualquer possibilidade de reação por
parte dos dois e teoricamente estavam limpos e
poderiam levar uma vida humana de novo. Rebeka
autorizou para que abrissem a porta da gaiola de
vidro como eles chamavam por ali e ambos saíram.
- Como vocês estão?
- Muito bem! Respondeu Raj.
- Sentem alguma coisa, alguma reação?
- Nenhuma!
- E você Nabir, o que está sentindo?
- Paz interior! Respondeu.
- Paz interior?
- Sim! Me sinto leve em corpo e alma.
- Acreditam que lhes fizeram bem o medicamento?
- Integralmente! Responderam.
- Vocês têm famílias?
- Acreditamos que ainda temos. Esposa e filhos.
- Recomendaria este medicamento para eles?
- Sim! Com certeza. Respondeu Raj.
- Sabem que daqui a seis meses tem que tomar
outra dose, não sabem?
- Sabemos sim! Responderam.
- A doutora já lhes informou de tudo e dos
procedimentos de agora em diante?
- Sim! Responderam.
- Estão com fome?
- Muita! Responderam.
- Já comeram carne de jacaré?
- Nunca! Responderam os dois.
- Então hoje irão provar uma nova iguaria, mas
se não quiserem terão mais opções. Vamos?
- Vamos porque a fome está nos matando.
Respondeu Raj rindo.
Subiram para a superfície acompanhados pela
doutora Rebeka que pela primeira vez foi
convidada para comer na casa central onde
entraram e Gustavo mesmo não tendo gostado nada
disse.
Raj e Nabir nunca haviam visto uma mesa tão
farta e se alimentaram com imenso prazer e
terminando de se alimentar Pedro lhes informou
que dali a dois dias seguiriam para a capital e
de lá, de avião da empresa, rumariam para Orissa
e de lá seguiriam por terra o restante do
percurso, mas ainda naquela noite para segurança
de todos eles passariam por nova observação e
assim foi feito e logo pela manhã foi constatado
que a aplicação dera certo e fora bem-sucedida.
Passaram ainda mais um dia no convívio de Pedro,
Rebeka e dos demais e no outro dia ainda de
madrugada partiram para a capital com vinte
membros da equipe de Rebeka e outros quarenta e
seis seguranças da guarda pessoal do grupo.
- Não sabia que haviam tantos seguranças aqui
vovô?
- Muitos! Temos muitos seguranças aptos para
atirar e todos com porte de armas.
- Para que tudo isso?
- O que você sonhou mesmo? Perguntou Gustavo
sorrindo.
- Ah tá! É verdade. Entendi.
Os dois indianos se foram junto com as equipes
clínicas e de segurança e com isso, Pedro,
Rebeka e Gustavo esperavam que com isso, a
infestação de homens besta fera de Kandália
fosse contida e se fosse eles teriam menos com o
que se preocupar no tocante à defesa da raça
humana e com isso a manhã passou sem mais nenhum
contratempo. Pedro foi praticar seu treinamento
e desta vez Rafael chamou mais dois assistentes
qualificados e novamente passadas quatro horas
os três estavam exaustos e Pedro aparentava sua
total disposição para enfrentar seus oponentes.
)
Saiu do treinamento assobiando, pegou o
elevador, chegou na superfície, foi para a casa
sede onde viu seu avô na varanda contemplando o
vale diante de seus olhos, não chegou até ele,
entrou e foi tomar banho e depois voltou para
almoçar.
- Vi você chegando e nem veio falar comigo!
- Desculpe vovô! Eu estava querendo tomar banho
e não quis lhe incomodar.
- Eu estava apenas olhando para o vale e
pensando no que construímos aqui durante estes
anos todos.
- Construímos não, não é vovô! Você construiu um
império.
- Não meu filho! Eu digo aqui mesmo na cidade de
Joanópolis e pode não parecer, mas foram muitas
coisas.
- Bem, pelo que eu vi foi muita coisa mesmo e
lhe dou os parabéns por isso.
- Sabe! Quando cheguei aqui já havia a lenda do
lobisomem como te contei e foi por isso que me
refugiei. A lenda existia, mas não havia de fato
um lobisomem. Pelo menos que saia matando ou
machucando os humanos normais.
- Não havia de fato um lobisomem?
- Havia e lenda e pessoas que diziam ter visto
um ou outro homem lobo, mas era apenas uma coisa
que acabou ganhando nome e virou lenda.
- E daí, como que foi isso?
- No ano de mil novecentos e oitenta e três
apareceu por aqui uma historiadora, Maria do
Rosário de Souza Tavares de Lima que percebeu
uma quantidade enorme de histórias que tratavam
de lobisomem e resolveu investigar o assunto
mais a fundo. Preparou uma tese que levaria a
integrar a Associação Brasileira do Folclore e
que posteriormente acabou resultando em um livro
de título lobisomem, mas de certa forma sem
fundamento.
- Interessante! Não é tão antiga assim então a
lenda, não é?
- A lenda na verdade, era apenas causos que
contavam aqui e acolá e isso me atraiu, mas
voltando ao assunto desta tese da historiadora
torna-se atrativo da cidade bastou um pequeno
salto que teoricamente teria surgido no arraial
de São João em vinte e quatro de junho de mil
oitocentos e setenta e oito se eu não estiver
enganado. Os causos começaram a surgir e
aumentar e mesmo tendo pessoas dizendo que viram
o bicho fera na verdade nunca foi comprovado que
havia um de fato e foi aí que entrei na história
e comecei a soltar ora um ora outros nos
arredores da cidade apenas para dar de certa
forma veracidade aos causos e foi aí que eles,
os causos se tornaram lenda assim como é o do
corpo seco.
- Estou impressionado com isso vovô!
- Eu tinha que me proteger e aos homens e
mulheres lobos que trouxe comigo e já nesta
época a doutora Rebeka havia produzido um algo
que deixava os meninos e meninas lobos mais
tranquilos, porém, a teórica tranquilidade de
meus meninos era e foi mais importante por temor
a mim, o líder da alcatéia que eu mesmo formei.
- O alfa o senhor quer dizer?
- Sim! O lobo poderoso, ou a fera cruel.
- E funcionou?
- Até agora sim, mas para minha surpresa e a de
todos, de repente você, um jovem humano surge e
dá vazão à verdadeira lenda entre os homens
lobos de todo o planeta que mudaria e mudará
tudo entre nós.
- O senhor diz do supremo?
- Isso e nenhum de nós conseguimos saber porque
o supremo seria justamente um humano restando
apenas a possibilidade ou única possibilidade de
que isso pode ter sido causado pelo medicamente
que eu tomei e pude procriar um filho humano que
casando com outra humana gerou você.
- É até engraçado isso, mas tem certeza de que
este supremo sou eu mesmo?
- Se não for então eu direi que você é um anjo
enviado do céu ou do inferno que veio aqui para
confundir as nossas mentes, pois os poderes dele
você com certeza têm.
- Será mesmo?
- Enquanto você tomava banho o Rafael o meu mais
fiel colaborador veio até mim e trouxe Radamés e
Hendira dois dos meus melhores guerreiros e os
três estavam arrebentados e cansados de tanto
apanhar de você.
- Eu não bati em ninguém. Só me defendi.
- Isso mesmo! Você foi nobre, mas eles não
pegaram leve com você e foi se defendendo que
deu uma surra neles.
- Hendira! Foi isso que o senhor disse?
- Sim! Ela é uma guerreira nata.
- É uma mulher?
- Uma loba mulher melhor dizendo.
- Nem percebi! Eles usavam roupas ninjas.
- Sempre usam para que não saiba quem são eles,
mas vou chama-los depois para que os conheça.
- Acho que me defendi pegando pesado com ela.
Tenho que me desculpar.
- Não faça isso jamais por aqui. Se desculpar
mostrará fraqueza e desonra para eles.
- Tudo bem! Na hora Radamés que mais parecia um
urso de tão grande e forte era o que eu mais
iria concentrar atenção, mas de repente Rafael
deixou os dois se exercitando comigo e Hendira
era uma endiabrada. Ágil e rápida como se fosse
uma cobra.
- Na verdade, Rafael achou que os dois deixariam
você cansado ou subjugado, mas vendo que você
não cansava ele entrou no treinamento e se deu
mal também. Riu Gustavo.
- Fico impressionado com estas coisas.
- Você fica! Imagine eu que o achava um
adolescente nerd e descubro que tinha uma
máquina em forma de gente dentro de minha
família, mas mudando de assunto hoje teremos
alguma novidade sobre o caso de seus pais.
- Sério vovô? Perguntou Pedro com um sorriso nos
lábios.
- Sim! Como lhe disse tenho uma rede de homens
lobos esparramados por aí e eles vasculham tudo
que é do nosso interesse e no final da tarde
Pietro virá até aqui e nos informará sobre o
ocorrido.
- Nossa! Não vejo a hora dele chegar.
- Então vamos almoçar porque não sei você, mas
eu estou com uma fome de lobo. Disse Gustavo
sorrindo.
- De lobo!
- É e a propósito, já comeu carne de anta e de
capivara?
- Nunca! Que gosto tem?
- A de capivara tem um sabor próprio, exótico
que é típico de animal de caça, porém, não dá
para compará-las com as carnes suínas ou
bovinas. Elas não apresentam estrias gordurosas
e tem uma cor vermelha forte, do tipo que agrada
e muito os homens lobos, porém, para realçar o
seu sabor tem que dar uma marinada mais ou menos
de um dia. Já a carne de anta, parece digamos
como se fosse a carne de vaca e não é muito
apreciada pelos homens lobos. A carne das pacas
tem o sabor suave e levemente adocicado com
baixo teor de gordura e é rica em proteínas,
cálcio e fósforo.
- Acho que aprendi aqui nestes dias mais do que
aprendi nas escolas desde que entrei nelas.
Falou Pedro soltando um leve riso.
- Bem vamos almoçar porque senão vou acabar
soltando o lobo que está guardado dentro de mim
e vou morder a sua orelha. Falou Gustavo
simulando que ia correr atrás de Pedro.
Foram para a copa e ali, sobre a mesa haviam
vários pratos diferenciados, porém, Gustavo
havia pedido para que colocassem diante de cada
recipiente que tipo de carne era para que Pedro
pudesse provar ou se servir mais caso desejasse.
Se alimentaram e depois foram até a enorme
varanda de onde avistava-se o vale e ficaram ali
sentados com Gustavo contando muito mais sobre
as suas origens e mais sobre o que ele tinha em
mente de criar ali na fazenda de animais
exóticos próprios para alimentação, mas em
momento algum ele citou galinhas, patos ou outro
animal doméstico.
)
A tarde passou pelo ponto de vista de Pedro
muito devagar, mas passava pouco das dezesseis
horas quando um automóvel ultrapassou o portão
de entrada da fazenda e seguiu em direção à casa
sede. Pedro e Gustavo os aguardavam cada qual
com seu jeito de sentir os sentimentos. Pedro
era de agonia por saber algo de seus pais e
Gustavo por saber os motivos que levavam ao
culpado.
Saíram da varanda e foram recepcionar Pietro que
trouxera com ele uma jovem de rara beleza que
impressionou Pedro por ela acima de tudo ter um
rosto como se fosse de porcelana, ou seja,
esculpido à mão.
- Seja bem-vindo ao nosso cantinho meu amigo
Pietro!
- Obrigado velho amigo, se bem que ainda somos
dois meninos!
- Flavinha! Cada dia mais linda. Seja bem-vinda.
Este é Pedro, meu neto.
- Então este é o garoto da lenda? Perguntou
Pietro.
- Calma Pietro! Muita calma.
- Boa tarde senhor e senhorita! Cumprimentou
Pedro sem tirar os olhos de Flávia.
- Muito prazer! Meu nome é Flávia e como papai
já informou sou filha dele. Respondeu Flávia
dando um leve sorriso.
- Não acha ela linda Pedro?
- Muito linda! Soltou Pedro sem querer e
encabulando assim como a ela também.
- Bem vamos deixar de isso de linda ou não
porque senão vamos arrumar namoro aqui e o
objetivo ainda não é este. Disse Gustavo desta
vez sorrindo muito.
- É verdade! Vamos ao que nos trouxe aqui.
- Vamos descer até meu escritório e ver o que
tem para nos informar. Pediu Gustavo.
Desceram com Gustavo na frente, seguido por
Pietro, por Flávia e depois por Pedro que não
parava de admirar Flávia por completo. Rosto,
seios, altura, olhos e corpo num todo. Era
perfeita pensou ele, mas foi interrompido por
Pietro que informou que ela atinha acabado de
completar dezessete anos.
- Ah sim! Tá! Tudo bem! Sim senhor! Respondeu
Pedro sem graça por ter sido flagrado.
Entraram na rustica, mas bem montada sala de
Gustavo e este pediu para que se sentassem.
Pedro cordialmente puxou uma cadeira para Flávia
que sorriu agradecida e deu-lhe um sorriso em
troca disso que ele sentiu como se fosse o riso
mais maravilhoso que já vira em sua vida.
- O que tem para nos informar? Perguntou Gustavo
com Pedro sentado ao seu lado.
- Lembra-se de
Vladislav Ivanov?
- Sim! O que tem ele?
- Se queria saber sobre o mandante agora já
sabe.
- Você quer dizer que o maldito do Vladislav
Ivanov é o responsável pelo assassinato de meu
filho, minha nora e dos tripulantes?
- Sim! Ele mesmo.
- Porque?
- Porque ele te odeia! Apenas isso.
- Eu devia ter dado um jeito nele quando podia,
mas porque ele fez isso? Saberia me dizer?
- Segundo eu soube de fontes limpas ele teria
alguns motivos. Um deles seria o hotel que você
tomou dele.
- Tomei o hotel dele? Como assim?
- Ele alega que o hotel era do interesse dele e
você foi lá e o comprou.
- Eu nunca soube que ele queria comprar aquele
hotel.
- Pois é! Ele queria, segundo ele e você o
comprou apenas para provoca-lo.
- Mas nem em sonhos eu faria isso. Que cara mais
filho da puta! Disse Gustavo.
- Porém, o principal motivo teria sido de você
ter roubado dele Antonella, a mulher da vida
dele e depois tendo-a devorada.
- Também não roubei nada dele. Estávamos
apaixonados e o que aconteceu foi uma tragédia
da qual eu jamais irei me perdoar.
Apenas ouvindo a conversa Pedro e Flávia se
entreolharam sem saber o que dizer ou fazer,
pois de fato era uma coisa inexplicável aquilo
sobre homens lobos, ou lobisomens.
- Por causa disso,
Vladislav, lá no passado jurou se
vingar em você nem que tivesse que esperar
séculos e foi isso que ele fez a poucos dias
atrás e a intenção dele era ter eliminado também
seu neto Pedro.
- Maldito! Eu o julgava meu amigo tanto que lhe
dei as doses do medicamento que desenvolvemos e
aperfeiçoamos durante anos.
- A propósito eu jamais poderei lhe agradecer
por causa disso. Graças a ele eu pude me
humanizar novamente e conseguir procriar minha
linda filha.
- Ela sabe sobre a nossa vida anterior no tempo?
- Sabe sim! Jamais esconderia isso dela e sei
que ela é cem por cento humana.
- Meu neto também é! Pulou uma geração e ele me
surpreende hoje por ser quem ele é, mas voltemos
ao assunto. Quanto de certeza que tem do que
acabam de me informar?
- Cem por cento!
- Onde ele se encontra hoje?
-
Vladislav é um homem difícil de
ser encontrado. Pode estar tanto na vila em que
vocês nasceram próxima à Mântua, até estar aqui
ao lado na cidade de Extrema ou de Piracaia.
- Onde ele foi localizado pela última vez?
- Estava em um castelo semi em ruínas na cidade
de Modena que segundo me foi informado ele
mantém a aparência de estado decadente, mas por
baixo tem um verdadeiro sistema de informações e
um laboratório que cria vírus para mexer com os
corpos humanos transformando-os em monstros.
Não trocaram palavras, mas Gustavo olhou para
Pedro e pensaram nos indianos que tinham
apareceram por ali.
- Vírus? Perguntou Pedro entrando na conversa.
- Sim meu jovem! Segundo relatos ele estão
criando alguma coisa para aplicar em seres
humanos de lugares pequenos e lá, nestes
lugares, teoricamente a população acaba em
alguns dias ou horas se transformando em
licotrampos e saem devorando os humanos que
encontrarem pela frente, mas claro que isso é
apenas um boato e nem dei atenção para isso.
- E se eu lhe disser que sei de um local que ele
soltou este vírus? Falou Gustavo.
- Isso não existe meu velho amigo!
- Existe! Ele soltou isso em um vilarejo lá na
Índia.
- Não acredito que ele tenha conseguido isso.
Disse Pietro arregalando os olhos.
- Pior que conseguiu!
- Meu Deus! A raça humana não suportará isso.
- Vamos tentar impedir isso, mas primeiro
preciso de informações sobre o local que ele
montou este laboratório e tentar acha-lo e
quando eu o encontrar o eliminarei com as minhas
próprias mãos.
- Não vovô! Isso já é uma coisa pessoal minha.
Sabe que não gosto de violência, mas estes dois
atos que ele cometeu não merece perdão.
- Calma que vamos resolver isso juntos, mas me
diga o que ele usou no avião que estava meus
entes queridos?
- Pelo que eu descobri é uma arma experimental
feito pelas indústrias bélicas da China e o
primeiro teste foi justamente para atender aos
propósitos dele.
- Uma arma que desintegra um avião? Perguntou
Pedro.
- Uma arma que pode desintegrar qualquer coisa e
até coisa maior que um avião jovem.
- Vovô! Temos que encontrar este monstro.
- Encontraremos! Pode ficar tranquilo. Isso é
ponto de honra para mim e Vladislav não irá
escapar de sua punição que lhe é devida.
- Quanto a mim nobre amigo, colocarei todos os
meus informantes e colaboradores na caça dele
imediatamente.
- Obrigado meu amigo por sua colaboração.
- Quanto a você jovem! Como vi seus olhares para
minha filha e ela retribuir, se quiser vê-la ou
até namorá-la, se ela quiser é claro, tem a
minha permissão para isso.
- Papai! Disse Flávia baixando a cabeça corada.
Pedro por outro lado não sabia o que dizer e
isso acabou fazendo tanto Gustavo quando Pietro
acabarem rindo do embaraço dos dois.
- Pedro fará aniversário em breve e farei uma
festa para ele aqui e antecipadamente os convido
para virem.
- Será dezessete dias antes da lua cheia?
- Sim! O que tem isso?
- E ele fará dezessete anos?
- Sim! Algum problema quanto a isso?
- Não! Apenas um comentário bobo meu.
- Se vierem pode ter certeza de que serão
bem-vindos.
- Pode aguardar que viremos sim! Agora temos que
ir.
Se despediram e tanto Pedro quanto Flávia
trocaram olhares indecifráveis. O de Pedro não
era de amor, pelo contrário, era de puro desejo.
Quanto ao de Flávia também não era de amor, mas
sim de algum tipo de atração e mais ainda por
ele ser ou devendo ser o supremo.
Anselmo acompanhou-os até o automóvel e aguardou
até que eles saíssem da visão daquele lado da
casa sede e imediatamente retornou até onde
Pedro estava e ficou olhando para ele sem dizer
nada. Sabia o que passava pela cabeça de seu
neto bem como entendeu bem o que passava pela de
Flávia. Não havia a chama do amor em ambos, mas
sim apenas o desejo cada qual da sua forma ou
maneira.
- O que faremos agora vovô?
- Primeiro vamos começar a cuidar de sua festa
de aniversário e ver quem deseja convidar e pode
ser seus amigos lá de São Paulo que se não
tiverem condução para trazê-los mandaremos
busca-los.
- Acha certo isso?
- De convidá-los ou de mandar trazê-los?
- Os dois!
- Depende apenas de você e não de mim.
- Não acha arriscado trazê-los até aqui?
- Você tem receio de que não seja uma boa ideia?
- Não disse que não queria se expor?
- Disse!
- E abriria mão disso por mim?
- Você é acima de tudo meu neto e meu único
parente, além de ser um jovem que eu admiro
muito, portanto, faria e farei se você desejar.
- Não vovô! Vou respeitar a sua intenção de
ficar sem se expor para outros que poderiam
começar a comentar sobre a fazenda ou o risco de
verem aqui o que não deveriam ver.
- Obrigado por isso meu filho, mas eu não vivo
em uma caverna. Também saio daqui para ir na
cidade e raras vezes para a capital também.
- Isso é verdade e por falar em ser verdade
ainda me deve a ida até a cidade para conhecê-la
melhor e quem sabe até o prefeito Orlando.
- Sei! E também a Angelina, não é?
- O senhor quem disse e não eu. Respondeu Pedro
sorrindo.
- Vai convidá-lo para o meu aniversário?
- Pelo mesmo motivo que você alegou de seus
amigos, acho melhor não ainda. Não na verdade
como dissemos a pouco a dezessete dias antes da
véspera de lua cheia.
- Teme por algo então?
- Nunca se sabe, não acha?
- Verdade! Melhor não e afinal são apenas mais
um aniversário.
- Não é apenas um simples aniversário e você
sabe bem disso.
A tarde findou, a noite chegou, se recolheram e
sem nenhum contratempo a noite passou e na
madrugada uma forte chuva caiu sobre eles o que
adiou a ida dos dois para a cidade o que
frustrou Pedro mais uma vez, mas ele não tinha
pressa. Esperaria pela hora certa e mais uma vez
o dia passou tranquilo e Pedro apenas fez o seu
treinamento normalmente deixando de novo seus
opositores quebrados de tanto tentar pegá-lo de
jeito.
Mais outro dia chegou e o líder do grupo de
segurança que acompanhavam os assistentes de
Rebeka ligaram e disseram que com a ajuda e
apoio de Raj e Nabir mais da metade dos
infectados já haviam recebidos o medicamento,
porém, a notícia ruim era que muitos humanos
foram mutilados pelos infectados e dois deles
não resistiram ao medicamento e morreram, mas
isso não chegou a abalar os que queriam a cura.
Por outro lado, Pietro ligou e disse que
Vladislav havia sido visto em Viena e no outro
dia em Londres e com isso estava sendo
dificultado a sua localização precisa.
- Que tipo de pessoas estão caçando Vladislav?
Perguntou Gustavo quando estava sozinho.
- Homens lobos de extrema confiança!
- São preparados para tudo?
- Sim! São uma espécie de soldados que o caçam!
O quer que eu faça se ele for localizado?
- Nem preciso dizer, preciso?
- Não quer você mesmo fazer isso?
- Não! Não vamos correr o risco de ele escapar
novamente e a sentença dele já está definida e
sabe o que fazer depois que cumpram a missão,
não sabe?
- Ela será entregue em uma bandeja para você
velho amigo! Pode contar com isso.
