Título
original:
Mutação
Romance / Drama
1ª
edição
Copyright© 2023 por Paulo Fuentes®
Todos os direitos reservados
Este livro é uma obra de ficção.
Os personagens e os diálogos foram criados a
partir da imaginação do autor.
Autor: Paulo Fuentes
Preparo de originais: Paulo Fuentes
Revisão: João Augusto Salgado
Projeto gráfico e diagramação:
Capa: Paulo Fuentes
Todos os direitos reservados no Brasil:
Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica
Ltda.

Impressão e acabamento:

Apoio Cultural:
)
A chuva finalmente diminuiu e como obra dos céus
o céu se abriu. Portas e janelas das casas e do
comércio da pequena cidade e aparentemente a
acalorada e receptiva Joanópolis se abriram e a
população começou a colocar a cara para fora
depois daquela tempestade e alguns quilômetros
do centro da cidade em uma pequena pousada
humilde ao pé da pequena serra o mesmo
aconteceu.
- Valdecir venha aqui!
- O que foi amor!
- Veja aqui!
- Aqui onde?
- Aqui!
- O que temos aqui? Uma menina. Indagou Valdecir
assustado.
- Venha! Não vamos te machucar. Sou Elza.
- Nossa! Você está toda manchada de sangue. O
que houve? Perguntou Valdecir.
- Não me lembro!
- Ao menos sabe o seu nome? Perguntou Elza.
- Sei! Meu nome é Joana.
)
- Venha! Me dê sua mão e saia daí deste lugar
úmido.
Joana saiu sem saber onde estava e quem era, de
onde vinha e menos ainda o que estava fazendo
ali naquele lugar.
- Alguém te machucou moça? Perguntou Valdecir.
- Acho que não!
- E como ficou toda suja de sangue?
- Não sei!
- Venha comigo que vou te arrumar roupas limpas.
Pediu Elza.
- Obrigada!
Joana saiu acompanhada de Elza e Valdecir ficou
olhando as duas se afastando. Olhou, admirou e
ficou pensando quem seria ela e porque estava
toda suja de sangue e logo depois de uma das
noites mais onde mais chovera naquele local
desde que viera para lá a mais de quarenta e
cinco anos atrás.
Nos contos dos mais velhos ouvia-se o comentário
de que uma chuva daquela era onde eram travadas
as guerras do bem e do mal, mas na verdade,
aquilo era apenas contos dos muitos contos que
se comentavam naquela região cheio de mistérios.
- É Joana seu nome, é isso?
- É sim senhora!
- Sabe quantos anos tem?
- Não sei não senhora!
- Tem alguma ideia de onde é ou de onde veio?
- Não senhora!
- Tudo bem! Agora vai tomar um banho e depois
troque de roupa. Acredito que as que coloquei em
cima da cama lhe servirá.
- Não tenho como pagar isso dona!
- Não se preocupe com isso. Tem para onde ir?
- Não senhora!
- Se quiser poderá ficar aqui o tempo que
desejar.
- Posso!
- Pode sim! Aqui somos somente eu e meu marido.
Se ficar poderia nos ajudar aqui na pousada. Ela
é simples, mas limpinha e lhe pagaríamos um
salário.
- Salário?
- É! Não seria muito, mas seria alguma coisa.
- Não precisa pagar!
- Claro que precisamos.
- E eu irei fazer o que aqui?
- Poderia me ajudar arrumando os quartos,
lavando louça, estas coisas de casa. Pode me
ajudar nisso?
- Posso sim!
- Vamos te arrumar um lugar para dormir onde
ninguém te incomodará.
- Tem problema não senhora!
- Então aceita ficar aqui conosco?
- Aceito sim senhora. Obrigada!
- Não tem que agradecer! Tome banho e se troque.
Depois venha falar comigo e com meu marido. Tudo
bem?
- Tudo!
Elza saiu e Joana foi tomar banho. Saindo Elza
foi até onde estava Valdecir a fim de conversar
com ele e lhe disse que convidou a garota para
ficar ali com eles trabalhando.
- Acha certo isso meu amor?
- É uma menina perdida!
- Perdida parece que estar mesmo, mas não
sabemos nada sobre ela, de onde vem, quem são
seus pais, o que faz por aqui e o pior, porque
ela estava coberta de sangue.
- Fiz a proposta para que ela fique e nos ajude
aqui.
- Elza!
- Ih! Não gosto quando me chama pelo meu nome.
- Se ela ficar teremos que pagar alguma coisa
para ela.
- Já disse isso para ela e se quer saber, ela
nem se importou com isso.
- E ela concordou em ficar por aqui?
- Disse que sim!
- Onde ela está agora?
- Tomando banho e deixei algumas roupas para ela
se trocar.
- Que roupas?
- Sabe bem que roupas são!
- Elza! Acha certo dar aquelas roupas que pedi
para você dar embora para ela?
- Não tive coragem de me desfazer delas.
- Meu amor! Você tem que se recuperar do que
aconteceu.
- Sabe que é difícil superar o que aconteceu.
- Sei que é e eu também sinto a dor no peito até
hoje.
- Quantos anos acha que ela tem Valdecir?
- Acho que ela tem em torno de quinze a
dezesseis anos. Não mais que isso.
- Seria mais ou menos a idade que Marieta
estaria agora.
- Então!
- Então o que Elza?
- Ela bem que poderia ser a nossa filha, não
acha?
- Claro que não! Nossa filha morreu.
- Morreu em carne, mas permanece viva dentro do
meu coração.
- Está no meu também, mas não vai querer colocar
outra no lugar de nossa menina.
- Eu não disse que queria fazer isso, mas eu
sinto falta de uma companhia.
- E eu não basto? Perguntou Valdecir chateado.
- Você é e sempre será o grande amor da minha
vida, mas eu sinto falta de poder conversar com
alguém tipo conversa de mulher, entendeu?
- Não!
- Poxa! Não seja tão turrão. Temos nosso espaço
e apesar de modesto é o nosso lar e que dá o
nosso sustento, mas o que vamos fazer com a
pobre menina?
- Tudo bem Elza meu amor! O que tem em mente?
- Olha só! Ela não sabe quem é, de onde vem,
quem é sua família e nada de coisa alguma. Se a
deixarmos solta neste mundo ela pode encontrar
com alguma pessoa má e acabar sendo vítima desta
pessoa. Aqui conosco ela poderá trabalhar, me
ajudar na cozinha, na arrumação dos quartos, na
lavagem de roupa, na horta e lhe protegeríamos e
eu teria alguém para conversar.
- Sei! Que mais?
- Podemos pagar um salário para ela, lhe dar um
cantinho para ela morar e alimentação.
- E o que mais tem em mente?
- Acho que estaria bom, não acha?
- E ela dormiria onde? Não vá me dizer que quer
alojá-la no quarto que foi de Marieta.
- E porque não?
- Ah Elza! Faça-me o favor.
- Onde quer que ela durma? No porão ou no
cantinho onde ela se escondeu da chuva.
- Elza!
- Poxa amor! Não quer que eu me recupere da
perda de nossa filha?
- Quero!
- Então minha vida! Deixa ela ficar lá.
Arrumaremos as coisas. Tiraremos as fotos e
algumas coisas pessoais que tem lá e Joana
poderia ficar lá como se fosse o canto dela.
- Vamos tirar as coisas e as fotos de Marieta e
onde quer colocar isso?
- Prometo que se concordar eu dou fim em tudo e
nossa amada filha ficará apenas nas nossas
memórias.
- Você concorda com o que está me dizendo?
- Se concordar com o que pedi concordo sim! Faça
isso por mim faça meu amor.
- Ah minha Elza querida! O que não me pede que
eu não faça por e para você. Tudo bem. Ela
poderá ficar, pode dormir no quarto que foi de
Marieta, mas hoje a tarde mesmo você irá com ela
na cidade e comprará algumas roupinhas novas
para ela e depois que voltarem dê fim na roupa
que deu para ela também. Concorda?
- Sim! Gritou Elza feliz por seu amado ter
concordado.
)
Joana terminou de se banhar, se enxugou e saiu
do box. Sobre a cama Elza deixara roupas bem
arrumadas para ela vestir. Continha ali um
vestido discreto, calcinha, soutiem, meias e um
par de tênis o qual deveria servir para ela.
Estava enrolada na toalha e olhou bem a calcinha
e o soutiem. Estava usando isso também quando
tirou a roupa para tomar banho. Colocou a
calcinha e sofreu um pouco para colocar o
soutiem e ficou perfeito em seu seio juvenil.
