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Título   Matilha Gênero Suspense
             
  Série   Lua cheia Parte 3    
 
     
  Publicado em página aberta ainda sem correção do texto.  
     
 

 

Título original: Matilha

Romance / Drama

edição

 

Copyright© 2023 por Paulo Fuentes®

Todos os direitos reservados

 

Este livro é uma obra de ficção.

Os personagens e os diálogos foram criados a partir da imaginação do autor.

 

Autor: Paulo Fuentes

Preparo de originais: Paulo Fuentes

Revisão: Sônia Regina Sampaio

Projeto gráfico e diagramação:

Capa: Paulo Fuentes

 

Todos os direitos reservados no Brasil:

Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica Ltda.

Impressão e acabamento:

 Apoio Cultural:

 

16 anos no passado...
Algum lugar de lugar nenhum.

 

 

- As dores aumentaram Alejandro! Me ajude por favor.

- Espero que desta vez seja um menino!

- Alejandro! O que importa o sexo. Vindo com saúde é o que me importa.

- Parece que não conhece a lenda e apenas para lhe lembrar hoje é noite de lua cheia.

- E o que é que tem se é noite de lua cheia ou não. Não acredito nestas lendas, mas me ajude por favor porque sinto que o bebê vai nascer. Implorou Raquel.

- Ajudo sim, mas já advirto que se for uma menina de novo vou dar cabo dela, da outra caçula e de você também.

- Para de dizer bobagem e me ajude!

- Já lhe avisei. Se for menina as três estarão condenadas. Disse Alejandro.

 

 Minutos se passaram e o próprio Alejandro cuidou de fazer o parto da esposa e para sua desagradável surpresa outra menina viera ao mundo. Ficou arrasado. Olhou para a esposa, para o bebê em suas mãos e o ódio tomou conta de seu ser. Iria cumprir o que prometera.

 

- Eu avisei, mas parece que as sombras do mal andam te rondando e terei que cuidar disso com minhas próprias mãos.

- Não pensa em cumprir as insanidades que disse, pensa?

- Sabe que sou obrigado a fazer isso. Não quero um monstro saindo por aí e matando as pessoas e nem posso deixa-la viva porque poderá gerar outra menina e de nada adiantaria eu cumprir a promessa feita.

- Alejandro! Isso desta tal lenda é pura ignorância.

- Não é! Diz a lenda que a sétima filha de seis irmãs que nascerem na lua cheia uma criança loba ela se tornará e você só me deu filhas e todas nasceram na lua cheia.

- Alejandro pare com isso!

 

Foram as últimas palavras pronunciadas por Raquel antes de ser sufocada e morta por Alejandro através de um travesseiro e poucos instantes depois o corpo dela estava ali sobre a cama imóvel. Raquel estava morta.

 

- O que irei fazer com você agora monstrinho? Pensou Alejandro transtornado.

 

Não sabendo o que fazer saiu do quarto da bela propriedade que possuíam e saiu sem rumo. Queria se livrar dela a qualquer custo, mas não tinha coragem suficiente para matá-la, pois era um homem de fé e a solução apareceu como se fosse pela graça dos céus.

 

Era um homem de posses e no caminho para lugar algum encontrou com um membro de sua igreja que estava indo para a América do Sul dentro de dois dias em busca de melhores ares e quem sabe lá, sua esposa conseguisse engravidar.

 

- Alejandro! O que faz por aqui a esta hora?

- Vim em busca de você mesmo Miguel!

- De mim! Porque?

- Porque você me disse que ia se mudar para a América do Sul e por isso vim aqui?

- Espera aí! O que faz com esta criança nos braços?

- Foi o motivo que vim até aqui! Mentiu Alejandro.

- Veio aqui com uma criança recém nascida no colo para que? Não entendi.

- Qual é o seu sonho e de sua esposa?

- Termos um filho, mas parece que o ar daqui não lhe faz bem e por isso estamos indo para o Brasil, pois lá é um país tropical e que poderia ajuda-la nisso.

- Hum! Bem, pensando nisso e sabendo que está de mudança foi que lhe procurei com esta criança.

- Não entendi! Ela não é da sua esposa?

- Não! Ela é de uma jovem irmã da congregação que manteve a gravidez escondida por causa de seus pais e ela não quer aceitar a pequena por cauda da nossa crença.

- Complicado, mas o que é que eu e a Izabel temos a com a criança?

- Ela queria se livrar da criança e cheguei bem a tempo de ela fazer uma loucura e daí, perguntando para ela se de fato ela não queria saber do bebê foi que pensei no desejo de vocês e trouxe a pequena até aqui.

- Quer nos dar o bebê?

- Sim! E a pequena nasceu a pouco tempo. Menos de três horas.

- Não sei! Acho que a Izabel não aceitaria bem a pequena que não é dela.

- Porque não pergunta e posso também, a fim de fazer uma obra de Deus lhe ajudar financeiramente para que possam viver bem lá no Brasil.

- Não sei o que lhe dizer!

- Porque não entramos na sua casa e perguntamos para sua esposa? Se ela dizer não eu entenderei.

- Você disse em uma compensação financeira?

- Sim! Para que se cumpra uma obra de Deus sim e só quero ajudar.

- Bem vamos entrar!

 

Entraram na casa do humilde serviçal que sempre sonhara com um filho e que sabendo que no Brasil o clima poderia quem sabe ajudar sua amada esposa a engravidar vendeu tudo o que tinha e resolveram partir.

 

Izabel ao vê-lo entrar com o abastado senhor Alejandro na humilde morada ficou sem saber o que dizer, mas quando disse o que ele estava oferecendo para ambos ela já estava pronta para dizer não quando astutamente Alejandro lhe mostrou a linda menina e pareceram que os olhos suplicantes do bebê tomaram conta dela por completo e ela acabou cedendo aquele olhar.

 

- Não sei o que dizer meu amor!

- O senhor Alejandro sabe a muito tempo deste nosso desejo e como a jovem que teve está linda criança estava prestes a fazer uma loucura ele pegou-a e a trouxe para nós.

- Como a mãe pode ser tão má assim?

- Ela é jovem ainda e nem sabe o que está fazendo e para compensar na nossa bondade em adotarmos o bebê o senhor Alejandro prometeu nos dar uma bela soma em dinheiro para nosso conforto no novo mundo.

- Mas se ele nos der dinheiro poderemos cuidar do bebê aqui mesmo, não acha?

- Perdoe-me por entrar na conversa senhora, mas é que todos aqui sabem de sua luta para engravidar, de sua viagem para o exterior e como a veriam na congregação se aparecesse de repente com um bebê no colo?

- Tem razão senhor! Não havia pensado nisso.

- Quer que eu leve o bebê de volta? Perguntou Alejandro forçando a resposta.

- Não! Ela é tão linda e sinto que ela deseja ser minha e de meu esposo.

- Aceitam ela então?

- Como faremos para registrá-la se todos nos conhecem por aqui? Perguntou Izabel.

- Se aceitarem deixe que eu cuido de tudo e ela será legalmente de vocês, mas a condição é de que terão que partir para o Brasil e ficarem por lá.

- Definitivamente? Perguntou Miguel.

- Lhe darei uma importância bem substancial se decidirem ficar lá definitivamente.

- Não sei senhor! Indefinidamente é muito tempo. Disse Izabel.

- Digamos que eu lhes dê a importância de dois milhões de euros. Aceitariam?

- Sabe que o país pode ter um clima bom e Izabel engravidar lá e nem teremos que cuidar do bebê e o senhor poderia leva-lo embora.

 

- Miguel! Está sendo malvado com o bebê, mas te entendo e querendo ajudar a você, sua esposa, a mãe do bebê e ela mesma eu lhes darei cinco milhões de euros e poderão partir depois de amanhã com a documentação da criança toda em ordem.

- Não sei o que dizer senhor! Retrucou Miguel sentindo que poderia arrumar mais.

- Tudo bem! Vim por uma obra de Deus, mas se não querem eu mesmo a adotarei. Obrigado e me desculpem pelo incomodo. Disse Alejandro se virando para sair.

- Espere doutor! O senhor nos daria cinco milhões de euros e deseja que fiquemos por lá indefinidamente, é isso que deseja? Perguntou Izabel.

- Isso mesmo!

- Miguel! Em nome da fé e da boa vontade do senhor Alejandro devemos aceitar. Certo?

- Faço tudo por você meu amor! Senhor Alejandro, nós aceitaremos a proposta.

- Providenciarei o depósito em uma conta que determinarem, mas só lhe peço para que mantenham isso em segredo a fim de proteger a criança e a mãe dela que jamais pensará em ir atrás e isso lhes garanto.

- Pode contar com isso senhor e aqui está o número da nossa conta bancária.

 

Alejandro pegou o papel, entregou a criança, anotou os dados dos dois para o registro do bebê para providenciar a legalização e virando as costas saiu e esperava que eles sucumbissem sob a maldição que aquela criança carregaria com ela.

 

Foi embora aliviado. Fora lesado, mas valeu a pena porque além de não cometer um ato contra a igreja e à Deus ele se livrara daquele peso de suas costas e sabia que, quando a maldição se fizesse presente ela ocorreria do outro lado do Atlântico bem longe de sua casa e de sua pátria. No dia seguinte a documentação ficou em ordem, o dinheiro foi depositado na conta de Miguel e Izabel e eles puderam embarcar com a pequena Cristina Hernandez Ruiz nos braços rumo à nova terra.