- Conto com você meu amigo! Respondeu Gustavo
desligando.
Desligou o telefone e ainda ficou ali parado
pensando nele e em Vladislav. Eram amigos de
infância, da velha infância. Brincavam de todos
os jeitos que dois meninos costumam brincar até
que quando Gustavo estava se transmutando
Vladislav mão entendeu nada e para não o ferir
Gustavo preferiu se trancar por trás de uma cela
no porão de um velho castelo.
Vladislav ficou ali do lado do amigo a noite
toda vendo a transmutação de e impressionado
ficou por ver aquele pequeno amigo se
transformar em um lobo imenso e feroz. Não teve
medo, mas sentiu desejo de ser igual, pois via
além da ferocidade a força que seu amigo
adquirira e quando pela manhã voltou ao normal
ali estava ele sentado apenas o olhando.
- Nikolai! Quero ser igual a você. Pediu.
- Você está doido Vladislav?
- Não! Vi o poder e a força dentro de você e
também quero isso.
- Para que fosse parecido comigo eu teria que te
morder acho eu.
- Então que me morda! Quero a imortalidade
também.
- Não sou imortal! Também posso morrer.
- Não importa! Me prometa que atenderá ao meu
pedido.
- Pela amizade que temos de anos não posso fazer
isso.
- Vou te contar um segredo! Eu estou com uma
doença que está me consumindo a meses e não
quero morrer e acho que este seu dom irá me
ajudar a viver mais tempo.
- Não sabia disso! Porque não me contou?
- Não percebeu que estou emagrecendo cada dia
mais e mais?
- Isso eu percebi e até ia comentar contigo, mas
acabou passando porque você nunca me deu uma
brecha para eu comentar sobre isso.
- Pois é! Não sei quanto tempo ainda tenho de
vida e não quero morrer. Por favor, me ajude a
acabar com isso.
- Sabe que isso não tem mais volta, não sabe?
- Sei!
- Estará amaldiçoado pelo restante de seus dias,
também sabe disso, não sabe?
- Sei!
- Não poderá mais ter amigos mortais por perto
de sua transformação, sabe disso, não sabe?
- Sei sim!
- E está disposto a abrir mão de sua humanidade
por isso?
- A minha humanidade terminará em poucos dias,
meses ou horas. Me ajude, por favor.
- Tudo bem! Amanhã à noite eu me trancarei aqui
de novo e irá me ajudar a me amarrar para evitar
eu te destroce. Concorda?
- Concordo sim e se acabar comigo melhor ser por
um amigo do que por causa desta maldita doença.
- Se deseja assim em nome de nossa amizade eu o
farei, mas pense bem porque depois não haverá
mais cura. Fui claro?
- Foi sim e quero mesmo isso!
- Então à noite farei a sua vontade.
Tudo isso passou pela cabeça de Gustavo que na
verdade era Nikolai em poucos segundos. Não
contara a verdade de sua origem para ninguém e
eram raros os que sabiam de seu nome verdadeiro,
porém, esperava ter a oportunidade de contar
para Pedro o mais rápido que pudesse.
Também não nascera na Itália e sim em um pequeno
povoado no leste da Rússia, hoje Ucrânia e
depois das atrocidades que cometera Nikolai
Volkov migrou de um lado para o outro sempre
cometendo atrocidades por onde passara até ir
parar na Itália onde adotou o nome de Gustavo
Santilena Spallucci Spadonni que na verdade era
Gustave e readaptado no passado para o nome que
usara por centenas de anos.
Já Vladislav nunca se preocupou em mudar de
nome, pois o seu desejo íntimo era o de matar
sem medo de que fosse atingido e acabou ficando
ainda mais violento quando Nikolai tomara para
si e depois supostamente matou a mulher que ele
amava. Não sabia desta ira que ele guardara por
séculos, mas quando descobriram o medicamento
que dava a eles o direito de poderem conter o
ímpeto da besta sem pensar ofereceu a provável
cura para que Vladislav tomasse e mesmo ele
tendo sofrido por quatro dias seguidos acabando
se recuperando e ficando mais humano na vida,
mas na essência acabou ficando ainda mais
destrutivo que era antes e agora queria
destruí-lo.
Nem sabe quanto tempo ficou ali recordando o
trágico passado que o prendia à Vladislav, mas
teve a oportunidade de acabar com a vida dele
mais de uma vez, porém, algo daquela velha
amizade o impediu de concretizar a oportunidade
a ele dada.
Vladislav tomando o medicamento e se recuperando
parou de atacar os humanos e se reeducou, porém,
ainda tinha possibilidade de transformar em
homens lobos aos humanos normais, mas ele
preferiu montar um verdadeiro exército que o
servia cegamente e a única pessoa que passava
pela sua cabeça era a destruição de qualquer um
e agora Gustavo sabia que ele possuía um
laboratório com a finalidade de criar vírus
mortais e estava usando-o em lugares improváveis
em qualquer lugar do planeta e não duvidava que
ele ousasse vir para perto dele para destruir
tudo que estava ao seu lado. Ele tinha que ser
detido e exterminado e disso não restava a menor
dúvida.
Tinha que dar um jeito naquela situação e daria
sem dó nem piedade, pois não permitiria que
aquilo que ele criou respingasse por ali onde
eles estavam e nem em lugar algum. Ser um homem
lobo ou um lobisomem era uma coisa, mas sair
destroçando tudo e a todos como ele fez em um
passado negro de sua vida isso ele não aceitava
e nem aceitaria mais.
Passou horas e mais horas pensando nisso e
faltava pouco para clarear quando deu uma leve
cochilada, pois queria acordar cedo para começar
a cuidar da festa que daria para Pedro e disso
não abriria mão de forma alguma.
)
Pedro acordou quase no mesmo instante que seu
avô pegara no sono no quarto próximo do seu.
Levantou-se, tomou banho, se trocou, tomou café
e foi animado para o prédio ao lado da casa
sede. Cumprimentou o segurança que estava do
lado de fora. A porta se abriu e lá estava
Agnelo. Cumprimentou-o e aos seguranças
internos. Apertou a luz, a porta se abriu e ele
desceu sozinho até o imenso espaço onde Rafael e
desta vez outros quinze ninjas o aguardavam.
- Vai apelar é? Perguntou sorrindo.
- Precaução senhor!
- Fazia isso com meu avô?
- Não! Se eu fizesse isso ele me jogaria para os
jacarés. Respondeu sorrindo.
- Não acha exagero quinze ninjas?
- Corrigindo! Quinze ninjas e eu.
- Não vai querer dar moleza hoje é?
- Nunca dei senhor, mas apanhar cansa.
- Eu nunca bati em vocês!
- Sei disso, mas as suas defesas também machucam
sabia?
- Vai amarelar Rafael?
- Nunca! Vamos.
- Vamos!
Foram cinco horas sem interrupção de treinamento
da pior espécie que uma pessoa normal poderia
passar e ao final disso todos estavam extenuados
e com sede. Muita sede.
- Chega ou quer mais?
- Você é normal senhor?
- Dizem os exames da doutora Rebeka que sou,
porque?
- Porque parece mais uma máquina que um ser
humano e te garanto que nem os homens lobos são
como o senhor em agilidade, força e
inteligência.
- Pode parar de me puxar o saco porque sou
apenas um menino.
- Então vou começar a me preparar para quando
crescer. Respondeu Rafael sorrindo.
- Quantas garotas tem nestes quinze?
- Já vai descobrir! Vuks!
Rafael pronunciou a palavra Vuks e imediatamente
eles se postaram em sinal de prontidão e
respeito.
- O que é Vuks?
- Vuks é o mesmo que lobos em Croata.
- Gostei!
- Vuks retirem a veste da cabeça.
Rafael virou de costas e imediatamente um a um
foi retirando o véu e mostrando seus rostos e
para surpresa de Pedro todas eram garotas.
- Todas são garotas?
- São! Na verdade, mulheres lobas e guerreiras.
- São meninas ainda!
- Meninas! A mais nova delas tem idade para ser
sua tataravó no mínimo senhor!
- Está brincando não está?
- Não!
- Tudo bem, mas porque colocou um grupo com
quinze garotas?
- Porque elas são mais rápidas e perigosas de
toda a legião que temos na matilha com poder de
destruição letal.
- Espera aí! Você colocou estas garotas para me
matarem?
- O senhor está morto?
- Não!
- Tenho permissão para expressar minhas
palavras?
- Tem!
- Se está vivo então não enche! Respondeu.
- Fazia isso com meu avô também?
- Fazia sempre, só não dizia para ele não me
encher. Respondeu sorrindo de leve.
- E se elas tivessem cortado meu pescoço?
- Jamais fariam isso, porque em treinamento
contra os alfas elas são proibidas de fazer
isso.
- E se tivesse uma má intencionada:
- Se tivesse uma má intencionada a esta hora já
teria servido de comida para os jacarés.
Respondeu sério.
- Deram o máximo delas?
- Deram! Eu também.
- É sempre assim com você?
- Me perdoe, mas fui preparado por seu avô para
não ter dó e nem piedade nos treinamentos.
- Alguma vez ele fraquejou?
- Nunca e pelo que vi se for treinar com ele
seria difícil saber quem cansaria primeiro.
- Qual sua avaliação quanto a mim?
- Isso terei que passar para o doutor Gustavo e
para a doutora Rebeka antes de que saiba.
- Nem vou falar nada então! Normas são normas e
regras são regras e não serei eu que as mudarei
por enquanto.
- Obrigado por entender senhor!
- Senhoritas! Foi uma honra treinar com vocês!
Disse Pedro fazendo uma referência tipo em
japonês.
Saiu sem dizer nada e nem percebeu que elas se
entreolharam e sorriram agradecidas pelo
tratamento a elas concedido. Pedro sem saber
disso pegou o elevador, subiu e se encontrou com
seu avô na varanda da casa sede.
- Você está bem vovô?
- Estou! Quase não dormi a noite e peguei no
sono o sol já estava quase saindo. Como foi no
treinamento.
- Acho que bem! Rafael colocou quinze garotas
ninjas para treinar comigo.
- Quinze?
- Sim!
- Garotas?
- Pareciam ser, apesar dele dizer que eram mais
velhas que a minha tataravó.
- As Vuks?
- Foi o que ele disse!
- Tem certeza de que eram as Vuks?
- Não sei, mas pedi para vê-las e ele ordenou
que elas tirassem as toucas ninjas.
- E elas tiraram?
- Sim!
- Como eram elas?
- Aparentemente jovens. Asiáticas, da Europa dos
lados escandinavos, uma deveria ser africana,
algumas deviam ser russas ou croatas, uma tinha
uma cicatriz embaixo do pescoço e outra tinha
uma cicatriz próxima da orelha.
- Reparou nisso tudo?
- Sim!
- As duas das cicatrizes são Herta e Ingrid, mas
confesso que nunca vi os rostos delas e se os
viu é porque elas têm certeza de que é o supremo
mesmo, pois jamais mostrariam para quem quer que
fosse e nem eu ousei vê-las.
- Porque?
- São verdadeiras armas de guerra, imbatíveis e
não deixa ninguém ver seus rostos.
- Nem o Rafael?
- Você viu ele olhando para elas?
- Não! Na verdade, ele virou de costas quando
pediu para que elas tirassem a touca.
- Ninguém jamais ousou isso e se elas tiraram é
porque a partir de hoje morrerão por você.
- Vovô! Sou apenas um garoto da cidade grande.
- Grande é o seu potencial, isso sim, mas tenho
que ter uma longa conversa com você e quero
tê-la logo depois que tomar banho e almoçar
contigo. Hoje teremos rãs no cardápio. Já comeu
isso?
- Isso já! Meu pai me levou uma vez para pescar
e tinha isso lá e ele me enganou dizendo que era
frango e eu acreditei.
- Penso em criar isso aqui também! Agora vá
tomar banho que estou com fome.
Pedro se retirou e Gustavo ficou ali sentado em
uma cadeira na varanda olhando para o horizonte.
Estava cansado e sentindo o peso dos longos
anos. Era hora de passar o bastão e tinha o
melhor de todos para passar que era seu neto e o
homem das lendas dos lobos.
Iria contar toda a verdade para Pedro e nem
sabia como ele reagiria, mas não poderia mais
guardar segredos ou fatos imprecisos dele. Pedro
tinha que saber que na verdade não havia tido
avôs e pais lobos na família. Ele fora o
primeiro e foi o causador de muita desgraça e
destruição no decorrer dos séculos. Ele era o
primeiro e único desde a origem do mal na
família e tudo o que aconteceu no decorrer dos
anos foi culpa de si próprio.
Pedro voltou e foram para a copa almoçar e desta
vez Pedro comeu mais que seu avô e lhe perguntou
porque ele estava preocupado, porém ele
desconversou e disse que diria tudo lá no
escritório dentro de pouco tempo e assim
aconteceu. Terminaram de almoçar e foram para o
escritório que Gustavo usava quando queria
tratar de algo sigiloso.
- Sente-se Pedro porque acho que isso irá
demorar um pouco ou não, mas acima de qualquer
coisa quero que tente entender tudo que irei lhe
falar e contar.
- Estou ouvindo de mente aberta vovô!
Gustavo começou a contar desde a sua origem
humilde que não fora na Itália, mas sim na
Rússia antiga ainda sob o domínio do império
mongol onde Khan Mamai assumiu o poder e
empreendeu uma campanha militar.
- Eu era ainda um garoto e via aquela horda
mongol destruindo tudo que via pela frente, na
época, no verão de mil trezentos e oitenta o
príncipe Dmitri reuniu vários exércitos vindos
das regiões norte e leste da Rússia, dos
principados de Súzadal, Tver, Smolénsk e outros
e suas tropas ganharam as bênçãos do reverendo
Radonej, mas mesmo assim os mongóis eram em
maior número e somente um milagre poderia
salvá-los. Nesta ocasião eu já havia me revelado
e transformado meu único e melhor amigo
Vladislav também em homem lobo e ele era mais
sádico que eu e o seu prazer era matar sem olhar
a quem e finalmente no dia vinte e um de
setembro de mil trezentos e oitenta no campo de
Kilikóvo perto da foz dos rios Don e Nepriádva
ocorreu a grande, longa e feroz batalha. As
tropas russas usavam uma bandeira vermelha e
Vladislav dizia que adorava aquela cor porque
era a cor do sangue dos humanos e nós dois,
apenas dois meninos homens lobos causamos mais
baixas do que uma guerra hoje em dia e nem os
cavalos conseguiam evitar de pisar em cadáveres
que deixamos para trás.
- Isso foi em mil trezentos e oitenta?
- Sim! Foi.
- Isso quer dizer que o senhor tem quase
seiscentos e sessenta anos?
- Não! Eu tenho seiscentos e cinqüenta e nove
anos, mas voltando ao assunto foi ali que as
duas bestas feras se uniram e passaram a
destruir tudo que viam pela frente. Cansei e me
afastei de Vladislav e migrei para outro e
outros lugares e mudei o meu nome que era
Nikolai Volkov para Gustave Santilena Spallucci
Spadonni e de lá para cá fui me moldando e
também cansado de devorar seres humanos passei a
devorar animais selvagens e domésticos. Aprendi
a ser um lorde e fiz uma fortuna inimaginável.
- Foi um guerreiro?
- Não! Fui um lobo assassino.
- Mas ajudou a destruir os invasores mongóis e
isso pesa.
- Não muda o que fui. Um terrível e perigoso
lobo assassino.
- Como que é esta história sobre a vovó que
Vladislav disse que era dele?
- Talvez aí esteja a grande ira dele para
comigo. Ele conheceu Antonella antes de mim e
tinham o que vocês chamam hoje de algo tipo
namorico quando eu apareci de novo na vida dele,
mas nestas idas e vindas que a vida dá ela se
apaixonou por mim e eu por ela e Vladislav nunca
aceitou isso que ele chamou de maior traição por
ele sofrida e certa noite, eu já regenerado e
casado com Antonella sofri um surto e a devorei
por inteiro, mas honestamente não me recordo
disso.
- Você se lembra de tudo que fez quando está em
estado de lobo?
- No começo não, mas quando me habituei com o
que fazia me recordava vagamente, mas depois que
conheci Antonella eu já estava em outro tipo de
vida e de condição e fazia anos que eu não
atacava ninguém e me recordo de cada animal que
usei para saciar minha fome, mas te juro que não
me recordo de ter atacado minha amada esposa.
- Me diga uma coisa vovô! Quando aconteceu isso
por acaso se encontrou com Vladislav naquele
mesmo dia?
- Sim! Ele me procurou e disse que entendia que
não dava para controlar isso do coração e quis
comemorar comigo pela nova amizade alegando que
iria se mudar de país e pensava e ir quem sabe
para a China ou outro lugar.
- Lembra-se do que bebeu?
- Na verdade não! Foi ele quem pegou a bebida e
levou até a mesa em que estávamos sentados em
uma bodega e só me lembro de ter acordado no dia
seguinte jogado em uma vala coberto de sangue e
sabendo que Antonella havia sido atacada por um
animal feroz que havia destroçada por completo.
- Não querendo mudar estes anos todos de dor em
seu peito, por acaso já pensou que poderia ter
sido ele quem tenha feito isso?
- Ele a amava! Não faria isso.
- Ele a amava, mas já a tinha perdido para você
vovô!
- Honestamente não tinha pensado nisso, mas
infelizmente isso não mudaria mais nada de quem
foi e ele acima de qualquer coisa tem uma dívida
de sangue para comigo.
- Direta ou indiretamente comigo também vovô,
mas continue por favor.
- Como eu estava dizendo a partir dali comecei a
migrar de país para país sempre na Europa e
continha à custo o meu desejo por carne humana e
procurava me satisfazer com a carne animal e fiz
disso um hábito na minha vida. Possuía uma
verdadeira fortuna que soube aproveitar para
fazer mais fortuna, mas não me sentia seguro,
pois de uma forma ou de outra esperava por
alguma agressão de Vladislav e resolvi criar um
exército para minha defesa e comecei a juntar
soldados de todos os lados do planeta e quando
certo dia eu lhe informei sobre o poder da força
dos lobos e sobre a longevidade a maioria quis
saber como era e dos que quiseram ver um ou
outro não aceitaram e os demais bastou apenas
uma mordida para modifica-los e assim fui
aumentando a minha particular força militar e
não demorou muito para que um grupo de jovens
guerreiras me procurarem, todas encapuçadas para
aceitar esta dádiva e assim surgiram as Vuks.
- Quando foi isso vovô?
- Isso ocorreu no ano de mil setecentos e
noventa e sete e de lá para cá elas se tornaram
cada vez mais competentes e violentas, porém,
jamais contrariam a minha norma de que jamais
deveriam atacar os humanos e quanto a isso eu
nunca tive problemas com elas e todos que
compõem o grupo de nossa empresa que são homens
ou mulheres lobos sabem que elas existem e temem
que eu peça para que ela os cacem.
- Já mandou alguma vez elas irem atrás de
alguém?
- Até agora não, mas vai depender de você se as
mandará atrás de Vladislav.
- Posso fazer isso?
- Pode sim, afinal elas mostraram seus rostos
para você e segundo a lenda elas só fariam isso
para quem dedicassem matar e morrer por esta
pessoa, no caso você.
- Terminou o que tinha para me contar vovô?
- Sim e temo pelo que irá me dizer.
- Posso dizer o que penso?
- Pode!
- O senhor começa a sua história de vida no ano
de mil trezentos e oitenta. Conta-a como foi a
sua transformação em anos de batalhas e guerras
quase que medievais e usou o poder que conseguiu
de uma forma que não pediu e usou-o bem ou mal
para combater os invasores. Não se conteve e
ainda continuou cometendo atrocidades até que
por vontade própria resolveu parar de atacar
humanos e partiu para a carne animal e a meu ver
foi criminosamente acusado de ter matado sua
esposa e carrega esta dor dentro de si até hoje,
porém, procurou fazer de tudo até encontrar o
tipo de um antídoto para controlar as bestas
feras, homens lobos ou lobisomens, o que
demonstra uma força interior muito forte. O que
me resta a dizer então é que, o que ficou no
passado nada poderá ser mudado ou alterado,
portanto, quem sou eu para julgá-lo ou
criticá-lo mesmo porque, desde que te conheci
por motivos também trágicos o senhor mudou o meu
pensamento contigo por completo.
- Pensa isso mesmo de mim?
- Sim!
- Muito obrigado por não ter me entendido mal.
Saiba que é a pessoa mais importante na minha
vida e não porque é o supremo, mas sim porque é
o meu neto, fruto de um amor que tive por sua
avó e o de seus pais.
Nada mais disseram. Simplesmente se aproximaram
um do outro e se abraçaram em algo que
demonstrava o carinho e amor que possuíam um
pelo outro.
)
Os dias se passaram, o ano novo avançou, a
operação na Índia foi um sucesso e o número de
rejeição foi mínimo. Mil novecentos e dezessete
pessoas foram imunizadas e apenas dois tiveram
rejeição e com isso, aquele pedacinho de lugar
algum no planeta estava temporariamente a salvo.
Mais dias se passaram e o aniversário de Pedro
se aproximava e apesar de fazer poucos meses que
ele estava ao lado de seu avô ali na fazenda
parecia que haviam se passado anos e ele se
sentia melhor do que nunca.
A dor e a saudade de seus amados pais ainda lhe
apertavam o peito, mas ele sabia que era questão
de tempo para pegarem Vladislav, pois tinham um
verdadeiro exército de agentes, soldados e
espiões caçando-o por todas as partes do
planeta.
O laboratório de Vladislav foi descoberto e
destruíram tudo que havia lá bem como um outro
em terras russas o qual foi literalmente
enterrado sobre toneladas de erra e rochas,
porém, infelizmente, nos dois casos muitas
pessoas morreram dentro daqueles perfeitos
bunkers de guerra.
O dia seis se aproximava, seu aniversário de
dezessete anos chegava e sabiam pelo que seu avô
dizia é que o dia dezessete a dezessete dias da
lua cheia poderia acontecer com ele uma mudança
brutal e isso para Pedro poderia ser considerado
o dia mundial de efeito nos homens e mulheres
lobos, ou seja, a talvez transmutação de mudança
de idade e finalmente o dia fatal chegou e mesmo
ainda não sendo dia de lua cheia a mudança
poderia acontecer.
Devido a isso, por motivo de prevenção Gustavo
resolveu fazer a festa de aniversário de Pedro
no horário do almoço, ou seja, começar em torno
das onze horas e que se prolongaria
exageradamente até às dezenove.
Gustavo não queria correr risco mesmo porque as
mutações ou transformações ocorriam sempre ou
geralmente quando a pessoa atingia os dezessete
anos e por segurança ia pedir para que Pedro em
torno das vinte e três horas ficasse em um local
isolado que ele possuía na casa grande a fim de
saber se ele poderia ou não se transformar em um
lobo.