Depois colocou as meias e olhando para o vestido
gostou do que viu. Vestiu-o e depois colocou o
tênis, mas não conseguiu amarrá-lo. Diante da
cama havia um espelho na porta do guarda roupa e
ela se viu nele.
Ficou surpresa com o que viu e não se lembrava
de ter-se visto antes em um espelho.
Faceiramente mexeu no vestido e parou para se
admirar como que se vendo pela primeira vez. Não
tinha nem ideia de quem era, mas no seu íntimo
ousou dar para si mesma um suave sorriso. Estava
se admirando ainda no espelho quando Elza bateu
na porta. Foi até lá para abri-la.
- Meu Deus! Que linda que você está. Disse Elza
surpresa por vê-la.
- Estou linda?
- Muito! Uma princesa.
- Obrigada!
- Nem acredito que seja você mesma menina! Está
deslumbrante.
- Obrigada! Joana tornou a agradecer corando.
- Venha comigo! Chamou pegando na mão de Joana.
- Amor! Feche os olhos. Pediu antes de entrar na
recepção.
- Porque?
- Simplesmente feche os olhos!
Valdecir fechou os olhos e Elza entrou com Joana
na recepção e quando ela pediu que ele abrisse
de novo Valdecir tomou um susto. Na sua frente
estava Joana linda e faceira. Parecia uma
princesa e vendo-a usando a roupa novinha que
Elza comprara como fazia todos os anos desde que
perderam Marieta foi como se visse a sua filha
diante de si.
- Nossa! Que moça mais linda.
- Obrigada! Disse Joana corando de novo.
- Quando te vi antes de tomar banho e tirar as
vestes antigas nem imaginava que havia uma moça
tão linda. Disse Valdecir tentando poupar as
palavras para não comentar o sangue.
- Podemos ir até a cidade então?
- Podem, mas tome cuidado para que ela não
encante a cidade toda! Disse Valdecir.
- Tomarei!
Elza pegou o cartão de crédito, a chave da
caminhoneta, sua bolsa e pegando na mão de Joana
a levou para a cidade e lá, como era de se
esperar ela chamou a atenção de todos, mas Elza
rapidinho deu um jeito de afastar quem tentara
se aproximar dela. Entraram em uma loja e lá
Elza procurou comprar algumas roupas para Joana
e de certa forma tentou deixar que ela
escolhesse, mas sem saber como fazer isso forçou
Elza a escolher para ela. Levaram calças jeans,
calcinhas, soutiens, quatro shorts, cinco
camisetas, seis pares de meias, três pares de
tênis, dois chinelos, dois pares de sapatos e
três vestidos.
- Acha que está bom isso?
- Isso tudo é para mim? Perguntou Joana
timidamente.
- É sim!
- Mas é muita coisa!
- Tem que se vestir, não acha?
- Acho, mas é muita coisa! Não sei como pagar
por isso.
- Não se preocupe! Considere um presente nosso
para você.
- Mas porque isso tudo? Nem me conhecem.
- Você não disse que ia querer ficar lá conosco?
- Disse e se deixarem eu irei.
- Também não me disse que iria me ajudar nos
afazeres da pousada?
- Disse e farei isso se deixar.
- Então! Se vai ficar e me ajudar não poderá
trabalhar lá nua, concorda?
- Concordo sim!
- Então considere isso como um presente nosso!
- Mas não acho justo! Concordo se abaterem no
meu trabalho, aí, me sentirei melhor.
- Se desejar assim podemos conversar, mas a
princípio é e será um presente nosso. Tudo bem?
- Então tá, mas quero pagar por isso tudo.
- Se quer depois conversamos! Podemos ir agora?
- Podemos!
Elza até achou que tivesse exagerado um pouco,
mas ela teria que se vestir e não iria deixar
ela desnuda trabalhando na pousada e mesmo
sabendo que Valdecir ia lhe dar uma bronca
resolveu para pensar nisso depois. Pegou o
cartão, pagou, pegaram os pacotes e foram
embora. Na rua antes de entrar na caminhoneta
vários olhares olharam para elas e a beleza de
Joana chamou a atenção de todos e muitos
entraram na loja para saber quem era aquela
jovem.
)
Chegaram na pousada e Elza acompanhou Joana até
o quarto e lá retirou tudo que havia de Marieta
por lá e Joana apenas a acompanhou com os olhos.
Depois Elza ajudou-a a guardar as roupas no
guarda roupa e disse que as peças íntimas elas
lavariam por ser peças pessoais e deixando Joana
lá e saindo com duas sacolas cheias foi se
encontrar com Valdecir que estava curiosamente
atendendo três pessoas na recepção.
Esperou que ele os atendesse e depois que saíram
ela se aproximou e perguntou quem eram, pois não
era normal ver pessoas vindo e logo depois
saindo do estabelecimento.
- Eram clientes fazendo reserva!
- Clientes hoje?
- Sim!
- Reservas para quando?
- Para quinta sexta, sábado, domingo e segunda.
- Cinco dias seguidos?
- Sim!
- Que estranho isso!
- Porque estranho?
- Porque nunca fecharam pacotes aqui de mais do
que final de semana.
- Ué! Vai reclamar disso amor?
- Não, mas achei estranho. Deixa eu te falar
sobre o que compramos.
- Um minuto! Deixa eu atender o telefone.
- Tudo bem!
- Boa tarde! Pousada Cachoeira da Serra.
- Quem é amor?
- Temos sim! Para que dia?
- Quem é? Perguntou novamente Elza.
- Quantas pessoas?
- Quem é?
- Temos disponível ainda sim!
- Quem é? Insistiu Elza.
- Posso agendar sim! Disse Valdecir anotando os
dados e desligando o telefone.
- Quem era?
- Clientes!
- Como?
- Clientes querendo fazer reserva.
- Reservas?
- É! Um momento que vou atender o telefone.
- Deve ser trote!
- Temos sim senhora!
- Temos o que?
- Não sei se sabe, mas somos uma pousada
modesta. Diria que rústica e ao pé da serra em
uma estrada de terra.
- Outro?
- Sim! Temos vinte e dois chalés que podem ser
desde para casal quanto para grupos de seis
pessoas cada um deles.
- Quem é?
- Sim senhora! A alimentação é servida no
restaurante da casa sede e temos aqui piscina,
uma pequena quadra, pista para caminhada na mata
e beirando o rio, além de balanço na árvore para
crianças e se gostarem, leite extraído da hora
de nossas duas vaquinhas.
- Com quem está falando amor?
- A senhora quer reservar todos os chalés?
- Como todos? Perguntou Elza agoniada.
- Para que dia?
- É trote! Desliga isso aí.
- Uma semana? Semana de quantos dias?
- Amor! Desliga este telefone. Não seja besta.
- Sim senhora! Vou lhe passar então o número da
conta e a senhora poderá fazer o depósito se
acha melhor assim.
- Não creio! Fazer depósito antecipado?
- Sim! Respondeu Valdecir depois de desligar o
telefone.
- Só pode ser gozação!
- Será que é?
- Claro que é! Deve ser algum amigo seu querendo
passar trota em você.
- A ligação foi da capital e ela disse que já ia
providenciar o depósito.
- E você acreditou nisso?
- Porque não acreditaria, se bem que não estou
entendendo nada.
- Vamos ver se ela deposita mesmo, mas quero te
falar do que comprei.
- Espera aí! Ligação.
- Ai meu Deus! Ninguém merece.
- Tenho disponibilidade apenas para amanhã e
depois. Nos outros dias estão reservados.
- Está acreditando mesmo nestas reservas?
- Sim! Amanhã e depois tenho disponibilidade.
Certo. Em nome de quem?
- Vou tomar banho e depois eu volto! Disse Elza
saindo.
- São de Bragança? Tudo bem. Amanhã e depois
então para quantas pessoas?
- Você ainda está aí acreditando? Disse Elza
voltando.
- Dezenove casais? Foi isso mesmo que ouvi?
- Que dezenove casais?
- Que horas pretendem chegar?
- Duvido! Disse Elza sorrindo.
- Almoço não temos, mas podemos servir se
desejarem, só que como não consta no pacote
teria que acrescentar.
- Não temos comida para fazer almoço! Disse Elza
já preocupada.
- Tudo bem! Aguardo vocês aqui então amanhã
depois das nove da manhã, mas já recordo que
teremos que atrasar o almoço se não se
importarem.
- Só almoço ou jantar também? Perguntou Elza
entrando no jogo de seu marido.