 

Eram precisamente 15:17 horas quando o avião pousou no aeroporto internacional de Guarulhos. Izabel, Miguel e a pequena Cristina desembarcaram e pegaram um ônibus que os levaria até o centro da cidade de São Paulo e ali, de acordo com um senhor que fizeram amizade no avião lhes recomendou que tomassem cuidado porque haviam muitas pessoas de má índole que poderiam lhes roubarem e lhes recomendou um flat que ficava próximo de onde eles desembarcariam do ônibus, mas não recomendou que eles saíssem a noite.

 

Com tudo anotado e atentos ao que aquele velho senhor lhes informara na aeronave a pequena família fez exatamente como ele dissera e no flat se hospedaram e no dia seguinte procurariam um lugar para se mudarem. Era uma família pequena, mas agora bem abastada e pelos padrões do Brasil poderiam se considerar ricas.

 

Não tinham pressa. Procurariam com calma uma casa, um apartamento ou quem sabe algum lugar no interior onde a pequena Cristina pudesse crescer saudável junto com amigos que faria com certeza.

 

Izabel e Miguel conversaram por bastante tempo antes de dormir. Namoraram e viram a pequena filha deles dormindo ao lado como um anjinho poderia estar dormindo. Acordaram cedo e Miguel antes de expor sua pequena família para as terras brasileiras preferiu sair sozinho e ver o solo onde estavam pisando.

 

O que viu de dia não era nem um reflexo do que era a noite. Durante o dia era uma loucura de veículos para todo que é lado. Polícia e ambulâncias trafegavam direto, mas a noite, de acordo com o que foram informados tudo mudava e o crime corria solto por ali.

 

Viu por ali dezenas de lojas e pontos de comercio onde poderia comprar alimento e roupas, mas de forma alguma poderiam se expor e deixar que soubessem que eles tinham uma excelente quantia de dinheiro no banco que possuía agências ali na capital paulista.

 

Na volta passou em um supermercado próximo do flat e chegando contou tudo o que vira e trouxe consigo alimento para Cristina uma vez que Izabel não possuía leite para alimentá-la, mas o bebê parecia se adaptar bem com tudo que lhe davam.

 

- Miguel! Achou aí fora perigoso?

- Achei muito agitado e aqui na rua mesmo é uma correria de carros para cima e para baixo e um barulhão. Aqui não sentimos isso, pois estamos na parte de trás, mas você olhou pela janela?

- Olhei e vi que é mesmo uma loucura. Não quero ficar por aqui, pois não será saudável para a nossa pequena Cristina.

- O senhor Ramiro disse que nos aconselharia aqui no que pudesse!

- E confiou nele? Perguntou Izabel.

- Como se diz em Jeremias 17:5, “Maldito o homem que confia no homem”. Portanto não mesmo.

- Ele nos alertou sobre aqui ter muitas pessoas que querem tirar o que os outros possui e vá lá saber se ele não é um destes aí.

- Foi o que pensei, mas mudando de assunto, como nos desfizemos de tudo que tínhamos na nossa terra passei em uma loja aqui perto e comprei dois celulares. Uma para mim e outro para você, porque sei que iremos precisar disso por aqui.

- Teme que nos ataquem? Perguntou Izabel.

- Não! Ninguém sabe que temos uma boa conta no banco, mas somos estrangeiros em um país estranho. Aqui parece ser maravilhoso, porém, não dá para confiar.

- Sabe onde tem uma agência do banco que temos conta por aqui?

- Sei sim! Tem uma na rua de trás e outro também numa avenida que se chama Paulista que parece ser a mais importante da cidade e que me informaram que não é tão longe daqui. Também me disseram que lá fecha aos domingos para lazer.

- Poderíamos ir lá então para conhecermos um pouco mais deste povo. Sugeriu Izabel.

- Iremos lá sim no domingo. Agora vamos relaxar e ver a TV que a língua deles não é difícil de entender, pelo menos o básico. Respondeu Miguel sorrindo.

- Podemos comprar um carrinho para a Cristina?

- Claro que sim! Amanhã de manhã você irá comigo até uma loja que tem na outra esquina que vende coisas de crianças e poderemos comprar algumas roupinhas para ela e por falar nisso como que ela se portou?

- Cristina é um doce de pessoa! Calma e quietinha. Agradeço a Deus por tê-la levada até nós.

- Na verdade, quem a levou foi o duque Alejandro e nunca achei que ele fosse coisa boa e se quer saber, até acho que foi ele quem engravidou a mãe da bebê e depois quis se livrar dela para que não houvesse reclamação.

- Acha que ele seria capaz disso? Perguntou Izabel.

- Daquele lá não duvido de nada, mas já não é mais problema nem dele e nem nosso.

 

Passaram o restante da tarde vendo programas de televisão principalmente os que mostravam reportagem sobre a cidade e o estado e ao mesmo tempo em que se assustavam viam que aquele era um lugar maravilhoso o que ajudaria a tomarem uma decisão logo de onde morar.

 

Porém, bem longe dali, bem depois do Atlântico Alejandro fazia de conta que estava arrasado e derrotado na vida por ver que sua amada esposa havia falecido por causas naturais como atestado pelo médico da família.

 

Raquel sempre fora uma mulher saudável, nova ainda, pessoa exemplar e que todos amavam e a perda dela deixando o duque com seis filhas ainda pequenas abalou muitas pessoas e várias famílias se solidarizaram com ele. Intimamente Alejandro se sentia aliviado. Sentiu muito por ter eliminado sua amada esposa, mas de forma alguma deixaria uma besta fera à solta na sua cidade e região e a mãe teve que ser sacrificada para não correr o risco de que ela gerasse mais uma filha após ter tido aquela aberração.

 

Miguel tinha receio de procurar uma imobiliária a fim de localizar um imóvel para morar, mas por outro lado não queria continuar morando em um flat onde não se sentia bem e desejava ter espaço para que a pequena Cristina pudesse crescer saudável e assim pensando no domingo logo cedo junto com a bebê e sua amada esposa Izabel foram para a avenida Paulista e se encantaram com o que ela era de fato.

 

O contraste daquela maravilhosa avenida o fez refletir sobre a ideia de ir para qualquer cidade do Brasil e ter resolvido pela capital paulista poderia ser definido naquela espetacular avenida.

 

Pessoas já cedo cruzavam-na a pé, de patinetes, bicicletas, de patins, acompanhadas ou sozinhas e até levando animais, mas muitas delas passeavam por ali levando crianças junto de si coisa que durante a semana seria impossível de se fazer naquele lugar.

 

Encontraram museus, parques, praças, vários bancos e gente, muita gente de todos os tipos, cor e raça naquele lugar mágico. Porém, de tudo isso o que mais lhe chamou a atenção foram propagandas de imobiliárias que ficavam justamente naquela avenida e anotando telefone de três delas resolveu esperar até o dia seguinte para consultar.

 

A ideia inicial dele e de sua esposa era morar na capital, porém, em algum bairro mais afastado daquela loucura, mas que pudessem encontrar paz e sossego para criar sua pequena Cristina.

 

A noite passou, a manhã chegou e logo as nove da manhã pegou o celular e ligou para uma das imobiliárias e teve que se esforçar para que a recepcionista entendesse sua língua, mas por fim conseguiu falar com um corretor que lhe entendia e disse o que desejava, porém, não disse que tinha acabado de chegar no país e quanto pretendia pagar por uma casa.

 

O corretor lhe pediu um email ou se poderia lhe enviar pelo aplicativo e ele pediu para lhe dar um tempo a fim de que seu sobrinho instalasse para ele em seu celular. Combinou de retornar e disse para Izabel que teria que comprar um celular melhor para poder instalar algumas coisas nele e foram juntos comprar.

 

Compraram em uma loja oficial de uma operadora que transferiu o chip para o celular novo e instalou o aplicativo de conversas para que ele recebesse mensagens, documentos e fotos através dele. Saíram da loja, voltaram para o flat e Miguel ligou de novo para o corretor que lhe passou alguns imóveis que possuíam em bairros mais tranqüilos e em cidades da grande São Paulo, mas o que sentiu foi que vários lugares que lhe foram enviadas as residências eram perfeitas, mas o custo muito elevado e ele não tinha intenção de gastar tudo o que tinham em uma residência.

 

Miguel não sabia o que fazer. Pretendia sair a qualquer custo do flat, mas queria ir para um lugar em definitivo e com ida e vindas um mês todo se passou e nada dele decidir para onde ir. Não tinha problemas de dinheiro que estava aplicado através de um fundo seguro do banco, mas nada de resolver para onde ir até que trinta e três dias depois de estarem no flat sem querer cruzou com um senhor de meia idade no saguão e ele conversando com outra pessoa disse que queria vender sua propriedade na cidade de Serra Negra e não conseguia fechar negócio.

 

- Perdão senhor! O senhor disse que tem um imóvel que quer vender na cidade de Serra Negra, foi isso?

- Foi sim! Conhece lá?

- Não! Na verdade, nem sei onde fica, mas ouvi a conversa e fiquei curioso.

- A propriedade em si é uma chácara com três alqueires que ficam quase no centro da cidade e que eram de meus pais que já faleceram.

- E quer vender porquê?

- Os filhos cresceram, se mudaram e a propriedade ficou grande demais para minha esposa e eu.

- O que tem na propriedade?

- Você está hospedado aqui?

- Estou sim! Eu, minha esposa e minha filha ainda bebê.