Mais um dia se passou e finalmente chegou o dia
do aniversário de Pedro Santilena Spallucci
Spadonni herdeiro e sucessor de uma família
abastada que no anonimato possuía uma forma de
conter a fúria de homens lobo, mais conhecidos
por lobisomens.
Todos os integrantes da fazenda e do complexo do
centro de pesquisa da cidade compareceram pelo
menos por alguns momentos na comemoração da
festa apenas alternando a segurança que fora
reforçada depois de saberem sobre a ira de
Vladislav que poderiam ocorrer naquele dia
especial onde Pedro mesmo sem saber deixaria de
ser apenas um menino e se tornaria a pessoa ou
ser mencionado nas lendas dos homens lobos, ou
seja, o supremo.
Muitos outros homens lobos que trabalhavam na
rede nacional de hotéis e empresas do grupo
compareceram na festa realizada na fazenda se
dirigiram, a qual caiu em plena quarta feira
para prestar homenagens ao novo líder de imensa
e poderosa alcatéia a qual não deixava de ter
Gustavo como líder, mas que agora havia um
superior a ele que ironicamente era seu neto.
Não foi convidado sequer alguém fora do grupo
apesar de Gustavo ter desejado que Orlando ali
estivesse e com isso, a única cem por cento
humana que compareceu foi Flávia, a filha de
Pietro.
Tudo correu bem e em ordem, porém, faltando
pouco para às dezenove horas os poucos que
restaram foram se retirando e no horário
combinado apenas o pessoal do dia a dia da
fazenda por ali se encontrava.
- Gostou da festa Pedro?
- Sim vovô! Foi demais.
- Vai atender ao pedido que lhe fiz para as
vinte e três horas?
- Mesmo sabendo que não mudará nada vou fazer o
que me pediu sim. Fique tranquilo.
- Mandei colocar uma cama melhor lá no local que
irá ficar para que não se sinta desconfortável.
- Não precisava!
- Precisava sim porque lá é do tipo de uma cela
de calabouço. Respondeu Gustavo.
- Bem! Se é assim então eu aceito a cama porque
tenho certeza que não irei me transformar.
- Torço para isso meu filho!
Jantaram naturalmente sem se preocupar com a
meia noite e faltavam oito minutos para as vinte
e três horas quando Pedro atravessou as portas
de aço de uma das três celas existentes no
terceiro piso da casa sede. Ali havia apenas uma
cama com lençol, travesseiro, dois cobertores e
uma garrafa de água caso ele sentisse sede que
estava sobre uma cadeira.
Era de fato bastante rústica e as paredes eram
composta de rocha pura e a única entrada daquela
cela úmida e fria era a porta minúscula de aço a
qual Pedro teve que se abaixar para entrar.
- Toca de ratos vovô?
- Na verdade meu filho, eu mesmo já pedi para
ser encarcerado aqui em noites de lua cheia e
garanto que por mais forte que você possa ser
não conseguirá arrancar as grades e se por
ventura conseguir só terá uma saída que é a
oposta à que entrou e lá do lado de fora dela
haverá algumas Vuks que você não teve contato
que são chamadas de almas da morte e estas não
brincarão de treinar com você, pois sabem que se
você sair daqui poderá se tornar o ser
destrutivo mais perigoso do planeta.
- Caramba! Sou tão perigos assim?
- Espero que não seja e se for e escapar elas
têm ordens minhas para não o poupar pelo que
você poderá representar para a humanidade.
- Está querendo me assustar?
- Não! Estou apenas retratando uma realidade
possível a qual eu não desejo ver.
- Entendi!
- Está preparado?
- Estou! Pode fechar e até amanhã da manhã na
hora do café da manhã!
- Espero você para toma-lo! Respondeu Gustavo
temendo o pior.
Gustavo fechou a pesada porta. Fechou os seis
trincos, travou algo que parecia cadeados
medievais, passou mais duas portas de aço
trançadas entre si e se afastou pesaroso, pois
sabia que ali dentro era pior que os estertores
da morte. Era como se fosse o simbolismo de que
estava cercado de espíritos do presente e
passado que ali foram para enlouquecer qualquer
um, porém, até então haviam sido suficientes
para segurar um estouro de uma manada de
elefantes.
Pedro tentou ver o que tinha nela e teve que
formar o seu foco infravermelho já usado uma
vez, mas ali nada conseguiu. Pareceu-lhe que
qualquer poder ali dentro não tinha força
alguma. Não havia sequer uma fresta de luz e a
escuridão era total. E como não se afastara
muito da cama tateando sentou-se sobre ela e
ficou pensando em sua vida até então.
Nascera de uma família abastada onde teve tudo o
que quis e desejou desde que era pequeno, porém,
seus pais haviam notado um grau elevado de
inteligência desde cedo e o colocara nas
melhores escolas onde só cursavam as crianças
acima da média,
Não era de ter muitos amigos, mas o que tinha o
invejavam por ele estar sempre adiantado em tudo
que se propunham a fazer e quando ele pressentia
isso freava seus impulsos para que eles, os mais
dotados o acompanhasse, porém, quando saia da
escola, em casa ou em cursos que seus pais
bancavam com prazer ele procurava se inteirar de
tudo em assuntos de antiguidade, artes, lutas,
fauna, flora, evolução humana, tecnologia, lutas
entre tantas outras coisas. Sua mente era como
que uma enciclopédia humana e possuía algo
dentro dela que armazenava tudo o que lia, via
ou ouvia.
Interrompeu seus pensamentos e tentou imaginar o
horário, mas como ali o tempo parecia não
existir ajeitou o travesseiro, esticou os
cobertores sobre o lençol e se despindo colocou
as roupas no encosto de cadeira e se deitou.
Voltou a repensar sobre sua vida, curta, mas
muito bem vividas naqueles poucos meses até que
acabou adormecendo e foi acordado justamente por
seu avô que veio abrir a cela onde ele estava
deitado e ainda dormindo.
- Você está bem meu filho? Perguntou Gustavo
preocupado, mas jogando um canhão de luz ali
dentro da cela.
- Oi vovô! Já está na hora do café?
- Acho que passou da hora, mas você está bem?
- Estou sim, porque?
- Não sentiu nada estanho a noite?
- Não! Tudo normal. Disse Pedro se sentando na
cama apenas de cueca e camiseta.
- É! Deve estar bem mesmo porque ainda usa a
mesma camiseta e está apenas de cueca.
- Desculpe! Foi mal. Disse Pedro se recobrindo.
- Meninas! Podem parar de olhar que ele
permanece sendo ele.
Pedro ouviu risos que se afastaram. Se levantou,
vestiu suas roupas e saiu da cela se
espreguiçando após a excelente noite de sono.
- Acho que vou dormir todas as noites aqui! Me
recompôs e me rejuvenesceu.
- Dormir aqui todas as noites?
- É! Me fez bem. Respondeu Pedro sorrindo.
- Cada uma que eu ouço! Vamos subir e tomar café
que estou com fome.
- Vamos! Respondeu Pedro sorrindo novamente.
Subiram, tomaram café e depois disso Pedro foi
tomar banho. Naquele dia não praticou qualquer
tipo de treinamento, mas quis sair e andar a
cavalo pela propriedade e Gustavo não quis
acompanha-lo, mas quinze Vuks se postaram atrás
dele também cada qual em seu cavalo e foram
atrás dele por todo o percurso que Pedro quis
fazer.
Foi ver as criações de faisões, javalis, antas,
pacas, jacarés e até o novo espaço para as rãs
ele acabou olhando. Depois resolveu sair da
parte conhecida da fazenda e se embrenhar na
mata e as Vuks o acompanhavam sempre atenta aos
mínimos detalhes na floresta que foi se tornando
mais densa.
Pedro continuou galopando até que de repente o
cavalo parou e começou a bater as patas no chão.
Duas das Vuks se aproximaram e pediram para que
voltassem porque ali era um local proibido para
eles passarem.
- Proibido porquê e por quem?
- Proibido porque segundo consta seu avô tem um
pacto de honra com o corpo seco e não nos é
permitido quebrar isso. Respondeu supostamente
Herta.
- Corpo seco?
- Sim!
- Quem é este?
- Não sei bem da história, mas é coisa antiga e
logo ali adiante fica o pico do selado que é o
ponto mais alto da região e seria o local de
morada deste tal de corpo seco.
- Deve ser mais um dos contos da região!
- Sendo ou não sendo não temos permissão para ir
até lá e se desejar ir seremos obrigadas a
tentar impedi-lo senhor.
- Me impedir?
- Tentar te impedir, pois se não podemos romper
um pacto e o senhor insistir teremos uma
situação complicada.
- Não vou lhe complicar, mas vou querer saber
mais sobre este tal de corpo seco.
- Seu avô poderá lhe dar detalhes disso, pois
nós realmente não sabemos de como é isso deste
pacto nem de quem seria este corpo seco.
- Vamos voltar então e ver de novo os jacarés
porque quero conhecer melhor aquela construção.
Pedro puxou as rédeas do cavalo que estava
montado e pareceu-lhe sentir um alivio por parte
do animal. Não lhe teria chamado a atenção se
ele não tivesse visto algo no meio da mata que
parecia estar olhando para eles e a sensação que
teve era a de por instantes ter visto o corpo de
um homem que tinha a aparência de longe de ser
magro ao extremo do tipo cadavérico. Voltou a
vista mais duas vezes, porém, aquilo que pensou
ter visto havia desaparecido e sentiu o animal
que montava se acalmar placidamente. Trotando
chegaram na área destinada aos jacarés e notou
que dezenas de pessoas trabalhavam na ampliação
daquela área construindo um enorme dique que por
dentro deveria aparentar a construção de uma
muralha para que eles não fugissem.
Acompanhados das Vuks que raramente saiam de dia
foi até a parte mais alta da construção onde
divisou centenas de centenas daqueles animais
extremamente perigosos. Olhou todos os detalhes
e depois foi olhar o novo dique que estava quase
pronto. Este era bem maior. Na verdade, era
quase quatro vezes maior o que deixava claro que
seu avô queria cada vez mais se fortalecer no
ramo daquele tipo de alimento.
Caminhou pela passagem de acesso acima daquela
verdadeira muralha construída toda de pedras e
rochas do tipo da prisão que passara a noite e
foi admirando a verdadeira obra de arte que era
aquela construção, pois na primeira fase da
construção já haviam previsto que ela poderia
ser aumentada e havia um preparo para a
liberação de água e das feras de uma para a
outra. Para tanto bastaria abrir apenas duas
barragens e eles poderiam transitar à vontade.
Além da barragem afastada de toda aquela obra de
construção em toda a sua complexidade havia o
tipo de praias para que eles pudessem alternar
entre ficar totalmente submersos ou curtindo o
sol nas prainhas artificiais naquele local
existente. Caminhou até se encontrar com uma das
pessoas da obra que parecia ser o responsável e
este ao vê-lo se prostrou em sinal de respeito.
- Fique à vontade! Não precisa disso.
- Questão de respeito senhor!
- Qual é o seu nome?
- Enrico! Enrico Casarotto senhor.
- Você é o responsável pela obra?
- Sou engenheiro, mas na verdade, sou o sub
responsável. A responsável por esta obra é a
engenheira Radeckia Grigori. Quer falar com ela?
- Quero, mas me fale mais sobre esta obra, por
favor.
- O doutor Gustavo quando teve a ideia de
construir este espaço para os jacarés nem de
longe pensava em cria-los para alimentos, mas
sim para usar, teoricamente para servir de
exemplo a todos a eliminação dos radicais. Usou
pouco para esta finalidade, mas os bichos se
reproduzem muito rápido. Cada fêmea pós a cópula
posta entre vinte a setenta ovos que chocam
entre setenta a noventa dias, mas elas constroem
seus ninhos perto da água usando folhas secas e
pedaços de plantas cobrindo-os com folhas secas
e areia.
- Estranho! Não vi aqui dentro areia nem folhas
secas e pedaços de plantas. Só concreto.
- Na verdade senhor, se reparar bem não é
concreto, mas sim uma textura que a doutora
Radeckia desenvolveu que apesar de parecer
concreto na verdade é uma espécie de areia
sintética e que eles acreditam que sejam areia
natural e a usam para criar seus ninhos.
- Eles não cavam para fazer os ninhos?
- Não! Eles são meio preguiçosos. A fêmea
constrói o tipo de um morrinho de
aproximadamente dois metros de largura e deveria
ser por um metro de altura, mas aqui elas se
adequaram e fazem menores. Depois fazem um
buraco no meio, põem os ovos e os cobrem. Neste
período de reprodução aí de quem ousar se
aproximar de seu ninho.
- Interessante, mas onde elas acham folhas secas
e pedaços de plantas?
- São jogados em pontos estratégicos isso todos
os dias e elas simplesmente os reúnem e fazem
seus ninhos. Ah! Aí vem a doutora Radeckia.
Pedro viu que realmente uma jovem vinha na
direção deles. Parou antes de chegar e o
cumprimentou como todos faziam.
- Não precisa disso como eu disse para o Enrico.
- Respeito senhor!
- Certo! Você que é a responsável pela obra?
- Revezamos eu e Enrico! Temos muitas coisas
para fazer aqui e apesar dos assistentes são
muitos afazeres.
- Enrico estava me explicando sobre a reprodução
dos jacarés e é uma coisa surpreendente o
sistema que criou aqui e eles terem se adaptado
à areia que adaptou.
- Jacarés, apesar de acharem que são animais
primitivos e são não são burros. Eles desejam se
reproduzir com algum propósito o qual não
sabemos e com isso se adaptam ou se readaptam
com o que lhes é oferecido e garanto que a
reprodução deles é impressionante.
- Quer dizer que ele tem inteligência acima da
média dos anfíbios?
- Ouso dizer que em matéria de inteligência só
perderiam para os macacos, porém, os macacos na
maioria das vezes só reproduzem um por ano
enquanto que as fêmeas dos jacarés podem
reproduzir de vinte a setenta filhotes em média
a cada setenta dias o que daria até quatro
ninhadas por ano de uma fêmea mais assanhada.
- Quantos jacarés temos aqui hoje?
- Se não nasceu nenhum nas últimas horas devemos
ter em torno de sete mil deles e a nova área
segundo desejo do doutor Gustavo é de ter entre
trinta a quarenta mil deles.
- Tudo isso?
- Sim e oitenta por cento para venda no mercado
de carnes exóticas do Brasil e do exterior.
- Não tem medo de que esta estrutura se rompa?
- Da forma que construímos não tenho e só
haveria duas formas de ocorrer. Através de um
terremoto acima de nove ou pelo uso de bombas do
tipo C4, mas para proteger-nos disso é que temos
um forte sistema de segurança como deve saber.
- Realmente estou impressionado com isso tudo.
Obrigado pelas informações.
Se despediu dos dois, voltou onde deixara seu
cavalo e junto com as Vuks desceu para a
edificação principal da fazenda e lá, após
descer do cavalo e este ser recolhido Pedro se
despediu de sua segurança e foi até a varanda da
casa sede onde seu avô descansava em uma cadeira
de balanço e depois de dar um beijo na testa
dele foi logo no assunto que lhe interessava.
- Vovô! Me conte tudo sobre o Pico do Selado e
do Corpo Seco porque acho que eu o vi nos
espionando.
)
- Você viu o corpo seco?
- Na verdade, não sei se o vi, mas se não era
ele com certeza quem eu vi ou quem eu vi e o que
eu vi não era um homem.
- Espere! Você viu o que não sabe se viu ou acha
que talvez tenha visto, foi isso?
- Foi!
- Confuso não acha?
- É! De fato é. Respondeu Pedro sorrindo.
- Mas me diga o que realmente viu.
- Não sei precisamente o que vi. Na verdade, o
cavalo estava assustado e já estávamos
retornando porque Herta comentou comigo sobre um
tal de pacto que teria feito com o tal Corpo
Seco quando tive a impressão que o tinha visto.
- Como ele estava vestido?
- Calça jeans rasgada e camiseta azul.
- Era ele mesmo! Você realmente o viu.
- Porque Corpo Seco vovô?
- Você realmente quer ouvir a história toda
sobre ele?
- Sim! Quero.
- Acho que não vai acreditar, mas se quer eu lhe
contarei.
- Estou ouvindo!
- O corpo-seco, ou Zeca, é um ser amaldiçoado,
uma espécie de mortovivo que está condenado a
vagar pela Terra aterrorizando as pessoas. Ele é
um cadáver que foi devolvido pela terra, que não
o aceita por conta das maldades que realizou em
vida. As maldades do defunto que se transforma
em corpo-seco são tão grandes que nem Deus nem o
diabo quiseram receber sua a alma. Como a alma
do defunto não foi aceita no céu e no inferno e
a terra rejeitou devorar o corpo, o morto
retornou ao plano dos vivos e, na condição de
nem vivo nem morto, vai aterrorizar os viventes
que passarem por ele. Como não é morto, o seu
corpo não apodrece, mas, como não é vivo, também
não é alimentado, portanto, o corpo-seco,
literalmente, tem o corpo ressecado, com apenas
os ossos e o couro.
- O senhor disse que ele foi amaldiçoado?
- Sim! Zeca foi amaldiçoado por conta das
maldades que cometeu em vida e segundo consta
ele torturou e assassinou a própria mãe, ou
seja, ele teria sido um homem conhecido por
cometer inúmeras maldades contra familiares e
desconhecidos, mas isso é o que contam na
cidade, porém, tem várias cidades no país que
também denotam sobre esta lenda do corpo seco.
- Mas o daqui o senhor conheceu?
- Na verdade, eu conheci um morto vivo que é
temido pelas bandas de cá e tal qual nós, os
lobisomens de verdade preferimos mantermo-nos
afastados um dos outros.
- Como o conheceu?
- Isso aconteceu a muitos anos atrás. Eu
procurava espaço para expandir nossas terras,
mas não queria entrar nas áreas que algum dia
poderia atrair turistas por causa das inúmeras e
belas cachoeiras do local e acabei chegando
próximo do morro do pico do selado o qual
segundo a lenda seria o local onde ele moraria e
de repente eu vi aquele ser cadavérico, seco e
nós nos olhamos. Eu um velho homem lobo
modificado e ele um morto vivo que vagava pela
mata e para encurtar a conversa fizemos um pacto
de que, ele não invadiria as nossas terras e nem
a cidade e eu faria de conta que jamais
acreditaria em sua existência.
- E ele aceitou isso vovô?
- Na verdade ele não disse nada. Apenas assentiu
com a cabeça e nunca mais nos vimos, mas a fim
de preservar o pacto proibi que qualquer um da
fazenda se aproximasse das terras dele e até
hoje vivemos em harmonia.
- Ninguém nunca o viu desde então?
- Não! Pelo menos daqui ninguém me disse nada e
até agora a não ser você que o viu.
- Ele não aparece para outras pessoas?
- Dizem que sim e quem o vê desaparece, mas não
me meto nestes assuntos.
- E porque ele deixou que eu o visse a nada fez?
- Talvez ele soubesse, ou sabe que é meu neto e
por ser ele curiosamente apenas quis vê-lo.
- Tem mais relatos de coisas misteriosas aqui em
Joanópolis?
- Tem muitos causos e não casos que os mais
velhos contam sobre os mistérios aqui da velha
serra da Mantiqueira, mas procuro não dar
atenção para não sermos alvos de nossa história
real.
- Pelo que vejo aqui é um lugar intrigante.
- Eu diria que é um lugar maravilhosamente
perfeito para nós. Não incomodamos ninguém e
ninguém nos incomoda e com isso passamos apenas
por criadores de gado e de alimentos exóticos
para o mundo.
- Bem conveniente, não é?
- Digamos que não queremos nos fazer ser notados
meu filho e procuro fazer de tudo para
permanecermos no anonimato e tenho conseguido
isso por anos.
- E se descobrirem?
- Quem diria isso para o restante do mundo?
- Não sei vovô! Sempre tem alguém que comenta.
- Não daqui. Isso posso lhe garantir, mas agora
vou me preparar para jantar porque estou com
fome.
- Jantar! São apenas dezessete horas.
- Ué! E por acaso tem hora para jantar ou ficar
com fome? Respondeu se levantando rindo.
Era obvio que seu avô não queria mais comentar
sobre aquele assunto e deixou-o ali na imensa
varanda. Pedro olhando para aquele imenso vale
ficou pensando em tudo que estava passando e
mais uma vez se deu conta que se contasse
ninguém acreditaria. Pensou em voltar para a
capital, mas não queria abandonar seu único
parente vivo.
Pensando nisso foi que se deu conta que não
tinha lembrança de sequer um parente por parte
de sua mãe e ficou encucado com isso. Pelo que
soubera sua mãe era filha única de pais que
haviam falecido em um acidente a alguns anos bem
antes dele nascer e antes da geração deles nada
sabia.
Nunca soube coisa alguma sobre ter primos, tios
ou qualquer outro parente materno e pela
primeira vez sentiu curiosidade sobre tal fato,
mas o que sabia era que sua mãe era uma pessoa
normal e que nunca tivera algo que mostrasse o
contrário. Carinhosa, atenta e uma mãe que se
dedicara ao máximo a ele e a seu pai. Uma mulher
amada por todos principalmente por seu avô que
ele sempre achara indiferente e ranzinza e
percebeu que havia algo errado nisso, mas jamais
aceitaria qualquer insinuação sobre a sua
conduta de vida. Enfim, suspirou fundo e foi
para o seu quarto tomar banho e se preparar para
jantar.
)
- Pedro! Você tem ideia do que fazemos aqui?
- Aqui onde vovô?
- No centro de pesquisa e na fazenda!
- Cria animais para venda e para alimentação. É
isso?
- Mais ou menos isso!
- E tem mais?
- Isso não é nem o começo do que fazemos!
- O que mais fora isso?
- Eu te contei sobre quantas pessoas trabalham
aqui não contei?
- Contou que eram mais de mil, é isso?
- É bem mais que isso!
- Quantos são?
- Quando você saiu hoje com as Vuks eu fui
contabilizar isso. Na verdade, eu estava bem
desatualizado.
- Não entendi!
- Como te disse eu estou cansado e quero te
passar o comando de tudo e para tanto iria
começar por aqui, pela fazenda e tem que saber o
que fazemos e quantos temos aqui neste complexo.
- Ah tá, mas acho que já vi todos eles, não vi?
- Chegou a contar em seu aniversário?
- Na verdade não, pois muitos vieram e outros
saíram e não me ative em contar vovô!
- Quantos acha que viu?
- O senhor me disse que eram mais de mil, mas
acredito que eram bem mais de dois mil.
- Hum! Mais de dois mil?
- Diria que chegava perto de três mil.
- Como chegou a esta conclusão?
- Bem! Tinha muitas pessoas que eu não me
recordava de tê-las visto e mentalmente fiquei
tentando saber de onde eram. Quantas são?
- No total, atualizados são três mil, cento e
dezesseis pessoas, ou besta feras como preferir.