- Certo! Almoço e jantar. Tudo bem. O café da
manhã de depois de amanhã está no valor que lhe
passei.
- Não creio que eles virão! Disse Elza para si
mesma.
- Combinado! Aguardo-os aqui amanhã às nove da
manhã então. Boa tarde. Desligou.
- Tem noção do que você está fazendo?
- Atendendo clientes. O que tem de errado nisso?
- Você disse que dezenove casais virão de
Bragança para cá amanhã de manhã e que ficarão
amanhã e depois. Vão almoçar e jantar também e
sabe que não temos provisão para isso e mais,
mesmo com a ajuda de Joana que não deve saber
fazer as coisas nós dois não daremos conta se
isso for verdade.
- Oras! Chame a dona Maria e a filha dela para
ajudar.
- Tudo bem! Farei de conta que acredito nisso e
vamos esperar até amanhã de manhã para ver que
caiu em alguns trotes.
- Mulher de pouca fé! Eu também não estou
entendendo nada, mas por favor, faça uma lista
do que precisa de alimentos e vamos confiar que
eles venham mesmo já cobro o valor e vamos
buscar estas coisas rapidamente, mas também
ligue para a dona Maria e pergunte se for
necessário ela nos ajudaria.
- Vou fazer o que me pede mesmo duvidando destas
ligações, pois isso nunca aconteceu por aqui até
hoje.
- Obrigado amor, mas vamos ver de forma
diferente. Se forem verdadeiras estas ligações
ficaremos bem, não acha?
- Que Deus ouça suas palavras e torçamos para
que tenha ao menos um pouco de verdade nisso.
- Vamos acreditar.
Com isso tudo acabou passando batido Elza contar
o exagero que cometera e sabia que se tivessem
que comprar com o dinheiro em caixa o alimento
para aquelas pessoas o dinheiro gasto iria fazer
falta, mas agora já era tarde.
Elza se recolheu para tomar banho e depois foi
conversar com Joana e a encontrou lavando suas
peças íntimas e já se preparando para colocar
para secar. Elza ajudou-a a colocar em um lugar
reservado e fechado para secar e depois as duas
se recolheram e Joana ficou sabendo oficialmente
que aquele quarto que ela iria ocupar seria dela
dali para frente.
- O senhor Valdecir não ficou bravo com o que a
senhora gastou?
- Não! Na verdade, nem comentei com ele porque
surgiram várias ligações para reservas.
- Reservas de quartos?
- Isso, mas não acredito muito nelas não.
- E se for verdade?
- Se for nós dois vamos ter que nos matar aqui,
mas não se preocupe que já estou preparada para
ter mais duas pessoas para ajudar.
- Que bom! Fico feliz por vocês.
- Agora vamos dormir porque quem sabe, teremos
dias corridos por aqui.
)
A noite passou e a manhã surgiu com um
maravilhoso sol brindando aquele dia. Valdecir
acordou e viu com surpresa aquele sol batendo na
janela logo cedo e a surpresa fora porque depois
da tempestade que caíra era uma dádiva dos céus
aquela bola iluminando um novo dia. Olhou para o
relógio e passava poucos minutos das seis da
manhã. Levantou com pressa e Elza acordou com a
agitação dele.
- Que horas são meu amor? Perguntou Elza.
- Pouco mais das seis da manhã!
- Nossa! Tenho que me levantar também porque vá
que venham mesmo.
- Virão! Confie que virão.
- Não temos que preparar café para eles, não é?
- Não! Só para nós mesmos. Vai ter que acordar a
Joana também.
- Farei isso! Vou tomar banho e acordá-la.
- Tá! Vou tomar um banho rapidinho e irei lá
para a recepção.
- Vá sim que eu também já vou sair e chamar
Joana.
- Faça isso e espero que a dona Maria venha
também.
- Ela e a filha dela virão assim que eu ligar
para ela confirmando.
Valdecir tomou banho, se trocou e antes de sair
deu um beijo na esposa e depois saiu do quarto.
No corredor encontrou com Joana que estava
saindo também e indo para a recepção.
- Bom dia mocinha!
- Bom dia senhor!
- Caiu da cama também?
- A dona Elza disse que hoje seria um dia
corrido e eu acordei bem cedinho. Nem o sol
tinha aparecido ainda.
- Gostei da roupa que está usando! Muito bom
gosto o seu.
- Foi a dona Elza quem escolheu.
- Ela tem um ótimo gosto e é tão grande que ela
até gosta de mim. Disse Valdecir sorrindo.
- Quer que eu faça café?
- Sabe fazer isso?
- Acho que sei!
- Então vamos ver se sabe mesmo. Disse Valdecir
mostrando a cozinha para ela.
Não disse nada. Apenas mostrou onde estavam as
coisas e saiu de lado deixando Joana a vontade.
Esta pegou o café, pegou uma colher, depois
colocou água para ferver e depois passou o café
e estava pronto. Valdecir olhava com atenção e
não entendia como ela não lembrava das coisas
dela porque fez tudo certinho.
- Quer doce ou deixo assim mesmo para quem
quiser adoçar?
- Pode deixar assim mesmo Joana! Eu gosto sem
açúcar, mas posso provar para ver se está bom?
- Claro que pode e espero ter feito
bem-feitinho.
Valdecir não disse nada. Apenas provou e adorou
aquele café tão bem feito. Na verdade, ele
gostava apenas do café que ele mesmo fazia e nem
o da Elza ele gostava de tomar, mas o café que
Joana fez o surpreendeu.
- Está bom?
- Hum!
- Poxa! Me perdoe. Eu acho que não sei fazer
café. Só quis ser útil.
- Não está bom! Está delicioso.
- Pode falar a verdade!
- Posso te contar um segredo?
- Pode!
- Eu sou muito chato quanto a café e pode
perguntar para a Elza porque ela sabe que nem o
dela eu gosto de tomar. Na verdade, só gosto de
tomar o que eu faço, mas você me surpreendeu.
Ficou até melhor que o meu.
- Está dizendo isso apenas para me agradar, né?
- Não! Estou falando sério. Parabéns! Ele tem
algo que não sei explicar, mas está delicioso.
- O que vocês estão cochichando aí? Perguntou
Elza entrando na cozinha.
- Experimente o café?
- Para que? Já conheço o café que faz. Respondeu
ela sorrindo.
- Experimente o café e nem coloque açúcar. Prove
e depois adoce se quiser.
- Porque?
- Experimente amor!
- Tudo bem! Disse Elza pegando uma xícara.
Provou e perguntou o que ele tinha feito de
diferente e Valdecir sorriu vendo-a pegar mais
um pouco e tomando também sem colocar nada para
adoçar.
- O que você colocou aqui?
- Nada!
- Está diferente!
- Só que não fui eu quem fez o café e sim a
Joana.
- Sério!
- Sim senhora! Disse Joana timidamente.
- Menina que café delicioso e olha que não gosto
de café sem adoçar.
- Gostou mesmo?
- Adorei! Está deliciosamente maravilhoso.
- Mas é apenas café com água que fiz.
- Pode até ser, mas está delicioso.
Estavam ainda conversando quando
viram um automóvel atravessar o protão e descer
até a casa sede. Um casal desceu e
Valdecir foi recepciona-los.
- Bom dia! Sou Ademir e fui eu quem fez as
reservas. Está é minha esposa Hellen.
- Bom dia! Sejam bem-vindos.
- Os nossos amigos vão chegar lá pelas dez
horas, mas resolvemos vir na frente para
conhecer o local e fazer o pagamento das duas
diárias, pois sabemos que podem precisar de
recursos para comprar mantimentos para os dois
almoços e o jantar de hoje à noite.
- Obrigado pela consideração!
- Pode me informar quanto ficaria a conta?
- São dezenove casais, é isso?
- Na verdade, somos vinte e um casais, mas não
se preocupe que nos apertamos se não tiver local
individual.
- Temos ainda mais dois chalés que cabem seis
pessoas em cada um deles.
- Agora ficará para a próxima vez, mas tem o
valor que temos que pagar?
- Só um minuto que vou pedir para minha esposa
que cuida destas coisas fazer os cálculos.
- Estou sentindo cheiro de café! Podem nos
servir um pouco?
- Posso sim! Um momento por favor.
Valdecir pediu para que Elza ainda incrédula
fizesse os cálculos enquanto foi buscar café
para que Ademir e Hellen pudessem tomar e após
sorver o primeiro gole olharam um para o outro e
perguntaram se poderiam tomar mais um pouco.
