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Título   Zumbi Gênero Ficção
 
     
     
     
     
 

 

Título original: Zumbi

Romance / Ficção

edição

 

Copyright© 2024 por Paulo Fuentes®

Todos os direitos reservados

 

Este livro é uma obra de ficção.

Os personagens e os diálogos foram criados a partir da imaginação do autor.

 

Autor: Paulo Fuentes

Preparo de originais: Paulo Fuentes

Revisão: Sônia Regina Sampaio

Projeto gráfico e diagramação:

Capa: Paulo Fuentes

 

Todos os direitos reservados no Brasil:

Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica Ltda.

Impressão e acabamento:

 

 Apoio Cultural:

 
  Lançamento de livros e/ou filmes possuem custos e o autor busca PATROCINADORES para lançar suas obras tanto para edição em formato de livros de papel ou quem sabe, para a realização de filme (s)... Caso haja interesse em relação à isso favor entrar em contato. Grato.
 

 

 

Esta é uma obra de ficção romanceada...
Qualquer semelhança com fatos presente, passado ou futuro...
Pode ser mera coincidência.
(nota do autor)

 

Ilha Tibiriçá, Paulicéia, 29 de junho de 2058.
Penitenciária José Ribeiro de Souza Motta.

 

O silêncio era sepulcral e por mais que tentasse se lembrar de onde estava nada conseguia vir à sua mente exceto que estava deitado sobre uma cama que aparentava ser de algum hospital.

 

Estava completamente aturdido. Sua cabeça estava pesada. Tentou erguer o corpo, mas a tontura o fez deitar novamente e sentiu que estava algemado em um dos braços. Não entendeu o porquê daquilo, mas não conseguia pensar em nada. Deitou novamente e esperou que se ficasse deitado sua cabeça conseguisse fazer com que aquela nevoa se dissipasse e o deixasse pensar melhor. Deitou, ajustou o travesseiro debaixo de sua cabeça e na dormência que estava acabou adormecendo acordando quando o dia estava raiando do novo e sentiu-se melhor, mas ainda não entendia o porquê daquelas algemas prendendo-o na cama que parecia ser de alguma prisão.

 

Finalmente conseguiu se recompor e sentar-se sobre aquela cama que agora se dera conta que ela uma cama que se usavam para manter prisioneiros em atendimento hospitalar e ainda não entendia o que fazia ali e pior que isso, aprisionado.

  

Sentado olhou para os lados e viu sobre uma mesa de atendimento não tão distante as chaves da algema junto com chaves de um veículo e por mais que se esforçou não conseguiu alcança-la até que em um gesto de malabarista se deitou na beirada da cama e com a ponta dos dedos do pé conseguiu alcança-las e derrubá-las no chão.

 

Teria que fazer novo malabarismo, mas depois de muito remexer e mexer conseguiu finalmente pegar as chaves e abrir a algema que lhe cerceava o direito de ir para onde desejava. Finalmente estava solto. Levantou-se e ainda sentiu um pouco de tontura. Aproximou-se da janela empoeirada e olhou para fora e o que viu o deixou novamente atordoado, pois estava dentro de algum lugar com muros que não devia ter menos de quinze metros de altura.

 

- Onde estou! Se perguntou.

 

Saiu de perto da janela e viu que se encontrava em um quarto que aparentava ser o de alguma clínica de algum hospital ou coisa pior. O local era bem aparelhado para alguns tipos de tratamento, porém, apalpando seu corpo todo a única coisa que havia de diferente era um curativo que nem ousou momentaneamente mexer, pois ao apertar de leve sentiu uma dolorida pontada. Aproximou-se da porta que estava trancada por dentro e temerosamente soltou o trinco interno e ela se abriu.

 

Saiu do local onde estava e se surpreendeu. Não se recordava de ter medo de nada, mas o que viu o fez ficar atento, pois ali, na sala maior que servia de atendimento tudo estava revirado e percebeu que além de outros quatro quartos iguais ao que estava haviam ainda dez celas vazias que continham uma cama em cada uma delas e sangue. Muito sangue sujando as paredes e o chão.

 

Não se assustou, mas como se tivesse um sinal de alarme dentro dele ficou atento e olhou quarto por quartos iguais aos que ele estava, mas todos estavam vazios. Aproximou-se cautelosamente da porta que se encontrava semi aberta e entreabrindo-a um pouco mais se deparou com um imenso corredor que recebia luz através de janelas e ao fundo dele uma enorme porta. Se encaminhou até ela e olhando para frente e para trás constatou que ali, naquele local estava sozinho e se não fosse o sangue ressecado que molhara as paredes e o chão poderia dizer que ali seria um local de uma imensa clínica.

  

Aproximou-se mais e parou diante daquela porta e com todo cuidado que poderia ter a abriu devagar e se deparou com outro corredor, mas este possuía algumas saídas e era ligado a outros corredores com várias salas que deveria ter servido de escritórios ou algo assim. Não havia viva alma alguma por ali. Saiu e aí sim se deparou com algo que em seu íntimo pressentia o que fosse. Estava dentro de um imenso presídio e ao avançar um pouco mais se sentiu enojado com o que encontrou. Vários corpos em estágio cadavérico estavam caídos e largados no chão e pelo que vira com tiros certeiros na cabeça e obviamente mortos.

 

- Meu Deus! Onde é isso aqui? Se perguntou.

 

Saiu para o imenso pátio e não teve como não arregalar os olhos. Já ouvira falar dali e constatou que estava dentro da maior penitenciária do país a qual sabia que existia, mas nem de longe imaginava onde ela estava localizada, mas sabia que naquele lugar, se fosse onde pensava que era, deveriam ter ou tido dez mil sentenciados.

 

- O que estou fazendo aqui dentro? Se perguntou.

 

Olhou para cima, para frente, para trás e o silêncio era algo que gelaria o corpo do mais destemido dos homens. Pensou em verificar os andares daquela prisão vertical, mas não ousou se arriscar e foi neste momento que se deu conta que usava apenas uma bata hospitalar daquelas com a parte de trás aberta. Voltou para os corredores de salas em busca de algo que pudesse vestir e em uma delas que era destinada ao diretor do complexo achou uma outra sala que deveria ser usada de dormitório e ali encontrou algumas peças de roupa que para sua sorte era do mesmo tamanho que usava. Vestiu-se e saiu daquele local e em cima da mesa da administração viu que havia o chaveiro de um veículo o qual deveria estar lá no pátio da administração. Pegou-o e ao olhar nas gavetas da mesa encontrou duas armas e duas caixas de balas. Pegou tudo e saiu. Lá fora encontrou o veículo ao qual pertencia as chaves. Apertou o controle e mesmo com a bateria fraca o mesmo deu sinal de vida.

 

Foi até ele, colocou a chave da ignição e deu a partida fazendo o mesmo pegar depois de ratear um pouco. Deixou-o ligado um pouco e contornando um pedaço do prédio viu o portão que parecia ser a saída daquela macabra construção naquele momento abandonada. Caminhou um pouco mais e chegou até o enorme portão de aço o qual estava aberto e olhando para fora finalmente viu a natureza bela como ela era.