- Tudo isso?
- Sim!
- Nossa!
- A maioria fica no complexo do centro de
pesquisa, preciso te mostrar todos os sessenta e
dois andares e o que fazemos lá.
- Tem tantos alojamentos assim lá dentro?
- Sim! Temos para pelo menos uma quinze mil, mas
quantas são cem por cento humana de todos eles?
- Nem faço ideia vovô!
- Apenas uma pessoa.
- E esta pessoa vive no meio deles?
- Sim! Na verdade, é a mais respeitada aqui
dentro depois de mim e de você.
- Nossa! Quem é ela?
- Karla Cantizani! Ele é, digamos a nossa
nutricionista, desenvolvedora de pesquisa e é
como se fosse a coordenadora do que também
chamariam de alimentadora de animais, caso isso
aqui fosse um zoológico.
- Não entendi!
- O que entende de sistema alimentar?
- Nada! Respondeu Pedro sorrindo.
- Quanto um ser humano consome de alimento por
dia?
- Também não faço ideia!
- Qual é a alimentação mais importante no dia?
- Acredito que seja a primeira, ou o café da
manhã.
- Não necessariamente nesta ordem, pois temos
aqui uma vasta rede de opções.
- Como assim vovô?
- Digamos que cada ser vivente daqui tem uma
necessidade de alimentação. Humanos, homens ou
mulheres lobos, animais e por aí vai.
- Continuo sem entender!
- Para o ser humano por exemplo deveria e deve
ter a sua primeira alimentação mais reforçada,
pois é ela que dá a base da sustentação diária,
mas muitos acreditam que seja o da hora do
almoço que deva ser mais reforçada.
- Está seria a minha teoria se me fosse
perguntado.
- O que acha que seja a base da alimentação do
ser humano?
- Várias coisas!
- Tipo o que?
- Café, leite, frutas, estas coisas.
- Não é só isso! Vamos analisar o seu café da
manhã. O que tem mais fora isso?
- Tem queijo, presunto, café, leite, várias
frutas, sucos, geleias, pães, bolos, ovos, estas
coisas.
- Quantas destas tem ou são de origem animal?
- Quase que a maioria vovô!
- Tem ideia de quanto precisamos de alimento por
dia para vivermos?
- Não sei, mas sei que a maioria das pessoas não
tem nem um pãozinho para comer de manhã.
- É bem por aí, mas o que fazemos neste local é
tentar balancear as coisas por aqui.
- Tipo o que vovô?
- Vou te dar um exemplo para que entenda. Um ser
humano normalmente tem a altura entre um metro e
sessenta a um e setenta, estou certo?
- Mais ou menos por aí na média!
- E um homem lobo, lobisomem ou besta fera, tem
quanto?
- Nunca pensei nisso, mas acredito que fique bem
maior que isso.
- Isso mesmo! Alguns já são grandes, mas depois
de modificados eles podem passar de um metro e
oitenta e sua massa muscular também aumenta. Com
isso a sua fome também e é aí que entra o centro
de pesquisa e desenvolvimento.
- No tratamento da fome?
- Bem por aí!
- Como?
- Viu que temos vários animais que criamos aqui,
certo?
- Sim!
- Pois bem! Cada um tem a sua finalidade e o que
fazemos é tentar contrabalancear a alimentação
de cada um deles.
- Não entendi!
- Simples! Temos as pacas, os jacarés, as vacas,
as capivaras e por aí vai e de certa forma cada
um tem a sua finalidade na cadeia alimentar do
outro.
- Isso eu tinha percebido quando sai com as
Vuks.
- Viu os jacarés e por acaso achou que tinham
muitos lá?
- Vi e sei que quer quintuplicar a quantidade,
mas não acho que seja apenas para a venda da
carne deles. Tem mais algo por aí. Respondeu
Pedro sorrindo.
- Tem sim!
- Posso saber o que seria vovô?
- Claro que pode, mas primeiro vamos comer que
estou com fome.
Pedro olhou para seu avô e de novo viu que ele
se esquivava de uma pergunta que talvez ele não
quisesse responder e não adiantava insistir,
porque ele tinha a sua hora de comer e de certa
forma entendia isso cada dia mais claramente.
)
Jantaram e Gustavo não tocou mais no assunto e
Pedro nem insistiu. Sabia que seu avô era
daquele jeito e de um jeito ou de outro ele
acabaria descobrindo o que queria, sempre dava o
seu jeito e logo após jantarem seu avô lhe levou
até a enorme varanda da casa sede e sem nada
dizer lhe apontou áreas diante deles e as que
tinha a intenção de adquirir para aumentar suas
criações e todas apontavam para a serra, porém,
nada que se aproximasse das cachoeiras ou do
pico do selado como se aquele lugar de fato
estivesse selado para sempre para ele.
- Preciso te levar para conhecer o Orlando!
- O prefeito?
- É!
- Algo em especial nele?
- Não, a não ser a de que ele é gente boa e
gosto dele.
- Ele é seu parceiro ou sócio em alguma coisa?
- Não meu filho! Ele é apenas o prefeito e por
ser competente aprendi a admirá-lo. Foi algo
impulsivo, mas nada tenho e nem quero ter nada
de negócios com ele.
- Porque não?
- Porque se tiver algum relacionamento comercial
ou de sociedade com ele seria obrigado a mostrar
o que nem ele e nem ninguém tem que ver ou
saber. Entendeu?
- Entendi!
- Vamos ver se amanhã daremos um jeito de ir até
lá na prefeitura. Agora vamos dormir.
- É cedo ainda vovô!
- Cedo para você e não para um velho igual eu.
Respondeu Gustavo rindo e saindo.
Pedro também riu e foi para seu quarto e pela
primeira vez sentiu falta da TV que tinha na
capital e resolveu que iria cuidar disso no dia
seguinte, pois Joanópolis era carente de um bom
sistema de telefonia. Celular ali para pegar era
artigo de luxo devido à falta de antena de
qualquer operadora que não se interessava por
causa da baixa população e seu avô nunca quis ir
atrás porque queria viver isolado, porém, este
era o desejo de seu avô e não dele.
A noite passou e logo pela manhã, antes ainda do
sol mostrar a sua cara lá estava Pedro na área
de treinamento e novamente se superou, só que
agora sabia que não alisavam mais com ele e já
havia até um desejo de vence-lo, porém, parecia
que cada dia que se passava isso ficava mais
difícil para os demais.
Voltou para a casa sede e foi direto tomar
banho. Não encontrou seu avô e lhe informaram
que ele havia saído para cavalgar. Achou
estranho, mas sabendo que seguranças haviam
saído com ele ficou mais sossegado e resolveu
pegar um cavalo e ir procura-lo depois de ser
informado para que lado ele fora. Pediu um e
logo lhe trouxeram um belo animal negro por
inteiro assim como era as altas horas da noite e
junto com ele as Vuks o acompanharam.
- Herta! Porque as Vuks não acompanharam meu
avô?
- Porque as que não estavam com o senhor no
treinamento ele informou que a segurança maior
deveria ser para consigo e elas ficaram.
- Quem o acompanhou?
- Foram doze seguranças da confiança dele.
- Bons!
- São sim!
- Vamos ver onde que ele foi com os seguranças
dele! Disse Pedro preocupado.
Subiu no belo cavalo e se pôs a trote apressado
seguido pelas vinte e cinco Vuks. Seguiram para
uma parte desconhecida da fazenda e que era
composta por uma vasta mata que mais parecia uma
floresta. Herta apressou o passo, beirou seu
animal com o dele e lhe mostrou algo.
Pararam e desceram das montarias e Herta lhe
mostrou pequenas gotas de sangue no meio da
ramagem.
- O que aconteceu por aqui? Perguntou Pedro
preocupado.
- Posso lhe garantir que não é do seu avô!
- Como sabe disso?
- Já vi algumas vezes o sangue de seu avô nos
treinamentos e por isso lhe garanto que não é
dele.
- De quem seria então Herta?
- Isso teremos que descobrir senhor, mas as
marcas das patas dos cavalos indicam que foram
nesta direção.
- Vamos lá então!
Saíram do local e se embrenharam ainda mais na
serra e acabaram saindo da propriedade. Subiram
mais um trecho da picada e atingiram um local no
qual conseguiam ter uma visão do caminho por
onde vieram e novamente Herta lhe indicou outra
direção e seguiram por ela até chegarem a uma
clareira onde encontraram com seu avô e seus
seguranças.
- Você está bem vovô?
- O que faz aqui? Perguntou Gustavo.
- Vim ver onde estava!
- Eu estou bem, mas ele não! Disse indicando um
corpo caído ao chão.
- Quem é ele?
- Um metamorfo!
- Um homem lobo?
- Mais ou menos isso! Este é o homem lobo
modificado.
- Não entendi!
- Um homem que se transforma em lobo, mas que
não é um ser humano.
- Espere ai vovô! Quer dizer que ele é um
hibrido?
- Hibrido? Perguntou Gustavo curioso.
-
É! Um ser gerado de
um cruzamento genético entre duas
espécies vegetais ou animais distintos, porém,
produzidos em um laboratório tipo um bebê de
proveta.
- De onde tirou isso filho?
- Ué! Se ele é um homem que não é
humano e com certeza não deva ser extraterrestre
pela lógica deveria ter sido produzido em um
laboratório com o cruzamento genético de um
animal, aqui no caso um lobo e de um homem,
porém não humano.
- Nunca ouvi falar disso em toda
a minha longa vida, mas tem lógica o que está
dizendo e isso, pois fazemos cruzamento hibrida
de animais aqui, mas se for este novo fato me
preocupa demais, pois eles não têm origens, medo
ou noção de nada.
- Porque a preocupação vovô?
- Porque temos diante de nós um
ser vivo que não existe, ou melhor dizendo,
existe fisicamente, mas não oficialmente e tenho
certeza de que isso é obra de
Vladislav.
- Acha que ele faria isso?
- Não acho! Tenho quase que cem por cento de
certeza e escolheu esta região para nos atacar.
- Acha que daremos conta de um ataque dele?
- Temos três mil cento e dezesseis lobos no
complexo e consigo trazer para cá pelo menos
mais uns doze mil, mas se o pedido for seu
acredito que conseguiríamos mais uns cinquenta
ou até setenta mil deles que estão esparramados
pelo Brasil e na América do Sul.
- Vovô! Está falando de uma guerra?
- Pode ter certeza de que ela se aproxima e
disso não tenho dúvida e a única chance de
evita-la seria a de eliminar o Vladislav, mas
isso está parecendo coisa impossível, pois ele é
mais liso que pedra recebendo água direto em
cachoeira e não acredito que ele tenha mandado
apenas este aqui ou que já não tenham mais se
aproximando.
- Seria este um batedor?
- Acredito que sim!
- Posso interrogar ele?
- Se acha que conseguirá tirar algo dele vá em
frente, pois não conseguimos.
- Então se afastem um pouco, por favor. Pedir
Pedro.
Gustavo deu a ordem e todos se afastaram
incluindo as Vuks para dar espaço para que Pedro
tentasse descobrir algo daquele metamorfo agora
em forma humana. Pedro se aproximou mais.
- Posso saber o seu nome?
- Orbyu!
- Sabe quem sou eu?
- Sei! É o soberano.
- Isso mesmo, mas como sabe disso?
- Quando nasci uma das primeiras coisas que nos
ensinaram era que havia um soberano no mundo.
- E nasceu onde?
- Na Bavária.
- Bavária que fica na Alemanha?
- Isso mesmo!
- Quantos anos tem?
- Não sei!
- Sabe quem são seus pais?
- Também não, mas temos um líder a quem devemos
obediência.
- Este líder seria por acaso Vladislav Ivanov?
- Sim! Ele mesmo. O conde Vladislav Ivanov.
- Conde!
- Sim! É assim que ele quer que o chamemos.
- Tudo bem, mas me responda uma coisa. Porque
está aqui tão longe de casa?
- Sou apenas um batedor de um grupo de duzentos
outros.
- Qual sua missão?
- Ser apanhado! Apenas isso.
- Ser apanhado por nós?
- Na verdade, ser apanhado pela guarda pessoal
de Nikolai Volkov.
- E sabe quem é este Nikolai Volkov?
- Não sabia até que cheguei aqui, mas agora sei
quem é ele.
- E quem é ele? Pode me mostrar?
- Posso! É ele. Respondeu Orbyu apontando para
Gustavo.
- Tem certeza que é ele este tal de Nikolai
Volkov?
- Tenho!
- Mas disse que não o conhecia!
- Não conhecia, mas tenho a imagem dele na minha
memória.
- Na memória!
- Sim! Sabia que o reconheceria assim que o
visse.
- E porque queria ser apanhado por Nikolai
Volkov?
- Para tentar mata-lo se tivesse a chance, mas
se não desse, como não deu, eu deveria dar o
recado para o senhor mestre e soberano.
- Para mim!
- Sim! O conde, apesar de considerar Nikolai
Volkov um inimigo antigo no fundo tem respeito
por ti senhor.
- Como faço para encontra-lo?
- Não vai encontra-lo, mas saiba que ele estará
chegando aqui em breve porque quer vingança de
qualquer forma com Nikolai Volkov.
- Este era o recado?
- Era, mas tenho um pedido pessoal para fazer!
- Qual?
- Somos milhares de lobos híbridos e cada dia o
conde produz mais de nós, mas eu gostaria de
saber se a transmutação também daria certo em
mim.
- Pedro! Venha aqui um instante. Pediu Gustavo.
- O que foi vovô?
- Não está pensando em ajudar este ser hibrido
nesta loucura, pensa?
- Vovô! Acredito que ele não sendo humano de
fato, seria uma boa oportunidade de saber se
daria ou não.
- Não vai dar certo! Nem perca seu tempo.
- E se der certo?
- Não dará!
- Pode até não dar, mas tentaremos, pois se der
certo Orbyu quem sabe poderá convencer outros a
mudarem de lado.
- Ele não faria isso!
- Será que não faria mesmo?
- Eu se fosse você não arriscaria!
- É vovô! Você não arriscaria e eu até aceitarei
isso se disser que eu não sou o soberano de
fato.
- Não posso negar que é!
- Então tirando a graduação familiar que nos une
reconhece que eu teria poderes de decidir isso?
- Não posso negar isso também, pois você é o
soberano.
- Obrigado pela confiança na minha decisão!
- Eu não disse que concordei!
- Não disse, mas como não discordou de que sou
eu quem decide vamos tentar. Disse Pedro se
afastando e se aproximando de Orbyu.
- Me dará está oportunidade de tentar me
transformar em humano? Perguntou Orbyu.
- Bem, Nikolai Volkov acha que não dará certo,
mas ele não é eu e eu quero lhe dar esta chance,
mas antecipadamente quero saber porque quer se
transmutar e isso se der certo. Porque?
- Não sei dizer. Sou um soldado hibrido assim
como milhares de nós. Na vinda para cá fiquei
sabendo do que fez e está tentando fazer e
fiquei pensando se esta guerra não poderia ser
evitada.
- Ficou pensando? Perguntou Pedro curioso
- Sim!
- Vocês têm esta opção?
- Qual? A de pensar?
- Sim! Respondeu Pedro.
- Acho que temos!
- Não sabe se tem?
- Na verdade, fui criado para ser soldado, mas
não sei se é o que desejo para mim.
- Ainda não me respondeu!
- Sinceramente acho que fui criado com algum
defeito, pois desejo ser humano.
- É uma piada o que disse?
- Porque piada ou o que seria piada?
- Deixa para lá! Vou lhe dar esta oportunidade,
mas tem que saber duas coisas antes.
- Quais seriam?
- Uma que será vigiado e mantido em local
fechado!
- Não tem problema!
- E o mais grave é que poderá morrer na
tentativa da transmutação.
- Também não tem problema! Assumo o risco.
- Nunca tentamos isso com um hibrido e já lhe
informo que muitos homens lobos de origem humana
não resistiram à transmutação e morreram.
- Senhor soberano! Eu não sou nada, não sou
ninguém e nem sei o que eu sou ou seria. Na
verdade, sou uma criação de laboratório e fui
criado para uma guerra que está para acontecer.
Sou um batedor de um grupo de outros duzentos
que estão a caminho daqui e estes duzentos
estarão apenas causando caos e destruição antes
de chegarem as falanges que estão sendo
produzidas e treinadas para dominar não apenas
aqui, mas em vários lugares do mundo e não sei
nem porque não quero participar desta guerra de
destruição em massa.
- Levante-se e nos acompanhe! Vamos tentar e ver
se consegue sobreviver à tentativa de
transmutação. Pediu Pedro para Orbyu que
permanecera ajoelhado.
- Está cometendo um erro meu filho! Disse
Gustavo para Pedro.
- Pode ser vovô, mas vamos tentar para ver no
que dá. Finalizou Pedro.
Se puseram a caminho e depois de um bom tempo
chegaram na entrada do complexo onde Orbyu foi
conduzido com um capuz na cabeça a fim de não
identificar nada por ali. Chegaram, entraram no
barracão do laboratório e desta vez desceram
pelas escadas coisa que Pedro nunca havia visto
antes e depois de centenas de degraus chegaram
até onde estava Rebeka se encontrava.
- Desculpe-me senhor, mas isso é loucura! Disse
ela ao ver aquele ser na sua frente.
- Porque doutora? Perguntou Pedro.
- Ele, pelo que está me dizendo ele é um
hibrido. É isso mesmo?
- É sim!
- E acha que dará para fazer dar certo com ele a
transmutação?
- Acho!
- Desculpe, mas está doido senhor?
- Acredito que não e na verdade é desejo dele
tentar e não meu.
)
- Senhor! Se ele é um hibrido como diz ser não
dará certo, posso lhe garantir isso.
- Doutora! Onde está a sua fé?
- Fé é uma coisa humana, mas ele nem humano é.
- Pode fazer o procedimento com ele por bem ou
terei que exigir que faça?
- Ele não é humano e nem muitos humanos
conseguiram resistir ao procedimento e sabe
disso, não sabe?
- Sei sim! Pode fazer?
- Bem, em nome da ciência é uma tentativa
válida, mas que dará em nada.
- Então faça logo de uma vez! Pediu Pedro já de
mau humor.
- Tudo bem, mas ele irá morrer na tentativa.
- Faça logo! Disse Pedro irritado.
- Farei! Calma.
Ninguém nunca vira Pedro irritado e procuraram
logo fazer o que ele pedira, afinal, não queriam
ver o que ele faria em seguida se fosse ainda
mais contrariado. Levaram Orbyu para uma ala da
clínica onde praticamente era uma prisão e o
trancaram lá para que Rebeka providenciasse tudo
que seria necessário para realizar o
procedimento básico.
Pedro não saiu de perto, pois acima de tudo
tinha curiosidade de como se comportaria
aquele
ser inumano criado em laboratório com a única
finalidade de causar o mal, mas que soubesse lá
porque insistiu em se submeter a algo que
poderia lhe causar a morte, mas enfim, o desejo
era dele e mesmo no fundo sentindo que ele
acabaria morrendo sentia uma tênue esperança de
que poderia dar certo.
Duas horas depois os efeitos do medicamento
recebido começaram a fazer efeito e Orbyu
começou a contorcer-se em dores que foram
ficando cada vez mais fortes e viu que ele
tentava resistir, mas ficou penalizado já
antevendo o fim daquele pobre ser.
Saiu de perto e Gustavo se aproximando apenas o
olhou e nada disse. Não precisava dizer nada e
Pedro sentiu em silêncio as palavras “bem que te
avisei”, porém Gustavo não ousou pronunciá-las.
Cabisbaixo afastou-se dali frustrado, afinal era
ou seria uma forma de transformar uma mutação
genética em algo quem sabe mais humano. Subiu
para a superfície e caminhou pelo pátio e ficou
admirando o vale abaixo de si.
- Ele vai morrer doutora? Perguntou Gustavo.
- Com certeza irá! Nunca vi reação alguma como
está em nenhum dos pacientes.
- Não sei quem Pedro puxou de tão teimoso que é.
- Não sabe mesmo? Perguntou Rebeka sorrindo.
- O que está insinuando?
- Eu! Nada. Respondeu sorrindo.
- Deixe ele trancado aí e depois me avise quanto
tempo ele demorou para morrer, mas filme tudo.
- Farei isso! Pode deixar.
Gustavo deixou Rebeka em seu posto e também
subiu. Procurou por Pedro e o encontrou sentado
em um banco contemplando o belo vale diante
deles com o pensamento longe dali.
- Este lugar é lindo mesmo!
- É sim vovô! Um verdadeiro paraíso.
- Foi o que pensei quando o vi pela primeira vez
a anos atrás quando não havia ainda nada por
aqui.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Pode! Claro.
- O senhor disse que tem vários anos de idade,
foi isso?
- Sim! Centenas de anos para ser mais preciso.
- E neste tempo todo, a maioria dele o Vladislav
Ivanov declarou guerra contra o senhor, correto?
- Sim! Na verdade, tudo foi uma coisa linda, mas
pelos olhos dele uma fatalidade. Coisas do
coração e contra isso não há como impedir.
- Tudo bem! Já me disse o motivo, mas agora é
que vem a pergunta. O que ele ganhará com isso
de criar híbridos para destruir quem cruzar o
seu caminho?
- Bem, o que ele tem em mente é a tal vingança
que tem contra mim. Para isso não importa o que
ele faça contra outros desde que ele me atinja.
Ele já me atingiu muito quando matou seu pai e
sua mãe. Sei que ele tinha certeza de que você
estaria junto e com isso ele teria eliminado
todos os que amei na vida, bem como sei que ele
só sossegará quando morrer ou cumprir o que tem
em mente.
- Acredita mesmo que ele entraria em uma guerra
aberta contra o senhor?
- Tenho cem por cento de certeza disso.
Vladislav não é algo ou alguém que tenha
sentimentos e se algum dia o teve foi quando
ainda éramos jovens. Para ele destruir e
eliminar pessoas é nada, pois ele tem sede de
coisas que terminam em sangue inocente.
- Um assassino inumano, é isso?
- Bem pior que isso! Ele é um sádico e feroz
assassino.
- Não haveria uma forma racional de conter esta
besta fera?
- Não! Tento isso a séculos e ele não se rende
aos devaneios que criou para si mesmo.
- Então a solução seria esta guerra que parece
eminente?
- Sim, mas ele jamais se porá à frente de seus
soldados. Ficará bem longe apenas acompanhando
as mortes que para ele não significara nada.
- Se ele é um homem lobo, mesmo que modificado,
não teria motivo para me ouvir?
- Ele até te ouviria, mas mais por curiosidade
de conhece-lo e te estudar, mas em um simples
vacilo ele te mataria por ser meu neto. Tenho
certeza de que ele te respeita pelo que ou quem
é, mas a vingança dele sempre estará em primeiro
lugar.