- Podem sim! Vou pedir para que Joana prepare
mais um pouco.
Saiu, foi até a cozinha, pediu para Joana se ala
poderia fazer mais uma garrafa de café e voltou
para juntos deles na recepção e encontrou com
Elza lá conversando com eles e passando o valor
das duas diárias, almoços e jantar.
- Posso fazer a transferência para a conta de
vocês? Perguntou Ademir.
- Pode sim! Aqui está o número da conta.
Respondeu Elza.
- Um momento!
Ademir pegou o celular e procurou um ponto ali
que tivesse sinal. Foi difícil encontrar o
ponto, mas ligou e passou o número da conta e
pediu que transferissem o valor de imediato com
mais uma bonificação adicional. Elza e Valdecir
apenas se entreolharam e não disseram nada.
- Pronto! Já está na conta de vocês.
- Me perdoe a pergunta, mas estou surpreso com a
ligação de vocês querendo virem se hospedar
aqui. Somos uma pousada modesta, rústica e
existem pousadas e hotéis muito melhores que a
nossa pousadinha. Porque aqui?
Ademir já ia responder quando Joana entrou
trazendo a garrafa térmica de café e colocou
sobre uma das mesas do restaurante fazendo com
que Ademir e Hellen se entreolhassem e sorrissem
discretamente.
- Acredito que seja você quem o fez. Estou
certo?
- Está sim senhor! Respondeu Joana timidamente.
- Obrigado! Agradeceram os dois.
- Ainda não me responderam! Disse Valdecir.
- Quer a verdade?
- Sim! Quero sim. Respondeu Valdecir enquanto
Joana se retirava.
- Somos de uma corporação de investimentos
internacionais e com isso temos agentes nosso em
vários lugares e cidades do estado de São Paulo,
do Brasil e vários outros lugares das Américas e
do velho mundo e fomos informados que aqui,
justamente aqui nesta bela cidade cheia de
mistérios, casos e causos foi visto uma jovem
que parecia com quem estávamos procurando e
temos certeza de que esta jovem que estava aqui.
- Procurando uma jovem para que? Perguntou Elza
já ficando esperta.
- Calma! Não queremos nada de mal ou demais com
ela ou contra ela, mas é que a pessoa que
procuramos é uma pessoa especial e não queremos
perder o contato com ela. Disse Ademir se
policiando nas palavras.
- Mas o que sabem dela e porque não querem
perder o contato com ela? Tornou a perguntar
Elza.
- Vou tentar responder de uma forma diferente.
Vocês gostam de café?
- Sim! Gostamos, porque?
- Sabem fazer bem café?
- Eu nem tanto, mas meu marido sim.
- E quem fez este café que tomaram hoje, foi seu
marido ou foi você?
- Nem um e nem outro. Quem fez o café foi Joana.
Respondeu Valdecir.
- E o que achou do café?
- Como o que achei? Perguntou Valdecir.
- O que sentiu sorvendo o café. Ele é ou seria
igual ao seu?
- Não! Completamente diferente.
- Diferente como? Perguntou Ademir.
- Não sei dizer, mas tem um gosto diferente,
especial, envolvente, delicioso.
- É disso que estou dizendo! Procurávamos a
pessoa diferente e antes que comente do café
ressalto que não queremos ficar próximo de quem
sabe fazer café, mas sim que tenha este dom de
ser diferente. Entendeu?
- Vou me fazer de inteligente e dizer que
entendi, mas não entendi nada. Respondeu
Valdecir.
- Não posso entrar em mais detalhes, mas agora
que a encontramos queremos que cuidem dela.
- Está foi a nossa intenção desde o começo.
Disse Elza.
- Muitos virão até aqui como se fosse um
chamado, mas não deixem que ela vá embora.
Cuidem dela em nome de nosso grupo.
- Ela corre algum tipo de risco? Perguntou
Valdecir.
- Não! A priori não e aqui ela estará em paz por
um bom tempo.
- Sabem quem é ela e de onde ela veio? Perguntou
Elza.
- Não sabemos, mas sabemos que ela é especial e
que deve ser cuidada e protegida porque é ainda
apenas uma menina.
- Cuidaremos dela com atenção e carinho como se
ela fosse nossa filha! Disse Valdecir com
sinceridade.
- Isso é tudo que queríamos ouvir e só estou
comentando isso porque estou vendo ela lá na
beira do rio e não está nos ouvindo.
- Como sabe que ela está na beira do rio?
Perguntou Elza curiosa.
- Quando descemos até aqui vimos um pequeno rio
lá atrás e eu a vi passando e indo naquela
direção.
- Ah tá! Disse Valdecir não se convencendo.
- Não comentem nada do que conversamos aqui com
ela. Cuidem dela. Eduquem ela nos costumes de
vocês. Ela precisará disso porque ainda está
digamos meio perdida e por favor, faça o que me
disse, que cuidará dela como se fosse filha de
vocês e já adianto que, não colocaremos ninguém
dando segurança para ela, mas a partir de hoje a
pousada de vocês permanecerá com hospedes de
domingo a domingo e recomendo que contratem mais
duas ou três pessoas para ajudar, mas não mude a
rustidez daqui para não chamar a atenção.
- Hospedes de domingo a domingo?
- Sim! Os que fizeram a reserva por telefone
fazem parte do nosso grupo e muitos virão para
cá, mas alternadamente para parecerem hospedes
normais. Vocês têm vinte e dois chalés aqui, é
isso?
- Sim! Vinte e dois sendo quinze apenas para
casais e sete para até seis pessoas. Disse Elza.
- São então setenta e duas camas, estou certo?
- Isso mesmo! Respondeu Valdecir.
- Tem alguma reserva ainda que não sejam as
nossas?
- Vieram três pessoas hoje querendo se hospedar
aqui e já fizeram reserva. Disse Valdecir.
- Estes são nossos também, mas não cuidado para
que ela não se estresse muito.
- Porque? Perguntou Elza.
- Digamos que ela passou por
muita coisa e temos que evitar que ela fique mal
e quanto aos que forem agendar com vocês a
partir de hoje a senha é
lub12*16. Se não disserem esta
senha não são nossos amigos.
- Muito mistério nisso tudo. Comentou Elza.
- Mas aqui em Joanópolis não é a terra dos
mistérios, casos e causos?
- É! Pior que é! Respondeu Valdecir fazendo
todos rirem do jeito dele.
- Temos um acordo?
- Temos! Responderam Elza e Valdecir.
- Bem! Então agora só precisam chamar o suporte
que tem de mais pessoas e não se preocupem que
nossos amigos estão trazendo os mantimentos para
a alimentação.
- Espere aí! Calculamos as despesas com os
alimentos inclusos. Disse Valdecir.
- Não se preocupe com isso. O que estão prestes
a fazer por ela é muito mais do que os valores
que iremos pagá-los. Só cuidem dela e a deixem
feliz e evitem que ela se envolva com algum
principezinho que poderá encontrar na cidade.
- Faremos isso. Pode ter certeza. Enfatizou
Elza.
- Sabemos disso e obrigado por recolhe-la e dar
o quarto que era da filha de vocês para que ela
se alojasse.
- Como sabem disso? Perguntou Valdecir.
- Não se esqueça de que Joanópolis é a terra dos
mistérios, casos e causos. Respondeu Ademir
sorrindo.
Conversaram mais um pouco. Tomaram todo o café
que Joana preparara e depois foram conhecer um
dos chalés no qual eles ficariam hospedados e
saindo dele para voltar à recepção encontraram
com Joana que voltava da beira do rio e os olhou
com curiosidade.
Não demorou muito e os hospedes começaram a
chegar e junto com eles dois veículos vieram
entregar os mantimentos. Um frigorífico e o
outro de alimentos em geral e chamando Maria e
sua filha mais a ajuda de Joana, Elza
literalmente colocou a mão na massa e começaram
a preparar o almoço para aquelas pessoas que lá
chegaram.
)
- Ademir! Podemos conversar por um momento?
Pediu Valdecir.
- Podemos, mas já imagino o que seja!
- Imagina?
- Sim!
- O que acha que é?
- Acredito que seja algo do tipo que não tem
lugar para guardar os alimentos que devam ser
guardados em câmara frigorífica, não é?
- Ah isso também, mas na correria nem deu tempo
para pensar nisso.
- Não se preocupe! Isso já estará sendo
providenciado e só vou precisar que avise à casa
de materiais de construção que uma pessoa está
indo lá para comprar produtos para ampliar aqui
um pouco, mas tem que ser autorizado por você e
sua esposa.