- Garanto que adorariam a propriedade. Tem casa grande com cinco quartas, toda reformada, varandas, jardins, bem gramada e florida. Também tem um pequeno pomar, piscina e outras coisas. Vale a pena ver e se quiser te mostro os dados dela e as fotos que tenho em meu quarto.

- Podemos ver? Eu e minha esposa?

- Claro que sim! Quer que eu traga aqui na recepção ou prefere outro lugar?

- Pode ser em meu apartamento? Perguntou Miguel.

- Claro que sim!

- Vou combinar com minha esposa e o aguardo lá daqui a uma hora, pode ser?

- Pode! Estarei lá. Meu nome é Gilton Valadão!

- Sou Miguel! Até daqui a pouco.

 

Se despediram e Miguel subiu para seu apartamento cheio de vontade de contar a novidade para Izabel que ao ouvi-lo quis saber onde ficava aquela cidade e depois de pesquisar e ver que era uma cidade de estancia de água mineral com composição, combinada a pequenas doses de radioatividade, revelou serem as águas indicadas para os mais diversos tratamentos de saúde. E isso agradou muito Izabel. Uma hora depois Gilton lá se encontrava.

 

- Izabel! Este é o senhor Gilton Valadão. Somos Miguel Hernandez Ruiz, minha jovem esposa Izabel e nossa filha Cristina.

- Muito prazer senhora! Seu marido disse que queria saber mais de minha propriedade.

- Buscamos um lugar tranquilo para que possamos criar nossa filha.

- Então acharam! Lá é o lugar perfeito para isso. Vou lhes mostrar as fotos.

 

Gilton lhes mostrou as fotos, a documentação de que estava tudo em ordem e lhes convidou para irem com ele até lá para conhecerem melhor a propriedade e a cidade e ficaram tentados a irem, porém, queriam saber o valor da propriedade antes.

 

- Ela vale aproximadamente três milhões, mas vejam a propriedade e façam a proposta e quem sabe cheguemos a um acordo.

 

Miguel olhou para Izabel que assentiu um sim e marcaram de ir logo pela manhã até lá e assim foi feito. Seriam aproximadamente cento e sessenta quilômetros em mais ou menos três horas de automóvel e faltava pouco para as sete da manhã quando entraram no veículo de um desconhecido e partiram rumo a uma cidade que poderia vir a ser o novo lar da família Hernandez Ruiz e sem fazer qualquer parada duas horas e vinte depois entravam pela via principal da cidade,

 

Tanto Izabel quanto Miguel gostaram do que viam ao passar pelas ruas da cidade e pareceu até que a pequena Cristina gostara por ver tantas árvores e flores e pouco tempo depois de adentrarem na cidade chegaram a uma propriedade toda murada, mas que após passarem pelo enorme portão se depararam com um paraíso.

 

Viram que as fotos mostradas não faziam jus ao que encontraram por trás dos muros. Casa ampla, toda avarandada, totalmente gramada com grandes jardins e tudo impecavelmente em ordem e bem arrumado. Estacionaram o veículo diante da casa principal e a porta se abriu. Uma senhora também de meia idade saiu para recebe-los.

 

- Marly meu amor! Estes são Izabel, Miguel e a pequena Cristina. Eles se interessaram por nossa propriedade.

- Você disse dos problemas para eles?

- Não, mas isso nós discutiremos se eles gostarem daqui.

- Problemas? Perguntou Miguel tentando se adaptar ao idioma.

- Coisa boba, mas vamos ver a propriedade e depois discutiremos isso.

- Tudo bem! Concordou Miguel e entraram.

 

 

Gilton e Marly lhes mostraram a casa toda. Cômodo por cômodo foram vistos e em um deles até um pequeno berço estava lá ainda e disseram que era de sua neta quando vinha visita-los.

 

Depois disso saíram da imensa casa e foram ver o restante da propriedade e não tinham visto nem a metade ainda e começou a chover. Voltaram rapidamente para dentro da casa e a chuva foi aumentando de intensidade e fora um caso estranho porque o sol estava forte no céu sem sequer uma nuvem.

 

A chuva não diminuiu e Marly os convidou para passarem a noite ali, afinal eles foram lá para ver a propriedade e não seria justo se não vissem tudo e mesmo Miguel desejando ir para um hotel Izabel acabou convencendo-o a passar a noite ali. Tudo foi arrumado e eles ficariam no quarto que já continha o bercinho para acomodarem a pequena Cristina. Depois disso jantaram, conversaram, falaram da propriedade e ficaram sabendo que ela estava na posse da família desde os anos de mil e oitocentos e ali moraram os pais, avôs e bisavôs de Gilton.

 

- Eu diria que esta casa é do tipo assombrada por lembranças nossa do passado. Informou Marly saudosamente.

- Assombrada! Indagou Izabel.

- Modo de falar nosso! Respondeu rapidamente Gilton.

- Apesar de conhecer o idioma de vocês por causa de um amigo português que morava perto de nossa casa vejo que há muitas diferenças de idiomas, mas ainda os entenderemos bem. Disse Miguel.

- Com certeza se adaptarão bem aqui no nosso país. Falou Gilton.

 

Conversaram mais um pouco e depois se recolheram e foram dormir. Acomodaram Cristina no bercinho e depois se deitaram e Izabel teve a nítida impressão de ter ouvido vozes nos corredores e também sentiu como se alguém olhasse para Cristina com atenção, mas nada disse porque poderia ser apenas impressão de uma pessoa que estivesse com sono. Acabou se acomodando melhor e adormeceu.

 

Ao lado da cama onde dormiam Miguel e Isabel algo ilhava atentamente para Cristina que sorria e ficou olhando movendo a cabeça de um lado para o outro até desaparecer de vez.

 

A manhã chegou e impressionantemente o sol surgira cedo com uma força imensa e tanto Miguel quanto Izabel esperaram ouvir movimento na casa para saírem do quarto.

 

- Bom dia! Dormiram bem? Cumprimentou Marly ao vê-los.

- Dormi sim! Respondeu Izabel.

- Vamos tomar café que vão ficar melhor.

 

Foram para a cozinha e lá encontraram Gilton terminando de colocara a mesa e depois de tomarem café saíram para ver o restante da propriedade e conheceram quatro pessoas que trabalhavam ali na propriedade a alguns anos e que cuidavam de tudo e até das galinhas, porcos, patos, coelhos, marrecos e até das quatro vacas. Viram tudo e adoraram o que viram e voltaram para a casa para tratar de negócios e Izabel não estava entendendo porque Cristina olhava para um ponto qualquer e ria feliz.

 

- O senhor disse que desejava receber três milhões pela propriedade, foi isso? Perguntou Miguel.

- Foi sim!

- Deixa eu te perguntar uma coisa! Ontem a senhora disse que a casa era assombrada e eu ouvi vozes de noite e passos no corredor. Informou Izabel.

- Foi apenas uma forma e me expressar. Disse Marly.

- Não sei se seria uma boa ideia virmos morar aqui. Temos uma filha pequena e ela poderia ficar impressionada. Falou Izabel.

- Não ficará não e precisamos vender para podermos ir embora. Façam uma proposta então que de repente fechemos. Falou Gilton aflito.

- Bem, já que minha esposa não acha uma boa ideia então o máximo que eu poderia oferecer seria de um milhão por tudo aqui.

- Um milhão e meio? Pediu Marly.

- Desculpe senhora, mas um milhão é minha maior oferta por causa de minha esposa.

- Um milhão de que forma? Perguntou Gilton.

- Transferência bancária!

- Para qualquer conta que eu indicasse?

 - Sim! Logo após transferir a posse da propriedade.

- Fechado! Podemos ir até o cartório?

- Só depende dos senhores!

- Miguel! Bradou Izabel.

- Fique tranquila! Vai dar tudo certo.

- Podemos ir? Perguntou Marly.

- Sim! Podemos.

 

Saíram da casa grande, entraram no automóvel e foram até o cartório onde foram prontamente atendidos. Cuidaram da escritura da propriedade e depois foram até o banco onde Miguel possuía conta e lá fizeram a transferência da importância de um milhão. Após isso e com tudo documentado voltaram para a propriedade, Gilton e Marly quiseram deixar o automóvel que estavam usando e pegando outro mais velho colocaram algumas malas dentro dele e se despediram desejando felicidades para eles e foram embora.

 

- Será que estou ficando maluca Miguel?

- Porque meu amor? Respondeu Miguel.

- Não acho que eles estavam com pressa demais para venderem e irem embora daqui?

- É! Também achei, mas pode ser que estão com pressa para ver os filhos deles ou estavam cansados de ficarem aqui sozinhos, mas não estão sozinhos! Eles têm os empregados e são quatro que devem ser amigos deles.

- Mesmo assim! Estou achando isso muito estranho, porém, a propriedade é nossa e agora nossa filha terá muito espaço para correr e brincar. Falou Izabel feliz.

- Agora teremos que ir até a capital pegar nossas coisas e fechar a conta lá do hotel e nos mudaremos para cá de vez.

- Quando quer ir para lá? Perguntou Izabel.

- Amanhã de manhã se estiver tudo bem para você.

- Está sim, mas será que vai saber dirigir por aqui?

- Amor! Eu tenho autorização para dirigir, se esqueceu?

- Não foi a pergunta que fiz. Eu disse se saberia ir até lá? Respondeu Izabel sorrindo.

- Ih! É verdade. Como faremos agora?

- A conta lá está paga até o final do mês?

- Está!

- Tem duas alternativas. Ou liga lá e pede para enviarem nossos pertences para cá ou vamos até lá de ônibus.