- Acreditou no que Orbyu disse de outros
duzentos híbridos vindo para cá?
- Está aí uma coisa curiosa. Foi muito fácil
apanhá-lo. Foi como se ele quisesse de fato ser
detido e quando o encontramos ele estava ferido,
mas nada disse para nós sobre isso e no fundo,
mesmo achando que será uma tremenda perda de
tempo até cheguei a ponderar sobre o que quis
fazer.
- Diz de passa-lo pelo procedimento?
- Sim! Seria uma tentativa maior de saber mais
sobre ele mesmo achando uma tremenda perda de
tempo.
- Se pensou assim porque foi contra a minha
decisão?
- Digamos que queria saber até onde iria o seu
desejo de líder de mostrar quem era ao tomar uma
decisão do tipo desta que tomou.
- Estava me testando?
- Digamos que quis ver até onde estava preparado
para ser quem o é.
- Um teste! Foi apenas um teste. É isso?
- Digamos que sim. Respondeu Gustavo sorrindo.
- Foi um teste! Como é que pode? Disse Pedro
também sorrindo.
- Foi auto firmação para não chamar de teste,
mas não acredito que ele sobreviva ao
procedimento.
- Porque acha que não?
- Já lhe disse. Ele não é humano é um ser
hibrido e sabendo que mesmo os humanos
transmutados poderiam não resistir de forma
alguma acredito que ele sobreviva.
- E se acontecer?
- Lhe recordo que o primeiro a passar pelo teste
do procedimento fui eu e mesmo eu sendo forte e
tendo desejos de sobreviver quase morri. Daí dá
para se ter uma ideia de um não humano.
- Pergunto de novo, e se der certo nele e ele
sobreviva?
- Sobreviva para ser o que? Acha que ele irá se
tornar um mortal ou melhor dizendo ele um ser
hibrido se tornar em um ser humano? Me responda
isso se conseguir.
- Humano eu duvido que seja se sobreviver, mas
eu jamais deixaria de ao menos tentar para saber
mais dele e quem sabe conter uma guerra
eminente.
- É uma tentativa, mas uma tentativa a meu ver
inútil.
- O que acha que estes outros supostos duzentos
batedores estão vindo fazer caso de fato seja
verdade o que ele disse?
- Se de fato existirem estes duzentos posso lhe
assegurar que conhecendo Vladislav como conheço
eles não estariam por exemplo vindo destruindo
tudo em seu caminho. Pelo contrário, tentando
ver o modo de operação dele, estes duzentos
viriam direto para cá e começariam a eliminar
pessoas inocentes pausadamente, mas deixando o
recado para mim que chegaram.
- Há uma forma de identifica-los?
- Isso só quem poderia nos informar seria o
Orbyu e isso se ele resolver falar mais.
)
Pedro ia questionar seu avô quando um assistente
da doutora Rebeka foi até eles comunicar que
Orbyu estava morrendo. Rapidamente se levantaram
e correram para o complexo. A morte daquele ser
hibrido em nada os ajudaria a tentar entender um
pouco mais sobre o que estava por vir. Chegaram
na porta de entrada, foram até os elevadores e
desceram. Chegaram até o andar onde Rebeka os
aguardavam.
- Tenho certeza de que ele tem ainda alguns
minutos de vida se é que ainda terá.
- Vamos lá vê-lo. Disse Pedro correndo pelo
corredor.
A cena que viu o deixou em um misto de
perplexidade e pena. Orbyu tentava dizer algo,
mas a voz não saia de sua boca. Parecia estar
agonizando como acontecia com todos os que
rejeitavam o procedimento. Se contorcia devagar
ao contrário dos outros homens lobos, mas o
desejo de se fazer ouvir era claro e evidente.
Pedro pediu para que se abrisse a porta de
segurança e mesmo Gustavo tentando impedir a sua
entrada no local não conseguiu contê-lo. Entrou
e se aproximou daquele ser de aparência humana o
qual estava amarrado em fortes cintas, porém,
que de humano só tinha a capa externa.
Aproximou-se mais.
- Por favor me ajude, não quero morrer!
Conseguiu ouvir ele dizer.
- Sei que é difícil, mas tenha calma que
tentaremos de tudo para mantê-lo vivo.
Respondeu.
Se afastou um pouco e chamando Rebeka
ordenou-lhe que não importava o que ele era ou
seria, mas que ela fizesse de tudo para salvá-lo
e mesmo não concordando com a ordem ela não
desacatou e fez tudo o que pode para conter
aquelas dores pelo qual Orbyu estava passando e
depois de quase meia hora ele foi se aquietando
e Pedro temeu pelo pior.
- Ele está bem sedado agora! Respondeu Rebeka.
- Sedado, mas não morto?
- Sim!
- O que fez?
- Dei um sedativo que estou fazendo testes com
ele nos jacarés.
- Sedativo de jacaré?
- É! Jacarés ou crocodilos.
- De onde tirou esta ideia de aplicar isso nele?
- Eu já tinha tentado outros tipos de sedativos
e este, que ainda estou em fase de experimentos
e teste nos repteis parece ter dado certo, ou
acredito que pareça estar ajudando.
- Como um sedativo experimental usado em jacarés
pode tê-lo deixado mais calmo?
- Senhor! Posso falar com sinceridade? Perguntou
Rebeka.
- Pode sim!
- Não sabemos qual é a fisiologia dele e nem
como procederam para cria-lo e está a meu ver
seria a última tentativa mesmo estando ela em
fase de testes.
- O que ela faz nos jacarés ou crocodilos quando
se é aplicada?
- Os deixam calmos e inertes por algum tempo.
- Sedativo de jacarés! Cada uma que vejo.
- Foi a última tentativa senhor, mas parece que
o acalmou.
- Se o acalmou, porque não aplicou nos que
passaram pelo procedimento?
- Porque os que passaram antes deste aqui eram
de origem humana e como disse o sedativo ainda
está em fase de testes.
- E agora?
- Sentar e aguardar! Nada mais que possa ser
feito a partir de agora.
- Quanto tempo mais teremos que aguardar?
- Sinceramente não sei responder isso, portanto,
só resta dizer que temos que aguardar.
De fato, não havia mais nada que pudesse ser
feito e a recuperação ou morte daquele ser que
Pedro queria preservar vivo por vários motivos
só dependia dele mesmo, porém, a diferença era
que agora estando sob efeito daquele sedativo
ele permanecia mais calmo apesar de parecer
estar em coma.
Um dia se passou e nada de normal ou anormal
aconteceu com Orbyu que com a ajuda daquele
sedativo permanecia adormecido ou mais calmo.
Pedro passava a maior parte de seu tempo perto
dele esperando qualquer reação que demonstrasse
que ele ainda estivesse vivo, mas não havia
qualquer movimento que indicasse isso.
Mais outro dia e outro se passaram e o que
Rebeka informava é que a situação dele era
estável e outra alternativa havia que não fosse
aguardar e desta forma uma semana se passou e
doze dias depois Pedro viu que ele dava um leve
sinal de vida mexendo de leve um dos dedos.
- Doutora venha aqui! Acho que ele está
acordando. Chamou Pedro.
Rebeka o examinou e disse que devia ter sido um
leve espasmo, mas era um bom sinal, pois afinal
ele ainda estava vivo o que deixou Pedro mais
confiante e com isso outros cinco dias se
sucederam e outros cinco mais e nada de Orbyu
voltar a si.
Os dias passavam, Orbyu não se recuperava.
Gustavo e Pedro haviam formado um verdadeiro
esquema de segurança na região, porém, devido
ser uma área turística e com várias cachoeiras
isso se tornava praticamente impossível, pois
sabiam que os híbridos tinham a mesma aparência
que os humanos e isso dificultaria a
identificação deles e Pedro confiava que Orbyu
poderia lhes dar informações que os
identificariam.
Mais um dia, dois, três, uma semana e nada,
porém, no quadragésimo primeiro ele finalmente
abriu os olhos para a surpresa da doutora Rebeka
e de seus assistentes. Rapidamente Pedro e
Gustavo foram chamados e apenas Pedro entrou na
cela de vidro onde ele estava.
- Como está se sentindo?
- Vivo! Respondeu Orbyu forçando um sorriso.
- Ah! Então sabe rir e fazer piadas é? Perguntou
Pedro sorrindo.
- Não sei dizer, mas me sinto diferente.
- Diferente como?
- Não sei dizer, mas estou vendo as coisas de
uma forma diferente.
- Como diferente?
- Não sei dizer, mas estou feliz por estar vivo
e lhe agradeço por isso.
Pedro ficou feliz em ouvi-lo, mas a fim de
atender os critérios médicos chamou Rebeka que
disse que a partir daquele momento ele teria que
passar por uma avaliação mais completa que na
verdade era ver o que havia acontecido com
aquele ser hibrido que para começar nem coração
possuía.
- A doutora me informou que agora passará por
observações rotineiras. Informou Pedro.
- Bem compreensivo e vou me ater no que ela
determinar, mas estou com fome. Tem algo para eu
comer?
- Claro que sim! O que deseja comer?
- Arroz, feijão, batata frita e salada! Pode
ser?
- Salada!
- É!
- Não quer carne, ovos, estas coisas?
- Não! Apenas isso.
Pedro olhou para Gustavo e Rebeka que
estranharam tanto quanto ele aquele pedido. Não
sabiam o que ele costumava comer, mas aquilo que
ele pediu surpreendeu-os.
- Tem certeza que quer isso mesmo?
- Tenho sim! Porque?
- Nada! Apenas para saber se não entendemos
errado.
- Podem ter certeza de que eu não pediria carne
nem crua, porque nunca gostei disso. Respondeu
sorrindo e contagiando a todos eles.
)
Pedro se afastou e logo serviram para Orbyu o
que ele pedira. Ao se afastar chamou Rebeka e
seu avô e lhes perguntou o que acharam daquilo.
- Acho que ele está tentando ser agradável e
estranhei isso, afinal um híbrido não deveriam
ter sensibilidade para isso. Disse Gustavo.
- Eu já penso que ele já estava programado para
uma situação desta e agora está entrando na
sequência do que ele foi programado. Falou
Rebeka pensativa.
- Caramba! Cadê a confiança de vocês para um
caso deste? Comentou Pedro.
- Você confia em um ser sem coração? Perguntou
Gustavo.
- Acha que o Vladislav tem ou teve coração vovô?
- Bem ele teve, porque?
- Se ele teve um coração, concorda que ao passar
pelo procedimento ele recuperou o coração talvez
perdido doutora?
- Sim! Isso posso garantir.
- Porque perguntou isso Pedro? Perguntou
Gustavo.
- Veja bem! Se Vladislav teoricamente tinha
coração e está cometendo genocídios e destruição
contra a humanidade, porque um ser ou pessoa sem
coração não poderia se tornar mais humano?
- Não tenho respostas para isso, mas que é
suspeito é. Voltou a dizer Gustavo.
- Uma pergunta bem simples agora. Doutora
Rebeka, acha que ele está curado ou não?
- Até que se prove ao contrário posso garantir
que ele está e o procedimento nele, apesar de
termos que ter usado as injeções dos jacarés foi
um sucesso.
- Era tudo o que eu precisava saber e agora de
olho nele para ver como que ele reage. Finalizou
Pedro saindo do laboratório e indo para a
superfície.
- No que está pensando meu filho? Perguntou
Gustavo depois pouco mais de meia hora depois
vendo Pedro olhando para o vale.
- Nem sei o que dizer vovô! É muita
responsabilidade para uma pessoa só e estava
pensando no que teve que passar estes anos
todos.
- Eram outros tempos e outras situações.
- Mesmo assim! Estava pensando no que passou
desde o começo de tudo.
- Foram muitas dores e pior que isso, foram as
dores que causei.
- Isso é uma coisa que não consigo nem ter
ideias, mas se pensa que desisti de destruir
quem matou maus pais está muito enganado. Quero
eliminar aquele verme com minhas próprias mãos.
- Pedro! A vingança é uma coisa que mais faz mal
do que bem e saiba que, mesmo que você elimine
ele jamais trará de volta os seus pais.
- Mas o senhor não quer eliminá-lo?
- Quero, mas andei pensando muito do que me
disse de que talvez, ou quem sabe, tenha sido
ele quem matou a minha amada Antonella e me
feito acreditar que tenha sido eu, se bem que,
ainda acho que fui eu quem fez aquilo.
- Se já começou a pensar que não foi então só
tem um jeito de saber.
- Qual?
- Caçá-lo e antes de exterminá-lo ouvir de sua
própria boca que foi ele quem a matou.
- Ele jamais confessaria isso, posso lhe
garantir isso.
- Então vamos caçá-lo e ver o que acontecerá e
na pior das hipóteses estaremos vingando as
mortes de meus pais e colocamos uma pedra em
cima disso.
- Verdade! Vamos dar tempo ao tempo porque ele,
o tempo sempre é o melhor conselheiro.
- Concordo contigo vovô!
- Em gênero, número e grau.
)
Outra semana se passou e a vigilância em cima de
Orbyu bem como dos limites da cidade estavam
cada vez mais intensas, porém, no caso do
hibrido, este vinha se comportando bem e nada
havia nele que demonstrasse animosidade, pelo
contrário, Pedro dedicava bom tempo de seu dia
conversando com ele e até Gustavo já acreditara
que algo de bom havia naquele ser.
- Gostaria de leva-lo lá para fora, mas mesmo
todos me considerando o soberano eu respeito ao
meu avô que era, foi e para mim ainda é o líder
dos que aqui habitam.
- Eu compreendo e por isso nem irei pedir mais
do que me for possível para ajuda-los.
- Pode me falar mais deste processo hibrido que
Vladislav criou?
- O que quer saber?
- O que se sentir à vontade para me contar, mas
saiba que além de querer saber mais de você
também quis salvar sua vida.
- Sei que ao me poupar quis na verdade me manter
vivo para obter mais informações desta nova raça
ao qual eu fazia parte, mas não me incomodo com
isso, afinal eu, se fosse você teria agido da
mesma forma
- Não achei justo te eliminarem e este foi o
principal motivo, mas o que pode me contar?
- Falarei o que sei, mas antes disso quero lhe
agradecer por salvar a minha vida e mais, ter me
proporcionado o privilégio de passar pelo
procedimento ao qual passei, mas vamos lá.
Preparado para ouvir?
- Preparadíssimo! Respondeu Pedro.
- Pelo que sei trabalhando para meu criador um
cientista que está com ele a anos de nome
Stanislaus Korov. Este desenvolve projetos e
processos de tudo o que é tipo e todos eles são
voltados para o mal e isso é o que acalenta os
desejos mais sórdidos de Vladislav. Com isso, o
cientista cria vírus destrutíveis, bombas de
destruição, infecções inexistentes e por último
criou os homens lobos, mas híbridos.
- Sabe como ele fez isso?
- Pelo que sei ele pegou algo de DNA humano, de
algum lobo e fundiu em alguma molécula que não
sei dizer o que é e nem como e nos criou, porém,
no começo desta insanidade muitos híbridos
morreram, mas ele agiu como se não fossem nada o
que de fato tinha certa razão, pois os primeiros
eram mero objeto descartável. Ninguém se
importou com as perdas de irmãos que vieram
antes de mim mesmo porque não tinham nada na
cabeça no que pensar até que ele em sua demência
resolveu mudar os seus métodos e conseguiu fazer
um hibrido que entendesse o que ele dizia e se
empolgou com isso.
- Híbridos pensantes?
- Mais ou menos isso, mas com limitações.
Entendiam o que era falado, mas não sabiam usar
aquilo para mais nada. Para resumir era como
pegar um animal, o domesticasse e mandasse ele
fazer as coisas.
- Tipo um cãozinho treinado?
- Isso mesmo!
- E o que aconteceu a seguir?
- Vendo isso a empolgação dele aumentou e
começou a aperfeiçoar os híbridos, porém nada
disse para Vladislav e quando este descobriu e
viu que Stanislaus estava criando uma nova raça
pensante mandou matar a todos e poupou seu
cientista com a ameaça de que daria sua esposa,
mãe e filhos para as feras caso ele insistisse
em fazer as coisas sem que ele soubesse.
- Espera ai! Stanislaus é humano?
- É!
- Ele não o transformou?
- Não!
- Porque o poupou?
- Vladislav pode ser um monstro, mas não é
burro. Ele deve ter sentido que se transformasse
Stanislaus em um homem lobo teria o domínio
sobre ele, porém, por outro lado poderia
interferir isso em sua capacidade de criar as
coisas.
- Você diz de Stanislaus já tivesse a maldade
dentro dele, foi isso que entendi?
- Isso mesmo! Stanislaus pelo que sei era um
cientista que sabia sobre muitas coisas, mas
nunca foi reconhecido e isso o revoltou até que
apareceu Vladislav que o valorizou.
- Valorizou como?
- Não sei direito, mas reconheceu a capacidade
de ser de Stanislaus e lhe deu autonomia para
desenvolver tudo que pudesse usar para alcançar
o mal maior que era, a seu ver, pelo que eu
soube destruir um monstro inatingível.
- Meu avô?
- Ele mesmo e isso motivou Stanislaus que
começou a se dedicar a criar a maldade em forma
de vírus e finalmente nos híbridos.
- Você disse que Vladislav mandou eliminar todos
os híbridos de certa forma pensante. Você fazia
parte daquele grupo?
- Fazia sim!
- E como escapou do extermínio?
- Não sei como, mas Stanislaus quando me criou
acredito que tenha colocado um pouco mais de
capacidade de pensar em mim e eu era de certa
forma um protegido dele e quando a ira de
Vladislav recaiu sobre meus irmãos híbridos
Stanislaus me escondeu e salvou a minha vida
naquele momento.
- Então foi salvo por duas vezes?
- Na verdade, foi salvo apenas pelo senhor.
Stanislaus deve ter colocado na composição
daquilo que me deu vida algo mais que ele deva
ter perdido quando tudo foi destruído e ele
precisava de mim para tentar refazer a sua
receita.
- Tipo um rato de laboratório?
- Não sei o que rato de laboratório, mas ele me
usou quando quis, quanto quis e da forma que
quis até que conseguiu recriar a nova geração de
híbridos onde todos iriam somente obedecer e
nada mais que isso.
- Um exército de sem sentimentos?
- Exatamente isso.
- E como surgiu isso dele enviar você e este
grupo para cá?
- Ele não sabia que eu era um sobrevivente e
quando teve a ideia de mandar um grupo grande
para cá eu estava quieto no meio deles e ele
mesmo separou duzentos de nós para virmos para
cá.
- Assim do nada você veio no pacote?
- Não! Eu nem deveria ter vindo, mas como
Vladislav havia comentado com Natália, a
assessora loba dele, acreditavam que haviam
sobrado alguns “pensantes” e ele iria descobrir
e eliminá-los como fizera com os demais e neste
momento foi que Stanislaus me infiltrou no meio
deles e pediu que eu buscasse refúgio em outro
lugar. Com isso, do nada, talvez por eu estar na
frente de vários híbridos que recebiam ordens e
as cumpriam Vladislav me ordenou que eu viesse
de batedor.
- Hum! Assim do nada?
- Como assim do nada? Perguntou Orbyu
estranhando.
- Porque mandou logo você de batedor e qual
seria a sua função de vir na frente?
- Ah é isso!
- É!
- Ele tinha que mandar um batedor e poderia ser
qualquer um de nós, mas Stanislaus disse para
Vladislav que eu havia sido o primeiro da nova
safra de híbridos e que o KTX034 deveria ter
esta oportunidade.
- KTX034!
- Sim! O nome que foi dado para mim.
- E de onde surgiu o Orbyu?
- Orbyu foi o nome que me foi dado quando ainda
haviam os pensantes. Todos tinham nomes dados
por Stanislaus e este foi meu nome.
- Ah tá! Entendi.
- O que quer saber mais?
- Não sei! Estou pensando aqui comigo mesmo.
- Pensando! O que seria pensar consigo mesmo?
- No que me contou!
- O que tem?
- Não sei! Tem alguma coisa errada aí.
- Não entendi! Disse Orbyu.
- Você contou muita com coisa como se estivesse
preparado para fazer isso.
- Mas falei a verdade!
- O que seria a verdade para você Orbyu?
- Fatos concretos! É isso que eu acredito ser a
verdade.
- E acredita que me contou tudo de fato como
aconteceu lá sei lá onde?
- Sim!
- Como funciona a cabeça de vocês, os híbridos?
- Não posso precisar disso, mas no meu caso
acredito eu que Stanislaus tenha colocado algo
mais.
- Tipo o que mais?
- Isso já não sei dizer, mas não acreditou em
mim, não foi?
- Qual é o seu grau de raciocínio?
- O que é raciocínio?
- Quer saber o que é raciocínio?
- Quero!
- Bem, raciocínio seria mais ou menos o
exercício da razão pelo qual se
procura alcançar o entendimento de atos e fatos.
Seria a formulação das ideias e se deduz algo a
partir de uma ou mais premissas. Entendeu?
- Não!
- Vou tentar de outra forma.
Raciocínio é o tipo pensar, entendeu agora?
- Pensar é ter raciocínio?
- É mais ou menos isso!
- Eu sei pensar, então eu tenho
raciocínio?
- Me dê um minuto que já volto.
Pedro estava encucado e saiu da
cela envidraçada em que Orbyu estava e foi em
busca de Rebeka. Tinha que lhe perguntar algumas
coisas que não estava entendendo.
- Doutora! Pode me dar uns
minutos?
- Claro! O que houve?
- Me fale sobre um hibrido, por
favor.
- Sobre o que temos aqui?
- Não! Sobre algo que seja
hibrida. Sabe algo sobre isso?
- Desde que vocês trouxeram ele
para cá eu andei fazendo umas pesquisas e
acredito que possa comentar alguma coisa.
- O que pode me dizer sobre os
híbridos e ressalto que o nome dele é Orbyu.
- Tudo bem, me desculpe por não
ter usado o nome dele, mas ainda acho estranho o
que estou vendo.
- O que está achando estranho?
- Veja bem senhor! Eu até agora
jamais tinha ouvido falar de sucesso em pessoa
hibrida, porém, no Japão e na Espanha além de
outros países cientistas começaram a desenvolver
pesquisas
envolvendo o cultivo de células
humanas em embriões de animais, porém, a
pesquisa pode ter consequências inesperadas se
algumas células humanas forem transferidas para
o cérebro de um animal. Contudo há normas
internacionais que dentro das leis impedem ou
impediriam que a fusão de um embrião hibrido
humano com o de um animal para a criação de
órgãos humanos não há nenhum relato oficial de
que isso fosse possível.
- O que te faz concluir o que?
- Que temos nas mãos uma verdadeira obra de arte
cientifica, ou a prova viva de que é possível a
criação de pessoas juntando os embriões, porém,
aqui, no caso de Orbyu a coisa é mais complexa
porque tenho certeza de que ele não é humano de
forma alguma, mas ele age e pensa como se fosse
humano.