- O que tem em mente?
- Se nos permitir, iremos ampliar um pouco a
casa sede com um depósito para o estoque de
alimentos e a câmara fria. Se permitirem também
queremos construir uma casa para servir de
moradia para mais quatro pessoas para
trabalharem na pousada a fim de ajudar vocês e
podem contratar quem desejarem e estas pessoas
serão pagas por vocês, mas o dinheiro será
fornecido por nós.
- Isso realmente eu nem tinha pensado. Disse
Valdecir surpreso.
- Também, se permitirem, gostaríamos de
construir um chalé bem aqui do lado da casa
principal para que, se Joana sentir que está
incomodando vocês, possa morar lá.
- Quer que ela saia do quarto que demos para
ela?
- Não! De forma alguma e ressalvo que, a
responsabilidade para reeducar ela será toda de
vocês dois e de mais ninguém.
- Me fale uma coisa e seja sincero. Quem é esta
menina?
- Já lhe disse. Ela é uma pessoa muito especial
e que precisa de atenção.
- Não pode ser apenas isso. É muita coisa para
uma pessoa normal. Quem é ela de fato?
- Vou tentar lhe dizer, mas sem lhe dizer tudo.
No mundo existem pessoas especiais e não são
princesas ou que tenham família nobre. Elas são
especiais por ser e são raridades neste mundo em
que vivemos. Digamos que ela seja a única que
tenha nascido nos três últimos milênios.
- Uma bruxa?
- Não! Imagine só. Ela é uma menina normal, mas
que tem uma vocação ainda a ser desenvolvida e
precisa de ajuda. Precisa de uma família decente
e que saiba cuidar dela com amor e carinho.
- Mas você sabe quem ela é e de onde vem, não
sabe?
- Quem ela é acabei de lhe dizer, agora de onde
ela vem não temos a menor ideia, mas sabíamos
que ela um dia estaria entre nós e por isso a
monitoramos mundo afora e curiosamente ela
surgiu bem nesta pequena, porém maravilhosa e
bela cidade.
- Está me enrolando. Quem são os pais dela?
- Uma boa pergunta que não poderei lhe responder
porque também não sabemos.
- Muito confuso isso. Sabem que ela é especial,
a procuravam, mas não sabem nada dela. Estranho
não acha?
- Pode parecer que seja, mas além de não ser
você poderia me dizer melhor como que ela surgiu
aqui. Veio do nada?
- Não! Ela chegou aqui anteontem no meio daquela
tempestade que caiu e a encontramos se
escondendo da tormenta debaixo do local que
guardamos lenha.
- E como ela estava vestida ou em que estado ela
se encontrava?
- Uma roupa normal e totalmente molhada.
Respondeu sem comentar sobre o sangue.
- Menos mal e partindo disso calculamos que ela
tenha em torno de dezesseis anos ainda.
- Também imaginamos isso, mas ela não se recorda
de nada de seu passado.
- Bem, nos autoriza a fazer as reformas urgentes
e necessárias aqui?
- Preciso falar com minha esposa, mas ela também
concordando teremos que contratar pedreiro e
ajudante e isso pode demorar um pouco.
-Não tem que contratar ninguém. A corporação
cuidará disso e trará quem for necessário de
fora.
- Não quer chamar a atenção?
- Não! Não queremos e você quer que saibam que
de repente arrumou dinheiro para reformar aqui?
- Também não, pois todos sabem de nossa situação
humilde, mas precária.
- Pois bem! Chame sua esposa e pergunte isso
para ela.
- Vou ter que fazer isso depois que o almoço
estiver pronto, pois disso ela não abre mão que
é de preparar a comida. Não confia em ninguém
mexendo na sua cozinha e não irei discutir com
ela por isso, porque podem ajuda-la, mas
preparar a comida jamais.
- Gostei disso! Vamos deixar ela preparar tudo
então e os alimentos frigoríficos podem
permanecer no próprio veículo provisoriamente.
- Podem?
- Sim! A caminhoneta é da corporação também.
Agora vamos receber os seus hospedes enquanto o
almoço não fica pronto.
- Tudo bem! Respondeu Valdecir se sentindo
usado, mas não reclamou.
Todos os casais foram chegando e se alojando nos
chalés. Pareciam pessoas normais apenas curtindo
uma pousada para descanso, mas na verdade eram
pessoas preparadas para qualquer coisa a fim de
proteger aquela jovem desconhecida que ali
chegara sem identificação, sem passado, sem
família e sem saber de onde viera.
Enquanto isso na cozinha Elza, Maria, sua filha
e Joana se desdobravam preparando o alimento
daqueles hospedes que haviam chegado tal qual
surgira Joana. Eram quase cinquenta pessoas que
do nada vieram e ocupavam quase todos os vinte e
dois chalés da humilde e rústica pousada.
Refeição pronta, Elza, Maria, sua filha Gildete
e Joana levaram a comida para colocar nos dois
buffets selfservice e podia-se notar a
diversificação de alimentos ali expostos. Havia
também no refeitório sucos e um freezer e
geladeira onde estavam as bebidas, cerveja e
refrigerantes, mas Elza e Valdecir notaram à
primeira vista que só desejaram pegar para tomar
suco que tiveram que repor rapidamente
principalmente o de laranja.
)
- Elza venha aqui por favor!
- O que foi amor?
- Precisamos conversar.
- O que houve?
- Estava conversando com o Ademir e ele me pediu
autorização para algumas coisas.
- Tipo o que?
- Disse que iremos precisar de uma câmara
frigorifica para os alimentos frios e outro para
guardar o mantimento para os alimentos normais.
- Verdade! Precisamos mesmo, mas teremos
dinheiro para isso?
- Aí que está! Ele disse que representam uma
grande corporação e que bancarão tudo e também
pediu autorização para construir um outro chalé
para Joana aqui ao lado da casa principal.
- Porque isso?
- O que ele me disse e tem fundamento é a de que
ela de repente poderá se sentir constrangida por
estar nos incomodando na nossa casa e se quer
saber também acho que ela poderia mesmo sentir
isso no decorrer dos dias.
- E você concordou com isso?
- Claro que não antes de falar com você.
- Ah tá, mas isso de fazermos uma reforma aqui
irá chamar a atenção na cidade, afinal aqui é
uma cidade pequena e todos sabem de todos e para
agravar sabem de nossa situação precária.
- Ele também comentou sobre isso.
- Parece que pensaram em tudo, não é?
- Disse inclusive que trariam pedreiros e
ajudantes de fora para não chamar a atenção das
pessoas daqui e nisso eu concordei com ele.
- Excelente ideia, mas sabe que nada passa
despercebido por aqui e mesmo trazendo pedreiros
de fora alguém verá isso e dará o que comentar.
- Podemos dizer que arrumamos um sócio e que ele
quer fazer algumas mudanças.
- Uma boa ideia, mas uma pergunta. Quem é a
Joana?
- Depois te conto sobre isso, mas o que tem que
saber é que eles não querem tirar ela de perto
de nós e a condição é a de que a tratemos como
se fosse nossa filha.
- Oba! Desta parte eu gostei.
- Concorda então?
- O que temos a perder?
- Não sei! Me sinto usado.
- Amor! Isso está caindo do céu nas nossas mãos.
Joana é uma menina simples, carente, que precisa
de atenção e teremos apenas que cuidar dela como
se fosse nossa filha e desta parte eu adorei.
Teremos vida nova em casa, tudo mudará eu sei,
mas não daremos conta se eles mantiverem a ideia
de manter aqui cheia a semana toda durante
sabe-se lá quanto tempo.
- Deram a solução para isso também.
- Qual?
- De que contratemos quatro ou cinco pessoas a
mais para nos ajudar e tudo pago por eles.
- Quem?
- Você escolhe e aí sim deveremos dizer que
encontramos um sócio que quer melhorar as coisas
por aqui. O que me diz, podemos fechar isso?
- Podemos sim! Pode fechar o acordo.
- Obrigado vou falar com ele, mas lembre-se, não
comente com Joana que tudo isso é por causa dela
e vou te explicar isso depois.
- Tudo bem! Disse Elza saindo e acompanhando as
coisas sendo elogiada por todos por sua comida.
A tarde passou e com ela chegaram algumas
pessoas para cuidarem das obras e na manhã
seguinte dois caminhões chegaram com matérias de
construção trazidas de fora da cidade.