- Melhor eles mandarem! Vou ligar lá e pedir isso para eles e amanhã vamos conhecer a cidade.

- Perfeito!

- Vou dar uma volta e reunir os funcionários para dizer que a propriedade é nossa agora e que tudo continuará como antes. Quer ir comigo?

- Não! Vou ver o que fazer nesta casa imensa e pedir para a Cristina me ajudar.

- Até parece! Volto já.

 

Miguel saiu da casa e por mais que andasse pela propriedade não encontrou nenhum dos funcionários. Ficou encafifado e procurou por cada lugar da fazenda e não encontrou ninguém e depois de olhar de novo voltou para casa sem saber o que estava acontecendo.

 

- O que foi meu amor? Perguntou Izabel.

- Estranho! Não encontrei com nenhum deles.

- Como assim!

- Andei de ponta a ponta três vezes, mas não encontrei nenhum deles.

- Foi na casa que eles moram?

- Fui! Estava vazia.

- Olhou bem?

- Com certeza olhei, mas nada.

- Devem ter saído e ido até a cidade.

- Todos juntos?

- Talvez ficaram tristes porque os antigos donos foram embora e também foram.

- Meio impossível isso não acha?

- Achar é uma coisa, mas impossível não. Culturas diferentes, portanto, vá la saber.

- O que vai fazer agora?

- Já está tarde, mas se eles não voltarem amanhã cedo vou até a cidade para saber deles.

- Tudo bem! Vá tomar um banho e depois descansa um pouco. Vou preparar alguma coisa para a Cristina e depois também irei tomar banho.

- Tudo bem! Só uma coisa, você reparou que a nossa filha aqui fica olhando para algum lugar e fica rindo?

- Reparei sim, mas é sorriso de alegria e felicidade, então é coisa boa.

- Vamos torcer para que seja mesmo! Vou tomar banho. Já volto.

 

Miguel saiu e se dirigiu para o banheiro da suíte principal e sentiu-se estranho ali dentro. Era como se olhos o vigiassem ou o acompanhassem. Sentiu um arrepio, mas com a fé que tinha se fez forte e foi tomar banho. Tomou, se enxugou e voltou. Encontrou Izabel na cozinha terminando de prepara algo para que comessem e lhe dando um beijo foi tomar banho. Miguel ficou com Cristina e ela só parou de olhar para um lugar qualquer quando ele a pegou no colo e ela sorriu para ele.

 

Enquanto ele brincava com Cristina indo tomar banho Izabel também sentiu como se a olhassem e firmando o pensamento pediu as bênçãos dos céus e tudo aquilo desapareceu por completo. Tomou um banho demorado na banheira e depois vestiu a última troca de roupa que trouxera e após isso voltou para a cozinha e não sentiu mais nada por ali.

 

- Quer saber de uma coisa estranha amor?

- O que?

- Senti como se estivesse sendo vigiada ou seguida com os olhos, mas depois que firmei minha fé em Deus desapareceu no mesmo instante.

- Acredita que senti o mesmo quando fui tomar banho?

- Será que esta casa é má assombrada?

- Não sei, mas se for a fé que temos no Criador vai afastar tudo que haja por aqui.

- Eu creio nisso.

 

A noite chegou. Jantaram e depois de ver um pouco de TV foram se deitar e mal tinham acabado de pegar no sono Izabel acordou Miguel dizendo que tinha gente na casa. Alarmado ele se levantou e pegando um guarda-chuva saiu para o corredor e nada encontrou. Foi até a sala e tudo estava normal. Depois até a cozinha e voltou olhando cômodo por cômodo. Não tinha medo e confiava na fé em Deus e olhou tudo sem encontrar nada.

 

Voltou para o quarto onde Izabel estava com Cristina em seu colo olhando para lugar nenhum e disse que nada havia encontrado e olhando com atenção para o bebê viu que ela apontava o dedinho em determinada direção.

 

- Filha querida! Sei que chegou para nós em um presente de Deus a poucos dias, mas se está vendo algo vou lhe pedir algo estranho, mas peça para quem está vendo que pare de nos assombrar aqui.

 

Izabel olhou para seu marido achando que ele devia estar doido, pois onde já se viu pedir algo daquele jeito para uma um bebê recem nascido, mas ouvindo ou não, entendendo ou não, pedindo ou não a partir daquele momento uma paz intensa caiu sobre aquela casa.

 

 

Cristina parou de olhar para algum lugar e bem acomodada dormiu na hora. Miguel e sua esposa também se deitaram ainda temerosos com alguma coisa assombrada, mas nada mais os incomodou e conseguiram dormir sem mais nenhum contratempo e assim a noite passou na calma

 

Acordaram logo cedo e ambos queriam saber onde estariam os funcionários da propriedade e após tomarem café e saindo para a varanda a fim de ir ver se os encontrava viram os quatro parados la fora esperando-os.

 

- O que aconteceu que não os vi aqui ontem à noite?

- Patrão! Estávamos junto com a família Valadão a muitos anos e com a ida deles embora resolvemos que seria a hora de também irmos descansar, mas eles nos pediram para que ficássemos porque o jovem Cristina ainda poderia precisar de nós e por isso voltamos e estaremos aqui se deixarem por um bom tempo ainda.

- Claro que eu os deixo ficarem aqui e lhes agradeço por isso.

- Não nos agradeça senhor! Agradeça aos nossos antigos patrões e a pequena Cristina.

- Como agradecer a eles? Nem sei para onde eles foram.

- Pode agradecê-los em orações que eles se sentirão felizes e lembrados.

- Obrigado e farei um ajuste nos seus salários!

- Não queremos dinheiro senhor! Nunca trabalhamos por dinheiro, mas se quiser dar alguma coisa tem nossa autorização para doar para crianças carentes.

- Não querem receber nada?

- Não senhor! Estamos aqui a muitos anos e temos tudo o que precisamos, mas lhes agradecemos por isso. Agora iremos trabalhar.

 

Saíram e voltaram aos seus afazeres. Miguel tornou a entrar e comentou o que acontecera a pouco e ela achou aquilo tudo muito estranho, mas não tinha como argumentar aquilo e prometeu a si mesma que os trataria ainda melhor do que sempre tratava qualquer ser humano procurando jamais os desapontar.

 

O dia passou. Miguel procurou ajudar aos funcionários em seus afazeres. Izabel foi vê-los e levou um bolo que fizera levando Cristina junto e eles ficaram todos admirando aquele bebê com um misto de encantamento com o de querer protege-la e serem protegidos por ela. Dispensaram o bolo e Miguel reparou no decorrer do dia que eles não paravam nem para tomar água.

 

Terminado mais um dia Miguel retornou para a casa e foi tomar banho. Voltou do banho e pegou a pequena Cristina no colo e ficou brincando com ela enquanto Izabel ia tomar banho. Sentou-se com ela no tapete da sala impecavelmente limpo e ficou ali até que sua amada esposa voltou e como estava se habituando fazer Miguel colocou Cristina em sua perna com as perninhas de lado e balançando logo a fez dormir e depois seria só colocá-la na cama e teriam tempo para eles mesmos.

 

- Percebeu que ela está se acostumando a dormir na sua perna?

- Percebi sim e estou adorando isso, pois é sinal de que ela gosta de mim.

- E porque não gostaria de você senhor Miguel Hernandez Ruiz?

- É verdade! Não tem porque não gostar, não é?

- É sim, mas vamos deitar?

- Vamos e espero que nada haja de incidentes está noite.

 

Não souberam responder se fora o pedido que Miguel fez para Cristina pedir ou se haviam desistiram de aparecer por ali, mas nada de anormal ocorrera naquela noite e Cristina também parou de olhar para algum ponto sem que nada pudesse ser visto por ali. Tomaram café, se arrumaram e iam sair para comprar algumas coisas na cidade e chamaram Hernandes que era o tipo de um capataz ali e lhe informaram que iam até a cidade comprar algumas coisas e perguntaram se eles queriam alguma coisa, mas disseram que já tinham tudo o que precisavam ali.

 

Finalmente saíram da propriedade após o portão ter sido aberto automaticamente e fechado logo que o haviam ultrapassado. Seguiram rumo ao centro e lá, na rua de maior comércio Miguel estacionou o veículo deixado por Gilton e muitos reconheceram o mesmo que já fazia muito tempo que não rodava pela cidade. Desceram e entraram em uma loja que trabalhava com roupas infantis e escolheram bastante roupas para Cristina além obviamente do carrinho onde ela foi colocada. A vendedora os atendeu com certo receio por causa do veículo estacionado bem diante da loja, mas nada disse, afinal recebia comissão e a compra estava sendo grande.

 

- Senhor! Me perdoe a indiscrição, mas este veículo que o senhor está dirigindo não é o doutor Gilton Valadão? Perguntou Vilma a gerente da loja.

- Era sim! Comprei a propriedade ontem.

- Ontem?

- Sim!

- É grande a propriedade, não é?

- Maior do que pensávamos! Respondeu Miguel.

- O senhor não é brasileiro, né?

- Não! Viemos da Europa para cá!

- Está explicado então!

- O que está explicado?

- Nada não! Modo de falar.

- Frases sem sentido e sem explicação por aqui se chama modo de falar?

- Mais ou menos isso! Respondeu Vilma.

- Entendi sem entender, mas por favor feche a conta para eu poder pagar. Aceitam cartão?

- Aceitamos sim!