- Tem certeza disso?
- Tenho sim e garanto que fora o coração, rim e
alguns órgãos internos ele é poderia e pode ser
comparado a um ser humano na aparência.
- Você me disse que ele não possui alguns órgãos
internos, foi isso?
- Sim! Isso mesmo.
- Ele se alimentava antes?
- Não tenho a menor ideia.
- Ele está se alimentando agora?
- Está e adora pelo que vejo arroz, feijão,
salada, batata, frutas e outras coisas de origem
que não seja animal.
- Tentou dar um bife para ele?
- Tentamos sim. Bife e ovo, mas ele recusou.
- Outra pergunta. Se ele se alimenta agora o que
entrar em seu corpo terá ou teria que sair e se
ele não tem outros órgãos como funcionaria isso?
- Pergunta se ele tem ânus e pênis, por exemplo?
- Sim!
- Tem ambos, mas daí a saber se funcionam eu não
tenho a menor ideia. Temos que esperar para ver.
- Bom ter tocado no assunto do pênis. Acredita
que eles poderiam procriar?
- Também não tenho a menor ideia senhor.
- Confiaria nele?
- Também não sei lhe responder isso, mas a
princípio ele não fez nada que que desabonasse a
sua conduta.
- Obrigado! Vamos ver no que irá dar isso tudo.
- Estou sempre às ordens senhor.
Pedro saiu da sala onde estava falando com
Rebeka ainda mais confuso do que entrou. Ela lhe
respondera perguntas básicas, mas no fundo ele
não sabia se poderia confiar ou não naquele
homem hibrido. Resolveu não voltar onde Orbyu
estava e voltando para a superfície sentou-se no
banco que dava acesso para o vale e perdeu a
noção do tempo em que ficou ali olhando para o
nada e só voltou à realidade quando Gustavo o
interpelou.
- Perdido em pensamentos filho?
- Põe perdido nisso vovô! Estou para lá de
perdido.
- Dúvidas com relação ao seu hibrido?
- Ele não é meu, mas realmente é sobre ele que
passei sei lá quanto tempo aqui pensando.
- E chegou a alguma conclusão?
- Não! Respondeu Pedro sorrindo.
- Tem medo de errar?
- Um pouco!
- A nossa vida é feita de erros e acertos e isso
nunca mudará.
- Arriscaria toda uma coletividade achando que
está certo vovô?
- O que diz o seu eu interior?
- Não sei! Estou em dúvida acredito eu por
completo.
- Vamos fazer um teste. Feche os olhos e estique
o braço direito para algum lugar que lhe venha
na mente aqui onde estamos.
- Qualquer lugar?
- Sim! Feche os olhos e faça isso.
- Pode ser o braço esquerdo?
- Qualquer um. Apenas faça.
- Tudo bem! Respondeu Pedro erguendo o braço
direito e apontando para um lugar qualquer.
- O que vê?
- Um moro alto envolto em nevoeiro.
- Quando estava aqui chegou a ver o nevoeiro lá
onde está apontando?
- Não!
- E o que vê neste morro?
- Uma névoa densa.
- Ótimo e o que vê através da névoa?
- Como?
- O que vê através da névoa. Olhe bem para
dentro dela.
- Tá!
- Consegue ver algo?
- Não! Espere, vejo algo.
- E o que vê?
- Uma batalha feroz.
- Quem está na batalha?
- Dois exércitos.
- Consegue identifica-los?
- Espere um momento que estou penetrando na
névoa.
- Quando ultrapassar a névoa me avisa o que vê.
- Realmente são dois exércitos. Um de homens
lobos e o outro são os nossos soldados.
- Consegue distingui-los?
- Sim! Estão usando um uniforme com destaque
para a cor verde que são os homens lobos.
Dezenas deles e no outro usa um uniforme no tom
azul com o preto.
- Azul e preto?
- Sim! São estas as cores.
- Você já as viu por aqui?
- Não! Nunca.
- O que mais vê?
- Orbyu!
- O que tem ele?
- Está la luta e ao meu lado.
- Tem certeza?
- Tenho!
- Como estão lutando?
- Com espadas do tipo medieval.
- O que mais consegue ver?
- Vejo um detalhe no uniforme preto.
- Que detalhe?
- Três letras S entrelaçadas dentro de uma lua.
- Três letras S?
- Sim!
- Seria por acaso a uma alusão ao nome Santilena
Spallucci Spadonni?
- É! Pode ser que sim, mas o que seria esta lua?
- O seu brasão. A lua com os três S dentro dela.
- É?
- É, ou poderá ser, mas realmente é o Orbyu que
está lutando ao seu lado?
- Tenho certeza que é.
- Pode abrir os olhos então!
Sem entender nada Pedro abriu os olhos ao mesmo
tempo em que baixava o braço, mas não sem antes
ter visto que ele apontava para um enorme monte
que ficava bem ao fundo da propriedade onde
estavam, porém, naquele momento o sol que
descortinava no vale não mostrava nada da névoa
que vira com os olhos fechados.
- Entendeu o que viu?
- Não!
- Qual era a sua dúvida que o fez passar horas
sentado aqui olhando para o vale?
- Era se podia ou não confiar em Orbyu.
- E a que conclusão chegou?
- Não sei!
- Tem certeza que não sabe?
- O que aconteceu aqui vovô?
- Você tem um dom e eu forcei para que ele
aflorasse. Apenas isso.
- Que tipo de dom?
- De ver algo que ainda não aconteceu.
- Prever o futuro?
- Mais ou menos isso, mas viu mais do que isso.
Você viu Orbyu ao seu lado e lutando contigo.
- Então acha que posso confiar nele?
- Baseado no que me relatou eu e veja que eu
disse eu confiaria que ele está do nosso lado.
- Obrigado vovô!
- Obrigado nada! Vamos lá para baixo que irei te
mostrar os novos uniformes, porem faltam nele a
lua em volta dos três S.
- Sério?
- É! Vamos lá que vou te mostrar.
Voltaram para o prédio do complexo e lá pegaram
o elevador e desceram até o sexagésimo segundo,
ou o último andar e lá Pedro pode ver a
amplitude que seu avô construíra durante anos. O
local era enorme e acima de tudo era um
verdadeiro arsenal composto por um armamento
diferenciado que nem na internet acharia algo
parecido e lá em um dos lados da imensa área
estavam centenas de uniformes idênticos ao que
ele vira a pouco tempo.
- O que é isso vovô?
- O futuro meu filho. O seu futuro.
)
Cada instante mais que passava ali naquele
paraíso mais e mais Pedro descobria as coisas e
quanto mais descobria mais se surpreendia com o
que via.
Na verdade, até pouco tempo atrás era um garoto
simples que vivia com seus amados pais e de
repente perdera-os e seu avô que sempre achara
que o rejeitava apareceu e o levou para junto de
si. Pouco tempo depois que pareciam anos acabou
amadurecendo mais do que amadureceria se
continuasse na vida que levava e uma nova vida
se abriu para ele.
Sem saber porque ou de que forma descobrira que
era neto de um avô que era nada mais nada menos
que um lobisomem reformado através de um
milagroso ou cientifico elixir e que estava em
vida a mais de seis séculos.
Para que não soubesse da sua história e eram
raros os que sabiam diriam que ele era um
sonhador ou maluco se contasse para um
desconhecido e finalizando tudo aquilo seus pais
foram barbaramente assassinados e ele era,
segundo uma lenda antiga o soberano dos homens
lobos, porém, ser um lobisomem. Era loucura
demais, mas ele bem sabia que tinha uma missão a
qual ele iria cumprir ou tentar cumprir.
- O que achou disso aqui tudo meu filho?
- Estava pensando nisso vovô! É muita loucura
para um adolescente.
- Este é o seu destino meu filho e não tem como
fugir dele.
- Não vou fugir vovô! Pode ter certeza disso.
- Sei que não, afinal você é um autêntico
Santilena Spallucci Spadonni.
- Sei disso e prometo honrar o seu nome.
- Vamos subir porque você tem alguém te
esperando.
- Orbyu?
- Sim! Chegou a hora de começar a cumprir o seu
destino e ele faz parte do que está por vir.
- Vamos então, porque sinto que o tempo urge e
logo os híbridos estarão por aqui.
)
Pedro depois de tudo que viu antes e depois que
desceu até o último andar do complexo, na volta
ia subir e ir conversar com Orbyu, mas pensou
melhor e resolveu deixar para fazer isso mais a
tarde na hora que já tivesse escurecido.
- Não quis ir falar com ele? Perguntou Gustavo.
- Não vovô! Vou esperar escurecer para fazer
isso.
- Porque?
- Não sei, mas foi isso que meu coração me
mandou fazer.
- Não vou dar palpite sobre isso, mas se seu
coração lhe disse isso siga-o, pois sei que ele
sabe o que faz e fará com e por você meu filho.
- Vovô! Eu estava pensando no que minha vida se
tornou nestes últimos meses.
- Foram muitas mudanças, não foram?
- Falar que foram muitas é pouco. O que está me
acontecendo se eu contasse para alguém fora
daqui me chamariam de doido.
- Se quer saber meu filho, a meses atrás eu
achava que você era apenas um menino mimado
pelos seus pais e que queria apenas curtir uma
vida fútil.
- Eu mimado?
- E não era?
- Bem, era, mas eu não queria uma vida fútil.
Foi você vovô que não me dava atenção.
- Engano seu! Eu sempre estive presente na sua
vida. Aparentemente longe, mas se o fiz foi e
era para proteger você e seus país.
- Por causa do Vladislav?
- Em parte foi por causa dele também, mas mesmo
sabendo que estava recuperado ainda temia um
surto e que a maldição que me perseguia poderia
voltar e eu causar mal principalmente para você
que era fruto de algo bom que fazia parte da
minha vida.
- Nossa vovô! Nem tinha ideia disso.
- Sempre protegi os meus com muita atenção
depois da morte de sua avó, mas é vida que segue
e não podemos deixar que ela nos leve sem nos
cuidarmos.
- Tem toda razão vovô e farei o impossível para
cuidar de tudo e de todos que eu puder.
- Assim é que se fala. Está cada dia mais me
provando que é um legitimo Santilena Spallucci
Spadonni.
- Obrigado!
)
O dia passou, a tarde chegou e após ela o sol se
pôs e Pedro saindo da casa principal se dirigiu
para o complexo e após pegar o elevador chegou
até onde Orbyu se encontrava encarcerado.
- Abram a porta por favor! Pediu para o
segurança.
- Tem certeza senhor?
- Tenho! Abra.
Cautelosamente o segurança deu sinal para a
central que acionando controles abriu as três
portas de segurança que havia no local. Pedro
entrou e o segurança ficou atento.
- Vista uma roupa mais grossa que vamos dar uma
volta.
- Tem certeza do que está me pedindo?
- Se não tivesse garanto que não estaria aqui!
Respondeu Pedro.
- Vai confiar em mim? Perguntou Orbyu.
- Depende!
- Do que?
- Vai confiar em mim?
- Lhe devo a minha vida senhor!
- Meu nome é Pedro e não me deve nada.
- Eles iam me matar e me salvou, portanto lhe
devo minha vida.
- Deixe de clichê e me acompanhe.
- Onde iremos?
- Vai ter que confiar em mim. Confia?
- Claro que sim! Respondeu Orbyu pegando um
agasalho que lhe deixaram ali.
Saíram da cela e Orbyu perguntou se não iriam
vendá-lo e Pedro fez de conta que nem ouvira. Se
dirigiram para os elevadores e agora seguidos
pelas câmeras por dezenas de seguranças subiram
para a superfície onde a noite já dera o ar da
graça.
- Me acompanhe!
- Sem seguranças?
- Quer que eu chame por seguranças?
- Não! É que...
- Não é nada e acho que não preciso ou
precisarei de seguranças, concorda?
- Da minha parte não, mas onde iremos?
- Calma que logo verá!
Orbyu não estava entendendo nada, mas acompanhou
Pedro em silêncio. Era estranho que estivesse
fora do local onde estivera aprisionado e sem
venda nos olhos e apenas com aquele ainda garoto
e lado a lado acompanhou-o até onde ele queria
ir e parou junto quando Pedro parou.
- O que vê à sua frente?
- Um imenso vale que está começando a adormecer
na sombra do sol.
- Só isso? Perguntou Pedro.
- Vejo luzes bem adiante e este local deve ser
maravilhoso sob a luz do sol. É isso?
- Não! Eu estou te mostrando a liberdade. Está
livre de novo.
- Como?
- Não permanecerá mais recluso a uma cela.
- Não estou entendendo.
- Não quero te manter mais entre quatro paredes
de vidro. Quero que sinta o local onde está e me
diga o que isso tem a ver com você a partir da
talvez suposta mudança.
- O que eu sinto?
- É!
- Sem comentar a liberdade a qual lhe agradeço
muito estou me sentindo de uma forma que nunca
estive. Sinto o frescor da noite, a suavidade do
vento, a beleza de um local adormecido, um
sentimento se é que é este o nome por mim jamais
sentido antes e é como se eu fosse um humano,
pois estou me sentindo vivo e com vontade de
gritar bem alto obrigado senhor.
- Grite oras! Não se faça de rogado.
- Posso gritar?
- Pode, mas sabe o que quer dizer o ato de
gritar?
- Seria falar alto, é isso?
- É! Faça se tiver vontade.
- Posso fazer isso?
- Não é o que está sentindo e que deseja fazer?
- É!
- Então faça sem receio.
Orbyu olhou para o vale, depois para Pedro,
novamente para o vale e voltando outra vez para
Pedro se ajoelhou e gritou obrigado senhor com
todas as forças de seu interior surpreendendo
não apenas a Pedro quanto Gustavo e as Vuks que
estavam prontas para intervir.
- Não tem que se ajoelhar. Levante-se por favor.
- Tenho sim! Graças ao senhor eu me sinto mais
vivo do que jamais fui ou poderia ser e por
estar me concedendo a liberdade, mas tenho uma
pergunta a fazer.
- Pode fazer!
- O sentimento de agradecimento é verdadeiro,
mas eu tenho que ir embora?
- Sei que é verdadeiro, mas quanto ao ir embora,
você deseja isso?
- Não! Na verdade, nunca me senti mais livre em
todo o tempo que eu existo e se me deixar
gostaria de ser seu amigo.
- Já tem a minha amizade Orbyu e pode contar com
ela.
- Não é este tipo de amizade, mas sim a de fazer
de tudo para te proteger e cuidar de ti.
- Se acha que preciso disso tudo bem, mas aceito
com gosto você como meu amigo. Agora vamos
aproveitar e curtir um pouco esta bela paisagem
que está se descortinando à nossa frente. Venha
aqui e sente-se comigo no banco que eu gosto de
me sentar e olhar para o vale.
Orbyu seguiu Pedro e pela primeira vez na sua
vida agora quase humana e sentou-se ao seu lado.
Não tinha nada que pudesse comentar sobre
qualquer coisa, pois tudo para ele era o pouco
que vivera com Stanislaus sob o comando e
controle de Vladislav. Não tinha família e
sentia sem saber porque queria ter uma, mas
Pedro foi comentando sobre a vida humana de uma
forma natural até o ponto de lhe perguntar como
que eles colocavam para fora o que ingeriam.
- É normal em humanos colocar para fora o que se
é ingerido?
- É! Respondeu Pedro.
- Será que é por isso que estou sentindo umas
contrações estranhas dentro de mim?
- Não sei, mas deve ser.
- E como que eu faço para que o que coloquei
dentro de mim saia?
- Vou te explicar! Respondeu Pedro.
Com um sorriso nos olhos Pedro foi informando
para Orbyu como era o procedimento dos humanos e
de como se asseavam depois de fazer as suas
necessidades. Orbyu o olhava cada vez mais
surpreendido e ambos riam das explicações e
entendimento de algo que poderia ser a criação
de um novo humano modificado. Tudo sob os
olhares atentos, mas já mais descontraídos de
Gustavo, das Vuks e de Rebeka que se uniu ao
grupo de observadores daquela nova raça.
- Não está com fome?
- Estou, mas antes disso acho que precisarei
cuidar do que acabei de aprender! Respondeu
Orbyu.
- Vou lhe mostrar onde poderá e deverá colocar
para fora o que tem aí dentro e como se assear.
- Vai ficar lá junto comigo?
- Claro que não! Isso é uma coisa pessoal só
sua.
- Vai confiar em me deixar sozinho?
- Você vai aprontar algo ou fugir?
- Nunca!
- Então é claro que ficará só! Depois vai tomar
um banho, trocar de roupa e vamos jantar.
Fechado?
- O que é fechado? É algo como ser preso?
- Não! Fechado é se concorda.
- Ah tá! Fechado então. Respondeu Orbyu dando um
leve sorisso.
Pedro pediu para que Orbyu o acompanhasse.
Entraram na casa sede e Pedro o conduziu até um
dos vários quartos, lhe mostrou onde ele iria
dormir a partir daquele dia e o local onde ele
colocaria as suas novas necessidades físicas e
onde tomar banho. Ao longe as Vuks quiseram ir
atrás, mas foram impedidas por Gustavo.
- Vai confiar senhor? Perguntou Ingrid.
- Se Pedro confia devemos confiar também. O que
me diz doutora?
- Acho que sem querer criamos uma nova raça
humana modificada. Um hibrido humano e o melhor,
que demonstra afinidade e a meu ver fidelidade
ao nosso novo líder.
- Estava pensando a mesma coisa aqui, mas me
responda uma coisa doutora, se ele se sente
humano será que ele irá querer criar uma
família?
- Bem possível!
- Ter uma esposa por exemplo?
- Também acho que isso possa acontecer, se bem
que não poderia dizer até onde isso fará parte
do dia a dia dele.
- A senhora o examinou então me diga, ele tem os
órgãos sexuais?
- Tem sim!
- E funcionam?
- Senhor! Que pergunta mais saliente.
- Foi mal, foi apenas curiosidade, mas se por
acaso arrumarmos uma hibrida será que poderia
acontecer o mesmo que aconteceu com ele?
- Bem provável que ocorra, mas isso se
encontrássemos uma hibrida igual a ele.
- E se Pedro arrumar uma humana que prove que as
coisas nele funcionam direito, daria certo?
- Senhor! Me perdoe, mas está me fazendo
perguntas nada profissionais.
- Não sei porque, eram apenas cientificas.
Respondeu Gustavo sorrindo o que surpreendeu
Rebeka, pois nunca o vira sorrindo.
- Posso me retirar?
- Pode, mas fiquei curioso e vou pedir para que
Pedro pergunte para ele.
- Homens! Nunca mudam mesmo. Respondeu Rebeka
saindo.
- Vá entender estas mulheres. Eu só estava
pensando algo em nome da ciência. Disse para si
mesmo Gustavo ao ver Rebeka entrando no
complexo.
Não tão longe dali Pedro mostrou o novo quarto
onde moraria Orbyu a partir de então. Lhe
mostrou a toalete, o vaso sanitário, o chuveiro
e como ele deveria proceder em sua nova vida a
partir de então e saiu indo se encontrar com seu
avô que com certeza tinha estado os observando
em todos os momentos. Saiu e foi em direção à
sala onde sabia que estaria seu avô naquele
momento.
- Vovô! Estava nos observando?
- Eu! Por quem me tomas meu filho? Respondeu
Gustavo sorrindo.
- Sei! Imagina que deixaria de acompanhar o que
eu ia fazer, mas viu tudo?
- Vi, me surpreendi, fiquei feliz por tê-lo
acomodado aqui dentro, mas tenho uma
curiosidade.
- Qual?
- Será que ele sendo e uma nova raça de humanos
teria ou terá vontade de ter uma família?
- Com certeza terá!
- Esposa por exemplo?
- Acredito que sim.
- E será que o negócio dele funciona?
- Acho que isso o senhor deverá perguntar para
ele. Respondeu Pedro sorrindo.
- Eu não! Ele é seu amigo, portanto você se vira
e pergunta.
- Está querendo muito também né vovô? Vamos ver
agora se ele saberá se limpar. Disse sorrindo.
- Se limpar?
- É! Ele irá defecar pela primeira vez em sua
nova vida humana.
- Não creio!
- Quer ir lá ver ao vivo?
- Eu não, mas que fiquei curioso eu fiquei.
Respondeu Gustavo desta vez rindo com vontade.
- Não comente vovô, mas eu também. Disse Pedro
também sorrindo.
- Vamos jantar?
- Vamos esperar e jantarmos juntos, mas já
adianto que ele não come carne.
- Deste jeito você vai acabar virando
vegetariano. Disse Gustavo sorrindo e novo.
Esperaram algum tempo até que Orbyu saiu do
quarto trajando roupa nova e tentando se ajustar
dentro dela. Se sentia bem e demonstrava estar
feliz. Aproximou-se de Pedro e perguntou se
poderia lhe dar um abraço. Pedro concordou e
Gustavo ficou admirando o gesto de Orbyu que de
fato demonstrava total gratidão ao seu neto que
o tratava como igual.
- Senhor! Obrigado por me receber aqui em sua
casa e acima de tudo, parabéns pelo neto que tem
que está me mostrando o mais puro e sincero
gesto do que é um ser humano que tem dignidade e
respeito por me tratar como um igual e não uma
criatura qualquer.
- Agradeço por suas palavras e seja bem-vindo ao
nosso bagunçado, mas abençoado mundo dos humanos
mortais. Agora vamos jantar e já sei que não
gosta de carne, portanto lhe serviremos o que
desejar.
)
Jantaram e mesmo vendo a mesa repleta de carnes
Orbyu optou por legumes, saladas e a comida que
não tinha nada a ver com animais. Terminaram de
jantar e Pedro conversou muito com ele e o
convidou para irem treinar logo pela manhã e
depois de tudo cada qual foi para seu quarto,
porém, sem que nenhum dos dois vissem ou se
dessem conta Gustavo ordenara rígida e discreta
vigilância sobre Orbyu a fim de não ter nenhuma
surpresa desagradável, porém, esta não ocorreu.
Faltava pouco para as cinco da manhã quando
Pedro bateu na porta do quarto de Orbyu este já
estava preparado para sair. Atravessaram o
corredor, tomaram um leve café e foram em
direção ao complexo e chegando como se
conhecessem a anos se preparam.
- Você era um guerreiro antes?
- Sim! Fui criado para ser um exterminador.
- E sabe bater bem?
- Me fizeram especializar nisso.
- Quer dizer então que em uma luta bateria bem
forte?
- Em uma luta si, mas não viemos aqui apenas
treinar?
- Seria isso se por acaso o coronel Rafael
também pensasse assim, mas não foi a forma que
ele quis treinar. Comentou Pedro olhando para
Rafael que deu um leve sorriso.
- Espere um pouco! Sabe que sou um guerreiro ou
um soldado criado não para machucar e sim para
exterminar e ainda assim quer que eu bata bem?