No dia seguinte Ademir e Hellen se despediram e
novos hospedes chegaram para passar uma semana
toda ali e o pagamento foi depositado na conta
da pousada antes até que eles chegassem. Marli
chegou comandando aquele novo grupo e enquanto
levantaram a pequena, mas necessária obra os
seus acompanhantes faziam caminhada pela
propriedade e usaram a área de lazer
discretamente de olho em tudo.
Três dias depois a parte da dispensa e da câmara
fria estavam prontas e o novo chalé estava
entrando em fase de acabamento e Marli se
aproximando perguntou se poderiam criar mais
algumas coisas para melhorar a parte de
recreação da pousada sendo aprovada de imediato
tanto por Elza quanto por Valdecir. Por outro
lado, Joana ia se descontraindo e sentindo-se em
casa e o carinho que recebia de Elza e Valdecir
era como se fosse de algo que ela não se
lembrava de ter sentido antes, ou seja,
sentia-se como se a tratassem como filha e o
carinho dela por eles.
Cinco novas funcionárias foram contratadas e
novos colchões, lençóis, travesseiros,
cobertores, toalhas e fronhas também chegaram e
trocaram tudo o que havia por ali e que já
estavam desgastadas e mesmo sabendo que aquilo
ainda poderia ter um preço nem Elza e menos
ainda Valdecir reclamaram daquele agrado.
Uma semana depois Marli e aquele grupo partiram
e novo grupo chegou e desta forma os dias foram
se passando e a harmonia naquele antes quase
falido local rejuvenesceu e pareceu que até
novos pássaros surgiram por ali.
Tudo corria bem e a terceira turma sugeriu que
poderiam fazer ali um lago artificial e nele
fossem colocadas carpas para enfeitar e isso foi
autorizado e em curto espaço de tempo o lago
ficava pronto e as carpas foram depositadas
nele. Joana acabou transformando aquele lugar em
seu ponto preferido e passava um bom tempo ali
olhando para aqueles belos peixes.
Mais alguns dias se passaram. Joana perguntou
sobre aquele novo chalé que estava totalmente
mobiliado, mas que não era usado e Elza relutou
para lhe dizer que era para ela. Preferiu
esperar o momento certo para contar. Joana nada
mais disse e mais três dias se passaram e a
virada da lua estava chegando.
Elza e Valdecir nem se importaram com isso de
mudança da lua, porém, os setenta e dois
hospedes da pousada se puseram em alerta e no
primeiro dia da lua cheia, na virada da noite
Joana, sem ter noção do que estava fazendo abriu
a janela e saiu indo direto para a floresta
aparecendo pouco antes do dia clarear banhada em
sangue e foi acolhida por quatro daquelas
hospedes que a recolheram, levaram-na para
dentro de um dos chalés, lhe deram banho e
cuidadosamente a levaram de volta e entrando por
onde ela saíra carinhosamente a depositaram em
sua cama.
Nada foi comentado. Joana acordou normalmente e
foi ajudar na cozinha, Elza e Valdecir nada
soube e tudo por ali caminhou como um dia normal
e nas seis noites seguintes o fato se repetiu e
na sua volta algumas das hóspedes agiram como as
anteriores.
Joana saia pouco depois da virada da noite e
retornava para casa com as roupas sujas de
sangue pouco antes do dia clarear, lhe davam
banho e a colocavam de volta na sua cama onde
ela dormia até o dia clarear.
- Sônia! Precisamos ir até a cidade comprar
roupas para ela.
- Mas ela já tem roupas!
- Ah sei! Mas até quando vai durar até que Elza
e Valdecir notem que as roupas que ela tinha se
estragaram ou foram danificadas?
- É verdade! Temos que comprar roupas idênticas
e deve ter na lojinha lá da cidade, mas é hora
de trazemos novas roupas com reservas iguais
para cá a fim de que ela use.
- E como faremos isso?
- Simples! Vamos chamar o chefe de volta e ele
que cuide disso.
- Boa ideia! Vamos ligar para ele e lhe explicar
o que está acontecendo.
O dia novamente raiou e tudo permaneceu normal
por ali. Joana, Elza, Valdecir e as funcionárias
acordaram, prepararam o café, colocaram para que
os hospedes se alimentassem e a rotina
permaneceu a mesma. Apenas Sônia se afastou um
pouco após as dez da manhã e fez uma ligação.
- Senhor! Bom dia.
- Bom dia Sônia! Aconteceu algo de anormal por
aí?
- Ela está desabrochando!
- Já?
- Já senhor e precisamos que o senhor venha para
cá e traga algumas peças de roupa.
- Roupas?
- Sim!
- Para que e para quem?
- Para Joana! Ela sai à noite e como previsto
ela sempre retorna, digamos para a toca bem
antes do dia amanhecer e sempre chega banhada em
sangue.
- Vocês a seguiram por acaso?
- Não senhor! A pedido do senhor mesmo não era
para interferirmos.
- E o sangue era humano?
- Não! Nós analisamos todas as vezes e é sangue
animal.
- Menos mal! Quanto querem e o que querem de
roupa para ela?
- Recomendo que tragam ao menos quatro conjuntos
idênticos que guardaremos as reservas e o senhor
entrega apenas um deles para ela.
- Eu!
- Acho que o senhor seria a pessoa indicada para
isso, concorda?
- É! Tem fundamento. Faremos isso na próxima
troca de turma. Obrigado.
- Eu que agradeço senhor! Tenha um bom dia.
- Você também!
Desligaram o telefone e Ademir sorriu. Era um
estrategista e por isso coordenava a corporação
no Brasil. Na verdade, era um dos guardiões da
legião internacional que cuidava do assunto
referente à Joana que nem tinha ideia do que
tinha por trás dela e para a sua defesa.
- Hellen!
- Pois não senhor!
- Hora de você voltar a ser minha esposa.
- Hum! Posso me acostumar e levar isso a sério.
- Deixa disso! Nossa missão está acima de
sentimentos pessoais.
- Ah é!
- É sim! Por favor, vá até um shopping ou loja
de rua e compre algumas roupas e repita pelo
menos cinco conjuntos e que sejam cada um deles
iguais e do mesmo número.
- Como?
- Nossa futura líder desabrochou e Sônia pediu
para que levemos roupas iguais para a troca
quando ela chega banhada em sangue pela manhã.
- Sangue humano?
- Não! Felizmente é sangue animal.
- Quantos conjuntos iguais?
- Deixo isso por sua conta e não se importe com
o tamanho do pacote.
- Como fará a entrega?
- Iremos lá e nós dois entregaremos no próximo
final de semana na troca dos hospedes.
- Oba! Iremos de novo como marido e mulher?
- Ellen! Se componha.
- Não disse nada demais, mas até que a ideia não
seria ruim, não acha?
- Eu não acho nada sua assanhada. Respondeu
Ademir sorrindo.
- Sei que gostou da ideia, mas deixa eu ir antes
que brigue comigo meu amor. Disse Hellen saindo
sorrindo maliciosamente.
- Até que não seria má ideia! Pensou Ademir
sorrindo vendo-a sair.
Hellen saiu, pegou o automóvel e foi às compras
e pensando na insinuação que fizera com seu
superior. Estavam trabalhando juntos a um bom
tempo e ele sempre a tratou com respeito e
admiração. Ela fora escolhida para fazer parte
do grupo por ele mesmo e desde que começou
sempre esteve ao seu lado e pensando confessou
para si mesma que tinha uma verdadeira queda por
ele e sentia que ele também tinha por ela.
Porém, Ademir era profissional demais e levava
muito a sério seu trabalho e pelo que sabia ele
jamais se envolvera com ninguém assim como ela e
quando ela ingressou na missão de ajudar a
localizar Joana passaram por tantas fases que se
acostumaram um com o outro e quando havia a
necessidade de se passar por um casal sempre
fora ela quem estava ao seu lado.
- Quem sabe um dia isso aconteça e tanto eu
quanto ele poderemos deixar de lado o nosso
celibato. Pensou Hellen sorrindo.
)
- Senhor! Preciso falar contigo.
- O que houve Rafael?
- Está acontecendo uma coisa estranha aqui.
- O que?
- Parecia uma coisa acidental. Primeiro foi uma
paca. Depois uma capivara. Depois repetiram a
ordem por dois dias e finalmente um jacaré.
- O que aconteceu com eles?
- Enrico acreditou na primeira vez que uma
capivara perdida acabara caindo no fosso e fora
devorada. Aí foi uma paca e ele achou
coincidência. Voltou a ser outra capivara, outra
paca, de novo outra capivara e outra paca e ele
ficou alerta e de repente foi um jacaré.