 

Miguel pagou a conta e logo depois saiu da loja acompanhado de Izabel e Cristina. Vilma e a vendedora ajudaram a carregar os pacotes dentro do veículo e a instalar a cadeirinha no banco traseiro. Deixaram o mesmo ali e foram para outra loja que vendia roupas masculina e feminina para adultos. Fizeram uma boa compra com roupas para os dois e depois saíram e colocaram os pacotes no veículo enchendo-o por completo. Ajeitaram Cristina na cadeirinha e voltaram para a nova propriedade deles e o portão se abriu e fechou-se logo após eles entrarem.

 

- Este veículo deve ter algum tipo de controle remoto que abre e fecha este portão. Bem interessante. Comentou Miguel.

- Deve ter mesmo amor!

 

Chegaram diante da propriedade e de longe viram os quatro funcionários cada qual fazendo um trabalho diferente. Acenou para eles e descarregaram todas as roupas e depois entraram para guarda-las em seus devidos lugares e estavam arrumando quando a campainha tocou. Olharam pela câmera que ali existia e viram que era um caminhão de entregas. Miguel foi atender.

 

Eram o que eles haviam deixado no flat em São Paulo, mas os entregadores se recusaram a entrar e nem oferecendo gorjeta eles aceitaram passar pelo portão e ele teve que levar tudo para dentro sem ajuda alguma. Assinou mal-humorado a minuta de entrega e fechou o portão de acesso para pedestre, mas tão breve o portão foi fechado Hernandes apareceu e o ajudou a levar tudo para dentro.

 

- O que há de errado com estas pessoas Hernandes?

- Porque pergunta senhor?

- Parecem que tem medo daqui!

- Este povo aqui do interior é deste jeito mesmo, mas eles se acostumarão logo com o senhor, sua esposa e a sua linda filha.

- Deus te ouça Hernandes porque temos a intenção de vermos Cristina crescer e envelhecermos aqui.

- Foi o que fizemos também senhor! Disse Hernandes na varanda e ele também não quis entrar na casa.

- Entre Hernandes!

- Obrigado senhor, mas não vou entrar e este é nosso jeito de ser.

- Tudo bem e obrigado por ter-me ajudado.

- Sempre às ordens senhor! Disse Hernandes saindo.

 

Miguel entrou e comentou o que tinha acontecido com Izabel que também não entendeu nada, mas ambos acharam estranho aquele procedimento das pessoas, mas deixaram para lá. Tinham que comprar alimentos, mas deixaram para fazer isso no dia seguinte, pois fora muita coisa para um período só do dia. Isabel foi preparar o almoço e depois de arrumar a cozinha com ajuda de Miguel foram dar uma volta pela propriedade toda murada e perceberam que os muros eram altos e deveriam ter em torno de cinco metros de altura e cercavam todo o espaço que agora pertenciam a eles.

 

Viram com orgulho o pomar que havia no local onde havia quase tudo e pensaram que os funcionários não precisavam de nada porque ali tinha um pouco de tudo. Desde legumes até frutas. Além é claro dos animais que poderiam lhes dar sustento caso não quisessem sair da propriedade. Com isso a tarde passou, a noite chegou e nem um ruído estranho eles ouviram. Foi uma noite tranquila e logo pela manhã, após tomarem café resolveram ir a um supermercado adquirir o que acharam necessário para o mês.

 

Fizeram a compra e lá ninguém lhes deu atenção, mesmo porque o estacionamento era grande e passaram despercebidos. Voltaram para a propriedade e depois de entrarem e o portão estando fechados Hernandes apareceu novamente para ajuda-los a descarregar, porém, levando as compras apenas até a varanda e depois voltou para o trabalho.

 

Não entenderam aquilo de não entrarem na casa, mas procuraram mãos e preocupar com tal fato e guardaram tudo e depois enquanto Izabel foi cuidar da comida ele pegou Cristina e sentando-se no tapete da sala o qual permanecia completamente limpo e asseado ficou ali brincado com ela.

 

Almoçaram depois e Izabel comentou que estava impressionada de não haver sequer um grão de pó dentro daquela casa e tudo permanecia em ordem poupando-a de ter que limpar. A tarde passou, a noite chegou e também passou sem qualquer som diferente ou de lhes incomodar.

 

Os dias foram passando. Um mês se foi, outro também passou e mais outro. Cristina crescia forte e saudável e com isso cinco meses se foram.

 

O pessoal da cidade já se acostumara com o casal e a linda bebê e parecia que tudo parecia caminhar para um futuro de paz e certo dia, Miguel cansado de ficar trancado dentro de casa foi para a cidade e lá soube que um empresário falido no ramo de móveis queria vender sua empresa ou buscava um investidor e resolveu conversar com ele.

  

- Bom dia! O senhor está querendo vender sua empresa?

- Bom dia! Na verdade, vender não seria bem o caso. O que eu preciso mesmo é de um investidor que resolvesse me ajudar a levantar minha loja que é pioneira aqui na cidade.

- Ah! Me perdoe! Meu nome é Miguel Hernandez Ruiz e moro aqui na cidade a cinco meses.

- Meu nome é Salomão Ortolan. O senhor por acaso foi quem comprou a propriedade do Gilton?

- Eu mesmo!

- E o senhor é humano?

- Bem acho que sou! Respondeu Miguel sorrindo.

- E está vivo?

- Também acho que sou, porque a pergunta?

- Nada não!

- Vai me dizer que isso foi uma forma de dizer as coisas?

- Não! É porque dizem que aquela propriedade é mal-assombrada.

- Não vi nenhum fantasma lá desde que me mudei para esta cidade.

- Deve mesmos ser coisa de pessoas que não tem o que fazer. Falou Salomão.

- Bem por aí, mas qual seria o valor que necessita para se recuperar?

- Veja bem! Tenho um atraso entre fornecedores e bancos em torno de dois milhões e meio e com mais um a loja que também produz os móveis sairia do buraco e começaria a dar lucro. Devagar, mas voltaria aos poucos no que foi até pouco tempo atrás.

- Seriam então três milhões e meio, é isso?

- No máximo isso!

- O que prefere, um sócio ou um investidor?

- Não gosto muito de sociedade porque o sócio que eu tinha foi quem me deixou nesta situação, mas você me parece ser gente do bem.

- Quer um tempo para pensar? Estou cansado de ficar em casa.

- Você entende de móveis Miguel?

- Na minha terra eu trabalhei com meu pai que era marceneiro e que me ensinou bem a mexer com madeira.

- Hum! Interessante. A loja que você está vendo aqui faz parte de uma fábrica que temos e que trabalha com móveis exatamente de madeira e já está na família por três gerações.

- E este valor que citou é para cobrir as dividas tanto a loja quanto a fábrica?

- Isso mesmo! Respondeu Salomão.

- Então faça o seguinte! Pense bem e amanhã falaremos sobre isso de novo. Sem pressa e sem compromisso. Se aceitar posso ser seu sócio e trabalhar na fábrica.

- E vai deixar sua esposa e filha sozinhas lá na propriedade?

- Tem algum problema nisso?

- Não! Foi apenas uma pergunta, mas ela faz o que profissionalmente?

- Nos casamos cedo. Ela antes de nos casarmos era assistente de contabilidade, mas pouco depois que nos casamos ela estava para ser promovida para a vaga da contadora que estava se aposentando quando veio a ideia de virmos para cá e aqui estamos nós.

- Vocês são novos ainda! Quantos anos tem?

- Eu tenho trinta e dois anos e Izabel tem vinte e quatro. Nossa filha tem seis meses.

- Bem novinhos mesmo!

- Somos, mas pense bem na minha proposta e amanhã conversaremos. Tudo bem?

- Sim! Gostei de você. Amanhã falaremos.

 

Se despediram e Miguel voltou para casa, mas não antes de dar uma volta pela cidade e ver o que havia de comercio por ali e constatou que de móveis de madeira só havia a loja de Salomão. Acabou fazendo mais que isso. Deixando o automóvel estacionado saiu pelo comércio em si e procurou saber sendo discreto sobre a loja de Salomão e só ouviu elogios e sentiam que ele tivesse tomado um golpe do ex sócio. Era o que ele queria saber. Voltou para casa e comentou isso com Izabel que ficou feliz por ver que Miguel estava querendo sair da vida parada que estava vivendo.

 

Em seguida pegou Cristina no colo e foi brincar com ela até a hora do almoço chegar. Almoçaram e depois foi andar pela propriedade e lá estavam os quatro funcionários na lida do dia a dia. Não quis incomodá-lo e apenas os cumprimentou de longe.

 

Caminhou um pouco mais pela propriedade e depois voltou para casa onde Izabel reclamou que não tinha o que fazer, pois a casa parecia não sujar e nem ter poeira e brincando Miguel disse que talvez o pessoal da limpeza fossem a noite na casa e limpava tudo sem fazer barulho.

 

- Você brinca é! Se eu ficar sem fazer nada vou acabar engordando e não irá mais gostar de mim.

- Jamais deixarei de gostar de você, mas se quer saber eu não gosto e sim amo muito você.

- Hum! Muito mesmo?

- Intensa e eternamente! Respondeu Miguel.

- Você fala quantos idiomas amor?

- Como quantos idiomas? Ei senhor Miguel, está falando com quem mesmo?

- Foi só uma pergunta! Respondeu Miguel sorrindo.

- Sabe bem que falo espanhol o que é obvio, francês e alemão, fora o português que estou aprendendo, porque quer saber isso?

- E se montássemos uma escola de idiomas? Você poderia dar aulas e não ficaria parada.

- Que ideia boa, mas fazer isso aqui?