- Bater só não! Pegue pesado e aja comigo como
se eu fosse um inimigo.
- Mas o senhor não é meu inimigo!
- Não é isso! Apenas acha como um solado
exterminador em nosso treinamento, entendeu?
- Entendi, mas não concordo.
- Apenas faça, por favor.
- Tudo bem!
Rafael sentou-se e ficou olhando porque aquilo
pareceu que ia ser interessante, mas mesmo assim
chamou as Vuks para que ficassem prontas para
intervir e fez isso enquanto ambos se
entreolhavam como que querendo achar o ponto
fraco um do outro e finalmente começaram a lutar
entre si.
A luta começou devagar, mas Pedro foi forçando,
pois queria saber o que havia dentro daquele
recem humanizado novo amigo e quanto ele mais
forçava mais Orbyu se defendia sem querer
machucá-lo.
- Vamos meu amigo! Me mostre a fera que tentaram
você se tornar. Pediu Pedro.
- Quer mesmo?
- Quero! Mostre-me do que são capazes os seus ex
irmãos.
O treinamento aumentou de intensidade e a luta
mais intensa chegando ao ponto de ser feroz e
Orbyu demonstrou que era de fato um guerreiro
implacável, mas não conseguia superar Pedro em
nada e quanto mais batiam um no outro parecia
que mais vontade tinha de fazer isso, mas Pedro
sentiu que Orbyu estava querendo poupá-lo,
porém, levou-o ao extremo de sua capacidade de
se segurar e foi aí que as Vuks se levantaram e
se prepararam para intervir.
Para agravar Pedro provocou tanto Orbyu que este
talvez tirando algo que ele não queria mais
fazer acabou por ferir Pedro causando um corte
profundo em seu estomago. Na hora Orbyu parou e
quis se desculpar, mas Pedro olhando para ele
pediu que continuassem e que ele pegasse ainda
mais pesado. Ingrid já ia interferir com as suas
guerreiras quando Gustavo chegou e as impediu.
- Não interfiram! Pedro sabe o que faz. Está
testando as forças de seu oponente para que ele
mostre o que tem de diferente nos híbridos de
vocês.
- Mas senhor!
- Nada de senhor! Apenas olhem e aprendam, pois
senti que finalmente meu neto encontrou um
oponente à altura e que está fazendo o que ele
pediu sem dó nem clemencia.
A luta continuava. O sangue parara de jorrar do
corpo de Pedro e a ferida foi cicatrizando.
Trocaram de armas e continuaram naquela batalha
que parecia mortal e para quem estava de fora
ficava claro que Pedro não queria machucar seu
oponente. Apenas o provocava para que ele
chegasse ao extremo ou a sua exaustão.
Vários soldados e o pessoal da equipe de
pesquisas chegaram porque a notícia daquela luta
épica estava indo por um caminho inimaginável.
Rebeka chegou e quis interromper a mesma, mas
Gustavo não deixou e o tempo foi passando e
vários tipos de armas brancas foram usadas até
que muito tempo depois Orbyu olhou para Pedro e
perguntou se ele era uma máquina.
- Não meu novo amigo! Sou apenas um garoto
normal.
- Normal não é mesmo e foi só agora que percebi
que a ferida não existe mais em seu corpo.
- Está cansado? Perguntou Pedro sorrindo.
- Não! Ainda não. Respondeu Orbyu também
sorrindo.
- Então vamos lá e se viu que cicatrizou então
sabe que pode bater à vontade sem medo de me
ferir.
- Tudo bem! Vamos lá então. Respondeu Orbyu
despreocupado.
A partir daquele momento Orbyu começou a soltar
toda a forma e a técnica do que lhe fora
ensinado para derrotar os inimigos. Sabedor
naquele momento que Pedro se auto regenerava
deixou de lado a amizade e começou a bater cada
vez mais forte e forçar Pedro à desistir ou
pedir clemencia, mas se enganou quanto a isso,
pois quanto mais batia e por algumas vezes feriu
Pedro este se mantinha inteiro e cada vez mais
forte em atacar e se defender e tal ato e fato
perdurou por algumas horas sem que nenhum dos
dois mostrasse cansaço ou desejo de parar até
que finalmente Gustavo prudentemente se
aproximou dos dois e disse que estava chegando a
hora do almoço e que ele estava com fome.
Tanto Pedro quanto Orbyu pararam. Se olharam,
depois olharam para Gustavo e se aproximando um
do outro se abraçaram e riram muito da cena que
Gustavo estava fazendo demonstrando que era hora
do seu almoço.
- Vocês são doidos? Perguntou Rebeka.
- Porque doidos?
- Estavam quase se matando aí nesta briguinha de
homens.
- Briguinha não! Estávamos treinando.
- Treinando e quase se matando?
- Quero lhe agradecer doutora!
- Me agradecer porquê? Perguntou Rebeka com cara
de brava.
- Por me incluir na categoria de homens.
Obrigado por isso, pois até agora, antes que o
soberano me salvasse a vida eu era apenas uma
máquina.
- Tá bom! Homens! Credo. Resmungou Rebeka saindo
de perto deles.
- Obrigado por se soltar meu novo amigo.
- Posso ser sincero?
- Claro que pode!
- Eu já não estava aguentando mais e estava
quase entregando os pontos. Tem certeza de que é
humano mesmo?
- Bem! A doutora disse que eu nasci desde jeito.
- Que jeito?
- Um humano incompreensivo, mas agora vamos
almoçar porque senão meu avô vai ter um ataque.
Falou Pedro sorrindo e juntos com Gustavo foram
para os elevadores e subiram para a superfície.
Rafael permaneceu junto com as Vuks e olhando
para Ingrid disse que eles tinham que se
preparar mais, pois pelo que Orbyu acabara de
demonstrar ali naquela feroz batalha de
treinamento os híbridos estavam anos luz de
força e agilidade do que eles estavam.
- Concordo com você coronel! Nós nos acomodamos
com nosso jeito de superioridade que
acreditávamos ter e se quiser começar a praticar
estamos dispostos a começar já.
- Vou pedir para que Pedro peça para que Orbyu
nos ajude e quem sabe assim teremos mais
chances.
- Se ele lutar igual lutou com o mestre nós não
teremos a menor chance.
- Vou pedir para que ele bata mais devagar em
nós então. Falou Rafael sorrindo.
)
Almoçaram e de novo Orbyu não quis carne e
reafirmou que nunca fora chegado em coisas
ligadas a seres vivos e segundo ele mesmo por
ele não saber o que era não achava certo tirar
uma vida e por isso que ele preferira sumir da
vista de Vladislav porque não queria matar
ninguém.
- Fiquei surpreso com a sua arte de luta! Disse
Gustavo realmente surpreendido.
- Eu nunca desejei matar ninguém, mas treinei
pesado talvez pensando em me defender.
- Todos os híbridos são ágeis iguais a você?
- A maioria é sim.
- Iguais você lutou é maioria ou minoria lá no
exército de Vladislav?
- Não querendo parecer que era, mas dizia
Stanislaus que de todos eu era o melhor.
- Se era o melhor porque Vladislav não prestou
atenção em você? Perguntou Gustavo.
- Ele não acompanhava o treinamento do exército.
Dava ordens e tinham que ser cumpridas e como
não tinham noção do que faziam ninguém comentava
nada de quem eram melhores ou piores. Já na fase
em que haviam os digamos pensantes se comentava
sobre isso, depois mais nada.
- Pelo que vi e senti em você Orbyu o
treinamento de vocês é muito superior ao nosso
aqui e gostaria de saber se poderia me ajudar a
treinar os nossos soldados para combater o que
está por vir. Seria possível isso? Perguntou
Pedro.
- Confiaria em mim para ajudar nisso?
- Claro que sim, só que eles não são eu e podem
morrer. Teria que ajudar a treiná-los, mas não
poderá mata-los. Aceitaria?
- Se acha que posso ajudar de alguma forma estou
a sua disposição, afinal tenho que me fazer útil
de alguma forma.
- Fechado então?
- Fechado! Respondeu Orbyu mostrando um leve
sorrido nos lábios.
Terminaram de almoçar e estavam saindo da mesa
quando Gustavo chamou Pedro de lado e perguntou
para ele se achava certo convidar Orbyu para
aquela tarefa.
- Vovô! Não sei se percebeu, mas as lutas deles
são muito mais avançadas do que os nossos
soldados possuem. Acha que venceria Orbyu em uma
batalha?
- Realmente tem razão, mas se ele tenha sido
preparado justamente para isso.
- Acabar com nossos soldados?
- É!
- Acha que ele foi?
- Não sei, mas respondendo a sua outra pergunta,
acho que eu não o venceria, porém, deixo isso
por sua conta. O que resolver fazer terá sempre
o meu apoio.
- Obrigado vovô!
Pedro se afastou de Gustavo e se encontrou com
Orbyu que se encontrava na varanda contemplando
o belo vale. Aproximou-se mais dele e ficou
olhando para o infinito.
- Seu avô ainda acha que sou um espião
infiltrado aqui, não é?
- Acha sim!
- Mas eu não sou, pode ter certeza disso.
- Eu acredito em você e o que acha de darmos uma
volta até a cidade?
- Quer me levar a sair daqui e ir até onde tem
muitos humanos?
- Esta foi a minha ideia.
- Acho melhor não. Ainda não.
- Porque! O que teme?
- Não temo, mas acho que isso aumentaria ainda
mais o receio que seu avô tem por mim ou comigo.
- Verdade! Pensando bem melhor ainda não irmos
até lá mesmo, mas que tal treinarmos mais um
pouco?
- Agora!
- Sim! O que me diz?
- Acabamos de almoçar, não acha que faria mal?
- Orbyu! Você está sendo mais humano que eu.
Respondeu Pedro sorrindo.
Ambos riram e resolveram caminhar um pouco e
conversaram muito. Pedro estava cada vez mais
sabendo sobre ele e o exército de híbridos e
Orbyu cada vez mais gostava daquele novo amigo e
se sentindo de fato feliz por ser quase que um
humano.
A tarde com isso foi passando e antes que o dia
terminasse Rafael se aproximou e chamando Pedro
de lado perguntou se ele poderia pedir para que
Orbyu os treinasse com as técnicas do exército
dele e quando soube que Pedro já havia pedido
isso e que ele aceitara ficou feliz como uma
criança.
- Estive conversando com Ingrid e nós
concordamos que acabamos nos acomodando com as
nossas velhas técnicas de lutas e ela foi
superada.
- Pensei exatamente isso quando pedi para ele e
para variar meu avô ficou com um pé atrás.
- Estou junto com seu avô bem como a Ingrid a
muitos anos e sabemos como que ele é reservado,
mas se formos enfrentar hoje um exército com
nossos velhos métodos de luta seremos
massacrados e nada restará para defender os
humanos legítimos.
- Faço meus os teus pensamentos, mas se te
agrada saber pedi para ele, mas já avisei que
vocês não iguais eu que se recuperam de feridas
como eu.
- Até nos recuperamos, mas não da mesma forma
que o senhor.
- Ele já sabe disso, mas quando quer começar?
- Por mim agora mesmo.
- Se preparem então que vou chama-lo para
treinarmos um pouco.
- Vou chamar as Vuks então senhor.
)
Pedro chamou Orbyu e comentou sobre o que
conversara com Rafael e ele concordou na hora em
começarem a treinar. Desceram para a área que
usavam para treinos e iniciaram os trabalhos e
de fato as técnicas usadas pelas Vuks e Rafael
eram bem inferiores, mas nada que não pudesse
ser aperfeiçoada.
No primeiro dia nem se preocuparam em jantar e
foram até altas horas. Pararam e continuaram
logo pela manhã e foram até as doze horas.
Comeram algo leve, deram uma pausa e nova
jornada e tudo sob os olhares de Gustavo que
ainda mantinha certo receio com Orbyu.
Três dias depois mudaram do treinamento no
complexo e passaram a treinar em uma enorme área
ao ar livre e desta vez mais soldados se uniram
a eles. Muitos sofreram, mas não desistiram e
nem fizeram corpo mole.
Orbyu juntamente com Pedro começaram a forçar
aqueles bravos soldados cada vez mais e no final
das jornadas estavam cansados, alguns com
hematomas, mas nada de ferimento grave e assim
dia a dia foram treinando e cada vez mais
aprendendo novas técnicas.
Dias se passaram e começaram a fazer com que os
soldados treinassem entre si e tanto Pedro
quanto Orbyu apenas orientava os que estavam
mais fracos. Gustavo de longe só observava e
mesmo nada dizendo estava sentindo orgulho de
seus velhos soldados e do empenho de Pedro e de
Orbyu que se dedicavam ao extremo para deixar
aqueles homens e mulheres lobos e lobas
totalmente em forma.
Praticamente três meses se passaram e Pedro
sentiu que o progresso de cada um deles estava
quase no auge da perfeição, mas mais que isso
sentia que o perigo se aproximava e que uma
batalha estava por vir e ela finalmente chegou
até eles.
Era uma noite de lua cheia. A serra estava
completamente nevoada e o alarme foi acionado.
As fronteiras haviam sido rompidas e um grupo de
vinte e sete híbridos tentou se aproximar do
complexo e foram contidos pelos soldados da
propriedade e ficaram surpresos com a técnica
com o qual foram derrotados, pois mesmo não
tendo noção das coisas algo lhes dizia que seria
fácil derrotar os homens lobos do soberano.
No final da contenda dos vinte e sete híbridos
restaram vivos quinze deles e depois de contidos
foram levados até a presença de Pedro e este não
sabia o que fazer com eles e perguntou para
Orbyu o que fazer.
- Eles são apenas híbridos. Não tem noção de
nada. Não tem inteligência, nem sabem como
reagir. Só sabem lutar e matar os que foram
programados para exterminar.
- O quer acha de fazermos o procedimento neles?
- Acho que se sobrar algum vivo seriam apenas um
ou dois, pois segundo disse eles têm que desejar
e aceitar o procedimento, não é?
- Isso mesmo! Respondeu Pedro.
- Eu como conheço bem estes soldados híbridos
garanto que a única forma de resolver o problema
seria, mesmo contra a minha vontade a de
eliminá-los, pois se os deixar vivos eles
voltarão contra nós de novo.
- Sugere que os exterminemos?
- Estamos em guerra senhor e eles não nos
poupariam se fosse o contrário.
- Então não fará diferença nenhuma em tentar
fazer o procedimento neles, pois se for para
mata-los ao menos eles teriam uma chance de
mudar.
- O senhor é quem decide e isso prova que o
senhor realmente tem dignidade e seriedade que
eu admiro e sempre admirarei.
- Pois bem! Faremos isso e que Deus tenha
piedade deles.
- Quem é Deus senhor?
- Um ser supremo e acima de tudo e de todos
neste e nos outros mundos que possam existir.
Pedro chamou Rebeka e deixou aqueles híbridos
aos seus cuidados e mesmo tendo certeza de que
eles não sobreviveriam acatou as ordens e eles
foram levados e preparados para passar pelo
procedimento.
Não eram homens, eram máquinas criadas para
destruir. Não eram robôs, pois possuíam a
aparência e jeito dos humanos. Não eram humanos
e com isso não tinham noção de nada e com isso a
chance de sobreviver era praticamente nenhuma.
Não tinham coração e jamais teriam e com isso a
chance de se
ressocializarem
com
os humanos ou mesmo com os homens lobos era
praticamente impossível e não entendia porque o
soberano lhe pedira aquilo e era assim que
pensava Rebeka, mas enfim após eles estarem
manietados ela e sua equipe começaram a executar
o procedimento com eles.
Rebeka sabia que as dores seriam intensas, mas
ao contrário dos gritos que ela esperava ouvir o
que viu foram poucos gemidos e no dia seguinte
onze dos quinze haviam morrido. Os outros quatro
ainda resistiam, mas ela sabia que eles sofriam
muito mesmo não demonstrando.
Pedro, Orbyu, Gustavo e a equipe de segurança do
complexo acompanhavam tudo e no segundo dia dos
quatro apenas dois ainda restava com sinal de
vida e assim permaneceram por mais duas semanas
deixando Pedro feliz por acreditar que de
repente Orbyu poderia começar a ter mais dois de
sua criada família para conviver, porém, nos
próximos dias que se seguiram ambos morreram
mostrando que a transformação daquela safra que
Vladislav criara só tinham o propósito dado por
ele que era o da destruição.
Nada ou nenhuma informação conseguiram tirar
daqueles soldados, mesmo porque eles não tinham
nada de raciocínio, mas Rebeka fazendo uma
autopsia em alguns deles descobriu como que ao
acaso que eles possuíam um chip debaixo do braço
esquerdo que analisado era como se fosse um que
comandava suas ações.
- Senhor! Venha aqui embaixo ver uma coisa e
traga o Orbyu por favor. Pediu Rebeka ligando
pedindo para que Pedro descesse.
Pedro chamou Orbyu e também seu avô e os três
desceram para o andar clinico do complexo.
Rebeka os aguardava na saída do elevador e os
levou para a sala de exames, mas antes pediu
para ver a parte de baixo dos braços de Orbyu
que mesmo não entendendo nada a atendeu. Nada
foi encontrado nele e finalmente ela os levou
para o local onde estavam os corpos dos híbridos
e ela mostrou aquele micro chip instalado.
- Aí está a fonte de comando deles senhor!
Informou Rebeka.
- Um micro chip!
- Sim!
- Estão ativos ainda?
- Não! Eu os desabilitei para evitar algo mais
de seus criadores.
- Fez bem, mas porque debaixo dos braços?
Perguntou Pedro.
- Dos braços não senhor! Apenas do lado
esquerdo. Respondeu Rebeka.
- Mas porque logo ali? Tornou a perguntar Pedro.
- Acho que isso eu posso responder. Quando o
doutor Stanislaus nos criou na primeira safra
ele nos deu um certo conceito de entendimento e
como todos foram destruídos com exceção de mim,
com certeza Vladislav exigiu que eles fossem
refeitos, porém, apenas com um controle que ele
pudesse manusear ao seu bel prazer. Informou
Orbyu.
- É! Tem sentido isso. Falou Rebeka.
- Quer dizer que se esta era a fonte deles, se
eliminar estes chips eles simplesmente
desligariam? Perguntou Gustavo vendo à frente.
- Tecnicamente sim! Respondeu Rebeka.
- Não acredito que Stanislaus mantenha este
microchip neles e no mesmo lugar. Falou Orbyu.
- Porque acha isso? Perguntou Pedro.
- Eles enviaram duzentos híbridos. Chegaram aqui
na linha de frente apenas vinte e sete e eu
acredito que eles tenham retidos os outros na
retaguarda apenas para testar as nossas defesas
e os que vieram na frente foram para arrasar com
tudo ou serem destruídos. Não sei se souberam
que alguns foram aprisionados, mas vendo que
eles não retornaram ao grupo com certeza
mandou-os retrocederem para fazer algo diferente
com eles. Esta é a minha opinião. Disse Orbyu.
- Faz sentido! Mandaram os vinte e sete como boi
de piranha e antes que me pergunte já lhe
informo que é uma tática que humanos usam quando
querem atravessar bois em um rio cheio de
piranhas que são peixes carnívoros, sacrificam
um boi velho ou doente para que a boiada toda
passe. Informou Pedro.
- Boi de piranha! É uma crueldade, mas se o
animal está doente é uma boa tática. Falou
Orbyu.
- Com isso, provavelmente este micro chip será
reatualizado e com certeza eles mudarão o local
onde foram implantados, pois uma coisa eu sei,
eles não são tão tolos para acreditarem que não
os examinaríamos por inteiro. Completou Rebeka
orgulhosa de si mesma.
- O que faremos agora doutora? Perguntou
Gustavo.
- Nos prepararmos, nos cuidarmos porque a
próxima tentativa será bem mais feroz.
Respondeu.
)
De tudo aquilo sabiam que não tinham ou
acreditavam que não tinham a intenção de atacar
os humanos, mas sim e tão somente atacarem e
destruírem a maior defesa que a região de um
projeto maior de Vladislav. Com isso mais
soldados de fora foram convocados e entraram no
treinamento intensivo comandados agora por
Ingrid e Rafael observados por Orbyu e Pedro.
As fronteiras da imensa propriedade foram ainda
mais reforçadas, mas alarmes foram instalados
metro a metro com um aprimoramento a mais que
era um sistema que os cientistas de Rebeka
conseguiram confeccionar com urgência baseado
nos microchips retirados dos híbridos.
Estavam preparados não para uma batalha, mas sim
por uma intensa e feroz guerra que poderia
significar o fim do domínio da raça humana
porque Vladislav não se contentaria em dominar
apenas as reservas e propriedades de Gustavo ou
Nicolai Volkov como ele conhecia a séculos.
E assim sendo, longe dali, bem longe Vladislav
convocou Stanislaus para saber de resultados e
este lhe informou que mandou duzentos soldados,
porém, para sentir onde estavam entrando apenas
vinte e sete atacaram e foram massacrados logo
na fronteira das terras de Nikolai e ele
preferiu recuar com os demais para
aperfeiçoa-los.
- Fez bem em fazer isso e demonstra que eles
estão preparados.
- Foi o que pensei senhor!
- Tem ideia de quantos eles mataram?
- A informação precisa eu não tenho, mas
acredito que vários, pois nossos soldados são
mais preparados que os deles. Disse mentindo
Stanislaus.
- Qual a sua ideia agora?
- Eu preferia tentar fazer híbridos pensantes,
mas como o senhor não autoriza e eu perdi todo o
projeto quando as coisas queimaram aqui vou
aperfeiçoar ainda mais os microchips alterando o
local que foram colocados inicialmente e talvez
implante outro que nos passe informações mais
precisas.
- Ótima ideia, mas híbridos pensantes nunca
mais. Seriam um risco muito grande para nós e
não para eles e nem tente fazê-los de novo
porque se eu souber que fez sequer um membro da
sua família pouparei e eles passarão por
péssimos momentos antes de serem devorados. Fui
claro?
- Claríssimo senhor!
- Faça o que se propôs a fazer então que lhe
permitirei ter dois dias ao lado dos seus.
- Obrigado senhor!
Vladislav saiu e Stanislaus o amaldiçoou-o por
dentro. Vladislav não era gente, não era lobo,
não era hibrido e não era nada, mas tinha um
poder imenso sobre ele e aos demais por causa do
terror que era capaz de fazer na cabeça dos que
estavam ali aprisionados por ele. Trabalhava
para ele, mas no fundo torcia intimamente que
ele fosse destruído.
)
Os dias foram passando e cada vez mais soldados
chegaram ao centro de comando de Gustavo e
Pedro. Os treinamentos se intensificaram e as
fronteiras da propriedade foram mais
fortificadas. Sabiam que não podiam relaxar, mas
conseguiram passar por alguns dias de paz o que
não queria dizer sem tensão.