 

- Graças a Deus! Enfim a liberdade.

 

Voltou para onde se encontrava o veículo, entrou dentro do mesmo e já estava fechando a porta para sair dali quando pareceu ter ouvido um barulho. Parou, desligou o veículo e ficou atento para ver se realmente havia ouvido algo que ligasse aquele lugar macabro com a realidade que ainda nem sabia o que era.

 

Parou e atento a tudo deu um berro perguntando se havia alguém por ali e para sua surpresa viu um vulto se mexendo com extrema cautela por trás de uma persiana em uma das salas.

 

Olhou atentamente e esperou que o vulto se materializasse e para sua surpresa uma jovem de aproximadamente trinta anos apareceu na porta.

 

- Oi! Quem é você?

- Paula! Respondeu a jovem tremendo.

- Pode me dizer o que houve aqui?

- Uma coisa horrível.

- Horrível eu percebi que deva ter sido, mas pode ser mais clara?

- Um caos! Respondeu ela totalmente abalada.

- Espere um pouco. Sente-se, se acalme, respire fundo, relaxa e tenta falar pausadamente o que faz aqui neste local.

- Eu trabalhava aqui. Era diretora da inteligência penitenciária.

- Este presídio era misto?

- Não, porque?

- O que fazia uma jovem trabalhando aqui em uma prisão masculina?

- Foi um concurso que fiz e fui aprovada em primeiro lugar.

- Meus parabéns, mas ser aprovada é uma coisa, mas ser enviada para cá já é outra coisa.

- Não vejo nada de errado nisso! Respondeu Paula já mais calma.

- Calma! Eu sou do bem.

- Sei que deve ser e o diretor achava o mesmo. Por isso ele resolveu cuidar de você.

- Foi! Como vim parar aqui?

- Bem! Chegou aqui enviado por uma juíza que aparentemente queria se livrar de você e chegou aqui machucado e baleado. Na verdade, quando chegou aqui estava em coma e por mais que tentassem lhe fazer recobrar a consciência você não voltava.

- Coma! Baleado, não voltava. Não entendi nada.

- Também não sei porque te prenderam, mas estava claro que não era um bandido.

- E como pode garantir isso?

- Não posso, mas compartilhei isso com o pensamento do doutor Erivaldo que era o diretor geral daqui.

- Hum! E foi ele que resolveu cuidar de mim aqui?

- Foi! Você chegou baleado a seis meses atrás com a marca de uma bala de nove milímetros a qual por sorte sua passou de raspão tecnicamente falando. As outras duas lhe acertaram no abdômen. A sua aparência de certa forma chamou a atenção do diretor que resolveu investigar o seu caso e acabou descobrindo que haviam armado para você.

- Minha aparência chamou a atenção dele porquê?

- Porque você era a cara do filho dele que havia morrido assassinado.

- Ah tá, entendi, mas voltando ao assunto, quando aconteceu este caos aqui?

- A precisamente quarenta e seis dias.

- E não saiu daqui depois que aconteceu o caos que ainda não me contou o que foi.

- Não sai e nem me arriscaria a sair.

- Porque não?

- Você chegou a assistir a algum filme do tipo The walking dead?

- O dos zumbis?

- É!

- Mortos vivos?

- É!

- Aqui?

- Foi!

- Ainda não entendi isso, mas como sobreviveu a eles e quando digo eles, acredito que estejamos no maior complexo prisional do país.

- Da mesma forma que você, em um local trancado por dentro.

- Espera aí, você sabe quem sou eu?

- Sei sim! Seu nome é Gustavo Garcia Martins e pelo que o doutor Erivaldo apurou era um engenheiro balístico.

- Hum! Então eu devo saber atirar?

- Acredito que sim, mas se quer saber mais, quando o caos se instalou aqui fui eu quem fui até o seu quarto e o tranquei por dentro para que pudesse ao menos, quem sabe, se voltasse estivesse ao menos vivo.

- E porque não me desalgemou?

- Normas internas, mas encontrou a chave que deixei lá e se soltou, não foi?

- É! Foi, mas tive que fazer um tremendo malabarismo.

- Para de reclamar. Você está vivo e isso é o que importa. Disse Paula já toda cheia de si.

- Tem ideia de como o caos começou?

- Não sobrou ninguém para discordar da minha opinião, pois todos morreram, mas a meu modo de ver um dos detentos, um russo que teria passado pela Sibéria de certa forma contraiu algo que deva ter origem em algo que se denominaria de algo tipo permafrost acabou causando isso e antes que me pergunte o que seja isso eu pesquisei e se tiver sentido isso, este tal permafrost deve ou deveria ter mais de cinquenta mil anos e estava adormecido este tempo todo.

- E isso quer dizer que, se um indivíduo for contaminado por isso ele se transformaria em um morto vivo, é isso que está querendo me dizer?

- Exatamente isso!

- Meu Deus! Quantos detentos havia aqui neste local?

- Havia aqui dez mil reclusos e outros mil oitocentos e doze servidores.

- E onde foram parar todos eles?

- Posso lhe adiantar que, com exceção de mim e excluindo-se alguns que foram eliminados pelos guardas de segurança, todos eles estão soltos e agindo como um batalhão de guerra.

- Tem ideia de como está lá fora?

- Não, mas se quer saber sobre ver notícias de fora as comunicações cessaram a trinta e quatro dias, portanto, não tenho a menor ideia de como está lá fora e se ainda existem seres humanos e se existirem onde devam estar.

- Devastação total?

- Aparentemente sim e por isso preferi ficar trancada aqui dentro.

- E como se alimentou neste tempo todo?

- Porque tínhamos e ainda temos estoque de alimentos não perecíveis e felizmente temos um poço artesiano que fica dentro do complexo aqui na ilha.

- Ilha!

- Sim! Estamos na ilha Tibiriçá no meio do rio Paraná na cidade de Paulicéia.

- E temos saída daqui para a margem do rio?

- Sim! Temos uma ponte que cruza o espaço entre a ilha e a margem do rio.

- Será que sobrou alguém aqui dentro ainda?

- Não! Posso te garantir que não.

- Como pode garantir isso?

- Porque eu soltei todos para que tentassem ter uma chance.

- Como fez isso?

- Porque o controle das celas que são abertas eletronicamente se encontra em dois lugares. Um no departamento de segurança e a outra com senha numérica e digital que fica na sala do diretor e como eu estava cadastrada e vendo a loucura que estava aqui dentro depois que o diretor foi atacado e transformado em morto vivo eu acreditando estar agindo em um ato de humanidade resolvi dar uma oportunidade a cada um dos que estavam trancafiados, mas não sei se alguém escapou com vida, portanto, teoricamente, daqui de dentro saiu para fora dos portões um exército com quase doze mil abominações sedentas de fome. Vou te mostrar onde guardamos nosso arsenal de armas. Quer ver?

- Na atual conjuntura, armas parece ser o que mais precisaremos, não acha?

- Tenho certeza disso. Vamos lá no depósito para vermos o que levaremos conosco.