- O que está querendo dizer?
- Algo inteligente está devorando nossos animais
e depois jogando-os no fosso dos jacarés e de
repente foi um jacaré o devorado e deixado
dentro do fosso.
- Que coisa mais maluca Rafael, mas o que
fizeram?
- Desde a segunda capivara ele manteve um
pessoal alerta, mas misteriosamente aconteceu e
ninguém viu nada.
- Não viram nada?
- Nadinha e mesmo tentando encontrar pelas
câmeras nada foi visto e garanto que quem o que
fez isso tem inteligência acima da média, pois
não deixa pistas e sabe ludibriar nosso sistema
de segurança.
- Já comentou isso com meu neto?
- Não senhor! Vim direto falar com o senhor.
- Vamos chama-lo e também o Orbyu e tentar ver
se eles têm alguma ideia sobre isso.
- Sim senhor!
- Fiquei curioso em saber o que ou quem está
fazendo isso. Redobrem a segurança.
- Pode contar com isso senhor. Respondeu Rafael
saindo.
Gustavo ficou curioso com o que lhe foi
informado e lembrou-se de quando parou de
devorar humanos e passou para animais que seguia
uma rotina de alternar entre uma ou outra presa
e sempre fora ou procurara ser discreto para não
tentar chamar a atenção.
De repente aparece alguém com o seu método
dentro de suas terras e isso ao invés de
deixa-lo bravo ou preocupado acabou por deixa-lo
curioso porque sabia que quem ou o que estava
fazendo aquilo não queria machucar nenhum ser
humano.
- Será que surgiu um novo eu por aqui? Pensou
consigo mesmo e sorriu.
Aquilo era algo que iria comentar e pedir ajuda
para Pedro e Orbyu e faria isso logo, mas
passaria ordens expressas de que quem quer que
fosse jamais e em hipótese alguma deveria ser
abatido ou ferido, mas sim trazido até ele vivo
e sem ser machucado.
)
Hellen retornou com muitas roupas dentro da van
que usara. Não buscou um shopping, mas sim uma
loja que tivesse roupas de ótima qualidade, mas
que vendiam de sua própria fabricação e a
vendedora que a atendeu estranho dela comprar
várias roupas do mesmo modelo e mesmo tamanho.
Questionou por cima, mas Hellen fez de conta que
nem ouviu e depois de escolher, pagar, pegou as
roupas, colocou no automóvel e foi embora.
Chegou na empresa e comunicou Ademir que tudo já
tinha sido comprado e entregou a nota das
despesas para ele informando que pagara com o
cartão corporativo e que, já havia separado um
conjunto completo de cada uma das peças para ser
entregue para Joana e comprara mais algumas
coisinhas para as outras funcionárias lá da
pousada a fim de não chamar muito a atenção.
Ademir agradeceu e elogiou a sua iniciativa e
este era um dos motivos que ele gostava dela,
pois além de inteligente Hellen era ágil e
prestativa estando sempre um passo das outras
funcionárias da empresa.
Agendaram tudo e no final de semana na troca dos
hospedes chegaram logo cedo na pousada Cachoeira
da Serra para surpresa de Ademir e Elza.
- Bom dia! Ainda tem café para tomarmos?
- Bom dia senhores! Temos sim.
- Preparados por Joana?
- Por ela mesma. Podem se servir à vontade.
- Saímos de São Paulo bem cedinho a fim de tomar
café aqui.
- E chegaram cedo mesmo! A maioria dos hospedes
nem veio aqui ainda.
- Ah é assim é?
- Tomar café sim, mas eles levantam cedo e vão
caminhar pelas trilhas e pelo rio.
- Ah bom! Achei que ficavam dormindo demais.
- Que nada! Acho que não gostam muito de dormir
porque quando vamos deitar eles ainda estão lá
fora conversando e andando de um lado para o
outro.
- Está é a ideia mesmo. Sempre alertas. Disse
Ademir sorrindo.
- Vão ficar para almoçarem também?
- Na verdade, eu e minha esposa resolvemos tirar
uma semana de férias e ficaremos até domingo da
semana que vem.
- Vamos amor! Uau! Que surpresa deliciosa. Disse
Hellen radiante de felicidade sincera.
- Precisamos descansar um pouco!
- Sempre serão bem-vindos aqui, podem ter
certeza.
- Obrigado, mas trouxemos uns presentes para as
meninas.
- Para as meninas? Perguntou Elza.
- Sim! Na verdade, os presentes são para Joana,
mas para não chamar a atenção trouxemos para as
outras também e tudo foi escolhido por minha
amada esposa. Confidenciou Ademir para alegria
de Hellen.
- Querem entregar agora? Perguntou Elza.
- Não! Vamos esperar todos tomarem café e daí
entregamos.
Ademir e Hellen se sentaram e tomaram um farto
café e ele comentou que precisavam mesmo deste
pequeno repouso e tomar aquele farto café era
algo que não fazia a anos.
Hellen não disse nada, mas na verdade, não vi a
hora de se recolherem para tentar algo com seu
superior e pseudo marido. Sorriu intimamente com
seus pensamentos maliciosos e não via a hora da
noite chegar.
Enquanto estavam ali sentados os membros da
corporação que estavam no turno da semana
entravam e se assustavam por ver o chefe ali
logo cedo e Roberto, o líder daquele turno se
aproximou perguntando se havia acontecido algo.
- Não aconteceu nada Roberto! Viemos para trazer
umas roupas para nossa menina, pois parece que
ela está perdendo algumas delas, não é?
- É sim senhor! Pretende ficar?
- Preciso, mas acho que passaremos a noite em
algum outro hotel até terminar o turno de vocês.
- Não se preocupe com isso. Se desejar posso
remanejar para que alguém desocupe um dos chalés
e se preferir eu mesmo desocupo o que estou
usando.
- Não se incomodaria com isso? Perguntou Ademir.
- De forma nenhuma! Vou arrumar minhas coisas de
já desocupo lá.
- Faça o seguinte! Permaneça aqui até amanhã
comandando sua turma e peça para que outro casal
desocupe o chalé então. Pode ser?
- O senhor é quem manda! Verei isso agora mesmo.
Disse Roberto saindo.
- Um dia a mais de férias é? Perguntou Hellen
sorrindo.
- É! E este dia será de folga mesmo. Vamos
aproveitar e descansar.
- Adorei a ideia meu amor!
- Sem abusar heim!
- Tá! Fique tranquilo que eu prometo me
comportar.
- Vou acreditar em você! Respondeu Ademir
querendo justamente o contrário.
Não demorou muito e Roberto voltou dizendo que
um dos casais já estava arrumando as coisas para
irem embora e saíram discretamente sem chamar a
atenção de ninguém que trabalhava na pousada.
)
- Vovô! Olhamos as câmeras e não encontramos
nada. Estive lá com Orbyu, Rafael com sua equipe
e Ingrid com a ela e varremos de ponta a ponta,
checamos os alarmes e está tudo em ordem e seria
impossível algo ou alguém passar sem que fosse
detectado.
- Nada mesmo!
- Não! Absolutamente nada o que é muito
estranho.
- Diria então que o que devorou as pacas, as
capivaras e o jacaré foi um fantasma?
- Olha que seria quase isso.
- Ou seria algo ou alguém esperto o suficiente
para saber o que estava fazendo, que tem uma
inteligência superior a qualquer uma existente
que sabe exatamente o que está fazendo e que
consegue ser quase um ser inexistente?
- Quase isso, mas parece que está gostando
disso.
- E este ser só atacou nos dias da lua cheia,
foi isso?
- Pelos relatos do Enrico foi.
- Um ser superior! Uau! Que saudades disso.
- Não vá me dizer que foi o senhor?
- Claro que não, mas estou fascinado por saber
que existe outro igual.
- Não estou entendendo vovô!
- Por acaso sabe se atacou algum humano?
- Nada que tenha sido relatado e já checamos
isso também. Somente os animais citados.
- Então não houve prejuízo algum e nem morte
desnecessária. Fascinante.
- Pode ser mais preciso quanto a isso vovô!
- Nada não! Estava viajando em antigos
pensamentos.
- O senhor agia assim também?
- Digamos que na minha vida antiga, quando eu
ainda era lobo e acordei de certa forma para o
que fazia e preferi atacar os animais e não
humanos eu era mais ou menos assim e alguns
apelidaram isso de o tal de chupa cabras.
- Heim! Exclamou Pedro.