- Não! Aqui não viria ninguém, pois acham que esta propriedade é mal-assombrada, mas podemos montar uma escola pequena inicialmente na cidade. Acredito que daria certo.

- Bem interessante! Disse Izabel animada.

- Vamos aguardar a resposta de Salomão amanhã e independente do que ele disser veremos a sua pré-escola de idiomas, pois acredito que valerá a pena investirmos aqui nesta cidade.

- Também estou achando isso meu amor.

 

Mais uma noite chegou e foi ainda mais tranquila que as demais. Parecia que tudo estava entrando nos eixos e a paz finalmente reinava no seio daquela família tão sofrida no passado não tão distante e agora faltava pouco para que eles quem sabe, até tentassem novamente terem um ou mais filhos. Pelo menos era está a ideia de ambos.

 

Aquele foi um dia diferente de todos os outros que passara ali na cidade desde que chegara. O sol desapareceu e uma névoa cobriu a cidade e a temperatura caiu, mas nada de anormal, pois este era o clima normal da região e não o sol escaldante que vinha ocorrendo.

 

Levantou-se, tomou banho, se enxugou e logo depois Izabel fez o mesmo. Prontos os dois cuidaram da pequena Cristina que já tentava falar alguma coisa e dois dentinhos apareceram na sua boca, juntos e em cima. Todos arrumados tomaram café e saíram rumo à loja de Salomão.

 

Chegaram e foram recebidos tanto por ele quanto por sua esposa e duas filhas, Sueli, Cássia e Fernanda. Apresentaram-se e as três adoraram a pequena Cristina. Fernanda quis carregar a pequena e está sorriu para ela quando foi pega no colo.

 

- Meu marido me disse da sua pretensão em ajuda-lo! Disse Sueli.

- Sim! Chegamos aqui e não consigo ficar parado e ia montar algo quando soube das dificuldades de vocês.

- Vocês estão morando na casa mal-assombrada?

- Na verdade, não sei porque esta fama, pois não vimos nada de anormal lá.

- Vocês são humanos?

-Já respondi está pergunta algumas vezes, mas garanto que somos bem humanos e também estamos vivos desde que nascemos.

- Desculpe minha ignorância, mas é que eu sempre desvio do caminho quando tenho que passar lá perto. Falou Sueli constrangida.

- Se desejarem ir lá fazer uma visita ou até dormir lá serão muito bem-vindos.

- Desculpe-me, mas tenho receio ainda.

- Eu e a Fê adoraríamos ir lá e até dormir lá se deixassem.

- A casa está aberta para qualquer um de vocês se desejarem.

- Grato, mas vamos tratar de negócios porque senão ficaremos aqui até amanhã ouvindo as minhas três preciosidades. Falou Salomão sorrindo.

- Antes de saber da decisão dos senhores eu gostaria de saber se sabem onde há um espaço para que Izabel possa montar uma pequena escola para ensinar outros idiomas para a população daqui.

- Quais idiomas? Perguntou Fernanda curiosa.

- Espanhol, francês e alemão. Estes eu falo fluentemente.

- Que inveja! Eu mal sei falar o português direito. Comentou Salomão.

- Podemos fazer espanhol e francês lá papai? Perguntou Cássia.

- Vamos conversar sobre isso, mas a priori podem sim. Agora falemos da fábrica e da loja.

- O que resolveram?

- Estivemos conversando e depois do golpe que tomamos poderemos aceitar sim, mas com algumas restrições. Falou Sueli.

- Quais restrições?

- O patrimônio da fábrica aliada ao patrimônio da loja que são nossos gira em torno de dez milhões e você, se posso lhe chamar assim estará nos salvando com três milhões e meio e a única restrição seria quanto ao percentual da divisão das duas empresas que eu calculei em sessenta por cento para nós e quarenta por cento para vocês. No demais não temos restrições alguma.

- Vamos fazer diferente! O patrimônio de vocês segundo balanços e apontamentos de bancos, fornecedores e imobiliárias locais bate nos dez milhões, mas não seria justo eu entrar com três milhões e meio e ficar com quarenta por cento e proponho que nós fiquemos com trinta e cinco por cento e vocês sessenta e cinco, pois desta forma eu acho justo e vão querer saber como que eu sei destes dados que informei e os mesmos estão bem em cima da mesa abertos e eu só precisava olhar para ver.

- Viu tudo isso aqui em cima neste pouco tempo que estamos conversando?

- Sim! Sou bom observador e muito detalhista.

- Caraca! Nem pegando nas mãos eu teria visto os detalhes. Disse Cássia sorrindo.

- O que me diz, aceita? Perguntou Miguel.

- Nossa! Tem certeza disso que está propondo? Perguntou Sueli.

- Absoluta! Se não concordar eu não fecho negócio. Respondeu Miguel.

- Mas aí você perde dinheiro? Falou Salomão.

- Não estou perdendo! Na verdade, quem sabe como comandar o negócio não sou eu e como disse sou muito observador e detalhista, mas se me der uma oportunidade eu gostaria de poder aprender com os seus marceneiros aqui a arte que meu pai me ensinou.

- É isso mesmo que quer fazer na sua participação?

- É sim! Aceita?

- Mesmo não achando justo eu aceito sim porque senão as áreas da loja e da fábrica poderão ser penhoradas pelos bancos.

- Então providencie o contrato social que assinamos, mas antecipadamente posso lhe adiantar a importância combinada.

- Posso lhe fazer uma pergunta? Perguntou Cássia.

- Pode sim?

- Você é humano mesmo ou veio de outro planeta para agir desta forma?

- O humano eu já respondi, mas não vim de outro planeta, eu vim de um país, do outro lado do Atlântico onde não confiamos em ninguém, mas seu pai mostra a integridade dele através de seu olhar.

- Nossa! Me convenceu. Se nos deixar conhecer a propriedade eu aceitarei com prazer. Disse Sueli emocionada pelas palavras de Miguel.

- Só marcarmos e poderão ir, mas primeiro vamos acertar as coisas das empresas.

 

Acertaram os detalhes, chamaram o contador para providenciar o contrato social e enquanto isso Miguel fez questão de que Salomão fosse com ele no banco a fim de transferir a importância e para facilitar ambos tinham conta na mesma instituição bancária. Fizeram a transferência do dinheiro, Salomão lhe passou um recibo e saíram voltando para a loja onde as cinco mulheres os aguardavam.

 

- Graças ao Miguel o problema será resolvido hoje ainda. Disse Salomão agradecido.

- Deus te abençoe Miguel. Estávamos desesperados. Falou Sueli.

- Não tem que me agradecer. Agora é colocar a mão na massa e vamos produzir, mas podem me ajudar com relação à área para a escola de Izabel?

- Tem ideia do tamanho que deseja? Perguntou Salomão.

- Não sei ainda, mas sei que a população da cidade gira em torno de vinte e seis mil, estou certo?

- É aproximadamente isso mesmo!

- Então, teoricamente com esta população existe aqui em torno de sete a nove mil crianças e adolescentes. Creio que seja isso se minhas contas não estiverem erradas.

- Deve ser por aí mesmo, mas eu tenho um amigo que tem um espaço duas lojas depois da nossa aqui que fechou e quer passar para frente o prédio todo.

- Interessante! Tem ideia de quanto ele quer pelo imóvel?

- Tenho! Ele quer trezentos e oitenta mil, mas se pechinchar ele pode fazer valor mais baixo. Só que não pode saber que você me ajudou aqui porque senão ele não baixa. Quer ir lá ver o local?

- Quero!

 

Saíram e desceram pela mesmo lado da calçada apenas duas lojas e se depararam com um espaço que agradou tanto a Miguel quanto à Izabel. Na vidraça havia uma placa de vende-se e com Salomão à frente entraram e constataram que o espaço interno era bem amplo, porém, já todo desocupado.

 

- Bom dia Sandoval! Quero te apresentar duas pessoas.

- Oi Salomão! Pois não.

- Estes são Miguel, Izabel e a pequena Cristina.

- Muito prazer! No que posso lhes ajudar?

- Salomão nos disse que estava vendendo a sua loja e viemos por isso.

- É! Como podem ver eu já fechei e estou vendendo o meu prédio e se lhes interessar ele está à disposição para que olhem.

- Podemos?

- Claro! Fiquem à vontade.

 

Miguel e Izabel olharam tudo e gostaram do que viram. Era muito maior do que tinham em mente, mas seria perfeito, pois ficava na rua principal da cidade e vendo-o voltaram até onde estava Salomão com seu irmão e confirmaram que lhes agradara e quanto ele queria pelo imóvel. Sandoval pediu quatrocentos e cinqüenta mil, mas acabou fechando por trezentos e vinte. Ajustaram a composição do contrato de compra e venda e no dia seguinte assinariam a escritura de transferência. Izabel estava radiante de felicidade. Calculava que teria ao menos vinte alunos inicialmente e duas delas ela já conquistara que eram as filhas de Salomão. Voltaram para casa com ela radiante e Cristina parecendo entender compartilhava da felicidade de sua mãe.

  

Chegaram na propriedade. O portão se abriu automaticamente. Entraram e ele fechou da mesma forma. Miguel estacionou diante da casa, viram os funcionários trabalhando, cumprimentou-os e entraram e respiraram aliviados.

 

Em um único dia Miguel adquirira trinta e cinco por cento de uma loja e de uma fábrica e adquirira um espaço onde Izabel poderia trabalhar dando aula e gerenciando uma escola de idiomas. Tudo estava perfeito. Aliás, perfeito demais e se o duque Alejandro Ávila Lacerda por acaso soubesse disso, com certeza ficaria surpreso.