Paula praticamente carregou Gustavo para dentro e lá, na sala do diretor pegou uma chave e voltaram para o corredor que os levou à sala que após a identificação de íris, e digital foi aberta mostrou a eles um verdadeiro arsenal com armas de todos os tipos, modelos e calibres fazendo com que Gustavo se surpreendesse até com os morteiros e bazucas.

 

- Sabia do que havia aqui Paula?

- Sabia sim! O doutor Erivaldo me detalhou tudo que havia aqui dentro do complexo.

- Parece que ele gostava muito de você, não é?

- Muito e garanto que não vim trabalhar aqui por ser sobrinha dele, mas sim pela minha capacidade e intelecto profissional.

- Hum! Então era sobrinha dele é?

- Sim! Ele era irmão da minha mãe.

- Nepotismo?

- Não! Fui aprovada pelo conselho nacional de justiça e a transferência para cá foi determinação de um grupo de desembargadores que me selecionaram entre trinta e seis outros candidatos e foi uma surpresa até para meu tio eu vir parar aqui. Portanto, vim parar aqui por méritos e não por nepotismo.

- Uau! Bela explanação e acredito em você.

- Temos também em outra ala alguns blindados que acredito que seja muito melhor para sair daqui de dentro do complexo, pois além de resistentes tem alguns atrativos a mais.

- Que tipo de atrativos?

- Você verá daqui a pouco, mas o que acha que devemos levar?

- Tudo o que conseguirmos carregar.

- Tudo!

- Sim! Não sei o que está acontecendo lá fora, mas baseado no que você me disse eu diria que aqui em poucas armas.

- Ei! Acha que estará indo para a guerra?

- Eu não acho nada, mesmo porque não vi o que aconteceu, mas acredito que onde mil devoradores de pessoas devam ter tornado o exército deles em mais de cinquenta mil para ser otimista.

- Meu Deus! O que faremos com isso tudo?

- Bem, primeiro vamos ver o que temos de veículos blindados aqui dentro. Depois o colocaremos o mais próximo da porta e depois colocarmos dentro dele o máximo de armas que pudermos. Depois disso tudo vamos sair e ver o que nos espera lá fora.

- Vamos lá então! Pediu Paula preocupada.

 

Saíram do arsenal onde Gustavo identificou várias armas que ela já havia manuseado e sentiu falta de não ter encontrado naquele local algumas que eram protótipos dele, mas isso era coisa que nem deveria pensar naquele momento. Cruzaram três corredores onde Paula teve que abrir com o uso de sua íris e sua digital e acabaram chegando a uma imensa área fechada e protegida que animou Gustavo, pois havia ali veículos de última geração inclusive dois que eram alimentados com energia solar e podia ter a certeza que, os postos de combustíveis convencionais poderiam nem existir mais, mas aqueles veículos jamais ficariam sem poder se movimentar enquanto houvesse sol para alimentarem-nos.

 

- Estes dois aqui parecem ser perfeitos para carregarmos com as armas. Disse Gustavo.

- Ei! Porque dois? Não quer que eu vá com você?

- Claro que sim, mas vá lá saber se gostaria da minha companhia.

- Engraçadinho! Nem vou te responder o que pensei. Falou Paula sorrindo.

- Então vamos lá! Poderia abrir a porta para darmos a volta? Pediu Gustavo.

- Claro! Vamos lá.

 

Gustavo entrou no veículo que mais parecia um tanque de guerra e se perguntou porque haviam daquele tipo ali dentro, pois parecia que esperavam por uma verdadeira guerra, mas nada disse, pois se esperavam agradecia por estar do lado certo e mais que isso, agradeceu intimamente pela preocupação do doutor Erivaldo e também de Paula que de certa forma cuidaram dele. Deu a partida, colocou o veículo para fora de onde estava estacionado e esperou Paula fechar a imensa porta de aço e deram a volta indo até onde estava a entrada para retirarem as armas.

 

Entraram e usando dois carrinhos transportaram absolutamente tudo o que havia de armas ali dentro para os veículos e depois de algumas idas e vindas carregaram a última viagem e estavam quase saindo dali quando Gustavo reparou que havia uma caixa em um canto do ex arsenal. Curioso foi até lá olhar e viu que havia um aviso na caixa de madeira.

 

- Não abra! Material ainda desconhecido e sem uso.

 

Curioso abriu e teve uma agradável surpresa, pois ali dentro haviam quatro armas ainda desconhecidas de todos e ironicamente era ou seria ainda protótipos de duas das que ele idealizara e nem chegara a pegar uma na mão ainda.

 

- O que foi? Perguntou Paula.

- Lembra que me disse que eu era engenheiro armamentista?

- Sim!

- Era isso que eu estava desenvolvendo, mas ainda estava na fase de protótipo e nem cheguei a ver ela pronta. O que de fato era aqui Paula, pois não acredito que fosse apenas uma unidade prisional, mas sim me faz pensar que era algo que trabalhava de forma secreta para não dizer suspeita.

- Aqui era de fato uma unidade prisional, mas havia algumas coisas que eu não sabia e portanto, mesmo compactuando com os seus pensamentos não posso lhe dizer mais do que isso, porque nesta parte eu não estava autorizada a ver ou saber.

- Me diga uma coisa. Você me disse que era diretora da inteligência penitenciária, não foi?

- Sim! Isso mesmo.

- Não acha estranho que tenham enviado alguém da inteligência penitenciária para cá?

- No começo até achei, mas quando eu já tinha parado de me preocupar com isso foi que o caos aconteceu e cá estamos nós.

- Entendi, mas antes de sairmos quero testar estas quatro armas que desenvolvi, mas que jamais imaginei que elas seriam fabricadas.

 - O que elas têm de especial e o que eles fazem?

- Se foram montadas de acordo com o meu projeto elas não precisarão usar balas.

- Não?

- Não! Elas disparam raios que se recarregam automaticamente.

- E qual a utilidade delas então? O que fazem precisamente?

- Matam!

- Matam pessoas?

- Matam qualquer coisa que receberem seu raio de luz laser.

- Está brincando, não é? Perguntou Paula atônita.

- Pior que não! Vamos lá fora que quero testá-las antes de sairmos daqui.

- Vamos, mas antes disso quero te entregar uma pasta que contém tudo da sua vida e quem foi ou quem poderia ter causado pelo que passou antes de chegar aqui. O doutor Erivaldo fez questão de saber tudo da sua vida e acho que deva ter coisas na imensa pasta que talvez nem você saiba ou até que já se esqueceu. Vamos lá e depois vamos sair daqui.

- Vamos! Disse Gustavo acompanhando Paula.