- Nunca ninguém soube quem era, nunca ninguém
viu, nunca ninguém conseguiu perseguir porque
era um fantasma ou um ser inexistente.
- Que falar coisa com coisa, por favor.
- Não e pode mudar as minhas ordens, mas não
quero que machuquem, firam, maltrate ou matem
ele se o virem. Quero-o vivo porque tenho algo
em comum com ele e se possível for quero falar
com ele.
- Falar com ele?
- É! Pode mudar o que pedi, mas fui claro?
- Claríssimo vovô! Ninguém vai ferir este teu
amigo.
- Amigo! A que me dera. Disse Gustavo sorrindo e
saindo assobiando.
- Acho que meu avô está ficando doido Orbyu.
- Talvez ele tenha encontrado algo útil para
pensar e está encantado.
- Encantado com este ser ele está mesmo, mas
vamos achar ele, ah vamos.
- Sei não! Mas vamos esperar para ver.
- Vamos!
)
- Joana! O doutor Ademir e a senhora Hellen
querem falar com você. Informou Elsa.
- Agora?
- É sim!
- Onde eles estão?
- No chalé dois.
- Posso ir até lá?
- Claro que pode filha! Isso aqui é seu também.
- Do que me chamou?
- De filha!
- Filha?
- É! Te considero como se fosse minha filha.
- De verdade?
- Sim! Nestes dias que está comigo é como se
minha filha estivesse de volta e é assim que te
considero, minha nova filha e não a que perdi.
- Teve uma filha?
- Tive!
- Queria saber dela, pode me contar?
- Claro que posso! Quer ouvir agora?
- Quero!
- Eu me casei com o Valdecir, meu amado marido
quando era ainda muito nova. Eu me apaixonei por
ele ainda na infância. Morávamos perto um do
outro e não conseguia ficar longe dele nem um
minuto e quando completei dezessete anos ele foi
até em casa e falou com meus pais sobre o amor
que tínhamos um pelo outro. Eles sabiam e
sentiam que o que ele disse era verdadeiro. Era
seis anos mais velho que eu e meu pai acabou me
emancipando para que eu me casasse.
- Ele autorizou?
- Sim! Autorizou e depois de preparado os
documentos nos casamos. Éramos simples, mas
muita gente foi no nosso casamento e até fizeram
uma festa para nós de tanto que gostavam de nos
ver. Diziam que o nosso amor fazia bem para eles
de tão puro e verdadeiro que era.
- Que lindo! Disse Joana com olhos encantados.
- O pai dele tinha um punhadinho de terra e ele
trabalhava na roça com eles. Tinham 4 vacas,
alguns porcos, galinhas e sobreviviam com a
venda de leite e do que cultivavam na roça. Tudo
muito simples, mas nunca faltou nada nem para os
pais dele e nem para nós depois que nos casamos.
Seus pais tiveram eles quando já a mãe dele já
passara da idade de ter filhos, mas ele nasceu e
cresceu forte. Lembro que ele me dizia que
queria ter um monte de filhos e riamos disso.
Tentamos várias vezes, porém eu não conseguia
engravidar até que um dia eu consegui e faltava
um mês e meio para o bebê nascer e eu o perdi. O
feto morreu. Foi uma tristeza só. Fiquei
arrasada e somente o amor dele para comigo foi
que me deu forças, mas sobrevivi a dor e quando
menos esperava engravidei de novo. Todos os
cuidados foram tomados e nove meses depois veio
nossa querida e amada filha Marieta.
- Marieta!
- É! Este era o nome da avó dele e foi um pedido
da mãe e concordei. Marieta fez o primeiro e o
segundo aniversário e no dia seguinte do
aniversário dela a mãe dele veio a falecer e
nove meses depois o pai também partiu. Foi outra
perda dolorida porque eu era muito ligada neles.
Seis meses depois minha mãe partiu e um ano
depois meu pai também se foi embora e ficamos
nós três, eu, ele e nossa amada Marieta que
crescia forte e faceira, mas passados oito anos
de seu nascimento descuidamos dela e ela
desapareceu e nunca mais foi vista e depois de
anos de busca mesmo não querendo acreditar na
perda a esperança se foi e com muita dor
continuamos a levar nossa vida.
- Nossa!
- Estávamos tristes demais. A dor era imensa e
ele procurou uma força dentro dele para ajudar a
que eu melhorasse, pois estava em depressão
profunda e aos poucos eu fui me recuperando,
porém, todos os anos, no dia do aniversário dela
eu comprava um vestidinho imaginando o tamanho
que ela estaria e guardava. De repente novamente
veio outra tempestade e ela passando te vi lá
debaixo do depósito de lenha encolhida,
encharcada e assustada e olhando para você,
mesmo sabendo que não era ela foi como se fosse.
- Acha que sou sua filha?
- Se é a que eu tive não sei, mas ao vê-la ali
eu te vi como se fosse ela e jurei para mim
mesma que ninguém tocaria em você e que eu a
protegeria com a minha própria vida se fosse
necessário, assim como sei que Valdecir faria e
fará o mesmo porque nestes poucos dias sinto e
sei que ele também sente que a nossa menina
voltou e por isso, se me permitir gostaria de
lhe chamar de filha, de minha filha. Posso?
- Pode sim, mas eu posso lhe chamar de mamãe e
ele de papai também? Perguntou Joana.
- Eu seria a mulher mais feliz do mundo se você
fizesse isso. Respondeu Elza com os olhos
banhados de lágrimas.
- Não sei se tive e sei que devo ter tido uma,
mas eu sinto todo o carinho de vocês e que me
dão e saiba que eu sempre, desde que me recordo
quis ter uma mãe que me amasse para eu amá-la
também e obrigado por me acolher mamãe.
A emoção tomou conta das duas que se abraçaram e
juntas choraram, assim como também chorou
Valdecir, Ademir e Ellen que chegavam e ouviram
parte daquela conversa sem se envolverem. Nada
disseram e esperaram que as duas curtissem
aquele momento só delas e mesmo querendo ir até
elas, as abraça-las e chamar aquela menina até a
poucos dias nem sabiam que existia de filha e
foi ela quem tomou a iniciativa quando o viu
ali.
- Posso te chamar de papai também? Perguntou
Joana se levantando e vendo-o ali.
- Pode e deve minha filha! Disse abraçando-a com
amor e carinho.
- Está chorando senhor! Perguntou Hellen com os
olhos molhados de lágrimas.
- Não! Foi apenas um cisco que entrou em meus
olhos. Disse Ademir emocionado.
Abraçaram-se e viram Elza se levantar e
aproximando-se do marido e de Joana os abraçou
com imenso, intenso e grande amor e carinho.
De fato, naquele momento Ademir que a anos
procurava aquela jovem teve a certeza de que
agora ela teria uma família de verdade cercada
de dezenas de guardiões para acompanha-la até
que estivesse firme e forte para o que lhe
reservava o futuro.
Ademir como ninguém sabia quem era ou quem seria
aquela jovem menina. Ela era e seria o tipo de
uma tábua de salvação não para eles, mas sim
para toda a humanidade. Seria o pendulo da
balança, mas para isso antes de qualquer coisa
ela tinha que ter um conceito de família para
poder crescer no que o destino lhe reservaria,
pois caso contrário ela ao invés de ajudar se
tornaria em uma arma destrutiva e teria que ser
abatida.
- Está perdido em pensamentos amor? Perguntou
Ellen.
- Estava pensando na nossa menina e parece que
está gostando disso de amor né?
- Nossa menina? Uau! Gostei desta parte de que
quer uma filha.
- Para de graça! Você entendeu bem sua
assanhada.
- Seja bem sincero comigo! Olhe nos meus olhos e
diga que não quer também.
- Um filho ou uma filha?
- É!
- No fundo não nego que gostaria um dia, quem
sabe, ter sim.
- Mas para ter um filho ou uma filha teria que
ter uma mulher do tipo linda, inteligente,
esperta, carinhosa, amorosa, amiga, companheira,
parceira, meiga, apaixonada, que te queira com
amor e carinho e que lhe de isso não acha?
- Por acaso está se candidatando à vaga dona
Ellen Rigolli Castilho?
- Acho que além de se candidatar eu mudaria o
que disse.
- Mudar o que?
- O nome! Ficaria bem em ser Ellen Rigolli
Castilho Mantovani Kesller, não acha?
- Abusada, assanhada e atrevida heim moça!
- Não gosta?
- Hum! Digamos que tem chance.
- Tenho chance! Besta. Respondeu Ellen rindo.
)

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