 

- O que pretende fazer lá na sua nova escola meu amor?

- É bem grande e pensei em fazer algumas salas e com isso abrir vagas para mais umas três ou quatro professoras de idiomas.

- Excelente ideia!

- Também se tiver algum programa do governo poderíamos conceder bolsas de estudo para as pessoas carentes.

- O Salomão deve saber algo sobre isso, vou perguntar para ele.

- De uma coisa eu sei. Nossa filha não deve ser influenciada pela nossa língua mãe e sim pelo idioma daqui do Brasil e depois, com calma poderei ensina-la os outros que eu sei.

- Também é uma ótima ideia e amanhã veremos a reforma lá da escola para que você possa começar rapidinho a ensinar os interessados.

- Obrigada meu amor! Respondeu Izabel agradecida.

 

A tarde passou, a noite chegou e foram dormir e durante o sono viu Gilton e Marly chegando ali na propriedade, mas não quiseram entrar. Foram apenas para lhe agradecer e à sua esposa Izabel por estar ajudando pessoas da cidade natal deles e do nada, depois disso desaparecendo fazendo-o acordar surpreso.

 

- O que foi meu amor? Perguntou Izabel vendo-o acordar sobressaltado.

- Nada! Foi apenas um sonho.

- Com o que sonhou, posso saber?

- Pode! Sonhei que Gilton e Marly vieram aqui, não entraram, mas me agradeceu.

- Nossa! Que coisa, mas agradeceram porquê?

- Por estarmos ajudando as pessoas da cidade deles e do nada desapareceram e eu acordei.

- Você disse que eles não quiseram entrar?

- Isso! Fui vê-los lá no portão. Estranho, não acha?

- Realmente muito estranho, mas porque será que as pessoas têm medo ou receio desta casa?

- Não tenho a menor ideia, mas temos que acabar com isso de casa mal-assombrada.

- E como fazer isso?

- Não tenho a menor ideia, mas espero que isso não atrapalhe a sua escola.

- Não vai atrapalhar. Confie em nosso Deus meu amor.

- Eu confio e sempre confiarei. Respondeu Miguel se deitando de novo.

 

A noite passou, novo dia chegou e logo cedo foram para a cidade. Os quatro funcionários já estavam na lida. Os cumprimentou e saíram e foram direto para o prédio onde seria a escola. Cristina estava radiante vendo movimento passando pela janela do automóvel.

 

Miguel abriu a porta, entraram e contemplaram todo o ambiente. Izabel deu algumas ideias do que desejava fazer ali e depois disso visto, as ideias na cabeça foram até Salomão e perguntaram para ele sobre pedreiros na cidade e também sobre projeto social.

 

Pedreiro ele indicou um que era de confiança, mas quanto ao programa social do governo ele disse desconhecer, mas elogiou a ideia de ajudar aos necessitados e deu uma sugestão de que ela, como o prédio era próprio e seria ela a dar aulas, quem sabe, ela poderia conceder algumas bolsas de estudo para pessoas carentes. Izabel e Miguel adoraram a ideia e acreditavam que isso poderia ser uma excelente propaganda para inscrições na escola e se isso acontecesse poderiam contratar mais professoras e abrir outras opções de idiomas.

 

Cuidaram de tudo e doze dias depois inauguraram o espaço da escola e ao contrário do que Izabel esperava poucas pessoas compareceram na festa, mas isso não a abalou, pois confiava em Deus sobre todas as coisas e ela iniciaria dando aulas para cinco pessoas.

 

Cássia e Fernanda e mais três amigas delas foram as primeiras e o assunto logo que se sentaram nas cadeiras da sala de aula foi desejarem saber se a imensa propriedade murada era de fato assombrada e sorrindo dizendo que não as convidou para conhecerem a casa dela deixando-as excitadas com a possibilidade de passarem por aquele imenso portão.

 

Izabel disse que ia combinar com seu marido Miguel e cuidariam de tudo para recebe-las até o final de semana e quando contou para ele primeiro ele não achou boa ideia, mas com as insistências de sua amada esposa concordou em recebe-las lá e marcaram para o próximo sábado. Foram convidadas além das cinco jovens Salomão e sua esposa Sueli que estava ainda receosa de irem até lá. Voltando para casa Miguel chamou os quatro funcionários para comunicar-lhes sobre a visita.

 

- Senhores! Sei que são discretos e que não gostam de aparecer, mas convidei para virem aqui no final de semana alguns amigos e me senti na obrigação de comunica-los por isso.

- Virão passar o final de semana todo senhor? Perguntou Hernandes.

- Não meu amigo! Virão apenas no sábado, comerão algumas coisas, mostrarei a propriedade para eles e depois irão embora.

- O senhor se incomodaria se nós não nos mostrássemos para eles?

- Não sei porque isso, mas não, eu sentirei falta de vocês na apresentação da casa e da propriedade, mas se este for o desejo de vocês eu os respeitarei.

- Ficamos agradecido por isso senhor além de ficarmos felizes por nos comunicar com antecedência e nos sentimos respeitados por isso.

- Sempre os respeitarei, pois fazem parte de nossa família aqui. Sou eu, minha esposa, nossa filha e vocês quatro e sou eu quem os agradeço por isso.

- Obrigado! Disseram os quatro e se retiraram voltando para os seus afazeres.

 

O dia passou e os outros também passaram e finalmente chegou o sábado. Izabel estava agoniada e preocupada temendo que algo acontecesse. Cristina sorria a todo momento se sentindo feliz e quase balbuciando algo entendível. Já Miguel estava tranquilo porque a um bom tempo nada de anormal havia acontecido de anormal, mas mesmo assim ele se aproximou de sua pequena filha e pediu para que ela pedisse por ele autorização aos amigos invisíveis, caso houvessem a fim de receber novos amigos. Cristina simplesmente olhou séria para ele e depois sorriu como se entendendo as suas preocupações.

 

Passava doze minutos das onze da manhã quando Salomão, Sueli, Cássia, Fernanda e suas três amigas chegaram em dois automóveis. Miguel os aguardava ao lado do imenso portão e ao vê-los se aproximando acionou o controle remoto e ele se abriu, mas antes deles entrarem Salomão parou o seu veículo pouco antes de passar e Sueli perguntou se eles poderiam e as meninas no veículo atrás do deles poderiam entrar e foram autorizados.

 

Miguel sentiu nisso mais como um pedido de respeito para com ele ou para quem quer que fosse que deram fama de casa mal-assombrada àquela propriedade. Ele indicou onde deveriam estacionar e os dois veículos entraram. Fechou o portão através do controle remoto e foi até onde tinham acabado de estacionar sendo recebidos por Izabel e a pequena Cristina.

 

- Sejam bem-vindos! Cumprimentou Izabel feliz.

- Obrigada querida! Que lugar mais lindo este aqui. Respondeu Sueli.

- Lindo mesmo e muito bem cuidado! Disse Salomão.

- Temos quatro fieis amigos que cuidam de tudo por aqui e que dedicam seu carinho por cuidar daquilo que não é só meu, de Izabel e de nossa pequena Cristina, mas sim de todos, nós e eles. Comentou Miguel.

- Eles estão por aqui? Perguntou Cássia curiosa.

- Não! Hoje é o dia de folga deles e saíram cedo. Respondeu Miguel.

- Venham por favor! Vou lhes mostrar a casa sede. Convidou Izabel.

 

Entraram na bela residência e Fernanda fez questão de pegar Cristina no colo. Izabel mostrou a casa toda e depois foram para a varanda onde ela tinha preparado algumas coisas para que eles comessem e ali sentaram e ficaram olhando até onde conseguiam ver o que compunha a imensa propriedade.

 

- É tudo bem cuidado aqui assim? Perguntou Sueli.

- Diz do gramado, do piso, das flores, da casa e dos jardins?

- Sim! Cada pedaço daqui é deste jeito. Tudo bem cuidado.

- Exatamente deste jeito, até os estábulos, as plantações, o pomar e o riacho.

- Tem um riacho aqui? Perguntou Salomão.

- Temos sim! Lá na divisa do muro na parte leste da propriedade.

- Pode nos mostrar a propriedade? Perguntou Fernanda.

- Claro! Posso sim, mas não quer comer primeiro?

- Ela é toda calçada desta forma?

- É sim, menos debaixo das árvores e dentro do riacho. Respondeu Miguel sorrindo.

 

Saíram e caminharam pela propriedade. Pegaram frutas direto do pé. Viram os animais domésticos e viram o riacho que surgia de um lado passando por baixo do muro e terminavam do outro lado da mesma forma. Depois viram a casa dos trabalhadores, mas lá educadamente Miguel desviou para que não fossem e quase duas horas depois voltaram para a casa sede impressionados.

 

- Este lugar é um paraíso! Comentou Cássia.

- Impressionante! Disseram as três amigas.

- Um lugar para se esquecer do mundo! Falou Sueli.

- Estou sem palavras! Moro aqui a anos, conheci os antigos proprietários e nunca vim aqui. Lhe agradeço de coração por me proporcionar o prazer de ver este lugar mágico. Enfatizou Salomão.

- Agora vamos comer algo?

- Vamos! Disseram todos.

 

Se alimentaram, conversaram, ajudaram Izabel a arrumar a louça suja e o dia já estava terminando quando se despediram para irem embora e uma certeza levavam consigo, a de que ali só devia ser mal-assombrado para pessoas ignorantes que não sabiam o paraíso que se escondiam por trás daqueles imensos muros.