 

Levaram os dois últimos carrinhos até o veículo. Arrumaram tudo lá dentro e voltaram para a sala da administração onde Paula remexendo encontrou a pasta volumosa que continha os dados de Gustavo que se iniciava em sua infância e lendo por cima, de fato, havia ali coisas desde que nascera que ele mesmo desconhecia, mas resolveu olhar com calma tudo o que continha ali dentro, pois estava ansioso demais para testar as quatro armas que ele desenhara. Saíram e ao fazer isso Paula olhou com tristeza para aquele local onde ela trabalhara com amor e carinho, mas era a vida

 

Saíram da sala da diretoria, cruzaram o corredor e Paula após cuidadosamente fechar a porta se encaminhou para o veículo e após colocar a pasta e três armas sobre o banco do motorista Gustavo pegou uma delas e procurou um ponto para disparar e achando algo que achou conveniente destravou a arma e sem mirar disparou. Um foco de luz saiu da arma e acertou em cheio e o objeto praticamente evaporou.

 

- Belo tiro e a arma nem fez barulho.

- Esta era a intenção quando a projetei.

- Mas você errou o tiro!

- Errei?

- Sim! Você disparou à toa e acertou no que nem imaginava.

- Foi mesmo!

- Foi!

- E onde acha que eu deveria mirar para disparar?

- Que tal naquela folha única saindo da parede do prédio.

- Aquela ali na frente?

- É!

- Muito perto!

- Quer mais longe?

- Ué! Quem irá disparar é você.

- Que tal naquela placa escrita Ala B?

- Não seria longe?

- Serve lá?

- Serve se acha que acertaria.

- Que tal no meio da letra B.

- Ah vá! Agora zuou.

- Pode ser lá?

- Pode se acredita que conseguiria.

- Só tem um problema. Disse Gustavo.

- Qual?

- Vai ter que ir até lá para conferir.

- Duvido que sequer acerte na placa, mas fechado. Você dispara e eu irei lá ver se acertou ou onde acertou.

- Fechado! Disse Gustavo disparando sem olhar por duas vezes.

- Ei! Nem deu tempo de eu olhar.

- Tudo bem! Está olhando para a placa agora.

- Estou!

- Tudo bem! Agora vou disparar no meio do espaço das duas letras A.

- Pretensioso, mas estou olhando.

 

Gustavo tornou a disparar duas vezes sem sequer olhar e após isso pediu para que Paula fosse lá conferir a mesma e teve que pedir duas vezes porque ela olhava atônita pela rapidez que ele disparara.

  

- Pode ir lá conferir?

- Ah sim! Claro. Respondeu Paula ainda atônita.

 

Foi até onde ficava a placa e olhou para a mesma e não acreditou no que viu. Foram quatro tiros de luz e exatamente onde Gustavo disse que acertaria haviam quatro furos e ela ficou ali olhando e pensando na precisão dos tiros e lembrou-se que, Gustavo sequer mirara para disparar. Estava surpresa ainda e estava virando para voltar quando ouviu um barulho e sem dizer nada resolveu olhar o que era e nem se deu conta de que Gustavo não estava olhando para ela e ao abrir a porta para ver o que seria aquele barulho quase caiu de costas, pois ali dentro havia um dos seguranças do complexo transformados em morto vivo.

 

Deu um grito o que fez Gustavo sair correndo com uma outra das armas na mão e ao ver que ele estava tentando mordê-la disparou sem pensar ou ver a intensidade que estava calibrada a arma e o morto vivo se desintegrou na hora sem sobrar nada dele e ainda correndo aproximou-se de Paula que o olhou com um misto de surpresa e de agradecimento por ele ter lhe salvado a vida.

 

- Você está bem?

- Estou sim graças a você! Disse Paula se levantando e o abraçando.

- Que bom que está bem, não me perdoaria se algo tivesse lhe acontecido.

- Devo minha vida a você!

- Imagina! Não deve nada.

- Devo sim! Respondeu Paula.

 

Involuntariamente colou seus lábios nos de Gustavo e o beijou e ele retribuiu e ficaram assim algum tempo.

 

- Ah me perdoe!

- Perdoar porquê?

- Por ter abusado de você.

- Se acha que abusou, fique à vontade para abusar sempre.

- Bobo, mas me diz, como o desintegrou e a placa não?

- Porque ela tem controle de intensidade e nem vi como que ela estava antes de disparar porque sua segurança valia mais que eu olhar isso na arma.

- Ah foi isso?

- Foi!

- Então vou abusar de novo! Disse Paula agarrando-o e o beijando de novo.

- Posso me acostumar com isso heim! Disse ele sorrindo.

- Hum! Quem sabe. Respondeu ela sorrindo.

- Bem, a arma funcionou e quero deixar uma com você depois de lhe ensinar a usá-la, mas já irá escurecer e quero sair daqui. Podemos ir?

- Podemos!

 

Voltaram para o veículo e pouco depois estavam bem em cima da ponta que ligava a margem à entrada daqueles imensos muros construídos em cima daquela ilha bem no meio do rio Paraná.

 

Parou logo na saída da ponte e desceu. Voltou-se para ver o local de onde saíram e ficou impressionado com aquela construção. Os muros como imaginara deveriam ter pelo menos quinze metros de altura e por estar em uma ilha, como engenheiro que era calculou que deveria ter ainda de dez a doze metros abaixo do solo a fim de que, mesmo que houvesse uma verdadeira inundação que cobrisse a ilha a construção não seria abalada e olhando para a imensa porta de aço percebeu que ela possuía um sistema de vedação que seria impossível ela ser alagada com água vinda da porta de fora e seria impossível que em um estágio de verdadeira incompreensão o volume de água alcançaria o topo daquela imensa muralha.

 

Dentro dos muros torres foram erguidas onde ficavam os edifícios verticais das alas prisionais e estas eram quase duas vezes superiores aos muros o que tornava aquela construção em uma verdadeira fortaleza onde entrar se o portão estivesse aberto seria fácil, mas sair dali seria praticamente impossível.

 

- O que está olhando? Perguntou Paula descendo e indo até Gustavo.

- Está construção.

- Grande, não é?

- Imensa!

- Vou sentir saudades de meu trabalho aí.

- Acredito que sim, mas o que vejo olhando para a frente é que não sei se construíram isso com a intenção apenas de prisão ou se a construíram com interesse de usá-la como laboratório.

- Acha que construíram isso com esta finalidade?

- De laboratório?

- Isso!

- Acho que não! Porque pergunta isso?

- Pergunta simples. Em 2008, a Portaria 1.190 do Ministério da Justiça regulamentou o direito a visita íntima nos presídios federais, estabelecendo que ela deva ser concedida com periodicidade mínima de duas vezes por mês em dias e horários e horários estabelecidos pelo diretor da penitenciária. Com isso lhe pergunto se, por acaso os presos dali recebiam visitas pelo menos de familiares.

- Fez uma pergunta que nunca me passou pela cabeça. Nunca ouvi falar de que qualquer preso tenha recebido uma visita desde que vim trabalhar aqui e nem antes de eu ter vindo.

- Pois é! A ideia, ao ver da sociedade bem que ela poderia ter sido um trabalho social, mas na verdade era bem provável que os presos previamente selecionados foram enviados para cá a fim de servirem de cobaia para cientistas que desenvolviam atos criminosos com seres humanos.

- Não acredito que o doutor Erivaldo concordasse com isso.

- Tinha alguém superior a ele aí dentro?