O muro de desconfiança que Gustavo tinha com
Orbyu diminuirá um pouco, mas ele continuava
atento, porém, ao ver a ligação que se formara
entre ele e o seu neto ficava feliz por vê-lo
assim.
- Meu amigo! Acha que já está pronto para ir até
a cidade? Perguntou Pedro.
- Ainda não!
Vamos esperar a próxima batalha passar e se
sobrevivermos prometo que irei pensar melhor
nisso.
- Se sobrevivermos?
- É!
- Não confia em nossas defesas?
- Confio, mas uma batalha ou uma guerra se vence
com ataque e não com defesa.
- Verdade! Pior que tem razão. Respondeu Pedro
pensativo.
- Não acredite que Stanislaus não vá melhorar
ainda mais os soldados de seu amo e sei que ele
quer fazer mais soldados iguais a mim, os
pensantes porque quer a todo custo destruir
Vladislav e só não sabe ainda como fazer e teme
muito por causa de sua família que está refém.
Acredita
que ele se viraria contra Vladislav?
- Mais certeza do que o ato de eu ainda estar
vivo aqui.
- O que o prende então é a sua família?
- É! Esta é a única razão dele ainda estar lá
servindo Vladislav.
- E se resgatássemos a família dele?
- Como? Ninguém sabe onde eles estão sendo
aprisionados e o motivo dele querer os pensantes
era para descobrir isso e usa-los para
resgatá-los.
- E se conseguíssemos libertá-los, o que acha
que ele faria?
- Se conseguíssemos e libertássemos a família
dele das garras de Vladislav duvido que ele
ficasse mais um minuto servindo aos desmandos
daquele assassino.
- Tem ao menos uma ideia de onde elas poderiam
estar?
- Eu arriscaria dizer que eles estivessem na
Eslovênia, mas não descartaria a Letônia ou a
Estônia.
- Porque estes países?
- Não sei! Talvez porque tenha ouvido algo de
alguns lugares que ele tem lá, mas a área de
busca seria imensa e até irracional.
- Entendi e pelo que vejo impossível de serem
localizadas.
- Isso mesmo!
- Bem se não há nada a fazer você quer conhecer
os jacarés?
- O que é jacarés?
- Você verá! Venha comigo.
Saíram dali de onde estavam, montaram em dois
cavalos e seguidas por seis fieis Vuks
cavalgaram até onde ficava o local onde continha
centenas de jacarés e Orbyu ficou surpreso por
vê-los lá contidos e condicionados.
Eram animais ferozes e ficou pensando sem, no
entanto, perguntar porque eles tinham tanto
daquelas feras ali e para que serviriam e ficou
tentado a perguntar, mas se conteve, porém, de
certa forma pensou que seria uma ótima forma de
conter os híbridos se estivem soltos pela
propriedade. Pensou, mas se calou e ficaram ali
um bom tempo admirando aquela raça poderosa.
A tarde se pôs e resolveram voltar, porém antes
passaram por um dos pontos de defesa e Orbyu viu
algumas falhas dos soldados da propriedade.
Comentou com Pedro e este passou as informações
para as Vuks que logo falaram com Rafael para
que ajustasse as posições.
- Será que só havia falhas aqui? Perguntou para
Pedro.
- Não sei, mas se quiser amanhã logo pela manhã
poderemos ver outros e você dizer se há falhas.
- Por mim tudo bem. Respondeu.
Voltaram, para a sede da fazenda. Cada qual foi
para suas suítes, tomaram banho e se prepararam
para jantar e novamente Orbyu comeu apenas
comida vegetariana e durante o jantar Gustavo
indagou-o sobre as falhas que ela apontara.
- Senhor! Eu fazia ou fiz parte do treinamento
do exército dos híbridos pensantes e uma das
coisas que nos mostraram nos treinamentos era o
de analisar e verificar as falhas que haviam no
campo inimigo. Nele não olhávamos para o obvio e
sim no que eles não percebiam, ou seja, os
detalhes e sempre vendo isso de cima e não
frontalmente. Resumindo, através destes pequenos
detalhes achávamos a brecha para invadir com
mais facilidade e por sorte neste primeiro
ataque mandaram apenas vinte e sete soldados
porque se tivessem mandado os duzentos teriam
feito uma carnificina por aqui, mas saiba que da
próxima vez não virão apenas duzentos, mas sim
uma legião toda.
- E você viu esta falha do chão apenas olhando
para o que plantamos lá? Perguntou Gustavo.
- Sim!
- Como?
- Seus soldados apesar de melhor preparados
agora ainda pensam como se estivessem lutando
contra homens lobos e não contra um exército
treinado com intuito não de matar, mas sim de
exterminar sem dó nem piedade.
- Puta que pariu! Então quer dizer que estamos
fazendo tudo errado? Tornou a indagar Gustavo.
- Tudo não. Estão apenas, digamos, desleixados.
Estão agindo como se fossem lutar contra iguais
e eles não são iguais. São máquinas preparadas
para a guerra.
- E consegue achar as falhas?
- Sim senhor, pois vejo de forma diferente da de
vocês. Vejo com a visão deles. Seu exército é de
homens lobos que estão reumanizados e eles vêem
com olhar clinico, cirúrgico de detalhes.
- E qual a diferença disso tudo?
- Vidas perdidas e já recomendo que deve agir e
trata-los na batalha não com humanidade e sim
com as intenções idênticas, afinal eles não são
humanos.
- Espera! Você quer dizer que devemos
exterminá-los sem lhes dar chance de rendição?
Perguntou Pedro entristecido.
- Exatamente isso. Eles virão para cá com a
intenção de destruir este espaço e depois quem
sabe o que farão com os humanos.
- Sem dó nem piedade? Perguntou Pedro.
- Isso mesmo e não acredito que eles usarão
armas letais, quero dizer de fogo, pois preferem
o uso de katanas e outros tipos de espadas.
- Porque não usam armas de fogo? Perguntou
Pedro.
- Porque são treinados no método
militar de Sun Tzu. Vladislav tem verdadeira
idolatria por isso e acredita também que armas
brancas como exemplo das katanas e espadas não
fazem barulho o que é obvio. Com isso, por pior
que seja a batalha, não chamaria a atenção de
outros batalhões de defesa de uma região maior.
- Bem esperto da parte dele.
Comentou Gustavo.
- Resumindo, é matar ou morrer.
Este deve ser o pensamento e saibam que o
próximo será letal. Garanto isso.
- Amanhã pode acompanhar nossos
técnicos e nossos líderes de nosso exército para
mostrar as nossas falhas? Perguntou Gustavo.
- Farei isso com prazer senhor,
afinal eu estarei do lado de cá da batalha e se
quer saber peguei o gosto por viver e me sinto
bem aqui.
- Obrigado por isso Orbyu. Seja
bem-vindo ao nosso time. Finalizou Gustavo.
- Time! O que é time? Perguntou
Orbyu.
- Vou te explicar isso com calma
meu amigo. Fique tranquilo.
- Pelo que vejo tenho muito que
aprender com vocês. Respondeu Orbyu tentando
mostrar um sorriso.
)
Faltava pouco para as cinco da madrugada quando
Orbyu se levantou, se trocou e saiu do seu
quarto. A casa ainda estava silenciosa e ele foi
até a sala e lá foi até a janela e contemplou a
densa névoa que recobria todo o vale e por sua
cabeça passou que naquela hora seria um bom
momento para o exército de híbridos atacarem,
pois eles não gostavam de agirem à noite, mas
sim quando o dia estava clareando.
Olhava atentamente para um lado e para o outro
tentando imaginar por onde eles atacariam. Eram
violentos, mas seguiam uma ordem clara de
obediência. Não eram de atacarem em vários
locais ao mesmo tempo. Preferiam atacar como se
fossem uma coluna única, mas que se abria em
formato de seta quando atingiam o objetivo e ali
sim eles executavam os objetivos determinados.
- Bom dia meu amigo! Cumprimentou Pedro se
aproximando.
- Bom dia! Voltou-se Orbyu saindo de seus
pensamentos.
- O que está olhando?
- Estava olhando o vale e as montanhas ali
adiante.
- Lindo né?
- É sim, mas estava olhando e pensando por onde
que o exército dos híbridos atacará.
- Consegue imaginar isso?
- Em parte sim, mas sei que eles farão isso mais
ou menos neste horário antes do raiar do sol ou
do dia em uma manhã igual a esta.
- Como pode saber disso?
- Fazia parte do treinamento e era um
procedimento que Vladislav adorava implantar.
Resumindo, ele gostava de surpreender o inimigo
antes do dia raiar e de preferência com certa
vantagem para eles e a névoa aqui é um dos
atrativos.
- Bom dia meninos, mas como sabe disso Orbyu?
Cumprimentou Gustavo.
- Senhor! Bom dia. Era este nosso treinamento.
- E ele não poderia mudar isso? Perguntou
Gustavo.
- Acredito que ele mudaria, mas não sabe que eu
esteja aqui entre vocês e isso é um erro dele.
- Mas Stanislaus não sabe que está aqui?
Perguntou Pedro.
- Não! Ele quando me ajudou a fugir disse para
que eu procurasse ficar o mais longe possível de
vocês e mesmo que acreditasse que eu vim para cá
ele odeia Vladislav e garanto que ele se
sentiria feliz em ver o exército dos híbridos
destruído.
- Não entendi! Ele quer a destruição de algo que
criou? Perguntou Gustavo.
- Stanislaus tinha e sempre teve a intenção de
criar híbridos pensantes e não apenas
robotizados, porém, Vladislav além de mandar
matar e queimar todos os meus irmãos ainda
destruiu tudo o que poderia fazer que eles
fossem recriados. Stanislaus tem medo dele, mas
simplesmente porque ele tem reclusa a família
dele em algum lugar da Europa.
- Ele mudaria de lado se recuperássemos a
família dele? Tornou a perguntar Gustavo.
- Aposto tudo que vivo que sim senhor. Para ele
a família dele é tudo que ele mais preza.
- Precisamos dar um jeito de encontra-los então!
- Tinha comentado isso com ele vovô, mas seria
praticamente impossível de localiza-los.
- Praticamente impossível não é tudo de
impossível. Vou colocar meus contatos para
tentar acha-los. Pode contar com isso.
- Seria de muita utilidade isso senhor!
- Bem vamos tomar café e se puder sairmos logo
em seguida.
- Fechado senhor! Respondeu Orbyu fazendo Pedro
sorrir.
Tomaram café onde Orbyu se fartou em tomar suco
de laranja causando admiração tanto em Pedro
quanto em Gustavo e saíram. Lá fora Rafael e
alguns soldados de elite de seu grupo e Ingrid e
suas Vuks os aguardavam. Logo se puseram em
marcha começando pela parte norte da propriedade
foram fechando toda a região.
O que Orbyu viu e comprovou era que a imensa
propriedade apesar de estar bem guarnecida era
um alvo fácil para a entrada dos híbridos, pois
os soldados achando que as câmeras, sensores e
aparatos de alta tecnologia davam a eles uma
vantagem, porém, nem de longe isso era verdade.
A parte tecnológica ajudava muito, mas isso era
um nada perto de um exército mesmo sem ter uma
inteligência pensante era treinado para achar
brechas e depois que eles rompessem o primeiro
estágio ninguém os segurariam, pois se tinha
algo que eles não se preocupavam era se iam
viver ou morrer, afinal foram criados para isso.
Pedro, Gustavo, Rafael, as Vuks e todos os de
primeira linha estavam admirados com as
orientações de Orbyu e pelo que ele mostrara e
orientara não havia mais dúvida de que lado ele
estava. Mostrou sem deixar sequer uma dúvida que
estava do lado deles e isso seria e estava sendo
de grande ajuda.
Deixaram por último o espaço que desembocaria na
cidade, pois Orbyu sabia e sentia que Vladislav
não tinha a priori a intenção de ataca-los antes
de destruir o complexo onde estava seu inimigo
mortal.
Sabia que ele partiria para um ataque após
destruir tudo, mas isso era coisa que ele não
ousaria fazer com Gustavo e principalmente Pedro
vivos. Vladislav queria a todo custo a cabeça do
avô e do neto e isso para ele era a prioridade.
Orbyu tinha certeza de que ele não mandaria
poucos soldados, mas sim pelo menos mais de
vinte mil deles. Vinte mil híbridos que na
linguagem humana viriam com sangue nos olhos e
comentou isso com todos os presentes.
- Apenas para constar senhor! Ele com certeza
mandara ao menos meia dúzia e não mais que isso
soldados lobos e não híbridos como batedores e
estes virão como turistas através da cidade e
deverá manter alguns dos seus da mesma forma em
hotéis e pousadas e de olho nas duas entradas da
cidade de olhos bem abertos.
- Turistas! Exclamou Pedro.
- Sim! Eu faria isso e sei que ele também o
fará. Irá querer conhecer o terreno e estes
passarão as informações para Vladislav dos
melhores pontos para atacar e ele escolherá
apenas um, pois não irá distribuir forças à toa.
- E se pegarmos estes batedores? Perguntou
Gustavo.
- Não recomendo que os detenham, mesmo porque
eles virão de todo jeito.
- Qual a chance de eles virem pela cidade?
Perguntou Rafael?
- Nenhuma! Dois, três e até seis passariam fácil
como turista. Mais que isso chamariam atenção e
ele não quer que as autoridades ou mesmo o
exército venham se meter nesta guerra.
- Não tinha pensado nisso! De fato, ele não iria
querer entrar em uma situação onde bateria de
frente com as forças armadas do país. Não temos
contingente disso por aqui, mas para que eles
chegassem seria coisa de trinta minutos a uma
hora e para ele seria um caos contra si mesmo.
Ele é um psicopata, mas não é burro. Informou
Gustavo.
- Bem senhor! Estes foram meus apontamentos e
espero que tenham sido úteis.
- Muito úteis e lhe sou imensamente grato por
isso Orbyu e feliz por Pedro ter intervindo a
seu favor. De coração obrigado. Respondeu
Gustavo agradecido.
Já era noite quando retornaram para a fazenda e
naquela noite muita coisa mudaria em toda a
extensão da imensa propriedade. Milhares de
novos soldados se juntaram aos que faziam parte
do complexo e milhares de barracas foram
montadas para abriga-los.
Por sorte os novos soldados já haviam passado
pelo procedimento e alimento para eles ali não
faltaria e Orbyu pediu para que os alimentassem
bem, mas não exageradamente e que evitassem ao
máximo o consumo de bebida alcoólica, caso eles
bebessem, porque os híbridos não bebiam e não
tinham ideia de quando atacariam e nos próximos
dias que se seguiram o treinamento parecido com
o dos híbridos se intensificou.
Não havia tempo para respirar e treinavam de
manhã, de tarde e até uma parte da noite e todos
sabiam que ali, não se tratava apenas de
proteger uma propriedade, mas sim quem sabe,
talvez ou com certeza, sairia daquele lugar a
destruição da raça humana como conheciam se os
híbridos de Vladislav os vencesse.
Duas semanas depois acompanhando os treinamentos
cada vez mais intensos daqueles novos soldados
recém chegados fez com que Pedro, Gustavo,
Rafael, Ingrid e principalmente Orbyu sentissem
orgulho de todos.
Estavam preparados, mas nem por isso deixaram de
treinar e se prepararem para a batalha sanguenta
que viria e não eram soldados inocentes. Eram
soldados que depois do procedimento tinham
objetivos a seguir e o mais importante deles era
permanecerem vivos.
)
Voltaram para a sede da fazenda no final da
tarde depois de percorrerem o ponto norte da
propriedade onde Orbyu mostrou um ponto onde
tinha plena certeza de que seria por onde eles
tentariam entrar.
Ninguém o questionou e ele parou ali, desceu do
cavalo e pegou um punhado de terra nas mãos.
Nenhum dos seus acompanhantes disse nada, mas
ele pegou aquele tufo de terra com grama e
cheirou. Novamente ninguém disse nada, porém, ao
fazer isso ele olhou de um lado para o outro
daquele vasto espaço, fechou os olhos como se
meditasse e apontou um local no meio da
floresta.
- Sinto que eles virão por ali! Disse.
- Como sabe? Perguntou Gustavo curioso.
- Não sei, apenas senti isso.
- Tem intuição também? Perguntou Pedro.
- Não, mas eu tentaria por ali, porque?
- Porque foi onde eu também pensei que eles
viriam. Respondeu Pedro.
- Foi!
- Sim! Foi.
- Mas isso não quer dizer que eu esteja certo e
nem você senhor!
- É! Não é, mas pode ser. A propriedade é grande
e teremos que estar atento a tudo. Disse Pedro.
- Posso saber porque pegou a terra e a cheirou?
Perguntou Gustavo curioso.
- Claro que pode senhor! Senti que meu olfato
estava se desenvolvendo e o cheiro da terra
molhada me fez querer senti-la mais de perto e
posso lhe garantir que foi uma sensação
maravilhosa.
- Não tinha nada a ver com a localização da
invasão do lado deles? Perguntou Rafael.
- Não! Minha intuição, como vocês dizem já tinha
me alertado sobre o provável local, mas eu não
ia deixar para lá de sentir o cheiro da terra
molhada com a grama.
Um olhou para o outro e não resistindo acabaram
rindo. Orbyu um novo projeto de humano estava
mostrando para eles algo que nenhum fizera até
então que era o de sentir as coisas boas que a
natureza lhes dava de graça e Pedro desceu
também do cavalo e fez o mesmo sentindo o
delicioso cheiro que Orbyu comentara.
- Se eu fosse os senhores faria o mesmo, porque
o cheiro de terra molhada de fato é algo mágico.
Disse Pedro sorrindo.
Já estava escuro quando chegaram à sede da
propriedade. Todos se recolheram, tomaram banho,
se trocaram e depois Pedro, Gustavo e Orbyu se
reuniram novamente para jantar. Terminaram e os
três foram para o local predileto de Gustavo e
Pedro que era onde podiam contemplar o amplo
vale e ficaram um bom tempo ali olhando a
natureza maravilhosa que já mostrava o lado
escuro, porém, com uma estupenda lua cheia que
clareava toda a região.
Se recolheram depois porque o dia seria cheio.
Orbyu havia combinado com todos de irem ver se
haviam ajustado os pontos de segurança e o
fizeram tão logo amanheceu e estava escuro ainda
quando saíram da sede para ir exatamente onde
Orbyu acreditou que eles invadiriam e para
surpresa de Gustavo três soldados estavam
dormindo ao pé de uma árvore e os outros oito
estavam dispersos.
Em silêncio Gustavo desceu do cavalo, se
aproximou dos três soldados e cutucou-os com pé
para acordá-los, mas percebeu que eles estavam
mortos com profundos cortes nas gargantas.
- Em forma! Eles estão por aqui. Berrou Gustavo.
Em segundos os soldados de Rafael e as Vuks de
Ingrid se puseram de guarda e tentaram proteger
Pedro e Gustavo, porém isso não foi necessário
porque os outros soldados voltaram arrastando
quatro corpos já mortos.
- O que houve aqui? Perguntou Pedro.
- Fomos atacados a mais de uma hora atrás.
Informou Nagib.
- Quantos eram no total? Perguntou Rafael.
- Estes quatro aqui!
- Mais nenhum fora estes quatro? Tornou a
perguntar Rafael.
- Não coronel!
- Como aconteceu?
- Estávamos terminando de instalar o novo
sistema e eles atacaram justamente quando
estávamos reiniciando. Eliminaram três dos
nossos que estavam um pouco mais distantes e os
colocaram ali onde os encontraram.
- Tem certeza de que não haviam mais do que
estes quatro? Perguntou Orbyu.
- Tenho! Não há rastros de outros. Estávamos
justamente olhando isso depois de eliminá-los.
- Como os pegaram? Perguntou Pedro.
- Eles cometeram o erro de irem em direção aos
jacarés. Na verdade, foram as feras quem os
pegaram e os mataram. Só os resgatamos já mortos
porque afastamos as feras com choque.
- O sistema já está funcionando? Perguntou
Gustavo.
- Não tivemos tempo de checar ainda senhor! Foi
tudo muito rápido e eles surgiram do nada.
- É o modo deles agirem mesmo e acredito que
eles entraram como turistas na cidade.
Precisamos ver isso com atenção, porque se
vieram quatro deve ter mais dois ainda por aí.
Disse Orbyu.
- Como sabe disso? Perguntou Pedro.
- Stanislaus jamais envia quatro. Ele segue um
padrão de dois ou seis quando são para batedores
a fim de que dois passem desapercebidos e os
outros quatro servem como disse de boi de
piranha.
- Então tem mais dois por aqui? Perguntou
Gustavo.
- Não! Quatro atacam e dois ficam na retaguarda,
mas não vem junto para na pior das hipóteses
retornarem para alguma base longe da cidade e de
lá informam a central. Este é o modo de operação
criado por Vladislav.
- O que faremos agora? Perguntou Pedro.
- Tem um deles que os jacarés não dilaceram o
rosto. Vamos tirar uma foto dele e checar com
urgência nos hotéis e pousadas discretamente
para ver se sabem algo deles.
- Isso é possível, porque todos os proprietários
das pousadas e hotéis da região são clientes
daqui da fazenda. Rafael, por favor, pegue
apenas dois soldados seus e vão para a cidade e
mande mais dois para as duas cidades aqui de
perto. Determinou Gustavo.
Rafael saiu para cumprir as ordens e como Orbyu
informara de fato o ataque fora apenas naquele
local. Todas as demais áreas estavam intactas e
com os sistemas funcionando e depois de checar
tudo voltaram para a casa sede e lá se
encontraram com Rafael que estava voltando.
- Encontrou? Perguntou Gustavo.
- Sim senhor!
- Onde eles estavam?
- Chegaram de dois em dois a uma semana, mas se
reuniam todos os dias e tentavam ser discretos,
mas os moradores são observadores.
- E os outros dois, sabe onde estão?
- Sim senhor! Íamos pegá-los, mas pensei bem e
vim ver o que o senhor determinaria. Deixei dois
soldados discretamente de olho neles.
- Fez bem! O que devemos fazer com os outros
dois Orbyu?
- Estes dois não são híbridos. São homens lobos
e devem ser capturados e interrogados no limite
da dor porque desta forma eles falarão tudo o
que sabem.
- Abrirão a boca! Tem certeza?
- Tenho sim senhor, mas tem que pegar pesado no
interrogatório. Tem que ser sem dó ou piedade,
porque se os trata-los com carinho eles nada
dirão, porém, eles como não são híbridos sabem
pensar e desta forma fica mais fácil.
- Rafael! Por favor, pegue um grupo de soldados
e os tragam para cá. Vamos interroga-los.
- Sim senhor! Respondeu Rafael saindo.
- O que vai fazer com eles vovô?
- Sem dó nem piedade meu filho e nem tente
ajuda-los. Eles mataram três dos nossos e
estamos em guerra.
- Compreendo vovô.
)

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