 

- Obrigado por ter nos recebido neste lugar maravilhoso. Falou Sueli.

- Serão sempre bem-vindos aqui! Respondeu Miguel.

 

O portão foi aberto. Eles saíram e Miguel acionando o controle remoto fechou o mesmo. Voltou para a casa e abaixando diante do carrinho onde estava Cristina a agradeceu e pediu para que ela agradece aos seus amigos.

 

- O que disse para ela amor?

- A agradeci e pedi para que ela agradecesse os amigos invisíveis dela.

- Você acredita que hajam amigos invisíveis aqui?

- Não acredito apenas, tenho certeza de que tem e que eles são solidários à nós.

- Vou começar a prestar atenção nisso então!

- Não faça isso! Deixe-os serem felizes vendo que também estamos.

 

O final de semana passou e na segunda quando Miguel ia deixar Izabel e Cristina na escola tiveram uma surpresa. Uma fila com mais de cem pessoas aguardava a porta ser aberta.

 

- O que será isso? Perguntou Miguel.

- Não sei, mas Fernanda, Cássia e as suas amigas estão lá na frente.

- Será que são novos alunos?

- Badernas não pode ser. Respondeu Izabel sorrindo.

 

Miguel estacionou o automóvel, pegou Cristina no colo e atravessaram a rua.  Fernanda e Cássia correram até eles e informaram que comentaram com as amigas e elas comentaram com outros amigos e muitos quiseram estudar algum dos cursos dados por Izabel.

 

- Quantos tem aí, tem ideia?

- Não contamos, mas achamos que mais de duzentos virão e não vai dar conta.

- Porquê disso tudo? Perguntou Miguel.

- Porque contamos para nossas amigas que estivemos lá na sua casa e por trás daqueles imensos portões tem um paraíso que valeria a pena conhecer e que de fantasma lá só haviam os que estavam na cabeça dos ignorantes.

- Nossa! E isso fez com que eles mudassem de ideia quanto a nós? Perguntou Izabel.

- Não estão sabendo ainda? Disse Fernanda.

- Sabendo o que? Perguntou Miguel.

- Meu pai ia fazer surpresa para vocês, mas como gostei da notícia quero dá-la eu mesmo.

- Que notícia? Insistiu Miguel.

- Sábado quando começamos a ligar para nossas amigas e amigos eles comentaram com os pais deles e ontem ainda começaram a ligar para papai querendo saber qual seriam os prazos para entregar móveis, pois sabiam também que a loja e a fábrica de vocês não iriam fechar mais.

- Que notícia boa! Vou falar com seu pai daqui a pouco, mas farei de conta que não sei de nada. Falou Miguel sorrindo.

- Acho que irá precisar de ajuda para atender a todos, não irá? Perguntou Cássia.

- Acredito que sim! Respondeu Izabel sorrindo.

 

Se dirigiram para a porta, as pessoas que estavam lá se afastaram educadamente para que eles passassem e entraram logo em seguida em fila ordenada diante do balcão da recepção que havia na escola. Queriam fazer os cursos que Izabel mesma dava, mas perguntaram sobre cursos de inglês e mandarim, que Izabel prometeu que teriam em pouco tempo.

 

Na verdade, o que aqueles alunos queriam de fato além de estudarem era conhecer a propriedade que durante anos foi motivo de medo, mas depois que Fernanda, Cássia e as outras amigas falaram do que havia por trás dos muros o desejo de conhecer lá ecoou entre eles.

 

Para tanto, Izabel teve que abrir três horários provisoriamente de duas horas cada um o que poderia fazer tranquilamente, mas precisaria contratar uma babá para cuidar de Cristina enquanto ela estivesse ocupada nas aulas e está de forma algum deveria sair das dependências da escola que por sorte possuía uma cozinha bem aparelhada e uma outra dependência que poderia servir de dormitório para que o bebê descansasse após dormir.

 

Tudo foi parcialmente resolvido e naquele dia, enquanto ela desse aula que começaria já naquela data para alguns alunos Miguel assumiu que ficaria com ela e tudo foi resolvido rapidamente.

 

Izabel entrou para dar sua primeira aula a um grupo de trinta alunos e Miguel antes de sair para ir ter com Salomão ligou para uma agencia de empregos e disse que precisaria de uma recepcionista e uma segurança, além de perguntar sobre a possibilidade de eles terem alguém de confiança para ser babá da pequena menina.

 

- O senhor tem os dados da empresa para me passar, por favor! Pediu a pessoa da agencia.

- Ainda não! Acabamos de abrir a escola.

- Meu senhor! Sem os dados da empresa não poderemos dar prosseguimento em agendamentos.

- Quanto tempo se leva para abrir uma empresa legalmente neste país?

- Não tenho ideia, mas isso é algo que tem que ver com seu contador.

- Podemos dar prosseguimento passando os dados da loja de móveis ou da fábrica?

- Um momento! O senhor é quem é o sócio do doutor Salomão?

- Sou sim, porque?

- Um momento! Pediu a jovem passando o telefone para outra pessoa.

- Bom dia! Acredito que seja o senhor Miguel Hernandez Ruiz, é isso?

- Sou sim, porque?

- Meu nome é Osvaldo Martinez Kupper e sou o supervisor aqui da agencia. Será um prazer tê-lo como nosso cliente e se desejar, até que tudo esteja regularizado da escola poderia usar seus dados ou da sua esposa para lhes enviarmos os candidatos para que os entrevistem e contratem. Fica bem assim para o senhor?

- Perfeito! Não gostaria de fazer uma visita aqui na escola que acabamos de abrir?

- Seria um prazer e estamos pertos, ou seja, estamos a meia quadra de distância. Quando poderia ser?

- Agora se for possível!

- Estarei aí em até quarenta minutos então. Vou resolver algumas coisas e já irei.

- Estarei lhe aguardando! Até daqui a pouco. Disse Miguel se despedindo.

 

Miguel olhou para sua filha que estava no carrinho e baixando lhe agradeceu por ela estar dando sorte para eles e entendendo ou não ela olhou para seu pai e sorriu. Não demorou muito e Osvaldo chegou.

 

- Bom dia doutor Miguel! Sou Osvaldo da agencia de empregos.

- Bom dia! Muito prazer!

- O senhor disse que precisaria de uma recepcionista, uma babá e uma segurança. Foi isso?

- Também vamos precisar de três ou quatro professoras de inglês que sejam fluentes.

- Temos estas candidatas lá para enviar e os senhores fazerem uma entrevista e definirem quais são as melhores.

- O que precisamos fazer para isso?

- Precisamos apenas fazer um cadastro que poderá ser de pessoa física enquanto os documentos não ficam prontos apenas por mera formalidade da empresa.

- Sem problema, mas uma pergunta, tem uma babá que seja de extrema confiança e responsável?

- Temos sim, mas obviamente os senhores deverão entrevistar os candidatos e escolherem o que lhes parecer melhor para cuidar desta menina linda e também trabalhar na escola. O que podemos garantir é que todas as candidatas nós investigamos todas a fim de não ter problemas com a justiça, mas uma curiosidade minha, porque segurança mulher?

- Intuição minha. Acho que trabalhar com mulher em uma escola dá um ar mais maternal.

- Nunca pensei nisso e achei uma excelente ideia.

- Se for possível uma que tenha formação em tiro e treinamento de defesa.

- Acho que tenho uma lá que será perfeita. Ela é meio durona e não se dá bem em nenhuma empresa justamente por ser bem treinada.

- Mas ela sabe ser educada e atenciosa?

- Garanto que sim, mas quando a ver, se sua esposa não for muito ciumenta vai contratá-la, porém, nem tente lhe passar qualquer tipo de cantada.

- Este risco ela não correrá comigo, porque eu amo muito minha esposa.

- Vai gostar da espanholinha!

- Espanhola!

- Sim! Ela nasceu em Madri, mas veio para cá quando tinha três anos de idade e por aqui ficou.

- Interessante! Qual é o nome dela?

- Úrsula!

- Espanhola com o nome de Úrsula! Surpreendente.

- Segundo ela, seu pai era fã dos filmes do James Bond e por causa de um destes filmes, vendo a Úrsula Andress trabalhando junto ao Sean Connery colocou o nome da atriz nela.

- Eu também gosto dos filmes do James Bond, mas quantos anos ela tem?

- Se eu não me engano ela deve estar com vinte e oito anos.

- Pode pedir para ela vir aqui conversar comigo. Quanto as demais encaminhem que a Izabel fará a entrevista com elas.

- Posso te ajudar em mais alguma coisa? Perguntou Osvaldo depois de pegar os dados.

- Não! Por hora é isso. Obrigado.

 

Se despediram e Osvaldo foi embora e a hora que Izabel teve uma folga ele lhe comunicou tudo o que ele pedira para a agência inclusive a segurança e a babá e justificando os motivos. Izabel adorou a ideia e logo voltou para outra sessão. Depois disso eles iriam juntos até a loja ouvir o que Salomão iria lhe contar.

 

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    Edição do 3ª obra da saga Lua cheia composta de 7 livros  

 

  Lua cheia Capítulos

71

Páginas 337
  Mutação     Capítulos 50 Páginas 226
  Matilha     Capítulos 22 Páginas 128
  Irathio     Capítulos 61 Páginas 323
  Tempestade    

Capítulos

42 Páginas 187
  Lua de sangue            
  Essência              
  Redenção