- É! Tem razão. Ele era o diretor geral do complexo, mas não ousava contrariar ordens que recebia de alguém que eu nunca soube quem era e se quer saber mais, ele também não podia passar dos portões da Ala B a fim de sequer inspecionar o outro lado das cercas que separavam as Alas A e B das C e D. lá, depois das três cercas, mesmo ele sendo o diretor geral havia um outro diretor que tomava conta de tudo.

- Quem era este diretor?

- Andrew Romandini!

- Este nome não me é estranho, mas não me recordo onde ouvi sobre ele.

- Podemos ir?

- Podemos sim! Quer ir ver sua família?

- Não tenho mais família. Meu pai e minha mãe morreram em um acidente de carro a três anos atrás e acabou sobrando meu tio e a esposa dele que nunca me suportou.

- Então escolha para que lado deseja ir. Estou aceitando sugestão.

- Não quer ver seus parentes?

- O que sobrou deles jamais me fariam falta de ir vê-los.

- Nossa! Ninguém também?

- Tinha uma ex esposa, mas ela desapareceu e depois de um tempo disse que meu filho que está com quinze anos alegou querer mudar o nome do pai, o meu, para outro cara que o havia criado como se fosse seu pai e mesmo eu não tendo gostado inicialmente pensei bem e achei que se ele não queria ser meu filho então que fosse feliz com outro pai.

- Nossa que crueldade de sua parte!

- Qualquer dia se sobrevivermos te contarei está conversa e verá que a vítima nisso tudo fui eu, mas para onde vamos?

- Conhece por aqui?

- Na verdade, nem sei onde é que estou. Pode me informar. Respondeu Gustavo sorrindo.

- Não sabe?

- Não!

- Estamos na cidade de Paulicéia na divisa do estado de São Paulo com o estado de Mato Grosso do Sul. Conhece?

- Não! Pode ser mais precisa?

- Conhece Dracena ou Tupi Paulista?

- Só de nome, mas não conheço.

- E presidente Epitácio, Bernardes ou Prudente, conhece?

- Região do Paranapanema?

- Isso! Conhece?

- Estas eu conheço também a ponte que corta o rio paraná e saí lá em Bataguassu.

- Conhece Presidente Prudente?

- Conheço!

- Eu estudei lá. Sou de Campo Grande e pegava muito a rodovia Raposo Tavares.

- Isso aí eu conheci tudo.

- Então! Estamos nesta região. Se localizou agora?

- Agora sim! Prefere ir para onde, São Paulo, Mato Grosso do Sul ou para o Paraná?

- Você é de onde?

- Sou de São Paulo.

- Então prefiro ir para o Paraná e se formos fazer isso sairemos em Pirapozinho e no caminho sairemos em Maringá e de lá poderemos ver para onde ir. O que me diz?

- A senhora manda doutora. Vamos por vias normais ou pelas vias vicinais?

- Vamos ter que passar por Paulicéia de qualquer forma, mas depois poderíamos ir

- Antes de sairmos daqui vou lhe mostrar como funciona a arma que eu idealizei e garanto que este arsenal que temos ai dentro não se compara comas quatro que encontramos lá.

- É fácil de usar? Perguntou Paula.

- Sabe usar uma arma de fogo?

- Está falando sério ou está brincando? Perguntou Paula sorrindo.

- Ué! Ainda nem te conheço, não é?

- Verdade, mas sei usar armas sim e se quer saber, até a bazuca acho que consigo usar.

- Poderosa heim, mas estás daqui são muito simples e o diferencial é que não tem que carregar com balas e a única diferença está na regulagem da intensidade do disparo. Veja aqui.

 

Gustavo pegou a arma e mostrou para Paula e principalmente a regulagem que poderia apenas tontear até vaporizar o alvo e pegando a mesma nas mãos percebeu que ela era leve e de fácil manuseio. Após isso colocou em uma das regulagens que não fosse a máxima e disparou apontando para um arbusto logo adiante.

 

Acertou bem no alvo e Gustavo percebeu que ela também sabia atirar bem o que facilitava muita as coisas em um momento em que ainda não sentira o volume do perigo e sorrindo ela viu uma garrafa jogada a um canto e foi até lá para posicioná-la a fim de disparar e com isso Gustavo pode ver melhor e com calma aquela jovem que estava ao seu lado.

 

Alta para os padrões, mas um pouco mais baixa que ele. Morena clara com cabelos e olhos castanhos, rosto de menina, mãos suaves, mesmo porque já sentira-as em seu rosto, o corpo era harmonioso e perfeito.

 

- O que está olhando seu tarado?

- A garrafa! Respondeu rapidamente Gustavo.

- Ah tá! Do que é ela? Perguntou colocando-a por trás de seu corpo.

- É de refrigerante!

- E gostou do que viu em mim?

- Como?

- Perguntei se me sentiu do tipo de uma mulher que se perderia na cama em momentos de prazer.

- Heim!

- Pergunto isso pois me senti devorada por você me engolindo com seus olhos ao me ver caminhando e mais ainda quando me abaixei e sem ter a intenção arrebitei a minha bunda.

- Não sou um zumbi para devorar ninguém!

- É! Sei disso, mas a garrafa é de vinho e não de refrigerante. Respondeu Paula sorrindo.

- Ih! Foi mal. Disse Gustavo também sorrindo.

- Vou dar um tiro nela e se quer saber você também não é de jogar fora.

- Obrigado senhorita provocativa.

- Quem, eu? Perguntou ela disparando sem olhar para a garrafa.

- É! Caramba, também acerta sem olhar é?

- Não achou que seria o único, não é?

- Não e estou impressionado!

- Vamos nos conhecer melhor e daí verá que lhe impressionarei muito mais. Agora vamos porque quero parar em algum lugar para comer peixe.

- Vamos comer sim se tiver sobrado quem os faça e vou esperar para ser impressionado.

 

Sorrindo entraram no veículo, Gustavo deu a partida e saíram dali da beira do rio e da frente do imenso complexo agora vazio e rumaram para Paulicéia e o que viram por mais forte que tentaram ser mexeu com eles.

 

A pequena cidade estava totalmente destruída. Foram atacados por uma horda faminta que por onde passou não deixou nada em cima de nada e muitos corpos se encontravam esparramados pelas ruas, casas e vários lugares mortos ou simplesmente destroçados, mas em estado de semimorto. Nada poderiam fazer e continuando chegaram em Panorama e a destruição era completa, mas ali encontraram alguns mortos vivos e resolveram aliviar a dor de cada um deles e as armas não pararam de funcionar e ambos acabaram sentindo algo diferente dentro deles, pois não estavam eliminando seres humanos, mas sim aberrações da natureza causada quem sabe por um experimento que dera errado.

 

- Veja ali Gu! Acho que encontramos um vivo.

- Gu! Gostei, mas não seria um outro morto vivo? A pessoa está caminhando quase igual a eles.

- É uma mulher e está machucada na verdade.

- Tem certeza?

- Não, mas acho que deveríamos olhar melhor antes de dispararmos contra ela.

- Gostou da arma, não é?

- Pior que gostei, mas vamos olhar melhor.

 

Estavam passando pela vicinal Frederico Platzeck e a pessoa, ou morto vivo vinha de uma rua que saía do rio Paraná e de encontro a rodovia vicinal e para constatar se era uma pessoa normal ou uma morta vivo teriam que chegar mais perto. Entrou na rua e se aproximaram dela e quando estavam a menos de dez metros viram-na cair no chão de terra. Gustavo parou o veículo praticamente do lado daquela mulher e ambos desceram com as armas preparadas para disparar se necessário.

 

- Gu! É uma jovem ainda bem como é humana.

- Tem certeza?

- Absoluta!

- Pode estar enganada.

- Não estou. Já vi milhares deles passando ao meu lado sem verem ou sentirem o meu cheiro.

- Cheiro!

- É! Não lembra do filme The Walking Dead que eles sentiam os humanos pelo cheiro?

- Ah é, mas não sei se era isso, porém, deve ser mesmo. Ela está viva?

- Está!

- Dê um pouco de água para ela enquanto a mantenho sob mira.

 

Paula atendeu o pedido de Gustavo e erguendo a cabeça dele depois de constatar que sua aparência era normal deu-lhe alguns goles de água, porém, dosando, pois ela aparentava estar desidratada.

 

- São muitos! São monstros! Não são mais humanos. Começou a balbuciar a jovem.

 

Não resistiu e acabou desmaiando de novo sob os olhares de Paula e de Gustavo que procuraram ampará-la o melhor que podiam e preocupados porque a tarde estava chegando ao final e estavam a céu aberto.

 

- E agora? Perguntou Paula.

- Temos três opções. Colocamos ela no veículo e a levamos com ela. Largamos ela aqui ou esperamos ela se recuperar, porém, teremos que manter guarda e não podemos ascender sequer uma fogueira para não chamar a atenção. O que decide doutora?

- Vamos esperar ela se recuperar e manter guarda para ver se ela não se transformará.

- Tudo bem! Está com fome?

- Nem tinha pensando em fome ainda, mas confesso que estou sim.

- Vai ter que segurar um pouco mesmo porque não temos nada para comer aqui.

- Eu sonhava em comer peixe, mas fazer o que.

- Tem algum lugar por aqui que sirva nem que seja porcaria para comermos?

- Tem sim! Lá na frente, depois da ponte sobre o rio do peixe chegaremos ao distrito de Palmital e lá com certeza encontraremos salgadinhos, chocolate, balas, estas coisas.

- Bem, vamos aguardar a moça se recuperar e depois iremos para lá e quem sabe encontremos peixe por lá.

- Fala sério Gu! O caos já aconteceu a alguns dias e com certeza nada sobreviveu àquele exército faminto.

- Era para tentar te convencer a não ficar com fome.

- Tentar me convencer a não ficar com fome me falando de peixe! Bela forma de tentar fazer isso. Respondeu Paula forçando um sorriso.

 

Continuaram conversando sobre vários assuntos e logo pareciam que se conheciam a anos e não a apenas poucas horas e falavam para aplacar a fome que começava a incomodar e até perderam a noção do tempo e só pararam de falar quando a jovem que eles recolheram recobrou a consciência.

 

- Oi! Onde estou? Perguntou a jovem.

- Fique tranquila que está tudo bem. Nós a recolhemos. Somos Paula e Gustavo. Qual é o seu nome?

- Meu nome é Val! De onde vocês vieram?

- De Paulicéia, mais precisamente da Ilha Tibiriçá.

- Como assim?

- É de onde nós viemos.

- De onde saíram os monstros?

- Na verdade, eles não são monstros. Eles são mortos vivos, ou se preferir são zumbis. Informou Paula.

- Zumbis iguais aqueles dos filmes de ficção?

- A comparação é tétrica, mas é isso mesmo.

- Como estão vivos se saíram de lá? Perguntou Val ainda aturdida.

- Longa história, mas estava indo para onde?

- Nem sei para onde eu estava indo, só queria desaparecer para que eles não me atacassem.

- Está vindo de onde? Perguntou Gustavo.

- De Paulicéia! Eu tinha uma pousada lá.

- E como escapou deles?

- Nem sei direito. Ouvi barulho de pessoas gritando que de repente parou. Olhei pela janela e vi aqueles monstros caçando as pessoas nas ruas e de repente não sobrou ninguém, pelo menos que eu tenha visto, mas só sei que corri para o rio e me lambuzei toda de lodo e acho que foi isso que me salvou. Depois olhei bem e vi aquele exército de monstros caminhando como se tivessem um caminho definido indo embora e me arrastando pelo lodo da beira do rio até chegar aqui e os vi fazerem o mesmo aqui em Panorama até que ao invés de vir nesta direção saíram na vicinal indo em direção a Monteiro Lobado e a outra parte do exército seguiu rumo a Arabela e a outra rumo a Santa Mercedes, mas vendo que eles não vieram para este lado ousei sair da água, mas não encontrei nem sinal de gente morta no caminho que fiz nem marca de sangue pelo chão e nem de animais e como estava apavorada nem quis entrar dentro das duas casas que há ali na fazenda que só serve para hospedar os pescadores. Sai de lá sem sequer tomar um copo de água e aí, desidratada vocês me encontraram. Isso foi o que aconteceu.

- Tem ideia de para onde quer ir agora?

- Até queria ir me encontrar com as minhas filhas, mas elas estão bem longe daqui e assim que eu puder ligar para elas irei lhes comunicar saber o que houve aqui para que se protejam.

- Onde elas estão?

- Na casa de meus tios que moram lá em Touros.

- No Rio Grande do Norte?

- É! Bem lá. Conhece?

- Já estive lá certa vez. Respondeu Gustavo.

- E acham que elas estão seguras lá?

- Acho sim e não acredito que estes monstros cheguem lá.

- Você está bem para se levantar?

- Estou! Acredito que estou sim.

- Então vamos coloca-la no veículo com cuidado e iremos até Campinal para vermos se de fato eles desviaram o caminho. Disse Gustavo ajudando Val a se levantar e Paula a ajudou a se acomodar no imponente veículo.

 

Gustavo voltou ao volante, espero Paula se acomodar e novamente pegar a vicinal Frederico Platzeck e Val, mesmo vendo um arsenal de guerra dentro daquele transporte nada disse e por sua cabeça deva estar passando a imagem de suas duas filhas.

 

Cruzaram a ponte do rio do peixe e não viram nada no percurso que estavam fazendo, nem de humanos e muito menos de mortos vivos e se surpreenderam ao chegarem na entrada do distrito e verem pessoas caminhando pela rua, crianças brincando tranquilamente como se tudo estivesse em ordem.

 

Avançaram pela rua Francisco Alves dos Santos, desembocaram na avenida Nishiro Shiguematsu e pareceu-lhes que estavam em outro mundo, pois a paz por ali era impressionante.

 

- Está vendo o que eu estou vendo Paula?

- Estou e garanto que estou tão surpresa quanto você. Parece que estão vivendo sem preocupação alguma do perigo que está rodeando este lugar.

- Vamos comer alguma coisa primeiro e depois conversarmos?

- Vamos! Respondeu Gustavo.

 

Desceram do veículo que estava chamando a atenção e entraram no primeiro restaurante que encontraram na avenida.

 

- Boa noite! Ainda tem comida para servir? Perguntou Gustavo.

- Claro que sim! São apenas dezenove horas. Respondeu a jovem que os atendeu.

- Vocês têm peixe para servir?

- Peixe é o que mais temos por aqui moço. Respondeu a jovem sorrindo.

- Vocês têm peixe assado também? Perguntou Paula.

- Pronto não, mas podemos assá-lo se desejarem.

- Eu quero sim! Respondeu Paula quase pulando de alegria.

- Vocês podem se servir à vontade ali no self service enquanto mando providenciar o peixe. Querem o que no acompanhamento?

- O que o acompanha?

- Arroz, feijão, batata frita, salada de tomate, maionese e salsicha no molho.

- Tudo isso?

- Sim, mas se quiserem mais alguma coisa podemos providenciar.

- Não! Obrigado. Isso é muito mais que aguentaremos comer.

- Um momento que vou pedir para preparar o peixe e já volto. Disse a jovem saindo.

- Conhece ela Val?

- Nunca a vi antes, mas ela é humana, disso tenho certeza.

- Estranho isso! Comentou Paula.

- O que? Perguntou Gustavo.

- Ela age como se o mundo estivesse em paz.

- Verdade! Nem parece que o caos está explodindo lá fora.

- Pronto! Já estão preparando o peixe. Disse a jovem retornando.

- Podemos saber o seu nome?

- Claro que sim! Meu nome é Madalena Soares.

- Somos Val, Paula e eu Gustavo.

- Muito prazer! O que desejam tomar?

- Você tem suco natural aqui? Perguntou Val.

- Temos! De laranja, caju, uva e acerola. Qual preferem?

- Pode ser de laranja. Disse Val.

- É! Pode ser de laranja para nós também. Confirmou Paula.

- Pode deixar!

- Uma pergunta Madalena, o peixe é fresco?

- Foi pescado hoje de manhã. Na verdade, recebemos o peixe dos pescadores de dois em dois dias, mas vocês vão ficar par pescar também?

- Não! Respondeu Paula se contendo para não comentar no momento o que estava acontecendo sabe-se lá onde havia chegado o caos.

- Se quiserem se hospedar temos a pousada também aqui. Agora vou lá providenciar o suco e ver se o peixe está pronto. Fiquem à vontade para se servirem. Disse saindo.

- Será que eles têm televisão ou rádio aqui? Perguntou Gustavo.

- Televisão tem e está ali na parede, mas se tem sinal já não posso afirmar. Falou Paula.

- Estou achando muito estranho este comportamento tão tranquilo. Disse Gustavo.

- Eu também estou estranhando, mesmo porque eu vi o que está acontecendo, vocês sabem e não é possível que eles não tenham visto ou ouvido falar sobre o assunto. Comentou Val.

- Bem! Vamos nos alimentar e depois que fizermos isso procuraremos saber se sabem de algo sobre o que está acontecendo, pois se não sabem temos a obrigação de avisá-los sobre isso. Falou Gustavo.

- Ah! Eu gravei a turba atacando os meus vizinhos e amigos.

- Você gravou?

- Sim e nem sei porque fiz isso.

- Podemos ver? Pediu Paula.

- Claro! Respondeu Val abrindo o celular para eles.

 

Realmente o que Paula e Gustavo viram foi um ato ensandecido de seres que deixaram de ser humanos se tornando em um exército de mortos vivos que desejavam apenas se alimentar sem parâmetro algum de quem quer que fosse.

 

- O que vocês vêem em comum nesta filmagem?

- Loucura, caos, destruição. Respondeu Paula.

- Apavorante, terrível, destruidor. Disse Val.

- Não! Isso também é, mas reparem que sempre vai um na frente e os demais vão atrás dele e se este vira, os demais o seguem para onde ele estaria indo.

- Verdade, mas vi um grupo ir para um lugar e outro para outro e isso com um deles na frente se é que quer dizer que eles sigam um líder. Informou Val.

- Temos que ver isso com mais cuidado, mas é impressionante que eles não tenham vindo para cá, mas de uma coisa eu sei, eles virão, pois eles não usam apenas as estradas e sim qualquer lugar que possam passar. Falou Gustavo.

- Será que eles também atravessam a água? Perguntou Paula.

- Boa pergunta, mas se quer saber, ainda não quero ver a cara deles de novo diante de mim não. Comentou Val.

- Bem vamos comer e pensarmos nisso depois. Finalizou Gustavo.

- Vamos! Disseram as duas.

 

Provaram a comida e constataram que estava excelente. Serviram-se no self service, tomaram o suco de laranja, devoraram o peixe bem assado e depois disso tudo ainda se serviram de sorvete caseiro com figo em caldas e finalmente era a hora de comentarem sobre a tragédia que avançava sem trégua e eles nem conseguiam prever até onde já haviam chegado.

 

- Madalena! Aqui no povoado tem um prefeito?

- Temos sim! Prefeito, vice, secretários e vereadores.

- Você tem acesso a ele?

- Claro! Aqui todos têm acesso a todos.

- Seria possível falarmos com ele?

- Claro que sim! Ele vem jantar aqui todos os dias e já deve estar chegando. Ah! Olha ele chegando.

- Pode nos apresentar?

- Agora mesmo!

- Pode chama-lo?

- Agora mesmo! Israel por favor, pode vir aqui um momento.

 

- Oi Madalena! No que posso lhe ajudar?

- Este moço aqui pediu para falar com você.

- Boa noite! Este veículo militar que está estacionado aí na porta é seu? Perguntou Israel.

- Digamos que sim. Respondeu Gustavo.

- Bem grande heim!

- Um pouco, mas preciso falar contigo. Pode ser?

- Veio aqui para pescar?

- Não!

- Então está de passagem, parou para jantar e queria me conhecer?

- Mais ou menos isso. Podemos trocar algumas palavras?

- Eu pretendia jantar, mas vi que já fizeram isso, senão eu os convidaria para me fazer companhia.

- Não vou demorar. É coisa de dez minutos no máximo.

- Tudo bem! O que deseja?

- Será que poderia sentar um pouco por favor?

- Tudo bem, mas estou com fome.

- Vou ser rápido e prático.

- Obrigado, mas do que se trata?

- Está ciente do caos que está ocorrendo no quintal de sua cidade?

- Caos! Não estou sabendo de nada disso.

- Está brincado ou querendo me fazer ou se fazer de besta.

- Ei!

- Calma Gustavo! Pediu Paula.

- Calma mesmo! Reforçou Israel.

- Não vá me dizer que não viu pela TV, rádio ou alguém dizer sobre a invasão de mortos vivos que partiu de Paulicéia?

- Não!

- De fato só pode estar brincando. Disse Gustavo enraivecido.

- Não sei mesmo. Do que se trata?

- Não tem rádio ou TV funcionando na sua cidade?

- Ah tá! É o técnico que veio cuidar do sinal que caiu em nossa cidade. Até que enfim chegou.

- A quanto tempo estão sem comunicação por aqui?

- Está girando em torno de quase dois meses, porque?

- Vou acreditar no que diz, mas não sabe de nada mesmo sobre os mortos vivos?

- Mortos vivos do tipo daqueles filmes da televisão?

- Isso mesmo!

- Não! Confesso que não sei nada sobre isso.

- Val! Por favor me empreste seu celular.

- Aqui está. Respondeu Val.

  

Val entregou seu aparelho já colocando onde estava o filme que ela gravara e Gustavo mostrou para Israel que olhou e caçoou sobre ser uma gravação malfeita de um filme da televisão e se levantando faltou pouco para que Gustavo não pegasse ele pelo pescoço e lhe desferisse alguns tapas.

 

- Calma Gustavo! Pediu Paula novamente.

- Ele sabe o que está acontecendo e quer nos fazer parecer idiotas.

- Calma ai moço! Não sei mesmo do que está falando. O que é isso?

- Não sabe mesmo? Perguntou Paula tentando acreditar.

- Não! Eu não sei de nada disso mesmo. Te juro, isso aqui não é um filme de televisão?

- Não! Responderam os três juntos.

- Isso que estão tentando me dizer é coisa séria, verdadeira?

- Sim! Responderam.

- E estes seres aí seria do tipo daqueles do filme The Walking Dead?

- São bem piores que aqueles, porque aqueles eram atores e os que aqui estão são reais.

- Quem sabe disso?

- Não temos nem ideia de onde eles já chegaram, mas acredito que muitas e muitas cidades, afinal, fazem quarenta e cinco dias que eles saíram caçando por aí.

- Meu Deus! Te juro que não sabia de nada.

- Já tentamos ver se conseguíamos ver algo através da internet, mas tudo está fora do ar.

- Você disse que isso começou aqui do lado, em Paulicéia?

- Começou mais precisamente na Ilha Tibiriçá.

- Na prisão?

- Lá mesmo!

- E como sabem disso, posso saber?

- Pode! Trabalhávamos lá e fomos os dois únicos que conseguimos escapar com vida daquele lugar. Os demais foram todos devorados e também transformados em mortos vivos.

- Você disse que isso foi a quarenta e cinco dias atrás, é isso?

- Mais ou menos por aí.

- Mas porque eles não vieram para cá?

- Boa pergunta prefeito e pelo que sabemos eles seguiram por dois caminhos. Um grupo se encaminhou para Santa Mercedes e o outro para Panorama onde passamos e vimos tudo destruído e depois desceram para Monteiro Lobato, mas não saberíamos explicar porque não se subdividiram e vieram para cá.

- Prefeito! Me diga uma coisa, é apenas uma curiosidade. Sabe se por acaso esta região é cercada por rios? Perguntou Paula.

- É sim, porque?

- E vindo de Epitácio para cá a ponte está intacta?

- Não! Ela sofreu uma avaria e o exército estava reconstruindo ela e o pouco transito que passava e que vinha nesta direção ou Panorama e Paulicéia estavam sendo desviado élo trevo de Dracena e Tupi.

- Quando que a ponte sofreu a avaria? Perguntou Gustavo.

- A vinte e seis dias.

- Está explicado. Eles têm receio de passar pela água e graças a isso vocês escaparam deles e sugiro que derrubem a ponte do rio do peixe, claro que se quiserem escapar deles por um tempo. Disse Paula.

- Mas se fizermos isso estaremos isolados do mundo e não poderemos receber nada de fora.

- Acho que não entendeu. Se não se protegerem eles virão para cá e será o fim de vocês, pois uma coisa é certa, pode demorar, mas se não forem contidos, eles virão até aqui.

- Mas daí não teremos mais acesso a gasolina, arroz, feijão, presunto, alimentos em geral e morreremos de fome.

- Me responda uma coisa. Vocês têm cavalos, bois, vacas, galinhas, porcos além de peixes? Perguntou Gustavo.

- Temos!

- Tem água?

- Em abundância do rio e também em poços artesianos.

- E como morreriam de fome se tem isso tudo e uma área imensa que podem plantar arroz, feijão, milho e o que desejarem?

- Bem, é verdade!

- Prefeito! Não quero lhe ensinar a administrar sua cidade, mas sei de uma coisa, se eu fosse você eu a fortificaria porque hora ou outra eles aparecerão por aqui e é aí, que se fizer algo, mostrará que é um líder de verdade.

- Não irão me ouvir!

- Porque não?

- O povo daqui é meio descrente das coisas.

- É mesmo?

- Pior que é!

- Não tem pulso ou não tem coragem para enfrentá-los?

- Os dois!

- Quer dizer então que é um covarde?

- Não sou um covarde, mas estou desgastado com a população daqui.

- Quantos habitantes tem aqui na sua cidade?

- Na cidade em torno de oito mil habitantes, mas no total nas pousadas, ranchos, fazendas e nas agrovilas pouco mais de treze mil pessoas.

- Quer um conselho?

- Qual?

- Se quiser nossa ajuda convoque a população de imediato e lhe ajudaremos. Após isso iremos embora e não prometerei que voltarei por esta região.

- Me ajudaria nisso?

- Se convocar até amanhã na hora do almoço sim, lhe ajudaremos. Depois disso seguiremos adiante.

- Vou começar a convocação agora mesmo para amanhã às onze horas, está bem?

- Pode, mas não ia jantar?

- Perdi a fome e vocês tem onde ficar esta noite?

- Não, mesmo porque íamos seguir adiante.

- A Madalena arrumará acomodações para vocês por aqui. Descansem que amanhã não sei o que falarei, mas ficarei feliz se me ajudarem.

- Nós os ajudaremos e obrigado pelo oferecimento de acomodação.

- Sou eu quem devo lhes agradecer. Agora vou começar a convocar o povo. Disse Israel, falou com Madalena e saiu para convocar o povo.

 

Não esperavam por nada daquilo, mas prometera ajudar ao prefeito e o faria. Depois seguiria em frente para verificar se havia sobrado ainda lá fora alguém vivo para poderem ajudar.

 

- Vamos dormir mesmo aqui está noite? Perguntou Paula.

- Vamos! Precisamos relaxar porque a partir de manhã as coisas serão duras e precisaremos de energia para seguir em nossa viagem.

- Quer mesmo sair por aí se aventurando em morrer devorado por estes monstros?

- Quero! Na verdade, preciso fazer isso.

- Tudo bem! Estou contigo até o fim nesta história toda.

 

Se recolheram e estavam tão cansados que acabaram adormecendo logo mesmo carregando dentro de si cada um com os seus fantasmas, porém, Gustavo tinha alguns fantasmas que não quis comentar com Paula, mas tinha certeza que, àquela armação de tentativa de assassinato vinda por parte de sua ex a que desaparecera e levara consigo tudo de valor que ele possuía e entre tudo o bem maior que era o seu filho que não via a anos por não ter podido encontra-lo.